quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

2014: os mais



E neste fim de ano de 2014 começo por falar das dez personalidades de Macau que mais se destacaram este ano pela positiva - para eles, e na minha humilde opinião, é claro. A ordem é aleatória, não tenho qualquer preferência nem ligação emocional ou afectiva a qualquer um deles, mas os fregueses são livres de fazer as leituras que muito bem entenderem. Apesar de ser difícil escolher entre tanta variedade, a seguir vêm os outros, que tiveram menos sorte. Coitados.



THE ENEMY OF THE STATE

Se tivesse que eleger a personalidade de ano, a minha escolha recaíria em Jason Chao, sem qualquer dúvida. Quer se apoie ou não a sua postura de "levar tudo à frente", o seu nome é sinónimo da única forma concreta de oposição que se faz em Macau, quer ao Governo da RAEM, quer ao próprio Governo Central. Ainda jovem, é considerado a face visível da oposição ao regime, causa pela qual está sempre pronto a "obter atenção mediática". Conhecido por prever o futuro, através de cartas que manda a organizações internacionais de direitos humanos - esses malandros - dizendo que foi detido pelas autoridades...antes de ser detido, e para que tal aconteça basta aparecer e ficar de pé em qualquer local ou evento em que estejam ou vão estar presentes figuras ligadas ao Governo local ou de Pequim. O ano de 2013 correu-lhe mal, concorrendo para as eleições legislativas encabeçando uma terceira lista do Novo Macau Democrático, estratégia que se viria a revelar desastrosa, mas em 2014 vingou-se, transformando em notícia praticamente tudo o que fazia. Organizou um referendo civil para a escolha do método de eleição do Chefe do Executivo, e manteve-se inabalável na concretização desse objectivo, indiferente ao verdadeiro circo mediático em que se transformou. Assumiu-se como o líder da oposição extrema à nomenclatura vigente.



DE GUEVARA SE VAI LONGE

Com apenas 24 anos de idade, Sulu Sou Ka Hou tornou-se o presidente mais jovem de sempre do Novo Macau Democrático, substituíndo em Julho último o seu "camarada" Jason Chao no cargo. Em 2013, na altura apenas um recém-licenciado, concorreu à Assembleia Legislativa como nº 2 de Au Kam San, e apesar de não conseguir ser eleito, nunca mais parou a partir de então: foi a cara dos protestos de 25 e 27 de Maio, esteve na frente da organização da vigília do 4 de Junho no Largo do Senado e até publicou um livro. Tem a "escola" da retórica feita em Taiwan e uma forte presença em público, e é adepto do deputado e activista honconguense Leong Kwok Hung, mais conhecido por "long-hair" - o que é preocupante, na minha humilde opinião. Um jovem de fibra a fazer lembrar um Che Guevara, mas noutro contexto, e é de observar a sua evolução.



A ABELHA MESTRA

De Ng Kuok Cheong pode-se dizer o mesmo que o seu "afilhado" Jason Chao, e a palavra fica entre aspas devido aos pólos opostos em que ambos (aparentemente) se colocaram, ainda que no mesmo lado da barricada. E também da mesma forma que saiu prejudicado pela divisao no seio dos democratas em 2013, tambem ele sai deste ano que agora termina com a sua imagem reforçada, ao assumir o apoio incondicional tanto ao referendo público, como na oposição a lei de garantias dos titulares dos principais cargos públicos, que assumiu desde a primeira hora juntamente com o seu colega de bancada Au Kam San. Teve ainda a sensatez de não se aproximar demasiado da "fogueira" acesa pelos seus colegas aqui ao lado em Hong Kong com o movimento Occupy Central, e assim evita queimar-se, o que na ponta final da sua carreira de activista da pró-democracia, seria como uma certidão de óbito.



GOT YOU BY THE BALLS

Num território onde a economia depende quase na totalidade das receitas dos casinos, o que a Macau Frontline Gaming fez durante este ano de 2014 pode-se considerar mais do que apenas "audácia" - há quem relacione mesmo a queda abrupta das receitas do jogo com a actividade deste grupo, braço do Novo Macau Democrático. O movimento optou pelo protesto como meio de negociar melhores condições para os trabalhadores do sector do jogo, e chegou mesmo a deixar no ar o fantasma da greve. Na liderança estava Ieong Man Teng, que concorreu ao lado de Jason Chao nas eleições de 2013 para AL, e o nº 2 era Cloee Chao, que ficou conhecida por aparecer na revista Bloomberg como activista pelo fim do fumo de tabaco nas salas de jogo.



