quinta-feira, 21 de julho de 2011

Perdidos e Achados: Onda Choc


A minha irmã mais nova, a mais novinha dos Leocardos, adorava os Onda Choc. Ofereceram-lhe o primeiro disco da banda infantil quando ela fez quatro anos, e foi um ouvir aquilo de trás para a frente todos os dias que nunca mais acabava. Passava os dias a ouvir o disco, acabava o lado A mudava logo para o lado B, e depois de volta ao lado A. Aos fins-de-semana era desde que acordava até quando ia dormir.

O problema é que os Onda Choc lançavam um ou dois discos todos os anos, e ainda as irritantes mini-cassetes, que levavam os Onda Choc atrás de nós mesmo dentro do carro. A banda sonora lá de casa era praticamente só os Onda Choc, o que me levou a comprar uma aparelhagem para o meu quarto e uns tampões de ouvidos para o resto da casa. Isto durou até a minha irmã atingir a idade mental de sete anos, altura para começar a ouvir outras coisas (Beatles, Madonna, Nirvana...), mas mesmo assim nunca me esqueci dos Onda Choc.

Existia ainda outra banda infantil, os Ministars, mas os Onda Choc eram do cunho da cantora Ana Faria, que durante a minha própria infância já nos tinha presenteado com os "Queijinhos Frescos" (fazer isto aos próprios filhos...). Pode-se mesmo dizer que Ana Faria é a raíz de todo o mal. Contudo Ana Faria é a principal ausência deste excelente documentário da SIC, da rubrica "Perdidos e Achados" da SIC, que segue a vida de alguns elementos do grupo até aos dias de hoje.

Os Onda Choc eram constituídos por cerca de uma dezena de jovens que iam sendo substituídos à medida que iam amadurecendo, quais fraldas descartáveis. Eram jovens pré-adolescentes que se vestiam com roupa que a malta catalogava de "betinha", e decalcavam música estrangeira com letras em português, normalmente sobre namoricos de liceu. Não sei a que público isto se dirigia, uma vez que nunca conheci ninguém de liceu nenhum que ouvisse os Onda Choc. Era impensável alguém com mais de dez anos gostar dos Onda Choc.

Se venderam um milhão de discos, de acordo com este documentário, é porque havia pais idiotas que compravam o disco para os filhos. Reparem como os Onda Choc atingiam sempre os tops na altura das férias de Verão ou do Natal. Quem é que queria ouvir versões parvas de músicas estrangeiras? Foram bastante populares até finais dos anos 90, altura em que a ideia se esvazou. Não sei se terá sido por causa dos escândalos de pedofilia que abalaram o início do século em Portugal, e deixou de ser boa ideia ter ali miúdos e miúdas (mais miúdas) de 10 e 11 anos vestidinhos à moda a cantar e a dançar, mas desconfio que sim. Mesmo assim uma excelente reportagem, que vale a pena ver, ou rever.

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