sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Bah, bruxas...


Hoje é Halloween, dia destinado a receber o Inverno e o novo ano celta. Trazido para o novo mundo pelos irlandeses, Halloween significa All Hallows' Even, e antecede o dia de todos os santos (é isso que significa, literalmente). Em Portugal é mais conhecido por “dia das bruxas”. Isto porque é um dia em que…não acontece nada. Bem, o Simão Sabrosa faz anos, a título de curiosidade.

Era um dia como outro qualquer. Lembro-me uma vez que fiquei na casa dos primos em Almada, fui com eles e uns vizinhos tocar às campaínhas, naquilo que se chamava “jogo do prego”. Já na universidade, fomos um dia passar a noite a um cemitério nos arredores de Lisboa, a beber jolas e fumar ganzas. Enfim, brincadeiras parvas.

Mas é para isso mesmo que serve o Halloween. Mais uma desculpa para cultivar a bebedeira, procurar sexo casual, enfim, mil e uma coisas. E logo por sorte este ano caíu a uma Sexta-feira. Na última (ou penúltima, sinceramente não me lembro) vez que o Halloween coincidiu com um fim-de-semana, fui a uma festa que acabou, assim como muitas outras que se realizam no território com a presença de estrangeiros, à chapada.

É mais uma desculpa para o deboche e para a javardeira, como se tem feito do Oktoberfest, por exemplo. Na Alemanha o Oktoberfest é a festa que marca o fim das colheitas, e quem pensa que é apenas uma desculpa para encher os cornos, desengane-se. A cerveja que os alemães bebem naqueles copos que mais parecem uma jarra não passa dos 2-2.5% de volume de alcool. É preciso beber umas três ou quatro jarras daquelas para se começar a sentir ligeiramente torpe.

Não gosto do Halloween porque não me diz nada, não me identifico com ele da mesma forma com que não me identifico, por exemplo, com o Carnaval. Porque carga de água alguém se lembrou de realizar uma celebração característica dos climas quentes e tropicais em pleno Inverno? Escolas de samba com meninas semi-nuas debaixo de temperaturas de oito graus centígrados e muitas das vezes a chover? Já alguém ouviu falar do Carnaval inglês, francês ou belga? O de Veneza é uma honrosa excepção, com um nível e significados a que nunca podemos sequer sonhar ombrear.

“Brincar ao Carnaval” servia meramente para 1) ter mais um feriado 2) um pretexto para brincar com explosivos e outros produtos tóxicos, que serviam para alguns meninos mal educados agredir ou enxovalhar outros. Nos outros países europeus cristãos onde se festeja o início da quaresma não há registos de tamanha selvajaria ou falta de civismo. Eu ficava sempre em casa no Carnaval, porque não me apetecia ser vítima, nem me juntar a associações de delinquentes.

Os miúdos sempre têm uma desculpa. Hoje na EPM estiveram lá as habituais 45 bruxas, 38 vampiros, 22 zombies. É também o dia em que se regista um número de múmias maior que o habitual. É uma falta de imaginação gritante. O mais curioso é a forma como alguns pais, ora assumidamente cristãos e apologistas do tal do "respeitinho" permitem aos filhos que celebrem este ritual pagão vestidos de forma a inchar de orgulho praticantes de missas negras ou rituais satânicos. São talvez os mesmo que tiram fotografias dos filhos a fazer pai-san em templos budistas para mandar para os avós.

Pois é, já sei que festa é festa, e já dizia o saudoso Carlos Paião, "dai-nos mais feriados para festejar". Mas passava-se muito bem sem o americanismo do Halloween. Bem sei que os bares, lojas da especialidade e afins se congratulam com a ocasião, e que isto não passa de mais uma forma engraçada de fazer negócio, como são o Dia dos Namorados ou o Dia da Mãe. E quem acredita em bruxas?

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