domingo, 5 de outubro de 2008

Ruas de Macau


Uma visita mais demorada pelos arruamentos de Macau deixa-nos aprender um pouco mais da sua História. A quase todos os Governadores da antiga província de Macau foi dado o nome de um arruamento: Horta e Costa tem a sua rua e avenida, bem como o Ouvidor Arriaga e o Coronel Mesquita. Temos a Rua e a Travessa de Pedro Coutinho, a Avenida Lopo Sarmento de Carvalho (o governador das guerras com os holandeses), Avenida Tamagnini Barbosa, e mesmo os mais obscuros Almirante Costa Cabral ou Conselheiro Ferreira de Almeida têm uma rua e uma avenida em seu nome respectivamente. O benemérito Nobre de Carvalho tem uma ponte em seu nome, bem como uma Estrada na Taipa, enquanto o infame Ferreira do Amaral tem nada mais que uma Rua, uma Praça, uma Estrada e até um Istmo.

Já os Presidentes da República têm menos sorte. Existe um Largo do General António Ramalho Eanes em Coloane, merecidamente, uma vez que além de ter cumprido o serviço militar em Macau, o General assinou em 1985 em Pequim a declaração conjunta. O marocas, querido do povo, viu uma das principais avenidas do território baptizada com o seu nome, a Avenida do Doutor Mário Soares, onde fica o Edifício do Banco da China. O marechal Gomes da Costa tem uma rua lá para o Patane. Dos presidentes mais antigos temos a Rua de Manuel Arriaga, e a Avenida Sidónio Pais. O Professor António de Oliveira Salazar tinha até ao 25 de Abril uma Avenida em seu nome, que passou depois a ser simplesmente Avenida da Amizade.

O evento da República tornou a Rua Nova d’el Rei em Rua Cinco de Outubro, mas continua a existir a Avenida D. João IV, que juntamente com a Estrada D. Maria II, são a únicas com nome de monarcas. A Praça de D. Afonso Henriques não conta, sendo o fundador da nação lusitana um “natural”. Os descobrimentos não ficaram de fora. Assim temos a Avenida do Infante D. Henrique, a Rua de Fernão Mendes Pinto (uma em Macau e outra na Taipa), a Rua Afonso de Albuquerque e o Jardim Vasco da Gama. Não podia faltar, é claro, Jorge Álvares, com uma rua e uma praça em seu nome. Da literatura, Luís de Camões tem uma praça e um Jardim em seu nome, enquanto Bocage tem uma rua. Já Eça de Queiroz e Fernando Pessoa, por exemplo, não tiveram tanta sorte.

O clero encontra-se fortemente representado; além das ruas, becos, travessas e afins com nomes de santos (S. Paulo, S. Pedro, S. João, S. Miguel, S. Nicolau, S. Roque, S. Francisco Xavier, etc. mas não S. Pedro, curiosamente) temos arruamentos baptizados com os nomes do Padre António, Padre António Roliz, Padre Eugénio Taverna, Padre João Clímaco, Padre Luís Fróis, Padre Narciso, Padre Soares e Padre Vasconcelos, em Macau, Padre Estevão Eusébio Sítu e Padre Tomás Pereira, na Taipa. Madres, curiosamente, só uma, a Madre Terezina e mais nenhuma.

Das personalidades de Macau destaca-se a Rua Pedro Nolasco da Silva, em homenagem ao maior macaense de sempre. O Dr. Carlos D’Assumpção tem uma Avenida em Macau e uma Rotunda na Taipa, o Dr. Pedro José Lobo uma rua, enquanto Adé dos Santos Ferreira foi homenageado com um Passeio em seu nome (?). Depois os personagens de que a história se esqueceu, mas o nome da rua ficou. A Travessa do Paiva - cuja história já foi contada no blogue anterior - a Travessa do Abreu ou a Calçada do Januário.

Os chineses estão bem representados, com a Avenida do Comendador Ho Yin, pai do actual chefe do executivo, a Avenida de Xian Xing Hai, em homenagem ao compositor autor da “Cantata do Rio Amarelo”, e nascido em Macau, e mesmo uma Avenida do Dr. Sun Yat-Sen em Macau, e outra na Taipa. Depois há os personagens menos conhecidos: Lam Tac Un, Ho Cóng Loi, Lai Chi Vun ou Ho Chin Sin Tong. O milionário Lu Cao tem uma rua em seu nome, em Macau, e uma pomposa Estrada de Lou Lim Ieoc, na Taipa. O Dr. Stanley Ho fica com o nome paraa posteridade gravado num dos novos arruamentos, uma Avenida que se atravessa por toda a Praia Grande.

