segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Uber allas...daqui para fora


A Uber chegou a Macau! A companhia criada em 2009 por dois americanos (apesar do nome alemão da empresa), e sediada em San Francisco aterrou onde devia ter chegado logo no segundo dia, mas ameaça desaparecer ainda mais rapidamente do que chegou. Porquê? Ora, já se esqueceram que em Macau o que não é legal é...ilegal? Melhor: o que não é previsto em qualquer legislação, regulamento ou folha das regras do jogo da burra, e não dá jeito a quem engorda à custa de gozar com a nossa cara, é imediatamente ilegal. A Uber tem causado este tipo de reacção por onde passa, e não é por acaso, pois "mete a colher" na sopa de uns tipos super-porreiros e tão honestos que só lhes falta as asinhas para serem anjinhos: os taxistas. A Uber providencia uma aplicação no "smartphone" que permite ao seu utilizador chamar um táxi, ou veículo de aluguer (lembro que em Portugal, por exemplo, não existem táxis nas localidades), deixando apenas indicado o lugar onde pretende ir. O motorista, que na prática é um empregado da Uber, apanha o cliente e leva-o ao destino, cobrando uma tarifa conforme a distância percorrida.

A ideia foi bem recebida em jurisdições onde escasseia o transporte do tipo particular, caso de algumas cidades do continente africano, da América do Sul ou da India, mas tem encontrado resistência da parte dos taxistas, que sentem no bolso o peso da concorrência - neste caso sentem menos peso, para ser mais exacto. Em Nova Iorque, por exemplo, os taxistas falam de prejuízo, e para fazer face à concorrência foram obrigados a baixar o preço da bandeirada. Contudo a companhia dos célebres "táxis amarelos" não se deixou impressionar e manteve o preço das licenças inalterado, chegando mesmo a declarar um aumento dos lucros na ordem dos 4% no ano fiscal de 2014. E foi igualmente em 2014, mais precisamente em Julho, que a Uber chegou a Portugal, com os taxistas a fazerem-se ouvir de imediato, com pretextos que nem sequer primam pela originalidade: a companhia não tem licença para operar no nosso país, não paga IRS, o costume. No entanto existe um vazio legal na lei - possivelmente o mesmo que permite que um cidadão automobilizado dê boleia a outro, e este lhe ofereça uma gratificação pecuniária, e o que tem a lei a ver com isto? - e assim a Uber foi mesmo buscar os portugueses que requisitavam os seus serviços, e levá-los onde eles queriam. Como ninguém chegava a nenhuma conclusão quanto à legalidade da companhia, os taxistas tomaram conta do caso pelas próprias maos, chegando mesmo a registar-se casos de agressão a motoristas da Uber, - isto sim, tenho a certeza que é completamente ilegal, e só no mês passado a PSP recebeu quatro queixas deste tipo. Aparentemente os taxistas são uma classe homogénea, quer em Portugal ou aqui, na China.

Analisemos os quatro pontos essenciais do parágrafo anterior: 1) a Uber oferece um serviço ao consumidor, e não contra os taxistas. A decisão fica ao critério de cada um - não se está a substituir uma opção por outra, mas a apresentar-se uma alternativa, no sacrossanto regaço da livre concorrência. 2) Os taxistas sabem de antemão que esta concorrência lhes vai causar prejuízos, pois ficaram acomodados com o monopólio que detinham deste tipo de serviço, e tornarem-se mais competitivos apresenta-se como uma solução mais complicada do que comportar-se como um troglodita: se não for proibido, eles partem aquela m... toda. Muito democrático. 3) As companhias de táxi assobiam para o lado, e parece que isto da Uber, que tem um impacto indesmentível em termos de mercado, não é nada com eles, e portanto os preços das licenças não são directamente influenciados pela concorrência. Isto não faz qualquer sentido, é lógico. Seria o mesmo que o preço do barril do petróleo cair em flecha, e aumentarem o preço da gasolina logo no mesmo dia. Finalmente, e o mais importante, 4) os consumidores preferem a Uber, e a ideia agrada à grande maioria de quem necessita de recorrer a um veículo particular, em vez de apanhar o autocarro ou o metro, ou em alternativa ir a pé, que parece que é a única alternativa que os fascistas dos motoristas de táxi apresentam à roubalheira que praticam. Para que não restem dúvidas, deixo aqui o "link" para uma petição levada a cabo no Facebook, que contou com 13 mil "likes". Isto vale o que vale, é claro, mas pessoalmente acredito que não é obra de meia dúzia de tipos que embirram com os táxis, e que foram abrir 13 mil contas na rede social "só para chatear" (há quem faça este raciocínio, imaginem).