L'ÉTRANGER

Alheio a toda a agitação que se preparava para o Verão de 2014 em Macau estava Éric Sautedé, que protagonizou o primeiro grande caso de atentado à liberdade académica em Macau - e logo numa instituição de ensino superior com ligações à Universidade Católica, em Portugal. Podia ser feito um paralelo com "O Estrangeiro", de Camus, mas o processo que afastou Sautedé da Universidade de S. José teve tudo de "kafkiano", com a notícia de que o contrato não foi renovado pelo facto do professor de Ciência Política ter feito...comentários políticos. Para piorar as coisas, a sua mulher e também professora naquela Universidade foi afastada do cargo de deado na faculdade que lecionava. A reitoria ainda se desfez em justificações pífias, mas o mal estava feito, e sem querer o académico francês residente permanente de Macau tornava-se o símbolo do que pode ter sido o fim da liberdade académica na RAEM. Mesmo assim tem mantido uma firmeza gélida perante uma situação que, como se pode imaginar, não é nada confortável.



BICO DE OBRAS

Figura de proa no departamento de que foi director desde o início da RAEM, Jaime Carion aposentou-se este ano, depois de ter dirigido com mão firme um departamento que andou à deriva desde o caso Ao Man Long, o antigo secretário das das Obras Públicas e Transportes detido em 2007 e mais tarde condenado a 27 anos de prisão por corrupção. Como director das OP, Carion soube ter o sangue frio necessário para evitar a autêntica anarquia que muitos chegaram a prever para aquele departamento governamental. Sai assim pela porta grande.



LIXADA P'RÁ PORRADA

Sobrinha do anterior, Paula Carion foi mais uma vez a figura de maior destaque no desporto da RAEM, o conquistar pela terceira vez a medalha de bronze nos Jogos Asiáticos na modalidade de karaté, repetindo na cidade sul-coreana de Incheon o feito de Doha, no Catar, em 2006, e de Guangzhou em 2010. Sendo o desporto em questão uma modalidade olímpica, e os melhores atletas originários do continente asiático, a atleta de orgiem macaense deixa-nos a pensar como seria se participasse nos Jogos Olímpicos por Portugal, e tivesse as condições necessárias para progredir.



A RAINHA AFRICANA

Outro elemento da comunidade macaense em cessação de funções é Rita Santos, que nos últimos anos tem sido a principal figura do Fórum Macau, que estabelece a ligação institucional entre a RAEM e os países de expressão portuguesa. Pode ser que haja quem a critique, ou aponte para a pouca visibilidade dos resultados da alegada cooperação, mas diz quem trabalha com ela que Rita Santos é um exemplo de abnegação em serviço dos interesses do território. E é também um poço de simpatia, uma comunicadora exímia que vai deixar muitas saudades.



UM JARDIM SEM FLORINDA

Do três secretários que no último dia 20 deixaram o cargo ao fim de longos 15 anos em funções, Florinda Chan terá sido a que provavelmente mais críticas escutou, e dos mais variados sectores da sociedade. De facto fica mais fácil apontar os erros do que procurar os méritos, e se há um mérito que a ex-secretária para a Administração e Justiça teve, foi o de conseguir conciliar a parte administrativa com a da justiça, e sobretudo fazer a "divisão das águas" entre o poder Executivo e o Judicial. Sendo o futuro quanto a este aspecto uma verdadeira incógnita, só espero que Florinda Chan não venha deixar muitas saudades.



O PRÍNCIPE MAIS OU MENOS PERFEITO

Ou em alternativa, "O homem que não queria ser rei", podia ser também o cognome de Chui Sai On, que em "last but not least", entra na lista de personalidades que se destacaram neste ano de 2014 agora findo pela positiva. E porquê, até porque algumas das restantes entradas são de personalidades situadas no extremo oposto do que representa o Chefe do Executivo? Como há gente que se queixa de não ter pedido para nascer, também ele não pediu para ser o nosso "salvador", a única alternativa ao abismo. Deixado com a "bomba" do diploma das regalias que só dão arrelias nas mãos, ficou à mercê dos críticos, ao mesmo tempo que a opinião pública começava a desconfiar das suas intenções e da urgência com que pretendeu fazer passar a lei. Reeleito para o segundo mandato como CE debaixo de um verdadeiro furacão político, é-lhe passado um atestado de confiança, que para bem de todos, ficamos a esperar que o justifique. Força!

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