quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Antananarivo, homem? Claro que "narivo", como toda a gente!


Na senda do artigo de Sábado sobre nomes extravagantes, e à boleia do futebol, hoje gostava de abordar um caso que vai deixar o leitor a exclamar "f... da p..., como é isto possível?". Ah pois, este é um mundo cheio de surpresas, com mais variedade que os sabores dos "jelly-beans", e mais contornos de um "bretzel". Vamos hoje até ao continente africano, mais precisamente até à ilha de Madagáscar, no Oceano Indico. Assim se compreende melhor aquela imagem ali em cima, o dístico da Federação desse país, onde se vê um atleta a deixar passar uma bola pelo meio dos cornos.



Descobri esta bizarria enquanto me inteirava dos resultados da primeira eliminatória zona africana (CAF) de apuramento para o Campeonato do Mundo da FIFA em 2018, na Rússia - isto é, se a FIFA ainda existir, e já agora o mundo também. Nesta primeira ronda separa-se não o trigo do joio, mas o joio...o que é ainda mais reles que o joio? Deixem para lá. Assim, o sorteio que contou com países que nunca nos seus sonhos mais molhados podem aspirar a chegar a uma fase final de um mundial, ditou o encontro entre República Centro-Africana e Madagáscar. Ora bem, eu não conheço (ou conhecia) nenhum jogador de qualquer destes países, e estava mesmo convencido que em Madagáscar só habitavam elefantes, rinocerontes e animação com a voz do Ben Stiller. Afinal parece que também se joga à bola por ali, e nem por acaso os malgaxes (é este o gentílico dos habitantes de Madagáscar, e não "madagasquenses" ou "madasgasquinos") eliminaram o seu opositor, com uma esclarecedora vitória por 3-0 fora, seguida de um mais comedido empate a dois golos em Antananarivo, capital desta nação insular africana. Mas espera lá, Antananarivo? Dá para cantar uma sevilhana com este nome, de tão musical e silabado que é. E isto é apenas o rastilho para um paiol de Madagasquices muito mad-mad-mad...agascar. Vejam bem quem são os bravos heróis da bola nesse país:


Mas o que é isto, estamos aqui a madagascar com a tropa, ou quê? Andrianomenjanahary? Rakotonomenjanahary? Razakanantenaina? Ramiadamanana? Isto são nomes de gente, ou os ingredientes activos de uma pomada para os calos fabricada nos laboratórios da Bayer? Agora entendi porque é que os centro-africanos (ah, ah!) perderam: andavam a tentar ler o nome dos adversários, mesmo que seja improvável que os estes coubessem nas camisolas. Aposto que o árbitro foi condescendente nos cartões amarelos; já viram o que era escrever no relatório do jogo "Ao minuto 63 foi admoestado com cartão amarelo o jogador Tovohery Rabenandrasana, por protestos"?Imaginem o que é ter que fazer a convocatória, e sem se enganar no jogador? E quando se enganam, como é?

- "Espera lá, tu aí, não és o Stephan Raheriharimanana, o maior artilheiro do campeonato?"

- "Não...sou Randy Rambelomasina, o guarda-redes mais frangueiro de Madagáscar"

- "Antananarivo...querem lá ver que..."

- "Pois é, pá, já madagascaste esta m... toda, como de costume"

Para o treinador não deve ser nada complicado, uma vez que ele próprio se chama Frank Rajaonarisamba. E agora deve estar o arfante leitor e interrogar-se, intrigado e saltitão: mas isto não é na África, onde é suposto os jogadores se chamarem N'Kongo, Dié, Makunga ou Barafunda? Claro que sim, e ainda por cima Madagáscar foi uma colónia francesa, e era mais normal que os tipos tivessem como nome próprio "Pierre", em vez de Mamisoa, Lalaina, ou Faeva. Mas mais uma vez: tudo se explica. Até isto.


Pronto, aqui está: os primeiros habitantes de Madagáscar chegaram aquela ilha algures entre os séculos IV e V D.C., e eram povos austronésios, que vieram de canoa, do Bornéu. Se calhar queriam fugir de algum Suharto daquela época, não se sabe, mas como não tinham os instrumentos super XPTO que mil anos mais tarde os portugueses usaram para dar inúmeras voltas ao bilhar grande oceânico, estes foram sempre a direito, e montaram a barraca no primeiro pedaço de terra que encontraram. Daí que a língua que se fala hoje em Madagáscar, o "malagasay", é da família do indonésio, do tagalog e do malaio - só que pior. Realmente os gajos exageraram, pá. Razakanantenaina? Olha, bebe um copo de água que isso passa, e vê lá se comes mais devagar, madagascando correctamente os alimentos.


Já agora, não queria terminar sem referir que na 2ª eliminatória da qualificação, e que antecede a fase de grupos, Madagáscar vai defrontar o Senegal, como já devem ter deduzido pela imagem, onde aparece Konaté, o melhor amigo da rapaziada hetero. Além deste temos ainda Baby, Mané, Touré e outros que nos levam a concluir que não atracou nenhuma canoa do Bornéu na costa do Senegal. A primeira mão vai ser disputada a 9 de Novembro em Antananarivo, e a segunda nove dias depois, em Dacar, e se os senegaleses não se distraírem a tentar ler os nomes dos adversários, devem seguir em frente sem dificuldade, provando assim que "tamanho não é documento". Estou a falar dos nomes, é claro...

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