Por falar em arruamentos novos, na Taipa optou-se por um sem número de nomes de cidades portuguesas. Assim temos as ruas de Bragança, Aveiro, Braga, Évora, Guimarães ou Lagos. Em Macau, além da velhinha Avenida de Lisboa, onde fica situado o Hotel com o mesmo nome, optou-se por uma toponomástica mais internacional. No NAPE temos a Rua de Bruxelas, de Madrid, de Paris ou de Berlim. As únicas excepções parecem ser a Rua da Cidade do Porto e da Cidade de Santarém. De cidades chinesas há ruas a dar com um pau: Pequim, Xangai, Cantão, Foshan e Kunming. Do resto da Ásia temos as ruas de Goa, Malaca e Nagasaki.

A recente organização por Macau de alguns eventos desportivos internacionais e a construção das respectivas infra-estruturas originaram uma Avenida Olímpica, uma Rotunda da Piscina Olímpica, uma Avenida do Estádio e uma Rua do Desporto, tudo na Taipa. Os animaizinhos têm várias homenagens: Beco do Porco, Beco e Escada do Caracol, Beco das Galinhas e uma tal de Travessa das Galinholas, e até uma Rua do Pato, no tardoz do Consulado Geral de Portugal, Calçada do Galo, Beco do Ganso, Travessa do Gafanhoto, entre outras.

Depois há as ruas com nomes mais curiosos: a célebre Travessa da Chupa, e a Travessa da Boceta, que os brasileiros acharão mais graça. Depois há as ruas mais personalizadas; a malta da passa pode procurar a Rua da Erva, o Beco do Tabaco, a Travessa do Gelo ou o Beco da Agulha, nos casos mais graves. Os alcoolicos de Macau preferirão o Beco da Pinga, e os da Taipa a Travessa da Pipa, enquanto os preguiçosos podem optar pela Estrada do Repouso, a Alameda da Tranquilidade ou a Praceta da Serenidade. Os mais supersticiosos deverão evitar a Travessa ou o Pátio da Boa Morte, os mais azarados a Escada do Quebra-Costas, e as criancinhas não vão gostar de visitar o Beco Escuro (aqui ao pé de casa, curiosamente). Quem não gosta de ser assaltado deve evitar a Travessa dos Ladrões (Taipa) ou a Azinhaga dos Piratas (Coloane), principalmente se já viveu na Rua da Prosperidade ou na Rua da Riqueza (ambas na Taipa).

No final há quem tenha a sorte de poder chamar morada à Travessa dos Currais, à Travessa dos Ovos, ao Pátio do Mungo, à Rua do Peixe Salgado, Travessa das Lindas, Travessa da Escama, Pátio do Gordo e outros nomes que puxam pelo imaginário de cada um. Mas no fim, como ninguém é eterno, todos envelhecemos, e quem sabe se acabamos na Rua do Asilo, na Rua da Mitra, no Pátio dos Velhos, ou mesmo na Estrada do Cemitério. Há que manter acesa a chama da Rua da Esperança e ir sempre em busca da Rua da Felicidade. Isto é que é uma Calçada das Verdades.

12 comentários:

Anónimo disse...

O OUVIDOR COMO O PROPRIO NOME INDICA NAO FOI GOVERNADOR , O MESMO SE DIZ O CORONEL MESQUITA

Anónimo disse...

Ó Pedro Macau, podia ter dito isso sem gritar.

Leocardo disse...

O coronel Vicente Nicolau Mesquita foi governador sim, depois de Ferreira do Amaral, presidiu a um Conselho do Governo antes da nomeação de Pedro Alexandrino da Cunha. Quanto ao Ouvidor Arriaga, não tenho a certeza.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

porque estava eu a gritar? Ouvidor era uma figura semelhante ao provedor de justica...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_governadores_de_Macau

Anónimo disse...

tambem o Conselheiro Ferreira de Almeida, pela Analise do nome nao parece ser sido Governador...mas o melhor e mesmo consultar-nos os livros do nosso padre Manuel Teixeira
http://www.cccm.mctes.pt/bdigital/ebooks/Toponimia_Macau_item1/
isso nao e nenhuma critica...mas considero com uma com "amigos"

Anónimo disse...

ja que falou-se das ruas novas do NAPE, o que realmente achei graca e a rua Cidade de Sintra, pois esta localidade em Portugal e apenas vila...

Anónimo disse...

Pedro Macau, estava a gritar porque escreveu tudo com maiúsculas. Escrever tudo com maiúsculas é como se estivesse a gritar.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Leocardo, para este seu post uma palvra: fantástico!

Leocardo disse...

Obrigado Maria.

João Botas disse...

Excelente post... a av. da amizade não passou a chamar-se em 80's av. Dr.Mário Soares? um abraço JBotas http://macauantigo.blogspot.com/