quarta-feira, 31 de julho de 2013

Oceanus nada pacífico


O Hoje Macau noticiou na sua edição do dia uma notícia que dá conta do descontentamento dos trabalhadores do casino Oceanus, uma das peças da Sociedadade de Jogos de Macau (SJM) do clã Ho no xadrez do jogo na RAEM. O casino fica localizado perto do Terminal Marítimo do Porto Exterior, nas antigas instalações do Centro Comercial New Yaohan, e estará aparentemente sob a administração de Angela Leong, deputada na Assembleia Legislativa e actual companheira do magnata Stanley Ho. Sabe-se muito pouco deste empreendimento casineiro, que não goza da mesma popularidade de outros no território que oferecem alternativas em termos de entertenimento que vão além do jogo, mas as notícias que agora surjem na imprensa ajudam a abrir a "casca de noz" do Oceanus.

Depreende-se da notícia do Hoje que os trabalhadores do Oceanus que vêm agora "partir a loiça" serão apenas um pequeno grupo, mas fica também a impressão que representam uma fatia considerável dos restantes, e que existe mesmo um descontentamento generalizado. Não é habitual que se veja fumo tão negro e espesso sem que haja fogo que o provoque. Especialmente se tivermos em conta a experiência e o historial da SJM, pouco dada a polémicas desta natureza. Mas, e há sempre um mas ou mais nestes casos, é preciso colocar nos pratos da balança o factor das eleições para a AL, que se realizam daqui a mês e meio, e notícias deste calibre são o suficiente para lesar a imagem de Angela Leong. E são mesmo as eleições que se aproximam um dos cavalos de batalha dos rebeldes do Oceanus, como vamos ver mais à frente.

Uma das razões para "saltar a tampa" dos queixosos foi a regulamentação das faltas por doença, um direito fundamental; quem quer ir trabalhar quando está doente? Os signatários queixam-se que a entidade laboral lhes permite apenas realizar consultas médicas em consultórios autorizados pela mesma, ou no hospital público. Esta é uma política recorrente da maioria dos casinos e e afins, e visa combater os atestados fraudulentos. Uma cautela que se compreende, pois estamos aqui a falar de empresas com fins lucrativos, e os prejuízos pesam nos bolsos da administração. No entanto reconheço alguma legitimidade aos trabalhadores. Esta teimosia em adoptar métodos preventivos começa a cheirar mal. Se apresentam efectivamente justificações fraudulentas, existirão meios de os punir disciplinarmente. O controlo do indivíduo de modo a que não infringa as leis é apenas um pretexto para o privar do exercício das suas plenas liberdades. Cada um é livre de fazer o que quiser, e se prevaricar, existem mecanismos apropriados para resolver a contenda.

Se no que toca aos cuidados em prevenir a abstinência danosa a administração do Oceanus tem a razão do seu lado, ou pelo menos parte dela, o mesmo não se pode dizer quanto ao tratamento que é dado aos trabalhadores a que a doença os obriga a ausentarem-se. O regulamento que os obriga a apresentar o atestado uma hora antes da entrada ao serviço é completamente descabida, para não dizer desumana. No caso da administração púlica, por exemplo, os funcionários têm 48 horas após o período de falta para apresentar o atestado. A rigidez das regras no caso do Oceanus obriga que se programe a doença, algo que dificilmente se consegue prever. Interpretando esta regra, um trabalhador fica proibido de adoecer durante o seu horário de trabalho, e caso se sinte indisposto duas ou três horas antes do seu início, é obrigado a produzir uma justificação em tempo recorde, ou vai trabalhar doente. Se não existe legislação laboral que impeça este tipo de atropelo aos direitos do trabalhador, é altura de a elaborar. E já agora fiscalizá-la devidamente, que a indústria casineira é conhecida por contornar as regras a seu bel-prazer.

A outra polémica prende-se com as eleições legislativas, que estão mesmo à porta. A menos de cinquenta dias de disputar o seu terceiro mandato como deputada, Angela Leong é acusada de condicionar o sentido de voto dos trabalhadores da SJM, sugerindo a alguns deles que se inscrevam nos cadernos eleitorais e votem nela, em troca de "um ou mais dias de férias" suplementares. Uau, um dia de férias ou mais? A senhora perdeu a cabeça. Espero que tanta generosidade não a leve à falência. Fala-se ainda da disponibilização de transporte gratuito aos eleitores até à mesa de voto, uma estratégia comum a outras listas, e a que os orgãos encarregados de garantir a transparência do acto eleitoral não conseguem determinar uma legitimidade legal, ou a falta dela. Acusações brandas comparadas com a que foram feitas à mesma candidata nas últimas eleições. Em 2009 falava-se da exigência de Angela Leong em obter em algumas mesas votos em um número igual ou superior dos funcionários da SJM ali inscritos, e de açambarcar a frota de táxis no Domingo do sufrágio, de modo a transportar os seus eleitores. Perante este cenário, as novas acusações são nada mais que "peanuts".

