domingo, 30 de novembro de 2008
Agradecimentos
Durante este ano de Bairro do Oriente, gostava de agradecer a todos os leitores, bem como aos srs. VICI, santiago, claudio caniggia e a restante malta do MACA(U)quices, que tem sido desde a primeira hora uma espécie de blogue irmão deste. Bem hajam. Ao João Severino, autor de Pau Para Toda a Obra, pelo seu génio, amizade e as inúmeras referências que tem feito ao Bairro. Ao Nuno Lima Bastos e ao José Carlos Matias, colegas destas andanças e leitores assíduos. Ao Miguel Castelo Branco e ao grande António Cambeta que tem dado um toque especial ao blogue, e que nos escrevem de terras do Sião. Ao Francis e ao João Gaspar, autores de O dono da loja e Last Breath, respectivamente. Ao João Quadros, autor d'O Mal e ao João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária, que nos trazem sempre tanta boa disposição. Ao Conde da Buraca, autor do Peneirar, que incluíu o blogue no Postas do Oriente desde a primeira hora. À Filipa Gameiro e à Gotícula, as grandes mulheres deste blogue. À lindíssima e talentosa Paula Góes, que mencionou o blogue no Global Voices, e se deu ao trabalho de traduzir alguns posts para inglês. Aos rapazes chineses e japoneses também do Global Voices, que fizeram o mesmo. Aos comentadores Ouvidor Arriaga, Horta e Costa, ludovico, hugo, maria, MacauBoy, cruz, Corrector Residente, e todos os anónimos, e peço desculpa se me esqueci de algum. Ao pessoal da Rádio Macau que me dá música e informação todo o dia, providenciando o equilíbrio. Ao pessoal da TDM pelos vídeos, pelas notícias e pela atenção dispensada. Ao Carlos Morais José por ter incluído passagens do blogue no jornal, e à Luciana Leitão pela entrevista (bastante ousada e difícil de responder, por sinal), ao H. Pinto Fernandes, uma espécie de "guru" e ao restante pessoal da imprensa, do Hoje Macau, Jornal Tribuna de Macau, Ponto Final e O Clarim. Um abraço muito especial para a Patrícia Lemos, de que Macau sente imensas saudades. Finalmente um abraço do tamanho do mundo a Portugal e ao restante mundo lusófono. Ao Brasil, a África, e a todas as partes do mundo onde o blogue é lido. Mais uma vez mil desculpas se me estou a esquecer de alguém.
Obrigado
Sobre o Bairro do Oriente
E pronto, o Bairro do Oriente completa hoje um ano de existência. Nascido das cinzas do Leocardo (http://leocardoemmacau.blogspot.com), um lugar onde se descarregava diarreia verbal, e que ficou conhecido por satirizar os costumes desta pequena terra que é Macau, e que foi tantas vezes incompreendido, levando o seu autor a fechar a loja e partir para qualquer coisa mais “séria”. Séria o caraças. Nem sei qual é o limite que não me deixa que diga tudo o que me vai na alma. Talvez tenham sido as ameaças de morte, não sei. Só sei que não estava para me chatear, e apesar dos invejosos da praxe, consegui levar o Bairro do Oriente a patamares outrora inatingíveis na blogosfera de Macau.
Novembro foi novamente o mês com mais visitas, pelo quarto mês consecutivo. Mais de 2000 visitas na última semana, e mais de 22 mil visitas nos últimos 3 meses. Nada mau, para um blogue que não tem mais de “meia dúzia” de visitantes regulares, segundo algumas bocas foleiras. Coitados. Sinto que cumpri os objectivos do blogue. Quando comecei pensei: “não seria mau se tivesse 50 mil visitas no primeiro ano, caralho”. Mas aí está, mais de 68 mil visitas. Que regalo. Apesar de ter dado uma entrevista(http://bairrodooriente.blogspot.com/2008/05/entrevista.html) à jornalista Luciana Leitão em Maio deste ano, explicando o que vai nesta cabecinha pensadora, há ainda muito boa gente com tiques de ditadora que não percebe o que pasa. Ora aqui vai, em jeito de itens numerados para facilitar a consulta, o que o Leocardo anda por aqui a fazer.
- O Leocardo é uma besta, a cobro do anonimato.
A sério? E precisam do meu nome completo, número do bilhete de identidade, morada e telefone para quê? Alguns escribas da nossa praça acusam os bloggers de não se identificarem, liderados pelo Miguel Sousa Tavares, desejam a identificação completa do indivíduo para lhe poderem mandar um cartão no Natal. Sendo pagos por aquilo que escrevem, era o que faltava se não se identificassem. Mesmo que sejam insultados na rua, vão sorrindo a caminho bo banco.
- O Leocardo é o Mário, o Leonel, o Zé.
Sou aquilo que quiserem. Não adianta tentar adivinhar, e mesmo que me identifiquem correctamente, nego. Se alguém me perguntar na rua se sou o Leocardo (o que nunca aconteceu, curiosamente), pergunto “Quem é esse?”.
- O Leocardo não tem qualquer formação técnica e debruça-se sobre temas que requerem estudos mais aprofundados.
Não sei se repararam, mas isto é um blogue, não uma tese de mestrado ou de doutoramento. É um diário, um local onde se emitem opiniões e se exprimem sentimentos. Se eu quisesse escrever um monte de disparates sem sentido nenhum, estaria no meu direito. Não estou a enganar ninguém pois não cobro um avo que seja a quem quiser vir aqui ler.
- Mas o Leocardo às vezes é tendencioso, e comete inexactidões várias.
Mais uma vez, é um blogue! Existe uma certa imprensa que é nitidamente tendenciosa, apoiando uns e atacando outros, sempre os mesmos, e não vejo ninguém a insurgir-se contra isso. Não sou jornalista ou escritor profissional, não tenho a responsabilidade de ser sempre correcto e erudito.
- O Leocardo faz “traduções ridículas”.
Algumas das fontes do blogue são websites estrangeiros, alguns de notícias. Não faço qualquer tradução; leio as notícias e reproduzo os acontecimento em português, e por palavras minhas. Não invento nada. Algumas das notícias que reproduzo no blogue só aparecem na imprensa local no dia seguinte, ou em alguns casos vários dias depois. Se calhar é isso que incomoda...
- O Leocardo tem a mania de dizer a quem o critica “não gosta, não venha”.
Lógico. Sou um bom cristão e a última coisa que quero é ver os meus irmãos sofrer. Há pessoas que vêm aqui dizer que o blogue não presta, e que não tem qualidade, e no entanto continuam a vir. Fazem-me lembrar aquele miúdo que gosta de meter os dedos na tomada, apanha choques e diz que a culpa é da tomada.
- O Leocardo não fala deste ou daquele assunto.
Falo do que acho que tem interesse, e de que esteja minimamente informado. Existe um e-mail onde os leitores podem contar uma história ou referir uma notícia que tem interesse, e são bem vindos.
- O Leocardo censura comentários.
Existe um termo técnico para essa afirmação: “mentira”. Terei apagado três ou quatro comentários que ultrapassaram os limites do bom senso, mas não modero comentários, não elimino comentários que me criticam e mesmo outros que me insultam.
- O Leocardo “não tem nada que fazer”.
Essa é uma critica engraçada. Não utilizo um segundo do meu tempo de trabalho ou uma folha de papel que seja no blogue. O blogue é actualizado a partir do fim da tarde, e o relógio está 12 horas atrasado para que os leitores do Brasil (um terço do total) leiam o blogue no mesmo dia. Quando estou inspirado saem dois ou três posts que são utilizados em dias diferentes, mas a maioria dos posts é feita em dez ou quinze minutos.
- Mas admita lá, este blogue é muito mais soft que o anterior, em que insultava pessoas.
Como disse na entrevista, o outro blogue tinha pouca visibilidade no início, e admito que cheguei a cometer uns desabafos. Não acusei ninguém de nada, e pequei simplesmente pelo facto de não participar nesta enorme procissão que faz vénias eternas a quem procura o protagonismo. Este blogue é mais generalista, como disse que ia ser desde a primeira hora. E é assim que vai continuar a ser.
sábado, 29 de novembro de 2008
Leituras
- No Hoje Macau, Pinto Fernandes faz uma sentida homenagem a Susana Chou e às mulheres na política em geral, em Tocava piano e falava francês.
- Também no Hoje Macau, Hélder Fernando fala da importância da Lovraria Portuguesa em Macau, em A Livraria.
- No JTM saiba como a Associação de Advogados se pronunciou finalmente sobre o artº 23, praí um mês depois da legislação ter sido anunciada. Mas já se sabe, como diz o povo, mais vale tarde que nunca.
