terça-feira, 17 de maio de 2016

El Presidente II


Num outro paralelo, mas onde o sol também bate com força nas cacholas, as Filipinas elegeram o seu novo presidente para um mandato único de seis anos, e permitam um pequeno aparte, acho isso péssima ideia - que motivação tem o presidente eleito em fazer um mandato decente se não tem outro ao qual concorrer? O registo de presidentes neste arquipélago do sudeste asiático não tem sido nada famoso, contribuindo bastante para o efeito o enorme buraco orçamental deixado pelo ditador Ferdinando Marcos, que com a ajuda da esposa Imelda (ainda viva, e por incrível que pareça em liberdade e politicamente activa) desbaratou o erário público com a aquisição de luxos, como sejam sapatos de senhora e lavatórios de casa-de-banho em ouro maciço. Desta vez os filipinos, povo cansado da corrupção, violência e pobreza que assolam o país, resolveram optar pela solução radical, e elegeram Rodrigo Duterte, o "cacique" de Davao, cidade do sul das Filipinas onde apesar da sombra dos terroristas do Abu-Sayaf, é considerada "uma das mais seguras do país". Mas vamos lá então a saber quem é este Rodrigo Roa Duterte, 71 anos, que no dia 30 de Junho tomará posse como 16º presidente das Filipinas.


Para que se tenha uma ideia melhor do que quis eu dizer ali atrás com "cacique", recordo este artigo aqui do blogue, de 2011, e cujo vídeo aqui reproduzo, e onde vemos uma tal Sara Duterte a "chegar a roupa ao pêlo" ao Chefe da Polícia de Davao, devido à forma pouco "PC" com que este conduziu a demolição de umas habitações ilegais. Sara Duterte é filha do novo presidente eleito, e à data deste incidente ocupava o cargo de "mayor", de modo a que o pai pudesse contornar a regra do limite de mandatos, tendo voltado no ano seguinte ao cargo. Agora que concorreu às eleições presidenciais, deixou no lugar...Paolo Duterte, que sim, adivinharam, é seu filho. Tudo isto é bem demonstrativo da forma como o senhor e o seu clã encaram a coisa pública, mas se realmente Davao é uma cidade segura, qual é o problema, afinal?


Bom, eu diria que depende do lado da vara em que se está. Por um lado o agora presidente tem a fama de "Justiceiro", nome pelo qual é aliás conhecido, mas por outro lado parece ser um tanto ou quanto alérgico àquilo que no mundo civilizado é conhecido por "jurisprudência", e há mesmo rumores de que em Davao se executam suspeitos através de julgamentos sumários. Se isso "pelo menos resolve o problema"? Resolve, se for convosco é a mesma coisa, não duvidem, e se ele descobre que se enganou, não vale a pena incomodar-se em pedir desculpas, não é mesmo? Assim por assim, estão já permanentemente privados de audição, bem como das restantes funções vitais. As associações de direitos humanos estão apavoradas, pois receiam que regresse ao país a lei marcial, medida em tempos imposta por Marcos - e depois foi o que se viu. Pelo menos já garantiu que vai fazer regressar a aplicação da pena capital para os crimes violentos, o que num país pobre, com gente pobre e ainda mais ignorante, é até capaz de ser uma medida aplaudida pela maioria. Fazem-se comparações com o candidato americano, o Trampas, mas fosse mesmo assim ficavam mais descansados, pois lá nos States o populismo fica à porta da Casa Branca, que lá dentro há sempre mais que fazer, e nas Filipinas, só com um mandato para se "garantir" a si e aos seus, com ainda mais pressa se fica. 

Alguns filipinos com que falei antes das eleições apoiavam Dutarte, ou pelo menos apreciam o estilo, chegando um deles a dizer-me mesmo que "precisavam de alguém assim, com fibra". E de facto os restantes candidatos eram bem fraquinhos, e em pouco ou nada divergiam do presidente cessante, Benigno Aquino III, que deu continuidade à inépcia crónica inaugurada pela sua mãe ainda nos anos 80, à custa da popularidade do seu malogrado marido, o senador Benigno Aquino Jr.. Este novo presidente eleito faz-me lembrar em parte o vencedor das eleições de 1998. Joseph Estrada, que como alguns se devem recordar era actor de cinema, com um longo currículo de filmes de eleição, que lhe valeu a confiança do povão, convencido que na eventualidade dos bandidos aparecerem, eles dava-lhes no canastro. O pior foi que o único bandido que acabou por dar à costa foi o próprio Estrada, a quem não explicaram o que era isso de ser presidente, suponho. Agora com este, bem, "pior não fica", como dizia um certo deputado igualmente mediático lá no Brasil, que em matéria de política tem muito a ver com as Filipinas. Digo eu.  


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