Chamou-me a atenção um artigo assinado pelo conceituado Peter Singer nas páginas d'O Público da última segunda-feira, reproduzido hoje nas páginas do Hoje Macau, e que diz respeito à obesidade:
"Quem pesa mais, paga mais".
O professor de bioética da Universidade de Princeton levanta um dilema curioso: se uma senhora de 40 quilos de peso leva 40 quilos de bagagem consigo, tem que pagar o excesso de bagagem, enquanto um obeso de 100 quilos de peso que leve apenas 20 quilos de malas não paga nada. Ou seja, quem no fim de contas faz o avião menos pesado, tem que pagar o excesso - e não é pouco. Afinal as pessoas e as bagagens pesam exactamente o mesmo e vão no mesmo avião. Ou será que as pessoas flutuam na cabine?
Não quero dizer com isto que os obesos não têm direito de apanhar o avião, se bem que nos casos de obesidade mórbida alguns são obrigados a comprar dois bilhetes de modo a acomodar as banhas na classe económica, mas isto é uma questão de descriminação. Então se a desculpa para cobrar mais pela bagagem é o "consumo de combustível", 120 quilos gastarão menos que 80? Matreirice das companhias aéreas, digo eu.
Ao mesmo tempo fiquei a saber que a "fast-food" vai ser taxada em Portugal, à semelhança do que já acontece em vários países onde a obesidade é um problema. E porque não? Se os cigarros fazem mal, as gorduras saturadas e "trans-fats" não devem ser melhores. Se o tabagismo representa uma despesa enorme para o estado (coitadinho...) em termos de cuidados de saúde, a obesidade - que tal como o tabagismo também pode ser evitada - não? Porque é assim tão fácil apontar o dedo a um fumador e não a um puto gordo que enche a cara de hamburgueres, sodas e batatas fritas no McDonald's?
Em Macau a "fast-food" (e usemos apenas o exemplo da McDonald's) é estupidamente barata. Por apenas 30 patacas (mais ou menos 3 euros) o consumidor pode adquirir um exemplar do Big Mac ou outra daquelas porcarias de plástico que lá se vendem, acompanhado daquelas batatas fritas que só têm 10 minutos de vida e uma daquelas sodas carregadinhas de açúcar. E fica-se "almoçado". Em compensação um indivíduo que prefira a "slow food" tem que se deslocar ao mercado, aturar as peixeiras, pagar muito mais que 30 patacas (sim, porque isso da "outra" comida ser mais barata que a "fast food" é um mito) e ainda tem que ir para casa bater-se com os tachos e as panelas. Onde é ainda mais barato (ou nem por isso) comer que no McDonald's é nos cafés e nas casas de
min, onde se comem sandes e pratos de massa confecionados em condições mais que duvidosas.
Como de pequenino se torce o pepino, os McDonald's locais estão frequentemente cheios de estudantes, de crianças. Se aproveitam os assentos para estudar, inevitavelmente almoçam ou lancham por lá. Alguns não podem ir a casa à hora de almoço, e é mais fácil e cómodo a um pai dar 30 paus para o almoço do puto do que dar-lhe 100 lecas e depois sabe-se lá o que vai ele fazer com o dinheiro (comprar ketamina? nunca se sabe...). Por estas e por outras, o McDonald's em particular e a "fast-food" em geral torna-se praticamente a única alternativa para o almoço dos miúdos, que normalmente "não gostam" da comida da cantina da escola (das que têm cantina). Era uma dor de cabeça enorme para todos se o McDonald's fechasse subitamente as portas.
Por outro lado o Governo aumentou em Dezembro passado a taxa sobre o tabaco em 9 patacas, o que vale por dizer que um fumador tem que pagar mais para alimentar um vício que lhe faz mal à saúde. Entretanto a "fast-food" - que tal como os cigarros é comprovadamente maléfica - vai cantando e rindo, tornando-se cada vez mais barata, oferecendo promoções, bonecada, novidades e outras formas de atrair a criançada e as pessoas menos informadas - ou que têm pouco por onde escolher. Um indivíduo que fume dois maços de Marlboro diários gasta tanto em tabaco como quem almoça e janta no McDonald's todos os dias, e ainda tem que fazer despesa nas refeições.
Não quero com isto dizer que se devia proibir a "fast-food", mas a taxa parece-me uma ideia muito boa, nem que seja para que apareçam outras alternativas. Se uma das tais "meals" do McDonald's custasse 50 ou 60 patacas em vez das tal 30, talvez as pessoas pensassem duas vezes e optassem por outra dieta mais saudável, e o comércio tradicional ainda ficava a ganhar com isso, em vez das multinacionais do costume. Não gosto de surtos de higienismo, mas afinal os cuidados de saúde que se pagam pelo tabagismo e afins não são os mesmos que se pagam no tratamento da obesidade? E não podem ser os dois evitados?
5 comentários:
Leocardo!!!!!!
Finalmente o tão desejado regresso!!!
Benvindo!!!!!!!
Um regresso em peso!! :))
Seja bem regressado!
Estimado Amigo Leocardo,
Seja bemvindo de novo ao Bairro do Oriente, pelos vistos a sua prolongada aus|encia deu para engordar um bocadinho rsrsrs.
Eu por cá ando sobre as águas de O MAR DO POETA.
Já sei quem é mas não revelo.
Um abraço amigo cá do reino
Caro Leocardo, se um dia voltar a ausentar-se outra vez da blogosfera, ao menos diga mais ou menos quando estima regressar...
É que a sua falta é bastante sentida
:)
Leocardo! Que bom ter regressado, tem feito muita falta, acredite! Sou a sua maior admiradora e tenho sentido muito a falta do seu blogue.
Como vê, "os cães ladram, mas a caravana passa..."
Receba um grande abraço!
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