- Ainda no JTM, Nuno Lima Bastos fala do Desnorte da política de Macau.
- N'O Clarim, o prestigiado semanário da Igreja Católica de Macau, José Miguel Encarnação fala da manifestação do último Domingo, a propósito do artº 23, e dos projectos do Governo para a Ilha da Montanha, em Facelift.
- Os e-mails da Quinta Dimensão trazem-nos uma visão irónica dos últimos problemas das Las Vegas Sands, bem como do julgamento da Casa Pia, em Beba água do Lilau.
Bom fim-de-semana!
Smile House
A Smile House é um pequeno restaurante localizado ali na Av. da Praia Grande, junto do palácio. Serve a tão falada "cozinha de fusão". Jantámos lá hoje e posso dizer que não foi mau (português para "foi excelente"). Provámos a carne de porco assada com mentol e iogurte, a perna de vitela com molho de lavanda, e as fitas com molho de carne, cuja simagens podem atestar. Outros pratos incluem o Bacalhau com lima e molho de peixe picante, Caldeirada de crocodilo com tamarinho e balichão, Galinha com caril de chocolate ou Linguini com molho de ameijoas e vinho tinto. Magnifique!
Chorão e delinquente
Quando era puto tinha lá em casa este quadro foleiro (e acho que ainda lá está), uma cópia do original do italiano Bruno Amadio, que mostra uma criancinha com olhos de travessa a chorar. Dizem que o quadro está amaldiçoado e não sei quê, e um grupo de malucos uma vez organizou uma queima dos quadros, ao bom estilo inquisitorial. Acontece que a criança cresceu, e parece que se tornou num adolescente delinquente, como comprova este grafffiti que se pode encontrar nas paredes de Macau. Nada de surpreendente. Muitas infâncias sofridas fazem os jovens optar pela marginalidade. É pena.
Tian Mi Mi甜蜜蜜
Neste fim-de-semana em que se comemora o primeiro aniversário do Bairro do Oriente, nada como começar com música da boa. A nossa Teresa Deng (鄧麗君), como o seu êxito Tian Mi Mi (甜蜜蜜), que quer dizer qualquer coisa como "o teu doce sorriso". Brrr...arrepiante.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Can you hear the drums Fernando?
Esta semana foi marcada pela surpreendente forma como subitamente “cheira” a sucessor de Edmund Ho no cargo de Chefe do Executivo da RAEM. As LAG para os Assuntos Sociais e Cultura mostraram um secretário a um nível e uma maturidade nunca antes revelados. Fernando Chui Sai On – membro de uma família importante da política e dos negócios de Macau – mostrou-se tranquilo, conciso, suave e directo.
A presença do sr. Secretário mereceu os mais rasgados elogios de todos os sectores, e alguns importantes, como os kaifong ou os operários. Respondeu sem problemas a todas as questões dos deputados, falou de todos os aspectos da área que tutela, prometeu dinheiro para todos e esta terá sido até agora a sessão das LAG que não foi profícua em “momentos de humor”. Será um sinal?
E não é fácil, a tutela do sr. Secretário. Nunca percebi muito bem como é possível meter no mesmo saco áreas tão distintas como a educação, a saúde, a assistência social e a cultura. Claro que nem sempre foi assim. A sua tutela foi vastas vezes criticada nestes quase 9 anos desde a criacção da Região Administrativa Especial, e muitos dos problemas continuam por resolver.
Ora é a falta do tal segundo hospital público, os problemas com a educação (o deputado Pereira Coutinho foi praticamente a única voz crítica desta vez, quase um grito no deserto), a situação da cultura (onde se faz muito pouco), e a exclusão social que continua a ser “varrida” para certas zonas da cidade, e onde existem cidadãos que se debatem com problemas reais de subsistência. Mas estes problemas não são novos, e fazem quase parte da existência de Macau desde os tempos mais remotos.
Quero acreditar sinceramente que o sr. Secretário fará um “pressing” final para tentar melhorar nesses vários departamentos. Quanto à questão do CE, a ver vamos. O nome de Chui Sai On tinha sido um dos pertecentes a este Executivo já referidos no passado, juntamente com Francis Tam ou Susana Chou. A aposta na continuidade não será assim tão má ideia, nem aos olhos de Pequim, que não deverá querer mudanças tão bruscas, ou qualquer “limpeza” na RAEM. Seria interessante ter alguém que conhecesse já os cantos à casa.
Edmund Ho conseguiu este ano amenizar a contestação que vinha subido de tom nos últimos dois ou três anos, e ficou bem visto aos olhos do Governo Central com o articulado do artº 23. Entretanto pouco se fala dos outros nomes, especialmente do industrial Ho Iat Seng, que sempre foi favorito e de que muito pouco se tem ouvido falar. Agora “faites vos jeux”.
Os blogues dos outros
Hoje ficámos sem acesso ao Google e os blogues também já não abrem. Dias chineses e manias chinesas que podem vir de qualquer razão... nossa desconhecida. Será da visita proibida à esposa do Hu Jia? Ou será qualquer outra razão... chinesa. A verdade é que a nível informático... sabem muito bem o que andam a fazer. ... E aborrecem-nos.
Maria João Belchior, China em Reportagem
A imagem é bem clara, aviões em terra, e os prejuízos esses, pela paragem dos mesmos, já atingiu a elevada quantia de 134 bilhões de baths. A falência de algumas companhias aéreas e agências de turismo está preste a ser anunciada. Quem lucra com tudo isto? A política dita democracia mal formada, dá nisto!...
António Cambeta, Macau Bangkok
Com a actual crise a agravar-se, os bancos andam ansiosos por devedores. Vai daí, toca a importunar os "clientes" pelo telemóvel a propor "oportunidades únicas e exclusivas". Isto já de si é mau, mas torna-se pior quando as mesmas "oportunidades" (na realidade oportunidades para hipotecarmos os nossos diminutos vencimentos para a eternidade) nos são propostas várias vezes.
Duarte Branquinho, Jantar das Quartas
Eduarda Maio é jornalista na Antena 1. Editou recentemente a biografia do "menino de ouro" José Sócrates, passou a editar e a apresentar os noticiários da manhã, mas discute-se se teria passado também a comissária política. Porquê? Porque esta manhã durante um dos noticiários apresentados pela senhora, ouviu-se um professor, que ontem participou numa manifestação, a dizer: "É importante, desculpem o termo, dar agora a estocada final, cortar as orelhas e o rabo...". Logo de seguida ouviu-se o comentário da noticiarista, pasme-se, sublinhando: "eis um forcado, mais uma tourada!"... Não sabíamos que a função de um noticiarista agora também é a de fazer comentários jocosos aos intervenientes em manifestações anti-Governo... e ainda por cima ignorante, porque nem sequer sabe que numa tourada o forcado não dá estocadas...
João Severino, Pau Para Toda a Obra
Ao ver Cavaco Silva na televisão nas recentes declarações a respeito de Dias Loureiro, o que mais me intrigou foi o aparente estado de debilidade física que o Chefe de Estado evidenciava: um aspecto tremendamente envelhecido e voz trémula. Para mim, começa a fazer cada vez mais sentido a tese da incapacidade do PR encetar a dura batalha politica que se adivinha para o seu segundo mandato. Daí que até final do mandato Cavaco, decididamente um corpo estranho ao regimento dominante estará impiedosamente debaixo de mira dos seus ressabiados adversários. E os que se dizem seus amigos não deveriam porventura poupá-lo, mesmo que com sacrifício pessoal?
João Távora, Risco Contínuo
Somos mesmo um país de tansos, então não seria mais frutuoso que em vez de Dias Loureiro ter que andar a explicar a um qualquer procurador as coisas do deve e haver do BPN, nos viesse explicar como é que alguém tão honesto enriquece de forma meteórica, acabando de vez com o mito de que em Portugal os honestos nunca chegam a lado nenhum. Este país resolvia todos os seus problemas se de uma vez por todas os honestos tivessem uma oportunidade na vida, como aquela que Deus deu a Dias Loureiro.
Jumento, O Jumento
Mudar o quê? Mudar para quê? Barack Obama encheu a boca e o seu cardápio de promesas com a palavra “mudança”. Prometeu não só mudar os Estados Unidos, mas também o mundo. Parece-me tarefa demasiado ambiciosa para um indivíduo só. Além disso, o tempo dos homens providenciais já passou – e não deixou saudades. Em vez de prometer grandes passos e apregoar grandes metas tendencialmente utópicas, como garantir os serviços básicos de saúde gratuitos a cada cidadão norte-americano, Obama podia começar por etapas mais curtas e concretas. Fechar a prisão militar em Guantánamo, por exemplo. Nada mais simples, nada mais emblemático. John McCain, se tivesse ganho, começaria muito provavelmente por aqui. Obama ganhou. É bom que comece por aqui também.
