Foi disputado ontem mais um duelo ao sol entre duas das mais aguerridas cores do nosso fanatismo clubístico em Portugal. O FC Porto venceu por 2-1, e conquistou o 25º título nacional, e logo no estádio do seu mais directo rival. No final do jogo os encarnados, demonstrando grande desportivismo, apagaram as luzes para que os dragões fizessem a "rave" do título, e ligou a irrigação da relva para que os portistas pudessem festejar e ao mesmo tempo tomar banho, poupando assim algum tempo.
Esta foi apenas a conclusão de uma semana maravilhosa, que começou com a simpática recomendação do Benfica, que não deixou que os meninos do Porto levassem tarjetas e aqueles pauzinhos com as bandeiras, que depois podiam aleijar-se. Por seu lado os adeptos portistas resolveram ir praxar a Casa do Benfica em Ermesinde, que é uma espécie de tradição na antecâmara destes espectáculos. É como ir cantar as Janeiras. Um pouco por todo o país se verificam este tipo de conflitos, sempre com a habitual característica de acontecer nas casas do Benfica do Norte e nas Casas do FC Porto mais a Sul (no Sul propriamente dito duvido que haja alguma).
A viagem do FC Porto a Lisboa decorreu com a mesma calma com que os Beatles viajavam de Liverpool até Londres, com uma escolta digna da rainha da Inglaterra. Era o Papa e o seu séquito que lá viajavam. A procissão era abençoada por um senhor guarda à passagem de cada viaduto, como aqueles indivíduos que clamavam a altas horas da madrugada "All is well". Chegados a Lisboa ficaram no Hotel Altis, o que é bastante acolhedor. Consigo imaginar os simpatizantes do Benfica que assim tiveram a honra de se cruzar e até trabalhar para os ídolos do norte, que vinham à capital para mais uma partida de
foot-ball. Aposto que ficaram com autógrafos de todos.
Hora do jogo. Grande expectativa. O bravo soldado encarnado Fábio Coentrão disse que ia vender cara a derrota, enquanto o general Jorge Jesus grunhia algo de imperceptível. A bola começa a rolar no relvado, começa a festa. O espanhol Roberto, último bastião da defesa encarnada, decide ajudar à festa, permitindo ao colombiano Guarín abrir o activo. Saviola empata para os encarnados de penalty, e também de penalty Hulk volta a colocar os dragões em vantagem. Intervalo, as duas equipas recuperam dos golpes do adversário, mas as feridas do Benfica parecem ser fatais. Os segundos 45 minutos foram os últimos que separaram o FC Porto da conquista de mais um troféu.
Nas horas seguintes ao embate encheu-se a Avenida dos Aliados, no Porto, para aquilo a que chamam "um S. João antecipado" (podiam chamá-lo "S. Jorge Nuno"). Um pouco por todo o país se festeja o título, com mais incidência no norte, naturalmente. Fiquei comovido ao ver as festas dos portistas em Ponta Delgada e em Cabo Verde. Em Macau parece que existe uma Casa do FC Porto, mas os senhores parece que são todos doutores e precisam de trabalhar e por isso não fazem disparates. Em Lisboa varrem-se os despojos da derrota, e chora-se mais um título que fugiu para o Norte. E isto, meus amigos, é do que mais importante acontece em Portugal estes dias.
6 comentários:
CARREGA BENFICA !!!
Sem dúvida que isto é o mais importante. O futebol português pode estar um bocadinho atrás do melhor futebol mundial mas, se compararmos com outras coisas portuguesas, o futebol até que nem desilude assim tanto. E ainda por cima animadíssimo, com "camisas vermelhas" muito mais activos que os da Tailândia. Se não fosse isso, aquilo era um marasmo. Mas é estranhíssimo que um povo de tão brandos costumes quando se trata de defender as suas condições de vida fique tão agressivo quando o assunto é o futebol. Mais uma vez, os políticos agradecem. Já não faltará muito para encontrar o fundo do abismo.
Os paises mais atrasados do mundo sempre foram bons no futebol,casos do Brasil,Argentina,Uruguai,Portugal.Já dizia o Salazar que Portugal era o país do futebol,fado e fátima.Enquanto isso o povo vivia na miséria.
Vivia... e vive outra vez. Deve ser por isso que os clubes portugueses estão a fazer uma grande época na Europa. Pelos vistos, o anónimo das 18:56 tem razão: miséria = futebol.
Festejos às escuras. Eu percebo que o país está em crise e é preciso poupar electricidade. Mas, em contrapartida, desperdiçou-se água. Não valeu de nada, porém. Não é todos os anos que se tem ideias tão brilhantes como o truque do túnel. Como diria alguém do Marítimo depois do jogo na Luz: "O Marítimo só cá vem uma vez por ano, mas neste estádio há cenas lamentáveis várias vezes, pelo que a culpa não deve ser nossa".
o comentário das camisas vermelhas e o seu resto estão brilhantes. muito bom, lol.
Enviar um comentário