domingo, 28 de agosto de 2016

Filhos de uma Olímpia menor



O Hoje Macau, jornal em língua portuguesa de Macau para o qual tenho o orgulho de contribuir, tal é o seu estatuto de culto, nem que seja pela forma como ressuscitou depois de crucificado (e nem esperou pelo terceiro dia - foi logo no dia seguinte) vai fazer 15 anos esta próxima quinta-feira, publicou esta semana um artigo de opinião que gerou uma onda de...uma onda de crude, vá lá. Eu não mergulhava nessa onda, e não porque se trate de algo de reprovável, ou "escusado", mas diria antes "estranho". Fa Seong, que suponho ser o pseudónimo do autor, assina na sua coluna que dá pelo nome de "A Canhota" um texto dedicado aos os Jogos Olímpicos, realizados no Brasil neste mês de Agosto e o panorama do desporto local, estabelecendo uma espécie de paralelo que para quem vive aqui no território ou conhece Macau, vai considerar no mínimo paradoxal. O autor - ou autora, não é claro - "entra a matar", referindo a deslocação de uma comitiva local ao Rio de Janeiro para assistir à Cerimónia de Abertura dos Jogos, com o propósito de fortalecer os laços com os países da Lusofonia, blá blá blá, um chavão qualquer, e pode ser o do costume. Fa Seong critica o que considera "um desperdício de dinheiros públicos", até porque Macau não faz parte do Comité Olímpico Internacional e não tinha qualquer atleta nos Jogos, e de seguida tece uma série de considerações que me deixam meio...desconfiado? Vamos lá ver.

Primeiro, criticar a gestão dinheiros públicos em Macau, neste caso a má gestão, é o mesmo que açoitar um burro morto. Sim, numa outra legislação qualquer onde as contas fossem todas bem feitas e a opinião pública estivesse nem para aí virada, era um caso sério. Estamos a falar de outro sítio qualquer, pronto, e o que são meia dúzia de bilhetes, mais alojamento, tudo XPTO, e mesmo que dê um total de dois ou três milhõezitos, os Jogos Olímpicos são um evento que toda a gente conhece, e reconhece a mais valia diplomática de uma representação oficial, mesmo sem uma delegação a competir. Já com a tal Universidade do continente a quem o Governo deu um cheque de cem milhões "porque sim", pia mais fino, e mesmo neste caso foi preciso levar a população para a rua quase de empurrão para fazer barulho. Resultado? Ninguém justificou coisa nenhuma, e ainda se tiraram da cartola umas acusações contra os organizadores da manifestação. Se nem de um montante daqueles se dão satisfações, o que dizer da passeata lá dos tipos do Instituto de Desporto mais o deputado Chan Chak Mo. Sim, os nomes são mencionados, e ainda deixa no ar a sugestão de que se tratou de "uma visita pessoal" - já lá vamos. 

Se isto dá a entender que o autor do artigo não nutre lá muita simpatia pelo IDM e os seus responsáveis, o que se segue vem confirmar isso mesmo, mas eu diria que a "mocada" saiu um bocado maior que a encomenda. No resto do artigo o autor faz uma análise que para quem não conheça, dá a entender que se partem as pernas às crianças logo à nascença. Como é que o IDM ou o Governo, este e o anterior, têm a culpa do Macau não fazer parte do COI, ou do desinteresse dos jovens locais pelo desporto, ou que optem por não se profissionalizarem? Macau nunca teve um estatuto como o de Singapura, que é uma cidade-estado, ou de Hong Kong, que tem 7 milhões de habitantes, uma área 90 vezes maior, e uma autonomia que no passado lhe valeu tornar-se a maior praça financeira da Ásia. Macau nunca teve a sorte de ser, bem, uma "nação olímpica"? Foi muito, mas muito antes do sr. Coubertin ter idealizado o conceito moderno de Olimpismo que alguém havia idealizado Macau como uma caserna de Portugal na China, e antes desta última reintegrar o território "de facto" em 1999, já as elites de então e de agora acharam que ficava melhor "na prateleira", ou melhor ainda, na cave, a fazer de "máquina de lavar". Quando a bacará, a especulação imobiliária e quejandos forem modalidades olímpicas, Macau vai ter medalhas de ouro asseguradas - fica com o pódio completo! Mas a possibilidade dessas modalidades integrarem os Jogos é tão provável como Macau aderir ao COI, portanto esqueçam. 