Pedro Correia, Corta-Fitas
A escolha de Hillary Clinton para secretária de Estado foi o primeiro grande tropeção de Barack Obama. Um dos aspectos mais relevantes do processo eleitoral tinha sido a inesperada derrota do casal Clinton – Obama, por fim, pôde fazer jus à sua tão apregoada intenção de mudança iniciando a reviravolta dentro do seu próprio partido. O casal Clinton constitui uma empresa política que se alimenta do poder de Washington, que controla como ninguém. Representam a continuidade do poder de sempre, o status quo.
Os Clinton, afinal, regressam à presidência do modo mais improvável: através daquele que os tinha, saudavelmente, remetido para a reforma política. Obama, para já, parece querer mudar muito pouco, preferindo a segurança do regresso ao passado. Cedo se arrependerá.
Carlos Abreu Amorim, Blasfémias
Vinha a ouvir na TSF que há 13 milhões de carenciados na União Europeia. Junta aí mais 6 milhões de parolos inchados. Por respeito a bons amigos que tenho no benfas não digo tudo o que me vai na alma depois do que li e ouvi ontem.A tragédia grega lavou-me a alma.
της κλόουν.
Francis, O Dono da Loja
Sonhei que conseguia ler alto um texto só com o corpo
de um rasgo, sem precisar de abrir a boca
e que, num rastreio gratuito, me detectavam
um tumor incipiente na garganta.
Sinal de que estou a repetir-me?
Sinal de que estou a perder a voz?
Rui Zink, Rui Zink versos Livro
Tragédia grega
O Benfica foi goleado ontem em Atenas frente ao Olympiakos por cinco bolas a uma, com os gregos a adiantarem-se logo aos 40 segundos de jogo com este golo de Galletti. Aos 24 minutos o Olympiakos vencia por 3-0, e fazia-se adivinhar mais uma página negra do futebol português nas competições europeias. A defesa do Benfica esteve à deriva, acusando muito a falta de Luisão, o patrão da defesa. O Benfica ocupa o último lugar do Grupo B, e depende de terceiros para obter uma eventual qualificação para a segunda fase. A outra equipa portuguesa, o Sp. Braga, voltou a perder no tempo de descontos, desta vez em casa com os alemães do Wolfsburgo. Os bracarenses apenas necessitam de vencer o Heerenveen, último classificado do grupo, e esperar que o Portsmouth não vença na Alemanha para obter a qualificação.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Queridos inimigos
Costumo ver um senhor português quase todos os dias que é muito parecido com o António Sala, só que um pouco mais baixo. Tem um ar menos simpático que o Sala, mas o bigode, os óculos e até o cabelo oferecem uma semelhança extraordinária. Sou um pacifista, mas às vezes quase que me apetece discutir com ele por uma razão qualquer, só para lhe poder chamar “António Sala”. A sério. Quem estivesse a ouvir ia rir imenso, e eu fazia um brilharete. Tinha que ser uma situação assim do tipo o gajo meter-se à frente da minha mulher na caixa do supermercado, ou brigar comigo por um parque em frente ao Gourmet. Qualquer coisa assim, ao vivo e com muito público.
Não o conheço, nem é a única pessoa com que embirro pelo seu ar arrogante e carrancudo. No entanto gostava de o conhecer. De ser seu inimigo, rosnar quando o vejo, fazer cara de mau quando passo por ele na rua. E depois “resolver as diferenças”, tornar-me seu amigo, e depois rirmos daquilo que nos afastava, como já fiz tantas vezes quando era puto. Falta-me aquela adrenalina. Em Macau não há inimigos de verdade. Há mal-entendidos, desaguisados (palavra que detesto), e tudo regado com montes de hipocrisia e inveja, mantido por esse autêntico muro de Berlim dos maus fígados, que é o “respeitinho”. Neste grande restaurante da vida, gostava de pedir uma travessa cheia de “bom inimigo”.
Mais do que os falsos amigos, fazem-nos falta os inimigos. Os inimigos querem realmente saber de nós, fazem-nos bem, fazem-nos existir, sentir vivos. Sabem tudo sobre nós, sabem o nosso nome, seguem os nossos passos. Lêem tudo o que escrevemos, ouvem tudo o que dizemos. Gastam gigabites mentais de memória com as nossas acções, declarações e feitos. Criticam porque lhes dá prazer, porque lhes dá oportunidade para exercer o seu ódio de estimação. Às vezes parece que nos ignoram, mas não. Um inimigo que nos ignora não é um inimigo a sério. É só um menino que está a fazer uma birra.
Os ódios de estimação, ah, essa “delicatesse” da inimizade. Podemos ganhar o Prémio Nobel da Paz, um óscar, um Pulitzer. Para eles não importa, pois tudo o que fazemos é mau, ou numa versão mais em voga nos dias que correm, é um “plágio” de outra pessoa qualquer. Existem três artes nobres tão incompreendidas pela sua violência e elitismo: a tourada, a caça, e a colecção de ódios de estimação. Quem tem ódios de estimação, “pet enemies”, consegue fazer uma catarse, apenas igualada pelo prazer de gritar tudo o que se quer do alto dos pulmões numa ilha deserta ou no alto de uma montanha qualquer.
Claro que tudo isto não inclui qualquer tipo de confrontação física. Só as crianças brigam. Quem resolve os problemas à chapada arrisca a interromper o delicioso ciclo do ódio. Perde-se o inimigo. Os inimigos são as pessoas que mais nos querem bem. Ficam sinceramente preocupadas se estamos doentes, ou enfraquecidos. Assim já não lhes podemos dar luta, competir. Os amigos ou os amigalhaços nunca nos chamam a atenção quando dizemos disparates. Fazem cara de parvos e dizem-nos qualquer coisa como “olha que não é bem assim...”. O que nós queremos é um safanão do género “claro que não, sua besta” ou melhor “esse é o maior disparate que já ouvi nos dias da minha vida”.
Os bons inimigos não ameaçam, não concretizam, não usam subtefúrgios ridículos como acções judiciais ou queixas na polícia. Cerram os olhinhos como sinal indicativo de ódio puro quando nos vêem. Riem aos soluços com uma carga irónica quando dizemos qualquer coisa. Querem sempre saber o que vamos fazer a seguir. São os nossos maiores e melhores críticos. Quando fazemos mesmo bem, dizem com os seus botões: “afinal este cabrão sempre fez qualquer coisa de jeito”.
Pessoa mais velha do mundo é portuguesa
Morreu Edna Parker, que era até ontem a pessoa mais velha do mundo. A norte-americana de 115 anos e 220 dias era, desde a morte da japonesa Yone Minagawa no ano passado, a pessoa mais velha do mundo de que há registo. Agora é a portuguesa Maria de Jesus dos Santos, nascida a 10 de Setembro de 1893 em Ourém. Uma conterrânea minha, portanto. Maria de Jesus vive em casa, nunca fumou ou bebeu alcool, e sempre preferiu uma dieta de peixe e vegetais. No último dia 11 de Junho tornou-se a portuguesa que mais tempo viveu, ultrapassando Maria do Couto Maia-Lopes. Parabéns para Maria de Jesus, e que conte muitos!
Muito estranho...
Segundo um inquérito realizado pelos kaifong (Associação de Moradores) e publicado no Hoje Macau, 92% da população apoia a promulgação da lei de defesa e segurança do Estado, emanada pelo artº 23. 85% considera desnecessário o prolongamento da consulta pública e 88% não concorda que a divulgação da lei deva integrar um programa de educação cívica para melhorar os conhecimentos do público sobre o documento. A esmagadora maioria dos inquiridos (78%) é licenciado ou tem o ensino secundário completo.
As conclusões que se podem tirar deste inquérito são muito estranhas. Dão a entender que a população está não só a favor do diploma, como parece ter pressa em que seja aplicado. Dá a entender também que a discussão ou a divulgação da lei são obstáculos à sua promulgação, e que "não interessa" que a população tenha conhecimento ou esteja informada do seu conteúdo. Eu pessoalmente duvido da legitimidade deste inquérito, a não ser que não esteja a interpretar bem os seus resultados.
Das duas uma: ou uma grande fatia da população está realmente bem informada, ou tem medo de se opor, ou de dar a entender que se opõe. A julgar pelo debate que tem sido feito a propósito desta legislação (maioritariamente em português), e da única contestação séria ter partido do grupo pró-democracia, dá a entender que este continua a ser um tema tabu junto da comunidade chinesa do território.
