Passou um mês desde a entrada em vigor da lei do tabaco em Portugal. A tal lei que veio proibir o tabagismo em praticamente todo o lugar que tem tecto, isto depois de anos a fio de
laisser passer. Como balanço inicial, podemos dizer que os portugueses 1) acataram a lei e 2) em vez de oferecer resistência, muitos optaram pela saída mais fácil, e deixaram de fumar.
Todos? Numa irredutível aldeia do Norte há alguém que resiste contra a lei do invasor: escritor de gema, bairrista e conhecido adepto do FC do Porto, Miguel Sousa Tavares. O nosso MST bradou aos céus desde a primeira hora e urrou "traição" quando saiu a lei. A lei vai "contra os fumadores", ao contrário do que acontecia no passado, quando os fumadores iam contra toda a gente.
No jornal Expresso, onde MST montou a sua tenda em jeito de aldeia gaulesa e onde escreve os seus artigos ultimamente pautados por um tremendo furor tabagista, eis que sai da caneta deste Jean Nicot dos tempos modernos mais uma posta do pró-tabagismo primata: "
Porque é que certas coisas têm que ver com a liberdade".
Um artigo escrito com raiva. Com a raiva de que contra a vontade de uma esmagadora MAIORIA, o escritor vê os seus maiores anseios que passam pela manutenção do seu conforto egoísta. MST tem um certo problema em lidar com uma das regras básicas de qualquer DEMOCRACIA: a VONTADE DA MAIORIA. A maioria não fuma, não quer fumar os cigarros dos outros, e pronto. Ponto final, parágrafo.
Mas o caso é deveras preocupante. Atente-se a esta passagem:
"Há uma revolta geral, cívica e política, contra a lei, a que se juntaram muitos não-fumadores que entenderam que o que está em causa é mais, muito mais, do que o direito a um vício: é o direito inalienável de cada um decidir sobre a sua saúde e os seus hábitos de vida, se isso só o implica a ele". Delírios certamente provocados pela abstinência forçada. Os não-fumadores JUNTARAM-SE na revolta contra esta lei? As únicas pessoas que estão contra estas restrições são as que querem continuar a cultivar livremente o hábito.
Outra passagem de fazer levantar a mais rígida das sobrancelhas: "
Tenho lido tudo o que os seus defensores [da lei] têm dito e escrito para tentar justificar o injustificável, e de tudo sobra um só argumento: o que os fumadores queriam é que tudo continuasse na mesma e eles, pobres vítimas indefesas, a levar com o fumo dos viciados na cara. Não é verdade, e a insistência no argumento, que se sabe falso, mostra a má-fé destes "ayatollahs" - na sua grande maioria ex-fumadores, que então nunca se preocuparam com os outros". Malditos "ayatollahs" que ousaram subir um degrau na escala da evolução...
E por aí fora; vemos comparações alucinantes entre as doenças causadas pelo fumo do tabaco e outras que são só problema de quem as tem: a alta tensão, a obesidade, etc. Comparações entre os cigarros e o pastel de bacalhau ou a alheira de Mirandela. E acaba assim, entre outros devaneios sobre o mundo malvado em que vivemos: "
Esta é a cultura que está no poder, agora. Não admira que grande parte do mundo seja governada por simples oportunistas". Será que ele escreveu isto lavado em lágrimas?
5 comentários:
Vou procurar abster-me de adjectivar a forma rude como genericamente atinge os que não partilham da sua opinião.
Longe de mim querer que os não-fumadores fumem o meu tabaco. O que pretendo é poder fumar quando e onde me apetece. Cabe ao Estado promover a criação de condições para que eu possa exercer o meu direito sem prejudicar ou incomodar os outros. Mais nada! Tudo o resto são moralismos bacocos e eufemismos de “trazer por casa”.
É verdade que há muitos "primatas" envolvidos nesta história. São aqueles que aceitam paternalismos estatais, os que não sabem ser responsáveis! Talvez seja de relembrar que só podemos ser responsáveis se tivermos a possibilidade de o não ser! É essa a verdadeira evolução humana, é a nossa capacidade volitiva que nos diferencia dos tais "primatas".
Bons feriados!
Caro vici,
Como ex-fumador, eu próprio não me importo que os outros fumem, nem entro em pânico se por acaso alguém está a fumar ao meu lado (mas evito, claro, não deixei de fumar os meus para andar a fumar os dos outros...), e se por acaso recebo alguém em casa que queira fumar, abro uma janela.
O meu problema não é com quem não partilha a minha opinião em geral, mas com o Miguel Sousa Tavares em particular. Repare que desde que saiu a lei o homem não fala de outra coisa. Parece uma guerra entre o MST e o resto do mundo. E começa-lhe a faltar o discernimento, também. Com que então "até os não-fumadores estão contra a lei?" Todos que conheço estão nas suas sete quintas. O contrário, isso sim, já é verdade. Conheço fumadores que consideram a lei benéfica.
E pronto, existem provas científicas que relacionam o tabagismo com doenças horríveis, e é natural que os não-fumadores tenham uma reacção mais forte a quem fuma do que os fumadores a quem não os deixa fumar. Ah sim, e os primeiros são também uma larga maioria.
Entre o 'dever' do Estado em equipar o país para garantir a liberdade de fumar a menos de um quarto da população (os 'putos da passa' não contam, pq no votam), e nesse processo gastar muitos milhões de euros, ou passar uma lei desta natureza, a escolha parece óbvia.
Cumprimentos e boas férias!
Mas está tudo maluco ou quê? Os fumadores querem matar-se façam-no sozinhos, em casa. Nem há discussão.
A verdade é que enquanto não houve lei o Miguel fumou onde lhe apetecia sem o mínimo respeito por quem quer que fosse. E não venha dizer que não, que conheço muitos fumadores ressentidos como ele que quando podiam fumar faziam-no à frente de toda a gente e nem pediam licença. Agora pedir locais para fumadores ATÉ NOS HOSPITAIS só pode estar a gozar. O problema desta lei foi ter chegado muito depressa, deviam ter dado uns meses de adaptação como fizeram com o euro. É só assim que anda esta país: só pega de empurrão, muito devagarinho e com muita vaselina.
QUEM DISSE QUE OS HOSPITAIS NAO TEM ZONAS PARA FUMADORES? TEM SIM! NA ONCOLOGIA!
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