segunda-feira, 25 de abril de 2011

Coisa dos portugueses


Quando se deu o 25 de Abril de 1974 eu era mesmo muito pequenino. Não me lembro de nada, mas as minhas primeiras recordações datam-se ao Verão quente de 1975, quando eu já estava no infantário. Contudo posso-me considerar dentro da geração que nasceu logo antes ou logo após o 25 de Abril. É um dia especial que me traz boas recordações, principalmente de comícios, comezainas e bailaricos. O 25/4 era sempre um pretexto para apanhar uma bebedeira ou comer uns coiratos, e até dar um pulinho ao rio para nadar, se fizesse bom tempo.

Tenho recordações muito vivas das músicas de intervenção daqueles tempos, pois os meus pais compravam os discos - para desagrado dos meus avós, que achavam tudo aquilo muito sinistro. Tive lá em casa "early influences" como Fausto, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, José Barata Moura e claro, Zeca Afonso, que nem era um dos favoritos. Aprendi a usar o gira-discos aos 4 anos com o "Avante, Camarada", e devo ter ouvido esse disco umas mil vezes. Penso que toda esta lavagem cerebral comuna tornou-me num gajo refilão.

Aqui em Macau a Páscoa tardia baralhou o 25 de Abril. O Domingo de Páscoa foi ontem, hoje foi feriado em Hong Kong e em Macau trabalhou-se em toda a parte menos nos bancos, na Escola Portuguesa e no Consulado Geral de Portugal. Isto a juntar às férias da Páscoa, que levaram muitos dos nossos compatriotas a paragens mais solarengas, se bem que aqui também não se esteve mal.

Os meus colegas chineses ficaram um pouco baralhado com os feriados e não-feriados, e perguntaram-me o significado deste dia. Estes colegas de que falo são chineses de Macau, todos de nacionalidade portuguesa e nascidos depois do 25 de Abril. Não é por culpa deles que não saibam que dia é hoje em Portugal; levaram uma boa lavagem cerebral para entender que isto é uma coisa "dos portugueses". Por "portugueses" estão-se a excluír a eles próprios, naturalmente, apesar do passaporte dizer o contrário. Para os chineses o que conta é o sangue, e disto já estamos todos carecas de saber.

É impossível tentar explicar-lhes a importância que o 25 de Abril teve para o futuro de Macau. O território esteve em risco de ser instantaneamente "descolonizado", como se fez em África, e entregue à China de Mao em plena Revolução Cultural. É claro que os interesses instalados neste entreposto mexeram-se de modo a evitar uma tragédia, e hoje Macau é o que é (recomendo estes artigos do blogue Macau Antigo). É inútil explicar isto à nova geração de chineses de Macau porque isto "não interessa", e a história de Macau é "irrelevante". (Ainda estou para descobrir o que realmente lhes interessa).

Resta-me pedir desculpa por esta pequena divagação abrilesca, e desejar a todos os leitores em Portugal um bom feriado, e que comemorem o 25 de Abril nem que seja a falar mal...do 25 de Abril. Quem sabe se no futuro este dia deixa de ser feriado, por algum tipo de revisionismo histórico, mas meus amigos, isso seria dar a vitória à tal da "reacção".

PS: Hoje na imprensa de Macau gostava de destacar o dossiê do JTM, com testemunhos de personalidades do território, e a excelente entrevista de três páginas a José Mário Branco, no Ponto Final. O Hoje Macau teve folga.

7 comentários:

Anónimo disse...

Pois, infelizmente, o passaporte português só serve para fugir daqui quando as coisas derem para o torto

Anónimo disse...

Não lhes interessa merda nenhuma. É o Mao e pouco mais...

Anónimo disse...

Esses falsos portugueses não merecem a nacionalidade que têm. Sou a favor de que Portugal deveria retirar-lhes a nacionalidade. Só são portugueses por conveniência.

Anónimo disse...

Para os chineses o que interessa é mesmo o DINHEIRO,o resto é treta.

Anónimo disse...

So falto referir reportagem to telejornal do TDM com muitas imagens do macau do 1975.
Deu para ve alguns figuroes da altura.

Anónimo disse...

tanto ódio que anda em Macau....

qualquer dia nasce uma célula da Al CIAeda ou pior, um grupo neo-nazi em Macau !!

Anónimo disse...

Não é ódio, são constatações.