Eu até acho que a opinião pública em geral concorda com a lei, e acha necessário que se preencha este vazio legislativo. Mas que não a queira discutir? De saber do que se trata e de que forma pode influenciar as suas vidas no futuro? Que a lei vá para frente sem medos, e de que o Executivo trate de tudo sem escutar a opinião de mais ninguém? O que não compreendo mesmo é esta forma que os kaifong encontraram de apoiar o Governo. É que com coisas sérias, não se brinca...
Horror em Bombaím
Bombaím, capital financeira da Índia, foi alvo de vários ataques terroristas, que causaram mais de 100 mortos e 300 feridos. Entre os alvos estavam o luxuoso hotel Taj Mahal e a estação de comboios de Oberoi. As autoridades revelaram que vários homens armados fizeram um número indeterminado de reféns nas duas unidades hoteleiras depois de abrirem fogo indiscriminadamente na gare ferroviária Chatrapati Shivaji em plena hora de ponta, e no restaurante Leopold, uma referência local e muito frequentado por turistas. O trânsito está cogestionado e caótico, e os ataques causaram ondas de pânico naquela que é uma das cidades mais populosas do mundo. Seis turistas portugueses já fugiram e esto em segurança, e a maioria das agências de viagens desaconselham as viagens para Bombaím.
Dois amores
Com a devida vénia, reproduzo este brilhante momento de poesia do nosso António Cambeta, deixado na secção de comentários do blogue:
Dois amores
Alentejo terra minha,
terra que meu viu nascer,
foi madrasta foi madrinha
e lá me viu crescer.
Contigo muito aprendi,
muito tive que padecer,
em Évora sempre vivi
foi bom te conhecer.
Ensinamentos adquiri,
amor à porta bateu,
Évora não te esqueci
mas nunca mais serei teu.
Nunca serei emigrante,
bem cedo te abandonei,
sou um alentejo, um errante
que muito te dei e amei.
A Ásia tudo me deu,
seu amor e seu carinho,
de braços abertos me recebeu
quando eu andava sózinho.
Isso jamais esquecerei,
essa tão grande bondade
Évora te recordarei,
com nostalgia e saudade.
Muitos anos já passaram
desde que aqui cheguei,
meus cabelos branqueram
Macau sempre amarei.
Pois foi cá que aprendi
o que era a solidão,
amor a uma chinesa prendi
e liguei meu coração.
Português não esqueci,
aprendi bem a lição,
na China sempre vivi
com amor no coração.
Meio século quase passado,
novas raízes criei,
tenho o sangue já cruzado
vindo do amor que sempre amei.
António Cambeta, 27 de Novembro 2007
Pesadelo blaugrana
Foi azul-grená a tempestade que varreu ontem o Alvalade XXI. Com as duas equipas apuradas para os oitavos da Champions, discutia-se o primeiro lugar do grupo. O Sporting mostrou estar bastantes furos abaixo do Barcelona e os catalães contruíram uma goleada para a história: 5-2. Fica aqui o registo do último golo foi através de uma grande penalidade provocada pelo guardião Rui Patrício - que foi expulso - e convertida por Bojan Krkic, já com Tiago na baliza. Há dias assim...
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Os gajos de Macau (ou amigalhaços)
Uma das saudades que mais sentimos aqui tão longe das origens são as saudades dos amigos. É uma dor que doi cada vez menos com o tempo que passa, mas um tanto ou quanto renovada cada vez que regressamos. Recordamos os dias livres e selvagens, dos jogos da bola, dos joelhos esfolados, das aventuras malucas, das primeiras bebedeiras. Não é fácil deixar quem cresceu junto connosco, quem nos viu e quem vimos crescer. Gostávamos de os ter todos aqui, se calhar, ou gostávamos de poder voltar para perto deles. Não fosse o facto de o dinheiro ou a carreira falarem mais alto. Os amigos que aqui achamos não são a mesma coisa. Todos têm a sua própria história, o seu passado, e é mais difícil ver através deles, sentir a sua alma.
O problema da comunidade portuguesa em Macau é que somos todos muito amiguinhos. Unidos não, amiguinhos. Macau deve ser o sítio do mundo onde existem mais portugueses “amigalhaços” uns dos outros. O amigalhaço é aquele gajo que nos cumprimenta sem sequer saber o nosso nome. Amigalhaços de toda a gente e amigos de ninguém. É aquele que por ser conhecido, aparecer nos jornais ou na TV regularmente (ou ter aparecido uma vez ou duas) cumprimenta todos quando chega às agremiações tugas do território. Quer manter a sua “popularidade” a todo o custo, é um “diplomata”. Por vontade dele, nem olhava para nós e dizia-nos “desculpe mas o senhor não é suficientemente importante para que eu me lembre de si ou do seu nome”. Quando nos aperta o bacalhau e pergunta “tudo bem?”, essa é uma pergunta retórica. Claro que temos que responder que sim. Se a resposta for negativa, ele não vai perguntar “porquê? Posso ajudar?” (a não ser que seja advogado e o problema for de natureza jurídica, ao que nesse caso nos dá um cartão).
Os amigalhaços só se dão com gente do seu meio, e só sabe o nome daqueles com que é obrigado a trabalhar. Precisamos de mais amigos, de gente mais simples. O problema é encontrá-los. Os amigalhaços não nos vão ver ao hospital, não nos mandam cartões de Natal, não nos acompanham nas bebedeiras, não nos dão bons conselhos, não provam o nossos cozinhados. Se for preciso sacrificarem-nos para manter o seu estatuto, não pensam duas vezes antes de fazê-lo. Se nos abraçam, o melhor mesmo é ter a certeza que não nos ficou uma adaga nas costas. Mesmo em ajuntamentos popularuchos do tipo arraial de S. João ou nos jogos da selecção (nem sei porque lá vão...), vestem fato e gravata. Não há cidade ou localidade no mundo inteiro com mais portugueses engravatados que Macau.
Não cantarolam nos concertos (porque os outros amigalhaços estão a olhar), mesmo que o cantor insista. Não são frontais, nem são capazes de falar mal à frente de ninguém. Só nas costas. Quando um dos seus co-amigalhaços se lixa, dizem "olha, paciência", e agem como se o mesmo nunca vá acontecer com eles. A frase favorita do amigalhaço é "cada um sabe de si". Passados uns tempos, quando já ninguém se lembra, recordam o incidente: "o Zé foi parvo...olha, lixou-se...". Todos acham que o seu trabalho é o mais válido, o mais importante, e sonham acordados com um mercado mais amplo. Um dia partem e vão à vida deles, e passamos todos a ser “os gajos de Macau”.
Editado em 27/11/2008
Deve ser da fruta
O sémen dos portugueses é o mais eficaz da Europa, de acordo com um estudo do Instituto Valenciano de Infertilidade, em Espanha. Segundo este mesmo estudo, o sémen espanhol, apesar de ser o de pior qualidade, é o segundo mais eficaz na fertilização, "apenas atrás do português". Os belgas e os turcos ocupam o último lugar desta lista, enquanto os suecos e noruegueses têm a melhor "qualidade". A qualidade do esperma depende de factores como a exposição a ambientes tóxicos, ou ao consumo de tabaco, alcool e drogas. Quanto à "pontaria", deve ser da fruta, já que o meu professor de Biologia do 9º ano dizia que a frutose era importante na produção e na quantidade do esperma. Comam mais fruta, meninos. E já agora, evitem os "tóxicos".
Tailândia a ferro e fogo
A situação na Tailândia parece piorar dia após dia. Hoje o primeiro ministro Somchai Wongsawat aterrou no aeroporto de Chiang Mai, regressado do Perú, enquanto naquela cidade do norte da Tailândia um gangue assassinou um activista anti-governo, pai do proprietário de uma pequena estação de rádio que faz propaganda contra o governo. Entretanto em Macau as ligações aéreas om a Tailândia foram interrompidas, e muitos pacotes de férias cancelados. Veja aqui a reportagem da TDM.
Solamente Reininho
Depois de quase trinta anos como vocalista dos GNR, Rui Reininho vai partir agora para um projecto a solo, o seu primeiro. "A Companhia das Índias", que sairá em Dezembro, é produzido por Armando Teixeira, e conta com as participações de convidados como Rodrigo Leão, Alexandre Soares, Paulo Furtado e Slimmy. Treze faixas compõem o álbum, entre as quais versões de "Bem Bom", das Doce, e "Faz parte do meu show", de Cazuza. Aguardamos com expectativa.
