segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Autárquicas em revista


A CONTA DO TALHO

Há duas leituras que se podem fazer dos resultados de ontem das eleições autárquicas, sendo que em ambas é comum reconhecer que a vitória foi para o PS - os socialistas conseguiram 158 das 308 câmaras municipais, e obtiveram mais 140 mil votos do que há quatro anos. A primeira leitura faz do PSD e da direita os grandes derrotados, e a segunda leitura, que se pode chamar de "alternativa", dá como grandes derrotados o PCP e o Bloco de Esquerda, aliados do PS no Governo, onde formaram há dois anos a tal "Geringonça". Como se pode ver no quadro em cima, o PSD perdeu sete câmaras e a CDU (PCP+Verdes) perdeu 10, enquanto o Bloco de Esquerda aumentou o número de votos em 50 mil, e ainda passou de 8 a 12 mandatos a nível nacional. Pode-se dizer, portanto, que o grande vencedor é o PS, o pequeno vencedor é o BE, e os grandes derrotados são a CDU e o PSD. E destes dois últimos, o segundo tem uma grande quota de responsabilidade no desaire do primeiro. E comecemos pelo grande choque da noite eleitoral...


DE LA FRANCE PARA ALMADA

...Almada. Sim, o grande bastião comunista na margem sul da Grande Lisboa caiu nas mãos do PS pela primeira vez na história. Impensável. A nova edil socialista é Inês de Medeiros, mais conhecida por ser filha do maestro António Vitorino de Almeida, e irmã da actriz Maria de Medeiros, de "Henry & June" e "Pulp Fiction". E não foi só Almada que sucumbiu na margem sul; também o Barreiro e Alcochete mudaram de vermelho para rosa, enquanto o Montijo e Sines mantiveram as já existentes câmaras do PS. Apesar de vencer em Loures, que se havia tornado um dos pontos de interesse da campanha eleitoral, depois das declarações xenófobas do candidato do PSD, e ainda em Setúbal, a cidade do Sado passou a ser a única capital de distrito comunista, pois Beja reverteu também para os socialistas. A juntar à capital alentejana, Moura, Barrancos e Castro Verde passaram também da CDU para o PS. E não foi por causa de uma CDU mais fraca que isto aconteceu, mas por culpa da bipolarização entre a esquerda e a direita, provocada pela desorientação de Pedro Passos Coelho à frente do PSD. O eleitorado viu no PS a antítese do PSD, teve em mente as diferenças entre a governação de Passos Coelho e actual, e pronto, os resultados combinaram-se. E foi mesmo uma noite em grande para o PS, a começar...


MEDINA, AND THEN SOME

...pela capital, onde Fernando Medina foi eleito, ficando à beira da maioria obtida por António Costa há quatro anos. Com o Bloco da Esquerda a eleger um mandato, fica fácil encontrar um parceiro de coligação. E foi um pouco assim pelo país todo, a onda rosa. Vitórias em Coimbra, Guimarães, Viana do Castelo, e locais "sensíveis", como Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos, e até na Marinha Grande. A título de curiosidade refira-se que o PS venceu também em Santa Comba Dão e Loulé. Para bom entendedor...


CRISTAS DESCOBRE UMA PETINGA

Assunção Cristas foi, curiosamente, uma das "vitoriosas" da noite eleitoral, mesmo que apenas auto-denominada. A candidata do CDS à Câmara de Lisboa ficou em segundo lugar, com quase o dobro da votação do PSD, numa espécie de "duelo da segunda-circular" da direita portuguesa. O CDS em geral obteve menos 200 mil votos e perdeu 11 mandatos em relação a 2013, mas manteve as quatro câmaras que detinha.


"ROUBA, MAS FAZ"

Foram 17 as câmaras conquistadas por grupos de cidadãos independentes, sendo a mais importante a do Porto, onde Rui Moreira foi reeleito. Contudo o maior mediatismo recaía em Isaltino Morais, que voltava a concorrer à câmara de Oeiras, onde foi presidente durante 30 anos, antes de ser preso por corrupção. Isaltino torna-se assim o explendor máximo do caciquismo à portuguesa, depois dos seus "camaradas de armas" Valentim Loureiro e Narciso Miranda terem sido derrotados em Gondomar e Matosinhos, respectivamente.


FINALMENTE, E POR FIM...

Alguns olhos estavam postos em Loures, onde a campanha aqueceu com as declarações de teor xenófobo do candidato do PSD, André Ventura, que identificou a comunidade cigana como um dos problemas do concelho. Apesar de ter repetido a votação de há quatro anos da coligação com o CDS (que retirou o apoio ao candidato após as referidas declarações), não se pode dizer que o populismo trouxe assim grandes resultados. A CDU voltou a vencer com Bernardino Soares, e o PS ficou em segundo lugar. Também o discurso anti-Islão do PNR não surtiu grandes resultados, e em Lisboa o partido teve menos 9 votos que há quatro anos, apesar de apostar num "enorme crescimento".


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