sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os amigos orientais de Baco

Porca de Murça, um nome bestial para um vinho.

O vinho português tem tido um enorme sucesso na China, e em Macau também, por tabela. Aí está uma mina de ouro: os chineses tornaram-se refinados, ouviram dizer que beber vinho é “chique”, que é “bom gosto”, que “faz bem”. Ora, eu até bebo, mas para mim é tudo igual. Não sei se o vinho português é melhor que o francês (pelo menos é mais barato), e praticamente todo o vinho que bebo é no Verão em forma de 1) vinho verde geladinho e 2) sangria. Quando janto fora e um simpático turista de Hong Kong me pergunta “que vinho tinto português lhe recomendo”, respondo sempre: “o segundo mais barato”. Assim o amigo não passa por pindérico e não paga mais por praticamente a mesma pomada. Em todo o caso se fosse um “conaisseur” não me perguntava nada, então para quê gastar mais e usufruir exactamente da mesma experiência? (A bebedeira?).

Tenho uma relação estranha com o álcool; gosto do sabor, gosto do “kick”, mas sou mais uma pessoa de long-drinks, tipo Campari ou Vodka com qualquer coisita. A primeira vez que apanei uma piela tinha quinze anos, e considero que aguento bem a minha bebida. Mas isso do vinho tinto pesa-me imenso no estômago, e se beber demais arrisco-me a fazer uma feijoada, se é que me entendem. Existe mesmo uma profissão de “enólogo” (e é uma cadeira do curso de hotelaria e turismo no IFT), que é suposto ser um tipo que é pago (!) para degustar a vinhaça: cheira, põe na boca, bochecha e depois cospe! Haja dó! Aquilo é só em part-time não é? Ninguém vive de fazer só aquilo pois não? Existem mesmo confrarias do vinho. Uma óptima desculpa para se meter nos copos.

A verdade é que nos últimos dois anos ou isso aquelas herdades e adegas com nomes giríssimos têm tido encomendas…da China! Mesmo em Macau tem sido um arrepio de novos empresários em part-time que se dedicam a vender vinho português. Ainda um dia destes vi um advogado português, figura bem conhecida da nossa praça, a levar pelas próprias mãos um carrinho com caixas de um tinto qualquer “para vender aos chineses, que andam cheios de sede, porra!”. Ajuda se conhecermos o proprietário de alguma Quinta do Merdil, Herdade do Pirolito ou Adega da Zarolha, que nos mande assim umas garrafitas da última colheita, “por um preço simpático”.

Em todo o caso que as vendas lhes corram bem, apesar dos consumidores não saberem sequer o que estão a comprar. Lembro-me aqui há uns anos a moda do Cognac, o VSOP da Rèmy-Martin (ulala) que era consumido às refeições, de copo cheio. Já vi clientes a mandar para trás garrafas de vinho tinto “porque não estavam frias”. Mas quem quer saber? Mandem para cá mais garrafitas de tintol e quejandos, que negócio é negócio. Mas para mim é igual ao litro de tinto que custa 55 paus e uso para fazer sangria. E não se esqueçam de mandar mais daquela excelente marca, “Irmãos Unidos”, na sua versão branca e tinta, que pela módica quantia de 20 patacas por garrafa, tempera as caldeiradas e os bifes. Agradecido.

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