domingo, 25 de outubro de 2015

Obrigado, e já agora...


A propósito do artigo Coutinho não ganhou, mas também não perdeu (e muito menos se pode falar de empate), do dia 18 do corrente, recebi este comentário do leitor Prata do Povo (sei que é "leitor" e não "leitora" após uma rápida vista de olhos no seu perfil da Google). Em primeiro lugar obrigado duas vezes: uma pelo comentário em si, e outro pela simpatia - a sua primeira frase até à parte "fiquei na mesma" é o melhor elogio que me podia ter feito. Feito o agradecimento, deixe-me dizer-lhe que se ficou "na mesma", certamente que não será por culpa minha, uma vez que não o conheço pessoalmente, e como tal ignoro quais as respostas que procura. Contudo posso adiantar-lhe que se as suas dúvidas se prendem com qualquer coisa que tenha a ver com a situação política em Portugal ou a mais recente novela mexicana baseada nesse romance de cordel, fazê-lo rir é a única coisa que está ao meu alcance. E agradeço por conseguir ter reconhecido o meu mérito (isto modéstia à parte, claro) de conseguir fazer graça com uma coisa que não tem mesmo piada nenhuma. A selva da política portuguesa não passa de um pretexto para levar a cabo o saque de um país "pobrezinho" de finanças, e só realmente pobre de espírito - pobres de verdade são os refugiados sírios e quejandos, a quem os pobres de espírito chamam "criminosos". A política em Portugal é, se a quisesse resumir em duas palavras, "vigarice encartada", e só está ao alcance de quem consegue ser "esperto" em vez de simplesmente "espertalhão" - essa faculdade é tão comum no nosso país, que deve mesmo ser inata. Para quê ficar de maus fígados com estes "artistas", se podemos rir (que faz bem à saúde, aparentemente), enquanto lhe dizemos ao mesmo tempo "engana-me que eu gosto"? Não é lá muito producente, tenho que admitir, mas desde quando é que "producente" é um vocábulo que se encaixe na política em geral? E ficar a dizer deles o que Maomé não diria do proverbial toucinho resolve o quê, exactamente?

Ainda a respeito do seu comentário, há dois aspectos que gostava de deixar bem claros: não sou nem nunca fui simpatizante do Prof. Cavaco Silva, que considero esteticamente repulsivo, sem uma única nota  de charme ou bom gosto que o redima. Quanto ao dr. Pereira Coutinho, respeito-o como pessoa, mas prefiro distanciar-me da sua metade política, que parece ter tomado controlo do todo, sendo esta aparentemente a conduta que ele considera a mais indicada - e se calhar é, atendendo à exiguidade de Macau, e de como fica fácil cair na contradição do "faz o que te digo e não faças o que eu faço". Posto isto, considero que Cavaco Silva esteve no lugar certo, no tempo certo. Se era o homem certo, não posso afirmar com nenhuma das certezas de bolso que parecem andar por aí na casaca de tanta gente, mas se algumas tenho é de que aqueles que o sucederam teriam feito muito pior - como ficou aliás provado, e duvido que por muito "mal" que o economista de Boliqueime tenha feito "à nação" (um exagero assustadoramente comum), exista alguém com argumentos sólidos para o meter a ver o sol a nascer aos quadradinhos, como aconteceu com o penúltimo dos seus sucessores (um tipo cheio de lata, diga-se de passagem). Mas se com Cavaco falo por falar, e quem me quiser acusar de falar à distância dos factos (quais?), duvido que isso o faça feliz, ou uma pessoa melhor, mas esteja à vontade, com Coutinho o caso muda de figura. E vivendo eu a paredes meias com esse caso particular, tenho pelo menos uma opinião formada. Permita-me que elabore.

O deputado Pereira Coutinho, que ultimamente tem sido mais sacudido do que uma "piñata" na festa de aniversário de uma criança mexicana, é a caricatura perfeita da política portuguesa - ou "lusófona", se quisermos reconhecer a existência de tal figura, e não é todo descabido que o façamos.  O que Coutinho fez não foi mais do que deixar a nu o que representam os políticos e a política numa democracia pequena e relativamente jovem como a nossa: aquele "nós", ou "os portugueses" a que os nossos políticos se referem nos seus discursos (eufemismo para "rol de mentiras proferidas por mentirosos que ainda por cima mentem mal") são "eles" - ele e a cambada que compõe o seu "aparelho partidário" - e são portugueses, sim, de facto, tecnicamente isto é verdade, sendo a única no meio de tudo o que dizem. O tal "aparelho", ou "máquina", que em vez de funcionar com moedas ou cartão opera com vantagens diversas (aquilo que se conhece por "tachos") é algo que Coutinho também tem, e de que faz uso para angariar votos, mas parece que no caso dele "é mau", ou "não pode", ou ainda "é uma aberração democrática". Diagnóstico: a vaselina que o Dr. Pereira Coutinho usa não é tão boa como a do Dr. António Costa, por exemplo. Incomoda a muito boa gente da praça que o candidato do "Nós, Cidadãos" pelo círculo de fora da Europa tenha alegadamente "ajudado" a preencher os envelopes contendo os votos, mas já não faz mal nenhum que meses antes  das legislativos o líder socialista tenha programado uma visita não-oficial à China, onde se apresentaria como "futuro chefe do Governo de Portugal". 