Risco Contínuo
O Risco Contínuo é um novo blogue, da autoria de, entre outros, o nosso João Severino. Um blogue cheio de qualidade, e que apenas ao fim de dois dias já conta com mais de 20 posts (!). A seguir de perto, portanto, e já nos links à direita.
Fausto - 60 anos
Fausto Bordalo Dias completa hoje 60 anos. Nasceu em Vila Franca das Naves, concelho de Trancoso, distrito da Guarda. O cantor afirma que nasceu "entre Portugal e Angola, a bordo de um navio chamado 'Pátria'", um facto ainda por incluir nas suas biografias oficiais. Estreou-se nas canções em 1970 com um álbum homónimo, de onde se destaca o tema "O pastor". Era então cantor de intervenção, ao lado de nomes como José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, entre outros. O seu segundo disco, "Pró que der e vier", lançado já depois do 25 de Abril, é um dos mais completos exemplos da música que se fazia no período pós-revolução. Em 1982 Fausto - que se vinha afastando cada vez mais da temática revolucionária - lança "Por Este Rio Acima", discutivelmente o melhor disco de sempre da música portuguesa. Uma celebração dos Descobrimentos, inspirado n'A Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. O último álbum de originais foi "A ópera mágica do cantor maldito", de 2003. A colectânea "18 Canções de Amor e Mais Uma de Ressentido Protesto", lançada o ano passado, demonstra a suas qualidades de baladeiro e trovador de amor. Passam hoje seis décadas do seu nascimento. Está velhinho, o nosso Fausto...
Turkish delight
O Porto qualificou-se para os oitavos-de-final da Champions League ao vence na Turquia o Fenerbahçe por duas bolas a uma. Com esta vitória os portistas confirmam a apetência para jogar na Turquia - o que é sempre difícil devido ao apoio entusiástico do público da casa. O ano passado duas vitórias contra o Besiktas, este ano também seis pontos contra o Fenerbahçe. Os dois golos dos dragões foram apontados por Lisadro López, ainda na primeira parte. O FC Porto junta-se assim ao Sporting na fase decisiva da Champions, fazendo com que duas equipas portuguesas se qualifiquem pela primeira vez para os oitavos.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Respeitar quem trabalha
A minha empregada filipina é uma pessoa maravilhosa. Trabalha connosco há mais de dez anos, desde que a nossa filha nasceu, e os miúdos vêem nela praticamente uma segunda mãe (chamam-lhe "tia"). Vai buscá-los todos os dias à escola, limpa-nos a casa, passa-nos a roupa, nunca se queixou. Quando vai de férias sentimos a falta dela. É para mim um prazer voltar todos os dias a casa e encontrar tudo limpo, a brilhar, o jantar feito, tudo nos conformes. Às vezes faz-nos comida filipina, que os miúdos adoram, e ensinei-lhe alguns truqes da comida portuguesa. Uns refogados, umas caldeiradas, umas coisas que se comem cá em casa aos fins-de-semana.
Apesar de trabalhar para nós há uma década, sempre em situação de perfeita legalidade, continua a ser trabalhadora não-residente. Há quatro anos nasceu-lhe uma filha do seu casamento. O marido, vendo o seu contrato como segurança privado não renovado, teve que regressar às Filipinas, onde está também a filha, uma vez que como trabalhadora não-residente, a minha empregada não usufrui dos subsídios da DSEJ, e a educação da criança torna-se quase incomportável. Partilha um apartamento na zona norte da cidade com duas compatriotas, pagando cada uma a quantia de 600 patacas mensais.
A minha empregada filipina, assim como muitas outras da mesma origem, ou indonésias ou até da China continental, ajudam a tornar a vida mais fácil a milhares de residentes. A limpar-lhes a casa, a tratar-lhes da roupa, a cuidar das suas crianças e dos seus velhos. Nos restaurantes e nos cafés servem-nos à mesa sempre com simpatia. Falam inglês, uma vantagem numa cidade que se quer internacional. Algumas são mal tratadas, humilhadas, enxovalhadas. Outras optam pelo trabalho ilegal, como forma de complementar o sub-pagamento a que estão sujeitas.
Devido a uma lei injusta, por muito que se esforçem por se manter no território de forma legal, dependem da vontade, das condições e até mesmo da disposição dos empregadores. Os seus filhos, apesar de nascidos no território, não têm o mesmo direito de outras crianças na mesma situação: o estatuto de residente. Existem subterfúgios mil para se conseguir a residência. O investimento, que premeia os ricos, e os casamentos mais que duvidosos, que premeiam quem paga ou simplesmente abre as pernas. Trabalhar honestamente está fora de questão.
Alguém que vive em Macau 10, 20 ou mais anos, que criou aqui raízes, que constituíu família, pode ver subitamente a sua vida virada do avesso, regressando a um país que às vezes já não lhe diz nada, para começar tudo de novo. O ridículo de tudo isto é o facto da falta de profissionais dos mais variados sectores, quer da restauração, da limpeza ou dos serviços, leva a que várias pequenas e médias empresas fechem as portas por falta de pessoal.
Uma senhora que tinha um pequeno café aqui perto de casa teve que fechar porque todos os residentes que arranjava para trabalhar desistiam ao fim de poucos dias ou não tinham o mínimo jeito para a coisa. Há profissões que os residentes de Macau não querem exercer, por muito que custe à Economia admitir. E se o problema e a causa maior são os trabalhadores da construção civil, que tal ensiná-los a fazer outra coisa qualquer? É assim tão difícil apostar na formação, ou querem ser trabalhadores das obras para o resto da vida? Será mais fácil apostar na delação, promovendo a cultura do bufo?
Quem defende a denúncia, a deportação, e faz dos trabalhadores não-residentes os bodes expiatórios não sabe nada da história de Macau. A esmagadora maioria da população é descendente de pessoas que um dia deixaram o seu país para salvar a pele, ou à procura de uma vida melhor. Mesmo os deputados Au Kam San e Ng Kwok Chong, sim, que duvido que sejam descendentes dos pescadores que originalmente habitavam Macau aquando da chegada dos primeiros ocidentais.
Quando Fong Chi Keong interpelou hoje o secretário para a segurança, Cheong Kwok Wa, sobre um certo tipo de tratamento que a polícia deu a uma condutora que foi mandada parar numa operação stop. O secretário sugeriu que se fizesse uma "diferenciação" entre os polícias que nasceram no território e outros oriundos do Continente. Susana Chou criticou Cheong Kwok Wa, e indignou-se pelo facto de um alto dignatário da RAEM querer fazer uma diferenciação desta natureza. Disse ainda que é tempo "de acabara com este tipo de tratamento aos novos imigrantes". Pegando nas palavras da exma. sra. presidente, acho que sim, que muito deve ser feito nesse sentido. Para todos os imigrantes, é claro.
Sexo inseguro
Mais de metade das prostitutas em Pequim não usa o preservativo, isto apesar de os números de transmissão do HIV por via sexual ter ultrapassado o das drogas injectáveis noticiou a Xinhua. Apenas 47% das 90 mil trabalhadoras da indústria sexual na capital chinesa usam o preservativo, citando o director do departamento de saúde pública, Fang Laiying. A transmisso do HIV por via sexual é neste momento 55% do número de infecções totais, mas desconhece-se a incidência da infecção em prostitutas, uma vez que em Pequim o teste não é obrigatório.
Violência volta a Bangkok
Mais confrontos hoje na capital tailandesa, com elementos da Aliança Democrática Popular que bloqueavam uma estrada que dava acesso ao aeroporto a dispararem contra apoiantes do Governo. Foram registados pelo menos 11 feridos. A Aliança está contra o primeiro-ministro Somchai Wongsawat que acusam de ser "uma marioneta" do ex-primeiro Thaksin Shinawatra, caído em desgraça, e que é curiosamente seu cunhado. Somchai Wongsawat regressa amanhã do Perú, e espera-o um ambiente bastante hostil.
Cheias no Brasil
As cheias no estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, causaram já 65 mortos, 17 desaparecidos e cerca de 44 mil desalojados. Estas são as piores cheias dos últimos 25 anos, e tem chovido sem parar nos últimos dois meses. Os danos causados pelas chuvas na rede eléctrica deixaram cinco cidades isoladas e mais de 160 mil pessoas sem luz. As cidades mais atingidas são Ilhota, onde as águas do rio Itajai-Açu subiram até 11 metros acima do nível normal, e a vizinha Blumenau.