E quem é que deseja com um aperto no coração que Macau se junte à família olímpica, e choraria baba e ranho de orgulho na eventualidade de isso acontecer? Ninguém, que diabo! Isso foi uma pretensão com tiques de "trip" alucinogénica de alguém ou de alguns, e desconfio que a ideia era passar uma imagem de gestão ambiciosa, que quer mostrar que não teme qualquer desafio, por mais impossível que possa parecer, e que se trabalha muito por aquelas bandas, e tresanda a suor do sovaco. Agora, com este tipo de "sonhos", há sempre um limite onde se pode chegar sem cair no ridículo - JFK disse que os Estados Unidos "queriam ir à Lua", e não ao Sol. Não se perdia nada se Macau se tornasse membro de pleno direito do COI, mas ninguém fica tristinho por não poder acenar  cheio de orgulho com a bandeira verde com o lótus, com os olhos do tamanho de travessas brilhando, cheio de orgulho patrioteiro. Sim, aqui as pessoas ficam a torcer pelos atletas da China, quer nos JO, quer nos outros eventos desportivos, onde ainda há quem fique a torcer por Portugal, ou simpatize com os desportistas e as equipas lusas, pois estes são as duas pátrias que estão na génese de Macau. Não me parece que se possa apontar o dedo ao IDM por não ter feito o seu trabalho de casa neste particular.

O que faz o IDM, então? Faz o que pode, e sorte têm eles de os deixarem organizar qualquer coisa que implique investimento em algo que não seja outra forma de recuperar esse investimento e ainda ter um retorno chorudo, como um casino, pronto. E como é que se podem incentivar os jovens à prática do desporto, se eles não estiverem interessados? Algo do tipo "Mocidade Portuguesa", com frequência obrigatória pelo menos uma vez por semana? Ou imita-se o exemplo da China, e pegamos numas cachopas pré-alfabetizadas e esticamos-lhes os tendões para ficarem "au point" de participar nas provas de ginástica acrobática num dos próximos Jogos? Já chegou o que chegou com aquelas campanhas absurdas com o mote "Faz desporto, diz não às drogas", como se a única alternativa à droga fosse a prática desportiva, ou o desinteresse por esta fosse meio caminho para a perdição e para o degredo. E ler um livro, pá?! Ah pois, isso "não dá dinheiro a ninguém", e segundo o autor do artigo, o desporto também não - mas a droga sim, dá dinheiro. Estão a ver como funciona a lógica? Sim, os pais não vêem com bons olhos que os filhos optem por uma carreira desportiva em "full time", pois isso seria mesmo que ambicionar ser agente turístico e mostrar o Vaticano aos turistas, sem sair de Macau. Mas isso não impede que alguém com jeito e vontade se torne profissional, desde que não seja em Macau. E assim de repente temos os exemplos da Eva Vital, que nasceu no território e pratica atletismo no Benfica, e o futebolista David Kong, que é actualmente bicampeão do Campeonato de Portugal (terceiro escalão). Ficando em Macau só se pode mesmo fazer como o exemplo que o autor refere, da atleta deficiente auditiva que vai representar Macau nos Special Olympics, ou ainda a "nossa" Paula Carion, judoca várias vezes medalhada nos jogos asiáticos - trabalham para ganhar o seu, e quando podem ainda fazem o que mais gostas. E alguém as ouviu queixarem-se de alguma coisa?

Ambicionar a mais do que isto é estar a pedir que se comece agora a fazer o que há muito devia ter sido feito, e não seria o IDM a fazê-lo. Sim, aquela é uma opinião, eu sei, e eu não sou o Tribunal do Santo Ofício e tenho a minha opinião também, ora essa, e de todos os pontos ali expostos de que não concordo, o clímax é atingido no fim do texto:

“Macau mantém a ambição de fazer parte do Comité Olímpico Internacional”, disse o chefe de gabinete de Alexis Tam. É bom ter ambição e esse é um desejo para muitas pessoas em Macau, mas não há uma data para que isso possa acontecer.