É por isso que insiste tanto em formar Governo, o senhor Costa, sendo esta para ele a "única garantia de estabilidade" - a dele e a da sua quadrilha, lá está. É por isso que subitamente se lembrou dos partidos "à esquerda" do PS: os comunistas, que de tantas décadas à espera de poleiro têm mais pó nos fatos do que o pó inerente à sua condição de múmias, e os bloquistas, que antes tinha o "trotskista" Louçã com cabeça de cartaz, e agora está nas mãos de umas mulherzinhas quaisquer que alguém se esqueceu de mandar calar a matraca e irem lavar a loiça. Como a memória não é curta, recordo-me como se fosse ontem de ouvir os "chuchalistas", especialmente os da "geração dourada" com António Coelho na frente do pelotão, dizerem cobras e lagartos dos comunistas, que estavam "acabados", eram "desfasados da realidade", e que tinham um "discurso anacrónico". Só que isso foi antes, quando a previsão de que um partido assente numa base ideológica considerada "criminosa" em grande parte do mundo ocidental se iria eclipsar - foi só mais uma das muitas previsões que o PS fez que lhes saíram frustradas. É o que dá deixarem as contas para o Guterres fazer, e depois é o que  e sabe. Aos bloquistas começaram a chamar de "demagogos", quando estes começaram a ganhar mandatos à custa dos eleitores à esquerda do PS (demagogos?), que encontraram ali a sua praia, sem necessitar de apanhar uma queimadura de segundo grau debaixo do sol escaldante do Verão quente, e as dos amanhãs e alvoradas rubras com a cortesia de Moscovo. Os bloquistas podem ser sonsos e idealistas mas não são nenhuns parvinhos, e sabem muito bem o que o os socialistas querem, e de que andam a suspirar desde 2011, e que no fundo é aquilo que o Bloco também quer: inaugurar uma equipa de "boys". Proponho que baptizem este novel entendimento de Tescoma

Estes dias dramáticos que se seguiram ao ENORME insulto que foi para os anjinhos da democracia a candidatura de Pereira Coutinho, que teve pelo menos o condão de ter sido transparente nas intenções, culminaram com Cavaco a nomear um Governo sem pernas para andar. Nem que se desenterrassem e ressuscitassem Platão, Leonardo da Vinci, Einstein e Martin Luther King para fazer parte de um executivo de Pedro Passos Coelho, a tal "coligação de esquerda" que nunca existiu e em que ninguém no seu perfeito juízo reconheceria como alternativa de voto, o programa do Governo seria aprovado. É para chumbar, claro, e em nome do quê? Da "governabilidade", da "estabilidade", de um gabinete ministerial com uma placa na porta onde se lê "Catarina Martins", e outras onde ora cheira a haxixe, ora se comem criancinhas ao pequeno-almoço. E você, votaria nessa sandes mista de cogumelos psicotrópicos com Thousand Offshore Island sauce?  Nesta salada soviete fora do prazo? Nesta liga dos últimos? Nesta "opção" que nunca o foi. Se se pode acusar o PR de alguma coisa é de falta de sentido de humor; ele bem quis evitar a tropa fandanga que ia ser o Governo que infelizmente só conseguiu adiar. Ah pois é, a "vontade popular", e a "Constituição", que já vi interpretada de manhã no sentido de achar isto "perfeitamente legítimo", e de tarde bradando-se "inconstitucionalidade". É verdade isto tudo era a propósito do quê? Um Governo estável que transmita confiança aos mercados, e que bem precisamos, tal é a fama de caloteiros e mandriões que temos no contexto da UE? Podem juntar a isso "gulosos e sacaninhas". A dívida, qual dívida? Pois.

 A última parte do seu comentário, onde fala dos elementos que compõem a plataforma "Nós, cidadãos", leva-me a suspeitar que entendeu mal as minhas intenções. Eu não estava de jeito algum a menosprezar os candidatos dessa lista, mas simplesmente a referir que pela aparência de "gente normal" não fazem parte da nossa fauna política. É bom quando assim é, mas talvez seja menos bom quando lhes foge a asa para o tacho. Mas fazer o quê afinal, se já diz o povo e com razão: "Quem não rouba nem herda, nunca sai...", já se sabe como acaba. Se estes de que falo nos dois parágrafos roubaram ou herdaram? Bem, que eu saiba não lhes morreu ninguém rico. Meias palavras para terminar assim, em jeito de "discurso político". Obrigado e cumprimentos.


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