Pedófilo vê pena reduzida
O pedófilo canadiano Christopher Paul Neil, apanhado pela Interpol o ano passado depois de ter divulgado fotografias na internet, com a face distorcida, a abusar de várias crianças do Sudeste Asiático, viu a sua pena reduzida de 9 para 6 anos devido à sua "colaboração com as autoridades". Neil, um ex-professor de inglês de Vancouver, terá abusado de vários menores no Vietname, Cambodja e Tailândia, e foi o ano passado condenado por um tribunal tailandês a nove anos de prisão e ao pagamento de uma indemnização de 50 mil baht (perto de 10 mil patacas). A acusação, que considerou a detenção do pedófilo uma grande oportunidade para que a Tailândia deixasse de ser vista como um paraíso para a pedofilia, considerou a redução da pena "injusta". Perdem as crianças, mais uma vez.
Chavez faz das suas
O Partido Socialista (PSUV) de Hugo Chávez venceu as eleições regionais e municipais de Domingo na Venezuela, ganhando em 17 dos 23 estados do país sul-americano. O PSUV perdeu alguns estados para a oposição, com destaque para a câmara municipal de Caracas, agora na posse da AD, a Aliança Popular. Apesar da vitória clara do cacique Chávez, as ameaças mancharam a campanha, com o presidente a acenar com o corte de apoios governamentais e até o exército nas províncias em que o seu partido não vencesse. Assim mais valia a pena não realizar eleições de todo.
Parabéns, Stanley Ho
O bilionário de Hong Kong radicado em Macau, Stanley Ho Hung Sun (何鴻燊) completa hoje 87 anos de idade. Patrão da SJM (antiga STDM), grande impulsionador da indústria do jogo em Macau e em toda a região, o "Tio Patinhas" de Macau. A sua fortuna está avaliada pela revista Forbes em cerce de 7 mil milhões de dólares norte-americanos, que fazem dele a 140ª pessoa mais rica do mundo. Um longa vida para ele.
Figuras de estilo
Os Gato Fedorento propõem um concurso novo: adivinhar que figura de estilo usa Manuel Ferreira Leite. É mais um sketch do Zé Carlos.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
O "problema" e os ilegais
1) Debate-se a segurança no âmbito das LAG. Au Kam San diz que Macau não está preparado para o artº 23, nomeadamente na forma como a lei será aplicada. Dá o exemplo do professor que foi detido por ter feito uma análise económica num fórum da internet. Tina Ho aproveita a boleia e fala das mensagens na internet e nos “perigos” do ciberespaço. Aí está outra vez a internet vista como um “problema”. Então a culpa da má gestão dos bancos é dos utilizadores da internet? E é só na internet que se podem espalhar rumores? E que tal controlar também as mensagens por telemóvel? Será que estes srs. Deputados (não me refiro a Au Kam San nem apenas a Tina Ho) que representam a população não conhecem suficientemente as especificidades do território para perceber que basta passar um rumor de boca em boca para que se gere o pânico, principalmente se o assunto é dinheiro? A internet não é um “problema” de agora, minha gente. Existe desde há quase duas décadas, só que agora os cibernautas de Macau são cada vez mais, estão cada vez mais bem informados e mais participativos. Será esse o “problema”?
2) Como forma de combater o trabalho ilegal, o deputado Ng Kwok Chong sugere que os trabalhadores sejam premiados por denunciar colegas que estejam em situação ilegal. Isso mesmo, leram bem. A fazer lembrar o filme The Invasion of the Body Snatchers, de 1978, em que a humanidade era substituída por clones depletos de emoção, que denunciavam os humanos que restavam. Este golpe de populismo que só se explica pelo facto dos trabalhadores ilegais não votarem (lógico...) faz com estes sejam recambiados de volta para o seu país de origem, de volta à cepa torta, enquanto os empregadores – os verdadeiros responsáveis pelo trabalho ilegal – paguem uma multa irrisória e vão para casa a rir, repetindo depois a gracinha com a esperança de não serem dessa vez apanhados. A corda rebenta sempre para o lado dos mais fracos, claro.
McDonald's e a mulher nua
Um utente de um restaurante McDonald's está a processar a multinacional de fast-food norte-americana. Phillip Sherman jantou num restaurante McDonald's em Fayetteville, Arkansas, em Julho último e esqueceu-se do telemóvel, onde tinha várias fotografias da sua mulher nua, que viriam a acabar na internet. Sherman garante que ligou para o telemóvel quando se apercebeu do esquecimento e um dos empregados garantiu que tomava conta do aparelho até ele voltar. Sherman quer 3 milhões de dólares de indemnização devido a danos morais, e ao facto de ter precisado de se mudar para outra casa.
Todos capados
São ouvidas hoje e amanhã as alegações finais do processo Casa Pia, o mais vergonhoso da História da justiça portuguesa. Um processo para o livro do Guiness: mais de 60 mil páginas, 300 dossiers, mais de 400 sessões e quase mil testemunhas, em 6 anos. Não quero acreditar que vá ser toda a gente absolvida, menos o sociopata Carlos Silvino, vulgo "Bibi", que confessou os 600 crimes (!) de que era acusado.
É que para mim não há desculpas para a pedofilia. Posso acreditar na motivação tresloucada de um homicida, nas convicções políticas ou religiosas de um terrorista, na ambição desmedida de um corrupto, ou na fome e exclusão social de um ladrão ou de um traficante. Mas num gajo que vai ao cu a putos por prazer, nunca.
Este Carlos Cruz, o sr. televisão, que me desculpe, mas não acredito por um segundo na sua inocência. Esta é a minha opinião, o meu instinto se quiserem, mas onde há fumo há fogo. Não estou a influenciar a decisão judicial, nem a acusar o gajo de nada baseado em provas. Se fizessem um poll do tipo "Carlos Cruz é inocente?", eu dizia "não". Num país de brandos costumes como Portugal, não se enfia alguém com a influência e a popularidade de Carlos Cruz numa prisão sem mais nem menos.
Tem o direito à presunção da inocência, sim senhor. Até pode ser que seja ilibado, claro. Mas independente das tecnicalidades que o safem, nunca mais confio neste gajo. Se ele fosse da minha família, não o deixava aproximar-se dos meus filhos. Nem no Natal, mesmo que isso significasse estragar a consoada para toda a gente. Acredito que a justiça portuguesa, apesar de tudo, não levava tão longe um processo desta natureza contra alguém que estivesse completamente inocente.
E quando toca à pedofilia, ou se está completamente inocente, ou se é um reles filho da puta sem direito a respirar o mesmo ar que nós. Quem acredita na inocência deste senhor, ou numa eventual "teoria da conspiração" muito bem, tem direito à sua opinião. Mas eu não, não acredito. E quem diz Carlos Cruz diz Jorge Ritto, João Ferreira Diniz e toda essa escumalha. Como disse uma popular: "deviam ser todos capados".
Mimosa! Gresso! Agros!!!
No meio de tanta polémica quanto ao leite e outros produtos alimentares, eis uma boa notícia. Os supermercados do território têm (finalmente!) as prateleiras cheias de leitinho português! O do bom, o do melhor. Mimosa, Gresso, Agros, e nas variedades magro, meio gordo e gordo, natural ou com chocolate. Todos que se podem beber à confiança, sem medo de se criar uma pedreira nos rins! Só me resta desejar que esta seja uma tendêmcia a seguir. Brindemos ao nosso leite do Putaoya!
Bife marado
Mais um escândalo alimentar, agora em Hong Kong. Uma investigação determinou que alguns vendedores de carne de vaca estão a vender carne congelada, importada do Brasil, fazendo-a passar por carne fresca. Para tal utilizam uma substância cancerígena, o dióxido de enxofre, para dar um vermelho mais vivo ao produto. Um catty (cerca de 600 gramas) de carne congelada custa 22 dólares de Hong Kong, enquanto a carne fresca custa 60 dólares. Uma fonte anónima assegurou que perto de 70% dos vendedores de carne de vaca utilizam este método para obter lucro fácil. Uma amostra de um catty de carne de vaca mandada para laboratório detectou 2398 miligramas de dióxido de enxofre. Os mercados de Hong Kong e Macau têm sentido a redução da importação de carne de vaca do Continente nos últimos meses.
Estás perdoado, meu filho
A Igreja Católica decidiu perdoar o ex-Beatle John Lennon, aqui na imagem com Yoko Ono, a badalhoca japonesa com que contraíu segundas núpcias. Lennon afirmou há 40 anos, no pique de popularidade da banda de Liverpool, que os Beatles "eram maiores que Jesus Cristo". A afirmação chocou milhares de católicos em todo o mundo, que agora quatro décadas depois, resolveram perdoá-lo. Mais vale tarde que nunca...
Ministra avalia Queirós
Como não podia deixar de ser, os Gato Fedorento falam do resultado de Portugal frente ao Brasil na semana passada. A ministra da educaço avalia o professor...Carlos Queirós. É mais uma rábula do Zé Carlos.