Uh? Bem, o Alexis Tam não faz senão o que lhe compete, que é repetir a ladainha do "estamos muito ocupados a não fazer nada", mas quem são as "muitas pessoas" que o autor ali refere? Onde está essa mole angustiada por não pertencer à família olímpica, que não se manifesta? Não estou a sair em defesa do IDM, nem dos visados, nem de ninguém, até porque seria inútil defender quem teima em dar tiros no próprio pé. Na sexta-feira, isto: 



O IDM exerceu o direito à resposta! A um artigo de opinião, e com o intuito de esclarecer...o quê? Bem, o primeiro parágrafo, onde se nota o esmero na ortografia, deixa-nos saber que a delegação esteve lá entre 3 e 8 do corrente. Isto com um dia para ir, outro para voltar, e outro para assistir à seca da cerimónia, e isto sem falar do "preto ao colo", não deixa tempo livre para se descer o amazonas de jangada. Perde a força a teoria da "visita privada". Ora bem, e para esclarecer esclarecimentos quanto à publicação publicada, o que mais se responde naquela resposta?


Pois é pá, não gozes com isto que a malta está muito empenhada em entrar para o COI, e por isso "vale a pena prosseguir com aquela pretensão" - pelo menos até 2049, data em que passa do prazo de validade toda a conversa fiada. Dependem de...boas vontades? É mais fácil quando se depende antes de boa$ vontade$. E o que é aquilo? Outros territórios chineses...Taiwan? Epá espero que a China não tenha vindo de sapatilhas, senão gasta-se esta graxa toda para nada. Adiante.


Pronto, tau tau tau, três tiros no porta-aviões: 1) fomos convidados, e não entrámos à socapa só porque vimos uma festa cheia de finórios e um serviço de catering que deixou água na boca 2) a mãezinha e os outros senhores também lá estavam, podem perguntar-lhes se não foi assim que aconteceu, como estamos a dizer! e 3) Quem diz é quem é! Ai isto é "dinheiro deitado ao lixo"? A ideia foi vossa, não quero saber! Que enfado. E depois do habitual sermão que ninguém encomendou sobre os méritos do IDM e de tudo o que fizeram etc. etc., terminam desta forma:

Macau tem um atleta nos Paraolímpicos? Pois tem, foi o que o autor disse! Leram mesmo aquilo, ou depois da primeira frase começou a soar a sirene: "Olha este gajo a mandar bocas, o sacrista. Editem aí a resposta-normalizada e mandem já para o jornal!". Sim, o artigo reflecte apenas a opinião do seu autor, mas isso não é desculpa! Tenha outra opinião! 

Ao esclarecer o que não tinha que ser esclarecido, o IDM faz lembrar aquelas mulheres que têm fama de pouco dignas, e quando ouvem uma "boca" em surdina vão para o meio da rua e desatam aos berros: "EU NÃO SOU UMA PÊGA! SOU APENAS UMA SONHADORA E APAIXONO-ME FACILMENTE". E sabem o que mais? Não tinha lido o artigo de terça-feira, mas pode ser que só me tenha passado ao lado porque foi o primeiro dia de trabalho depois das férias. Também não sabia nem procurei saber que tinha ido uma comitiva de Macau à abertura dos Jogos, e se tivesse chegado ao meu conhecimento, consideraria isso "normal". Fico a saber de tudo isto pelo IDM, cujos dirigentes parecem estar muito "preocupados" com o que se diz e o que se pensa deles. O autor do texto que o Gabinete do Secretário sentiu necessidade de esclarecer quanto ao seu conteúdo pode até não ir à bola com o IDM, mas "não disse nenhuma mentira", pronto, talvez tenha o julgamento um tanto ou quanto enturvado, mas foi assinalado como opinião. Em termos de "canalhice" não chega aos calcanhares aqui do "massa crítica", que julga que tem o rei na barriga, mas digam lá se a "vítima" replicou? Não, não é para responder. É só uma opinião.


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