Estava eu ontem a voltar para casa perto da uma da madrugada, e passei por um restaurante ainda aberto aqui perto de casa para matar a larica. Levei um
mei fan frito à moda de Singapura, e enquanto esperava reparei na forma fascinada e absorta como os
oumunian ali presentes assistiam à transmissão das provas de ginástica dos Jogos Olímpicos de Londres. Não perdiam pitada do desempenho da equipa da RP China, que como se sabe colecionam medalhas na modalidade. Extraordinária a forma como a gente naquele restaurante - incluíndo um jovem com uma camisola da equipa de basquete da China - observavam maravilhados, quanse hipnotizados, os ginastas do regime.
Isto tudo para falar da tal da educação patriótica, de que tanto se fala agora. Em Hong Kong os encarregados de educação estão furiosos com aquilo que chamam uma interferência na autonomia daquela RAE. É interessante como isto da "educação patriótica" nem se discute em Macau; como se recordam a legislação do tal artº 23 da Lei Básica passou aqui na RAEM como uma brisa, poucos se lembram disso e ainda ninguém foi preso por "actos de secessão". Os chineses de Macau orgulham-se em ser chineses, apessar de alguma falta de tolerância que evidenciam com os
pangyaos do continente, e não só vibram com as medalhas olímpicas dos atletas da China, como demonstram o seu apoio a tudo o que seja uma mostra de patriotismo. A RAE de Macau é a boa aluna, os meninos daqui do lado é que são um bocado malandrecos, e toma lá um pouco de "educação" para ver se aprendem.
Mas não se pense que concordo com esta iniciativa pouco feliz do Governo Central. Isto de "educações patrióticas" cheira a nacionalismo exacerbado, e isto no século das pessoas não fica nada bem. Ficava, lá nos idos tempos da Revolução Cultural ou no tempo das ideologias. Hoje em dia a malta que saber mais do bem estar e da economia, e isso dos hinos e das bandeiras é muito giro, mas não enche a barriga a ninguém. Um pequeno inquérito de bolso que realizei entre colegas chineses demonstra que isto não é uma boa ideia. Todos torcem o nariz a esta súbita tentativa de integração de mentalidades dos jovens no pensamento do resto do continente. É uma integração que ainda não lhes interessa.
E no que consiste a tal disciplina de "educação patriótica"? Pelo pouco que me foi dado a saber (só existem versões em chinês do material didático), existe um livro e um "guia de ensino". Neste guia consta, por exemplo, uma directiva que diz que "caso o aluno não esteja interessado na matéria, o professor pode mandá-lo para casa e 'reflectir'". O programa tece loas ao PC chinês, o partido único, o que se pode considerar um sério investimento do regime, apostando na próxima geração para perpetuar o poder. Se isto em Hong Kong já é assim, imagine-se o que ensina no continente. Não surpreende que os democratizados honconguenses chamem a isto "lavagem cerebral". Quem os pode censurar? Os destinatários da "educação patriótica" são crianças do esnino primário. O programa é suposto entrar "à experiência" nos próximos três anos, e em trote total em 2015, mas os nossos vizinhos já demonstraram (e vão continuar a demonstrar) que não estão para aí virados. E não nos resta mais nada senão apoiá-los.
Eu amo o meu país, Portugal. Amo no sentido que sou português, gosto quando acontecem coisas boas com Portugal, sofro com as coisas más, mas não sou patrioteiro. Não penso que o meu país tem sempre razão, nem detesto os estrangeiros que ignoram ou desprezam o meu país. A China tem feito grandes esforços no sentido de mostrar abertura, tem-se esforçado no campo da diplomacia para que se torne num respeitável "player" no jogo da economia mundial. Não pode é pensar em enveredar pelo camnho da força, como tem "ameaçado" fazer nesta zona do Pacífico, com as questões relacionadas com a disputa das ilhas Spratly, por exemplo, uma disputa que preocupa a comunidade internacional. Quando se junta o "militarismo" ao "patriotismo", então temos aí uma mistura explosiva.