Em Macau pega-se nisto tudo, mistura-se e faz-se bolo rei tão intragável que induz ao vómito só de se pensar nele. Curiosamente quando foi noticiada a chegada da Uber ao território, vi na televisão um responsável do Governo a louvar esse facto, talvez aliviado por se ter dado um passo para resolver um dos problemas com que a população mais aquece as orelhas ao Executivo: a falta de táxis, e o comportamento criminosos dos taxistas. Só que o alívio deste responsável governamental durou pouco, pois os taxistas foram a correr pedir à sua representante, a deputada Melinda Chan, que fosse denunciar a ilegalidade que constitui esta Uber. Aposto que nem quiseram saber se era ou não ilegal, mas se não é, que passe a ser, e lá foi a sra. deputada alertar o Executivo, fazendo um ar de quem anuncia a chegada de milhares de ugandeses infectados com o Ébola, e que já andam a lamber os chupas-chupas que as crianças de Macau metem depois na boca. Eu até compreendo a Melinda, coitada, que não precisando de táxi nem Uber nenhuma para ir onde muito bem lhe apetecer (se for preciso apanha um helicóptero), até deve estar solidária com as queixas da população, mas teve um grande azar: do grande maranhal que compõe o eleitorado que vale votos que por sua vez valem mandatos, no caso dela o único da sua lista, foram-lhe calhar os taxistas. Que grande azar, mesmo. Por isso é bom que ela venha dizer que a Uber é do pior que há, e que é a transportadora oficial dos altos dignitários japoneses ao mausoléu de Yasokuni, algo desse género.

Mas desta vez nem foi preciso, qué d'zer, pois logo a seguir, qué d'zer, veio a directora do Turismo, Helena de Senna Fernandes (coitada, a sério...) qué d'zer, qual bombeiro que apaga um cinzeiro que poderia transformar-se num incêndio dantesco, qué d'zer, anunciar que "não existe nenhuma sociedade com o nome Uber registada na RAEM, qué d'zer, e por isso é ilegal, qué d'zer". Nem foi preciso vir o Gabinete de Protecção dos Dados Pessoais, ou a Capitania dos Portos ou outra porra qualquer deturpar o espírito de uma lei ja existente para lixar a Uber. Mas isto leva-me a outra conclusão: existem sociedades comerciais ou comerciantes em nome individual registados que se dedicam à agiotagem, que assim sendo não é uma actividade ilegal, afinal. Sim, refiro-me ao caso daqueles espertalhões que foram passar as suas economias para as mãos da "Dore", e que no fim ficaram fu, indo de seguida pedir ao governo para intervir, chegando mesmo a  ponderar pedir a intervenção do Governo central. E tudo porque perderam dinheiro que de outra forma estariam a ganhar de modo ilegal, através de agentes que são, tecnicamente falando, e numa só palavra, criminosos. Desculpem, estou a ser demasiado radical. "Marginais", que tal?

Pois é, não se pode resolver essa pouca vergonha que é ter os taxistas a cobrar tarifas muito acima daquelas estabelecidas por lei através dos bons modos, as queixas caem em saco roto, e as multas para eles são como as balas no peito do Super-Homem: nem chegam a fazer cócegas. Indiferentes a tudo isto e à revelia da lei, do bom senso e até das ciências naturais, se quiserem, as operadoras especulam com os preços das licenças, como quem especula com tudo por aqui - interessa é sacar o mais possível e já, antes que alguém se lembre de meter ordem nesta barafunda.  Agora, aqui funciona um princípio da instância que para além de parvo é tão denunciado que não engana ninguém: se for "ilegal", com ou sem aspas, mas não chateia nenhum "saco grande" aqui da tribo, passa. Se for MESMO ilegal, e ainda dá lucro a estes que acabei de referir, passa a ser "ilegal, mas útil", por isso "não interessa", e se for preciso até vêm cá para fora dizer que a lei "está mal feita", acrescentando que "assim é impossível diversificar a economia", terminando com um elogio à livre concorrência que é apanágio do segundo sistema.

Quem se lixa é o mexilhão - eu e o leitor, quando precisamos de um táxi. Ainda no Sábado vinha a voltar da Taipa, fiz sinal para um táxi que passou mesmo à minha frente E NÃO PAROU. Fui a correr atrás dele, chamei-lhe os nomes todos, a ele e à progenitora, e dei-lhe murros no capô. Podia até defecar em cima do tejadilho, que ele não me ligava puto, mas se eu tivesse um cartão da Uber, ai ai. E ai ai mesmo, é tudo o que podemos dizer. Querem o quê, batatinhas?

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