Macau voltou a ficar mal em mais uma avaliação da Amnistia Internacional no que diz respeito à situação dos direitos humanos, nomeadamente no que toca ao exercício da liberdade de expressão. Em causa estão mais uma vez os despedimentos no ano passado de dois académicos de duas universidades, um autêntico "tiro no pé" dado pelo Governo, vistas bem as coisas, especialmente se tivermos em conta que as decisões não foram inteira, ou sequer na maior parte, da responsabilidade exclusiva das direcções daquelas instituições de ensino superior - houve dedo da política, lá está. Interessante como em Macau podemos ficar dias, meses ou até mesmo ano a falar para uma parede, que ninguém nada faz senão encolher os ombros, e com algum jeitinho ainda convencem os curiosos e indecisos de que somos "maluquinhos". Se vem uma instituição como a AI, de reputação sólida e mais ou menos acima de qualquer suspeita, já "é grave". Ou não. Mas aqui alguém decide alguma coisa, ou ficam todos sentados à espera que chova? E aqui por chuva quero dizer "ordens lá de cima", obviamente. Isto pode sempre servir de desculpa para não se fazer, ou neste caso "fazer-se a mais", mesmo que não seja completamente - ou de todo - verdade. Para entender melhor o "fenómeno", remeto para este artigo, que tenta explicar com mais acutilância estas "meias palavras"
Entretanto na semana passada foi divulgada uma fotografia, que publico no topo deste artigo, que mostra a qualidade (ou falta dela) de uma construção em Seac Pai Van, na Ilha de Coloane. Nela vemos como uma das paredes é preenchida não com betão, como deveria ter sido, mas com lixo, neste caso aquilo que aparenta ser sacas de papel, que ao que tudo indica serão de material de construção - daquele que foi usado, suponho. Não chegou? Enfia-se também as sacas, e aproveitam tudo. Que rapazes "económicos", estes. No entanto não é uma novidade, este "desleixo" na qualidade das construções em Macau, pois antes dizia-se que em algumas delas, "lá para os lados da Areia Preta", podia-se encontrar garrafas de cerveja, caixas de "ta pao" e outros trastes dentro das paredes. Isso era nos tempos em que em Macau ainda havia pobreza, quando os menos abastados se contentavam com uma habitação na zona norte da cidade. Hoje são todos milionários. Exemplo dos empreiteiros, esses tipos que se matam a trabalhar, coitados, e até se entende que façam de quando em vez uma ou outra canalhice, e acrescentem mais um ou dois andares ou que dividam uma fracção em duas ou três. E pronto, querem as coisas feitas depressa ou querem continuar a viver na rua enquanto se manda vir mais sacas de betão? Segurança? Ora essa, o prédio está de pé ainda, ou não?
O triunvirato da chalaça ficou completo com mais uma "semana dourada", em que tivemos novamente um sem número de compatriotas que nos honraram com a sua visita, vindos sobretudo do outro lado das Portas do Cerco, e enchendo de vida e animação esta cidade de outra forma amorfa e cinzenta, e fazendo os cofres do casino abarrotar de nota, que depois de retirada a devida percentagem, contribuirá para o progresso e o bem-estar da população. É por isso tolerável que durante duas ou três semanas se torne impossível circular na rua ou atravessar a estrada, e de nada adianta refilar - afinal é apenas um pequeno sacrifício que se faz para o bem comum. Mas esperem lá, as previsões indicam que em Fevereiro de 2015 as receitas do jogo terão uma queda de...mais de 50%? O quê? Mas afinal, que m... é esta? Tantos porcentos todos os meses, e qualquer dia temos um saldo negativo - vou desde já informando que já gastei os cheques e restantes bonbons que me andaram a dar durante o tempo das vacas gordas, portanto se ficaram a dever alguma coisa a alguém, é melhor ir bater a outra porta. E já agora, andaram a enganar-nos ou quê? Quem é anda a meter a nossa massa ao bolso enquanto somos obrigados a andar aos encontrões na rua com milhares de broncos sem maneiras, e ainda por a bófia a tapar-nos os caminhos para atender às mordomias daqueles cavalheiros e madamas da outra banda? Quando é que nos põem a par da tal "folga orçamental" que tantos anos de "somar e seguir" nos (alegadamente) trouxeram?
Não sei se devo acreditar mais nas boas intenções ou nas palavras bonitas, e falo apenas por mim quando toda aquela retórica que faz eco na imprensa não me diz nada. Sem a liberdade, ou com ela a conta-gotas, tudo bem, desde que a prosperidade venha aos tonéis. Fazer má figura, de pouco importa, se os cofres estão cheios e o coração é de ouro, e além disso, o que interessa mesmo é o que a China pensa, e mesmo esses já nos começam a olhar de soslaio. Se todo o betão que devia sustentar esta enorme estrutura é afinal cartão das caixas de "ta pao" e papelão das sacas, e o coração não é de ouro mas sim de lata, então já começo a desconfiar, e como o meu mestre (vocês sabem quem) dá-me vontade de protestar e refilar dizendo: "alguém está a fazegue dinheigo com isto". Nós é que não somos, com toda a certeza. Hoje uma colega, sempre prestável e preocupada com a minha salubridade mental tentava tranquilizar-me, dizendo "olha...acabou a semana dourada, já não há mais preocupações". "Pfff..." - respondi eu - semana dourada, já não me lembro como é uma dessas. Preocupações? Parece-me que ainda só estão a começar...
Kesafoda!
Há 14 anos
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