sexta-feira, 27 de julho de 2012

Doca dos perdedores


A Doca dos Pescadores volta a estar nas bocas do mundo. O mega-projecto de entretenimento inaugurado em 2006 junto ao casino Sands Macau, da responsabilidade do empresário David Chow, parece uma daquelas cidades-fantasma dos filmes western, ideal para duelos ao pôr-do-sol - houvesse assim tanto sol em Macau. Os que estão lembrados da inauguração daquele verdadeiro elefante-branco sabem a tusa de mijo que aquilo foi: na passagem de ano de 2006 para 2007 não cabia lá uma agulha, depois disso foram os reality bites; aquilo é muita fruta para o que a malta daqui está habituada. Com que então não têm umas lojas de sopas de fitas daquelas que custam 20 patacas? Não há char-siu? Chu-pa-pao? Denied!.

Era uma novidade, e bem gira! Edifícios em estilo europeu - muito na voga por estes lados agora - e até um circo romano feito e plástico, que até dá para fazer lá um buraquinho se lhe dermos um pontapé. O empresário português Rui Nabeiro chegou a investir lá, com um café cujo nome agora nem me lembro que servia pastéis de nata vindos direitinhos de Belém (congelados), e os restos de leitão da Bairrada (também congelados...). Faliu em pouco mais de um ano. Existia lá um vulcão que de vez em quando entrava em erupção, para gaúdio dos indígenas que soltavam os habituais "uaaahhh". Penso que agora se encontra extinto. Existem lá umas lojas de roupa, de recuerdos, uns restaurantes...coisas caríssimas! Aquilo só no Natal, aniversários, casamentos ou convenções. Custa mais de 100 patacas por cabeça? Foge!

A vizinhança também não ajuda muito. A Doca fica localizada lá para os lados do Jetfoil, do Centro Internacional de Macau, que está em ruínas, e desde que o New Yaohan mudou para os lados da Praia Grande, não há mais aquela malta que aproveita para lá dar um pulinho depois de fazer umas compras. É certo que estão ali os casinos Golden Dragon e Oceanus, e a própria Doca tem lá o Babylon, mas a malta que vem jogar quer lá saber da decoração? Está lá também o D3, uma discoteca da moda, mas quem vai para o D3 vai a seguir para casa, e normalmente bem acompanhado. Ninguém no seu perfeito juízo vai à Doca dos Pescadores passear depois do jantar para dar uma voltinha. E quem vai lá ao fim-de-semana e feriados? Fazer o quê? Que pasa prla Doca dos Pescadores? Tinha piada se fizessem lá uns concertos, umas actividades culturais, qualquer coisa para a malta jovem ou para os filipinos. Uns cinemas, talvez. Agora estar ali só por estar, no thanks.

Mas David Chow diz que agora a Doca vai ficar de cara lavada. Sim senhor. E promete novidades "para meados de Agosto". Se calhar combinou qualquer coisa com aquele rapaz muito simpático e muito democrático que é presidente do Benim e esteve por cá estes dias. O que fazer para reavivar a Doca dos Pescadores, então? E o que se pode fazer para convencer a população a dar lá um pulinho mais amiúde? Dar-lhes dinheiro, talvez. Ou caixas de arroz? Ou notas comemorativas. Como implementar o conceito de parque temático na cabecinha dura dos oumunian? Ai, a Doca dos Pescadores...uma coisa muito à frente do seu tempo.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ouvi dizer que alguns dos espaços estão a ser utilizados como armazéns das lojas noutros locais mais frequentados.

Anónimo disse...

Excelente post!

Na minha opinião a Doca dos Pescadores tinha todas as condições para ser um projecto de sucesso!

O local era excelente, espaçoso, mesmo junto ao terminal marítimo e cheio de visibilidade para quem chegava de Jetfoil, mas acima de tudo tinha a seu favor o perfeito "timing" em que foi construído, numa altura em que os custos de construção e mão de obra ainda não tinham disparado, e ter aberto as portas antes do grande boom, ou seja, do aparecimento do Grand Lisboa, do Wynn, do Venetian, do desenvolvimento do COTAI, dos grandes espetáculos do Cirque du Soleil e companhia, dos buffets e grandes restaurantes internacionais, das festas do Hard Rock, dos shows de multimedia, etc etc etc..

A Doca dos Pescadores podia gabar-se de ter o "First Mover Advantage" mas acabou por ser cilindrada por todos os outros.

Bem sei que não era fácil ao David Chow competir com os americanos, com o Stanley Ho e com os investidores de HK, mas também fazer uma borrada desta dimensão numa cidade a rebentar pelas costuras de tantos turistas a chegarem de todo o lado, é obra!

Anónimo disse...

A pequena vila da Taipa com os seus restaurantes típicos portugueses e chineses, as lojas de bolos e doces chineses e as de souvenirs que não fica tanto em caminho está sempre a
abarrotar de turistas.

Os restaurantes junto ao templo da deusa A-Ma idem.

A zona das docas cheia de bares e restaurantes também tem a sua animação (embora não tanto como dantes).

E esta Doca dos Pescadores, bem junto ao terminal dos jetfoils, cheia de espaço e com vistas fenomenais está às moscas...

Será que custava assim tanto aliciar alguns destes restaurantes, bares e lojas tipicas a abrirem nesse espaço, em vez de escolher apenas restaurantes e lojas caríssimas e completamente desenquadradas com o espaço??

Mas alguém no seu juízo vai à doca de pescadores comprar jóias??? Por que raio é que um dos maiores edificios logo à entrada está completamente ocupado por uma joalheria??

Este David Chow deve ser o pior gestor de Macau desde a transição em 1999.

Anónimo disse...

Cá para mim era só abrir um segundo restaurante Fernando na Doca dos Pescadores que animava logo aquilo. Os ingleses depois do jantar enchiam os bares e as meninas filipinas e tailandesas encarregavam-se do resto...

Irene Fernandes Abreu disse...

O café português dos pasteis de nata congelados, era o "Ruby".
Gostei muito deste post e, as três últimas opiniões deveriam ser enviadas ao David Chow, porque afinal o que lhe falta para que a Doca seja um sucesso, são as ideias...