quinta-feira, 25 de julho de 2013

A eterna juventude


Todos diferentes, todos iguais...todos adolescentes

O futebolista colombiano Radamel Falcao, que representou o FC Porto entre 2010 e 2012, poderá ter afinal 29 anos e não 27, como consta da sua ficha de jogador. Em vez de 10 de Fevereiro de 1986, o avançado recentemente contratado pelo Monaco terá nascido na mesma data, mas dois anos antes, em 1984. Uma diferença insignificante agora, que não deverá desvalorizar o jogador em mais que cinco ou seis milhões de euros – uma ninharia. Mas o caso muda de figura se tivermos em conta que o jogador foi campeão sul-americano de sub-19 e participou no mesmo ano no mundial de sub-20 na Holanda, quando tinha…21 anos. E isto é o que se chama de batota.

A questão da adulteração da idade dos jogadores é um tema sensível, e tem muito que se lhe diga. No futebol profissional ao nível se seniores pouco importa que um jogador tenha 20, 25, 30 ou 40 anos, desde que tenha qualidades técnicas que o notabilizem. Já no que toca aos escalões de formação, um ou dois anos podem fazer toda a diferença em termos de evolução ao nível táctico e físico. Num clube que obedeça aos mesmos critérios e siga os mesmos programas de treino em todos os escalões, um jogo entre os juniores, ou sub-19, e os juvenis, ou sub-17, termina inevitavelmente com a vitória dos primeiros, normalmente por uma margem folgada. É perfeitamente natural que uns estejam mais avançados na preparação para a chegada ao futebol senior.
É complicado abordar este tema sem ser acusado, ou pelo menos suspeito, de racismo. Isto porque os países frequentemente suspeitos de falsificar a idade dos jogadores são do continente africano. E de facto é curioso que países como a Nigéria ou o Gana sejam crónicos favoritos nos mundiais jovens, e o mesmo não se verifique nos mundiais para jogadores adultos. Alguns dos promissores jovens jogadores africanos que se revelam em torneios internacionais “desaparecem” após completarem 21 anos. Um mistério que carece ainda de explicação.

Os seus adversários, sentindo-se prejudicados pela provável falsificação das idades dos atletas, protestam e querem ter a certeza que estão a jogar contra adolescentes, e não contra homens feitos, alguns deles pais de família. A FIFA propôs uma solução que passava por um simples raio-x ao pulso dos jogadores, que determinaria a sua idade com uma margem de erro minima.As federações dos países suspeitos recusaram, alegando que “a radiação seria prejudicial para atletas de tão tenra idade”. Como não há nada que os obrigue, voltou tudo à estaca zero. Deixar as dúvidas por esclarecer pode ser comparado ao “shoplifting”; quando um miúdo mete um chocolate ao bolso no supermercado, é apanhado e depois se recusa a mostrar os bolsos.

Os mais bem humorados recordam alguns estereótipos associados aos africanos, como “os pretos não têm idade”, ou que “vão para o registo de bicicleta”. Mas fora de brincadeiras, em muitos países daquele continente, especialmente nas regiões do interior, menos desenvolvidas e inacessíveis, algumas crianças são registadas tardiamente, em muitos casos apenas quando atingem a idade, ou neste caso o “tamanho” escolar. O dia em que se isto acontece fica como data de nascimento. Mesmo sendo isto verdade, é improvável que seja a razão pela qual as federações da CAF optam por falsificar a idade dos jogadores – se realmente o fazem. O objectivo será meramente o de ficar em vantagem em relação à competição.

No mundial de sub-20 realizado em Portugal e que viria a resultar no segundo título mundial para Carlos Queirós e para a nossa selecção, os portugueses alinharam com o jogador Carlos Fortes, conhecido por Cao, de origem cabo-verdiana que em 2002 se viria a descobrir que tinha afinal 22 anos, e não 19. Na mesma competição a selecção da Síria, que viria a ser eliminada pela Austrália nos quartos-de-final, continha jogadores que revelavam indícios de calvície, aparentando uma idade muito superior aos 18 e 19 anos que constavam das suas fichas de inscrição. É complicado acusar alguém sem provas, e mais difícil provar a idade de um atleta cuja aparência ambígua não dá a certeza de ter 19 anos ou 22. Mas as competições jovens valem o que valem, e voltando ao caso de Falcao, quem se interessa se tem 27 ou 29 anos, ou sequer 35? No futebol dos homens de barba rija cumpre melhor que ninguém o que se espera dele, que é meter as bolas no fundo das redes.

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