É a notícia do dia: Jorge Jesus estará de saída do Benfica. Apesar de ainda carecer de confirmação, é praticamente certo que o treinador que orientou os encarnados durante os últimos quatro anos não vai renovar. Numa época que podia ter sido de sonho, o Benfica falhou em duas semanas a conquista de três títulos, terminando com...zero. Na retina ficam as imagens de Jorge Jesus de joelhos no Dragão e em lágrimas no Jamor. Se um dia escrever as suas memórias o título bem poderia ser: "O que eu quase fui", com a palavra "quase" a repetir-se incessantemente por todo o livro.
FOGUETES ANTES DA FESTA
Foi a 30 de Abril, há pouco menos de um mês, que os adeptos do Benfica começaram a festejar um putative título nacional. Os encarnados venciam por 2-1 no Funchal o Marítimo e mantinham a liderança com mais 4 pontos que o FC Porto a três jornadas do fim. Mesmo no evento de uma derrota no Dragão na penúltima ronda, bastaria vencer os jogos em casa frente ao Estoril e Moreirense para terminar em primeiro. Uma semana depois, a 7 de Maio, os estorilistas empataram na Luz, o Porto ficava a dois pontos e o "clássico" revestia-se de contornos decisivos. Os mais optimistas acreditavam que podiam vencer na Invicta e comemorar o título no reduto do maior rival, os mais cautelosos tinham reservas, e motivos de sobra para se sentirem preocupados. O que estava para vir não podia ser pior.
OS MOMENTOS
O Benfica foi ao Dragão com o pensamento no título, e tudo corria de vento em popa quando Lima colocou o emblema da águia em vantagem aos 20 minutos. O Porto empatava pouco depois, e o Benfica foi controlando a situação e jogando com a marcha do relógio. Jorge Jesus apostava no empate, que deixaria a decisão para o dia final na Luz frente ao modesto Moreirense. Contudo ao minute 92 Kelvin recebe um passe de Liedson no lado esquerdo do ataque portista, deixa o defesa Roderick "nas covas" e remata for a do alcance de Arthur. Jesus fica de joelhos: o título estava virtualmente perdido.
Foi uma águia ferida no orgulho que se apresentou em Amesterdão quatro dias depois para disputar a final da Liga Europa frente ao Chelsea - a primeira final europeia em 23 anos, feito meritório para o técnico agora caído em desgraça. O Benfica encostou o Chelsea às cordas, mas mais uma vez o minuto 92 se revelou fatídico, com o defesa Ivanovic a saltar no meio de uma apática defesa encarnada e a resolver o jogo para os ingleses. Mais uma vez o Benfica regressava a Lisboa sem motivos para festejar junto dos seus exigentes adeptos.
Depois de se confirmar o título do FC Porto, a final da Taça de Portugal frente ao V. Guimarães surgiu como a salvação de uma época que podia ter sido gloriosa. Os vimarenenses tinham poucos argumentos para se imporem ao Benfica, que confirmou o favoritismo com um golo de Gaitán no primeiro tempo. Só que mais uma vez as pernas não chegaram, e os minhotos operaram a reviravolta no segundo tempo, deixando Jesus em lágrimas e a nau benfiquista à deriva, bem patente na reacção de alguns jogadores, que ficaram à míngua de títulos num ano que prometia ser um dos melhores de sempre da História do clube. Jesus ficava sem margem de manobra, e os adeptos demonstravam a viva voz a sua insatisfação, chegando a insultar o treinador. De bestial a besta foi uma questão de três derrotas, e todas por 1-2.
O GURU
Manuel Sérgio, um teórico do desporto e professor de Mourinho no antigo ISEF é desde a primeira hora um dos maiores apoiantes de Jorge Jesus. O professor tem servido como uma espécie de guru para Jesus, recomendando aos dirigentes encarnados a renovação do contrato com o treinador. Isto, é claro, na altura em que o Benfica ganhava semana após semana. E agora, doutor?
O BOM, O MAU E O VILÃO
O brasileiro Lima foi contratado no início da temporada ao Braga, uma estratégia que foi vista inicialmente como uma tentativa de enfraquecer um potencial adversário directo. Contudo o avançado foi muitas vezes o abono de família do Benfica, apontando golos decisivos e terminou o campeonato com 20 golos apontados, apenas atrás do portista Jackson Martinez, o melhor marcador da prova. De "roubado" ao Braga passou a melhor contratação de Jesus esta época.
Tido como um dos melhores guarda-redes a actuar em Portugal - falou-se de uma eventual naturalização de modo a poder ser convocado para a selecção das quinas - Arthur realizou uma época positiva, mas demonstrou alguma tremideira nos momentos decisivos. Alguns golos consentidos custaram pontos preciosos, e na memória fica o golo do Estoril na Luz e a final da Taça no Jamor, onde fica mal na fotografia dos lances que deram a vitória aos vimarenenses.
Oscar Cardozo agride Jorge Jesus - FOOTAZO.com 发布人 footazo
Oscar Cardozo tem sido o artilheiro-mor do Benfica desde a sua chegada ao clube em 2007, apontando 105 golos em 157 jogos para a liga, e um total de 161 em todas as competições. Ofuscado esta época pelo brasileiro Lima, o paraguaio deixou transbordar toda a sua frustração na final da Taça, quando empurrou Jorge Jesus depois da partida e ainda se ravou de razões com o colega de equipa André Almeida. Há quem diga que o Benfica se tornou pequeno para Jesus e Cardozo, mas é o treinador que está de saída, pelo menos por agora.
E O FUTURO?
Em quatro anos no comando técnico do Benfica Jorge Jesus conquistou quatro troféus: um campeonato e três Taças da Liga. Apesar de ser manifestamente pouco para as ambições do clube, o treinador de 57 anos deixou o clube no 6º lugar do ranking de clubes da UEFA, e devolve algum respeito ao clube que há 10 anos estava num modesto 86º lugar e longe das grandes discussões. As suas qualidades técnicas serão inquestionáveis, e pecará apenas em termos de gestão física e psicológica do plantel. Seria irónico que Pinto da Costa o fosse buscar agora para o FC Porto, uma vez que Vítor Pereira estará também de saída. Na eventualidade de conquistar o título europeu para os dragões no próximo ano em pleno Estádio da Luz, seria um golpe de teatro colossal. E suicídios em massa entre os tais seis milhões, um desfecho digno de novela mexicana. Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos.
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