Freddie Mercury - 17 anos de saudade
Passam hoje 17 anos desde o desaparecimento de Freddie Mercury, vocalista dos Queen e figura maior da pop. Vamos recordá-lo aqui com este "The Show Must Go On".
domingo, 23 de novembro de 2008
Impressões sobre o 8º Festival de Gastronomia
O que dizer da 8ª edição do Festival de Gastronomia realizado na Torre de Macau entre os últimos dia 7 e 23 (hoje)? Qual é mesmo o termo científico que estou à procura? Ah, já sei. Uma enorme cagada. Já sei que há coisas de que não se pode falar mal, não vá o Jesus ficar zangado, mas por outro lado há também coisas que convém dizer, sob pena de se ficar com uma verruga infecta na ponta do nariz devido à acumulação de maus livores do fígado.
Assim, tudo o que de mau foi dito da 7ª edição - o ano passado - manteve-se. Só que pior. Os problemas que se queixavam feirantes e utentes não foram resolvidos: aluguéis caros e falta de lugares para sentar. Ao contrário da crença popular, quem chega mais cedo não consegue um lugar, e digo isto depois de ter ido quatro vezes, ora durante a semana, ora ao fim-de-semana, ora cedo, ora tarde, e nunca ter encontrado um assento onde arrear o traseiro.
Quem foi deve ter gostado. O que não faltavam eram cidadãos anseosos para comer a variada oferta de massas e arroz fritos com nada, ou o caril de batatas que praticamente todas as lojas ofereciam. Outros comiam de pé, em movimento. O festival pecou pela falta de originalidade, e não se pode dizer que alguém "comeu" o que quer que fosse. Provou, isso sim. Quem queria "encher a barriga" ficava muito mais bem servido se ficasse em casa.
O maior erro, na minha humilde opinião, foi a tal Avenida de Taiwan, dedicada a produtos vindos directamente da ilha nacionalista. A "popularidade" deste espaço rapidamente se espalhou, com filas de dezenas de visitantes a esperarem meia hora ou mais para obter umas massas a pingar ou "dumplings" sensaborões. Algumas dos famosos produtos formosinos eram empacotados e penso que podem ser encontrados em algumas lojas especializadas do território.
E o que perdeu o festival com isto? Onde nos outros anos se encontravam as tendas das regiões de Pequim, Xangai, Xinjiang, Hunnan, Mongólia Interior ou Sichuan, tinhamos só Taiwan. O festival ganhava era com isto, com a diversidade de regiões da imensa China que traziam um pouco das suas cores e cheiros. Em vez disso tivemos o monocromático Taiwan, e a sua mediocridade em termos de oferta.
Até no palco do Festival se sentiu essa diferença. Onde antes tinhamos os executantes de danças tradicionais e canções da cultura desses povos da RPC, tivemos este ano umas bandas (filipinas?) que decalcavam êxitos pop dos anos 70 e 80. E ainda por cima mal cantados. Onde andavam os malabaristas? As simpáticas meninas e os seus trajes regionais? Os ilusionistas, saltimbancos, e afins?
Salvou-se o pão com chouriço do Fernando do Ou Mun, alguma comida tailandesa e a participação sempre simpática do Thailand Tourism Bureau. E o Beer Garden, onde se podia beber uma pint de Löwenbräu pela módica quantia de 25 patacas, acompanhadas por amendoins complementares, e onde perdi umas boas duas horas ou três enquanto a mulher e os miúdos viam o resto.
Espero sinceramente que no próximo ano se repense a estratégia do Festival, e se devolva a cor e a variedade que foram este ano perdidas. Se os residentes de Macau quiserem conhecer bem a gastronomia e a cultura de Taiwan (?), basta apanhar um avião e estão lá em uma hora. Não é nenhuma novidade. Depois das duas uma, ou se aumenta o número de lugares sentados, ou os cidadãos de Macau tomam consciência de que não vale a pena ir só para dizer que se esteve lá.
Contra o 23
Foi hoje realizada em Macau pela primeira vez uma manifestação contra a legislação do artº 23. Os cerca de 60 manifestantes exigem o alargamento do período de consulta pública e pedem algumas alterações ao diploma. A manifestação foi organizada pelo Novo Macau Democrático e a Associação do Activismo pela Democracia, e contou com a participação de alguns convidados de Hong Kong, incluíndo o famoso "long hair". Veja aqui a reportagem da TDM.
Franceses viciados
Já se sabia que o povo francês, arrogante, racista e vaidoso, não era de confiança. Agora leio uma notícia de que mais de 600 mil franceses são viciados em jogos electrónicos. Os jogos electrónicos são uma forma que gente que não tem nada melhor que fazer ou qualquer objectivo na vida usa para deixar passar as horas desta vida até ao dia em que se encontram com o criador (se isso chegar a acontecer). Estes franceses passam entre 8 ou 10 horas por dia em frente ao PC a jogar aqueles jogos idiotas em que se têm que construir aldeias, armas, carroças e o Diabo a sete, e que qualquer pessoa normal se aborrece ao fim de cinco minutos. Para combater a ciberdependência, os deputados franceses sugerem a inclusão de mensagens no ecrã a propor uma pausa e um abrandamento no ritmo do jogo, simulando o cansaço das personagens, ao que só falta uma mensagem a dizer: "vai fazer qualquer coisa de útil, palerma". O número de viciados em jogos electrónicos em França é três vezes superior ao número de toxicodependentes. E ainda dizem que a heroína é um problema...
Chinese Democracy
Eis o primeiro single do novo álbum dos Guns N'Roses, "Chinese Democracy", que dá também nome ao álbum. Tudo indica que o disco seja censurado na China, pelo que os fãs terão que o procurar no mercado pirata.
Moedismo
Não, não vou falar de numismática. O que acontece é que, se descriminação pela cor ou etnia é racismo, então descriminação de moedas é moedismo. Esta simpática moedinha de 5 patacas, que recebi nem me lembro onde, é recusada em qualquer mercearia, supermercado ou lojeca imunda do território. E tudo isto porquê? Esta moedinha, que cabe em qualquer ranhura de autocarro ou máquina de venda de bebidas, é "feia". É feia porque é preta. Não está partida, dentada ou desgasatada. É só porque é feia. Tenho cá em casa uma nota de 20 que só porque está velhinha e um bocadinho rota no meio, também ninguém aceita. O que fazer? Da próxima vez que for ao supermercado e a mulher da caixa for feia, peço para trocarem por outra. Ou então não pago. E que tal?
Zeros
Os quatro grandes do futebol inglês ficaram ontem em branco na 14ª jornada da Premier League. O Liverpool e o Chelsea empataram a zero em casa com o Fulham e Newcastle, respectivamente, enquanto o ManU de Cristiano Ronaldo e Nani não aproveitou os deslizes dos seus adversários directos, e fez igual no Villa Park de Birmingham, frente ao Aston Villa. Pior fez o Arsenal, que foi goleado no reduto do Manchester City por três golos sem resposta. Destaque para o segundo golo, pelo internacional brasileiro Robinho.
sábado, 22 de novembro de 2008
Leituras
- Esta semana no Hoje Macau, Pinto Fernandes fala das LAG, em Também tu, Susana?.
- Ainda no HM, Hélder Fernando faz uma sentida homenagem ao Santos, fazedor de paparoca ali para os lados da Taipa, em Com o Santos, português.
- No JTM, Rodolfo Ascenso fala da situação da Las Vegas Sands e das declarações de Bill Weidener, em Sacudir a água do capote.
- Também no JTM, Nuno Lima Bastos volta a falar do artº 23, mormente da parte que diz respeito ao crime de "sedição", em O crime maldito.
- Ainda sobre o artº 23, pronuncia-se Daniel de Oliveira n'O Clarim, o semanário da Igreja Católica em Macau, em O Artigo 23.º no mundo
- Ainda n'O Clarim, José Miguel Encarnação fala do artº 23, das LAG e do GP de Macau, em Desabafo.
Bom fim-de-semana!
Mexidas na Blogosfera
Hoje tenho finalmente tempo para remover alguns blogues inactivos, e outros que são só "por convites" (eles que me desculpem). Resolvi também adicionar alguns que são da blogosfera de Macau. Assim o Portas do Cerco, KoisasKoisadas@Oriente e A Conquista da China serão removidos, e o Mor Alone, o Eu, o Caderno do Oriente, o Considerações (da Claúdia Gameiro) e o Macau Bangkok (do António Cambeta) foram adicionados. Agradecia que caso tivessem um blogue de Macau (de preferência em português) me informassem. Obrigado pela colaboração.
