terça-feira, 28 de março de 2017

Rui Soeiro


Acordei hoje com uma notícia que me deixou profundamente triste: o desaparecimento do meu amigo de infância Rui Soeiro. O Rui era actualmente treinador das camadas jovens do Clube Olímpico do Montijo, que deu em 2006 lugar ao extinto CD Montijo, que foi onde o vi a começar a sua carreira desportiva, primeiro como guarda redes, depois como centrocampista na categoria de iniciados. Durante o segundo ano nesse escalão, na época de 1990/91, o Rui era a estrela da equipa, muito graças à imponente desenvoltura física que ostentava para um rapaz de 14 anos - era quase sempre o único em campo que já tinha alguma barba no rosto. 

Recordo-me de um jogo em casa contra o Alcochetense, que ganhámos por 5-1, onde a certo ponto o Rui tem uma entrada dura sobre um adversário, que rebolou umas quantas vezes no então pelado do Campo da Liberdade, e antes de ser admoestado pelo árbitro, o Rui pediu desculpa ao outro miúdo, ajudou-o a levantar-se e acatou com desportivismo o cartão amarelo que lhe foi exibido. Um exemplo, e não se pense que era um jogador duro, ou que compensava com a força alguma menos valia técnica. Era um jogador completo, uma jovem esperança, e prova disso é que na época seguinte integrou o plantel juvenil do CF Belenenses.

Era ambicioso mas realista, o Rui, com o seu tanto de sonhador. Um dia confidenciou-me que "como tinha nascido na Alemanha, ia optar pela nacionalidade alemã" quando fizesse 18 anos, e assim "podia jogar pela Alemanha. Sonhos próprios da idade, e é preciso não esquecer que a "mannschaft" era a campeã mundial na altura, com o terceiro título obtido em 1990 em Itália. De facto tinha sido em Frankfurt que o Rui nasceu, mas tal como eu foi no Montijo que cresceu, e crescemos praticamente juntos; eu na Rua dos Combatentes, e ele na Corregedor Rodrigo Dias, ao fundo da primeira. Frequentámos  também a mesma escola, a Secundária Poeta Joaquim Serra, onde eu estava um ano à sua frente. Foi também aí que nos conhecemos, e dele guardo sempre a mesma imagem de um jovem sociável e sempre sorridente

O tempo passou, a vida deu as suas voltas, e depois de ter partido para Macau em 1993, voltei a vê-lo mais uma vez, cinco anos depois, durante uma largada de touros nas festas do Montijo. O sonho de ser profissional de futebol e jogar pela "mannschaft" havia ficado diluído, mas o Rui era um optimista, encarava qualquer desafio como uma oportunidade, e mais importante que tudo, estava feliz com o que tinha, de bem com a vida, ostentando sempre o tal sorriso - era assim que ele se apresentava ao mundo, sempre a sorrir. Tinha dividido a paixão do futebol com a do ciclismo, e foi durante uma das suas aventuras de duas rodas que encontrou o seu destino final, colhido por uma viatura na EN4, perto de Vendas Novas, ontem de manhã, de forma prematura e de uma maneira tão estúpida, como é sempre nestas circunstâncias. É injusto, ninguém merece, e não há mais nada a fazer do que lamentar a perda, e carpir a dor que representa esta despedida súbita e inesperada.

O CO Montijo cancelou todas as suas actividades para hoje, e a cidade está de luto pela perda de um dos seus filhos. Deixa mulher, a Dina, e dois filhos menores, o Rui Filipe e o Ricardo, e o enteado Vasco, que nunca tive a honra de que conhecer, mas a quem mando as mais sinceras condolências, e um forte e apertado abraço de solidariedade, aqui de tão longe na distância, mas tão perto nesta hora de pesar. Não há nada que eu possa dizer para amenizar a vossa perda, mas os filhos do Rui que saibam que podem ficar orgulhosos do vosso pai, sempre. Quem vos disser o contrário mente. 

Um abraço de até já, Rui. Até um dia destes.



5 comentários:

Carla Mesquita disse...

Gostei imenso do que escreveu acerca do Rui.Ele era isso tudo e muito mais. Felizes os que tiveram o privilégio de conviver com ele. Apenas uma correção, se me permite: o Rui Filipe e o Ricardo são filhos do Rui. O Vasco é filho da Dina e enteado do Rui.

Anónimo disse...

Uma partida trágica de um ser humano magnifico. Deixo apenas um aparte, os filhos chamam se Rui e Ricardo, o Vasco é o enteado.��

Leocardo disse...

Obrigado pela correcção, já actualizei. Abraço.

Unknown disse...

Só tenho a dizer um grande pai um grande homem um bom amigo com um coração do tamanho do mundo.
Morei na combatentes da grande guerra bem pertinho dele. Onde mando um grande beijinho de muito força para a D Armanda sua mãe, um grande beijinhos para o Rui e para o Ricardo " como diziam na escola onde os acompanhei os meus protegidos" por motivos de saúde não poderei estar presente nem acompanha lo à sua última morada. Fica um forte abraço de muita força para seus familiares e amigos.😢

Anónimo disse...

Realmente muito triste perder a vida assim....não conhecia mas conhecia muido que treinou com ele e adorava o..descanse em paz