Katchim if you can
Extractos da entrevista ao jurista António Katchi, na edição de ontem do Ponto Final, conduzida por Luciana Leitão:
Sobre o artº 23:
"(...)uma lei que venha regular esta matéria, sendo de conteúdo penal, necessariamente coloca restrições aos direitos fundamentais."
"(...)Penso que o objectivo principal desta lei é provocar o medo - que as pessoas tenham medo de se envolver em actividades políticas de carácter contestatário. O objectivo é intimidar a população, é fazer com que as pessoas fiquem com medo de se envolver em actividades político-partidárias."
Sobre a actuação do Governo:
"Como pode um Governo que suscita questões como a delinquência juvenil propor a manutenção de um regime de tempo de trabalho que continua a considerar as 48 horas semanais como um horário normal de trabalho e que prevê a possibilidade de o tempo total de trabalho por dia, incluindo as horas extraordinárias, chegar às 12 horas? É muito hipócrita propor uma legislação com este conteúdo e depois andar sempre a exprimir preocupações com a delinquência juvenil, o consumo de drogas e o insucesso escolar."
"O balanço é totalmente negativo, em todas as frentes. Desde logo, no plano da organização política. Não houve qualquer avanço a caminho da democratização do regime."
"O Governo falhou redondamente. Não aproveitou a oportunidade de, através da legislação laboral, contribuir para um sistema mais justo."
Sobre o próximo Chefe do Executivo:
"Este regime é tão anti-democrático que alguém com quem me identificasse minimamente não iria ser Chefe do Executivo(...)"
Conversas com o meu filho (XI)
- Pai, tu tens tanta sorte...
- Ai, sim? Porquê?
- Podes dormir a que horas quiseres, fazer o que quiseres, se te apetecer não vais trabalhar...
- Olha, mas isso não é bem assim. E tu?
- Eu tenho que ir para a escola, depois para a Universidade, e depois arranjar trabalho.
- E estás preocupado com isso?
- Sim, porque não sei o que vou fazer!
A mulher mais sexy do mundo
A modelo de lingerie checa Karolina Kurkova foi votada a mulher mais sexy do mundo pela E! Entertainment, em resultado divulgado ontem à noite. A modelo bateu a israelita Bar Rafaeli, namorada de Leonardo Di Caprio, e Angelina Jolie, que teve o senão de ter dado à luz gémeos este ano. O quarto lugar foi para a brasileira Giselle Bundchen, e a vencedora do ano passado, a actriz Scarlett Johansson quedou-se pelo quinto lugar. Adriana Lima, Heidi Klum, Penelope Cruz, Manuela Arcuri e Shakira fecharam o top-10.
6570
O barbeiro
Filipe Fernandes e Felipe Frazão apresentam a sua versão muito própria do Barbeiro de Sevilha. É mais uma produção da turma do Vaivc.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Oh não! O Convento!
Enquanto revia “O Convento” de Manoel “com ‘o’” de Oliveira, transmitido esta noite pela TDM, três ideias passaram-me pela cabeça:
- O que estava John Malkovich a pensar?
- O que estava Agustina Bessa-Luís a pensar?
- Porque fui perder eu o meu tempo?
O filme, assim como todos do “mestre” que é mais conhecido por ser o realizador mais velho em actividade, campeão das menções honrosas no festival de Cannes (será que é com a ténue esperança que ele não volte lá mais?) é mau. É péssimo. É deprimente, mal escrito, mal filmado, mal realizado. Foi uma desilusão, para quem tinha ainda alguma esperança, entenda-se. Agustina Bessa-Luís partilha os créditos pelo argumento. Eu pessoalmente preferia partilhar uma seringa.
Quem não o viu fez bem, e não perdeu nada. Foi filmado no convento da Serra da Arrábida, e conta a história de um professor, Michael Padovic (Malkovich) e a sua esposa Helene (Catherine Deneuve) que procuram provas de que Shakespeare não era inglês, mas sim um judeu espanhol cuja família fugiu de Espanha primeiro para Portugal, depois para Florença. Tivesse sido este um filme de sucesso e não uma cagada do tipo “B” que ninguém com uma cabeça pensadora em cima dos ombros viu, a malta em Stratford-Upon-Avon tinha ficado furiosa.
Agora porque conta o filme com actores da classe de Malkovich ou Deneuve? O primeiro é um lírico, um homem inteligente que não sabe distinguir uma esturcha de duas horas de um bom filme. Um diletante que acredita nas virtudes do “Cinema europeu da caca” de que Oliveira é o maior embaixador. Catherine Deneuve teve um enorme sucesso dois anos antes com “Indochine”, mas estava muito longe dos tempos gloriosos de “Les Parisiennes” ou “Belle de Jour” (ah, Belle de Jour, Deneuve mon amour).
Luís Miguel Cintra (sobrinho de Oliveira) e Leonor Silveira (neta) entram também o filme, como não podia deixar de ser. O primeiro é Baltar, um empregado do convento, de cabelo penteado para trás, fato preto e camisa vermelha, a lembrar Al Pacino. A segunda é Piedade (é sempre uma Francisca, uma Jacinta, uma Alfreda, uma Piedade), assistente do professor Padovic, uma mosca-morta. Os dois falam bem inglês, francês e alemão (um elemento presente nos filmes “europeus” de Oliveira) mas representam mal.
Quando chegam ao convento, Padovic e Helene são apresentados ao restante pessoal do convento. Duarte de Almeida no papel de Baltazar (Baltar e Baltazar, que interessante), e Berta (Heloísa Miranda). No meio da sala está um pentagrama gigante, o símbolo do satanismo. Ninguém explica o porquê disto. Se calhar foi alguma decoração de Natal que ficou do ano anterior.
Como em outros filmes de Oliveira, usa-se e abusa-se dos longos planos, dos diálogos mortos e estúpidos, do elemento artístico sem o mínimo de realismo ou credibilidade. As referências a “Fausto” de Goethe so tantas que penso que preferiria assistir a Malkovich a ler a obra do pensador alemão durante três horas. Atente-se a um diálogo entre Baltar e um pescador:
Baltar: “Trabalho no convento”
Pescador: “Acredito, sr. Baltar, acredito...”
A outro entre Piedade e Baltar:
Piedade: “E porque gostam esses portugueses tanto de trocadilhos?”
Baltar: “Porque enganam o Diabo com eles...”
Imaginem uma cena em que Padovic recebe uma prenda, que se depreende imediatamente que seja um livro. Abana, chocalha e ouve, faz uma cara de quem nem faz ideia que seja um livro, e depois dá-lhe uma dentada. Devia ser um livro de cozinha.
Numa outra cena Helene e Baltar visitam uma gruta onde alegadamente estava localizada uma fornalha abandonada por Lúcifer (sim, o Diabo), e possuído por uma força incontrolável, Baltar solta sonoras gargalhadas nos ouvidos da senhora, e depois pede-lhe desculpa e diz que a ama.
Quando saem da gruta, passeam-se por um bosque. Baltar diz a Helene que repare numa árvore com troncos grossos. Ignorando as mais básicas regras do bom senso e da higiene, Helene abraça e acaricia os ramos como se fossem um falo. Baltar diz-lhe que os ramos “defendem a ameaça da obscuridade do pré-sol”. Clássico. É a este tipo de diálogos que assistimos durante todo o filme. Mais tarde ela beija-o e ele faz cara de quem acabou de enganar a vizinha.
Enquanto Baltazar (o outro empregado do convento, não Baltar) leva Padovic e Helene a visitar uma casa que ostenta a porta um símbolo que o parece incomodar. Na melhor tradição dos filmes de Drácula, Baltazar leva o braço à cara, e fica imóvel à porta da casa. O casal passa por ele e entra. Se calhar pensam que se trata de alguma tradição portuguesa.
A música é outro aspecto interessante do filme. Filma-se a praia, o bosque, o interior do convento, um mocho e imediatamente passa uma música assustadora e decrépita. Assim também consigo fazer um filme de “terror”. Basta passar imagens dos joggers na Guia ou dos deputados da AL com a banda sonora do “Shinning” ou do “2001”.
O filme termina com uma nota que nos informa que houve um grande incêndio, que destruíu todos os livros e não sei quê. Baltar e Piedade desapareceram depois do incêndio, e foram substituídos por Baltazar e Berta. O pescador ouviu dizer que o professor e a sua mulher voltaram a Paris, e o professor abandonou a sua investigação sobre Shakespeare (porra, assim nunca ficamos a saber a verdade) e dedicou-se aos estudos sobre o oculto. Mas “não devemos acreditar em tudo o que diz o pescador”. Se calhar estava com uma enorme bebedeira ou então é um grande mentiroso.