A SJM a que Angela Leong pretence como sócia tem na sua folha de vencimentos eleitores recenseados em número suficiente para garantir a sua eleição, e se tivermos em conta que o seu estatuto de candidata ligada ao sector do jogo poder-lhe-á valer o voto dos trabalhadores das outras concessionárias, terá pouco com que se preocupar. Quando faz recurso a alguns expedientes menos ortodoxos ou estratégias de intimidação está a manchar a sua reputação, e a deixar transparecer que depende mais de "lobbies" e do seu estatuto empresarial do que as ideias que defende. E é mesmo pena, pois nos quase oito anos que leva de hemiciclo, tem abordado temas pertinentes que vão além da esfera que representa, mesmo que nem sempre de forma oportuna. Se por acaso julga que a única forma de garantir votos é através da adulteração da vontade própria do eleitorado, e que é uma ingenuidade acreditar nas regras do sistema democrático, não me resta senão discordar dela.

Papamania: uma opinião alternativa


A visita do Papa Francisco ao Brasil, a primeira do seu pontificado, foi considerada triunfante, e o balanço feito por "opinion-makers" é bastante positivo, e em alguns casos deixa a Igreja Católica debaixo de uma nova luz. Os brasileiros fizeram a festa que seria de esperar na recepção do líder da religião maioritária no país, e como falamos de Brasil, dos trópicos, das praias, das maravilhas que mãe natureza faz brotar no maior país da América Latina, as jornadas mundiais da juventude foram igualmente um sucesso, as mais concorridas de sempre. Assim tivemos durante quase uma semana de visita papal manifestações de carinho dos católicos, missas participadas na ordem dos milhões de crentes, e juventude quante baste, a selecção de esperanças do catolicismo. A faceta humana do Papa foi também destacada; mais informal que os seus antecessores, mais dado ao contacto com os fiéis, dotado de um discurso com forte pendor social, apelo ao diálogo e abordagem sóbria a alguns temas considerados tabus, e que outros Papas evitavam com respostas evasivas.

Tenho lido estes últimos dias loas ao sumo-pontífice vindas dos mais diversos quadrantes, e detecto uma enorme dose de entusiasmo quanto à viragem da Igreja Católica para uma perspectiva mais modernista. Permitam-me o direito ao contraditório. Por muito boa pessoa que o Papa Francisco aparente ser, é o líder de uma instituição que persiste numa doutrina rígida, e cuja teimosia vai deixando perder um respeitável número de seguidores para outros cultos mais convidativos e actualizados quanto às necessidades do mundo actual. As boas intenções do pontífice, a sua abertura que representa uma refrescante evolução da imagem pastoral a que os Papas nos habituaram, a sua humildade, tudo isso deixa os crentes com um sorriso nos lábios. Mas o que quer isto dizer? Francisco pode ser muito bem intencionado, claro, mas sozinho dificilmente conseguirá alterar a direcção da agulha da bússola do Vaticano. E quem disse que é isso que ele quer?

Quando o cardeal Joseph Ratzinger anunciou a sua demissão, levantou-se uma núvem de incerteza sobre o Vaticano. Os anos de pontificado de Bento XVI foram marcados por uma cisão ainda maior entre a Igreja e os católicos desiludidos com os escândalos, a estagnação dos valores ou as lutas internas dentro da Santa Sé. O cardeal alemão tentou pôr um pouco de ordem na casa, mas a sua rigidez e forte enraizamento ao secretismo e ao protocolo deitaram por terra as suas intenções. A sua saída pela porta pequena abriu uma crise sem paralelo em séculos, e o sucessor teria uma tarefa complicada pela frente. O conclave elegeu um bispo argentino, Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Papa não-europeu. Bergoglio pertence à ordem dos franciscanos, e como tal optou pelo pesudónimo de Francisco, e deixou claro desde a primeira hora que a sua paixão eram os pobres, os fracos e os oprimidos. A retórica e as práticas que seguiram foram bem recebidas, e estava em marcha uma operação de charme que tem produzido resultados acima das expectativas.

Um dos aspectos que me agrada neste Papa é a forma terrena com que comunica com os crentes. Depois de uma série de papas que se exprimiam numa tom paternalista, uma voz cavernosa de falsete tenebroso, arrastando as vogais e dando a impressão de que estariam prestes a um êxtase divino qualquer. Desconfio que a imagem que os pastores católicos do passado queriam passar ao seu rebanho era que os miados de angústia com que se expressavam seria a voz de Deus, se Ele nos desse a honra de dizer qualquer coisa - e bem falta faz que nos desse uma conferência de imprensa onde esclarecesse algumas dúvidas. Isto pode parecer apenas um preciosismo, mas o tom coloquial acessível que Francisco adoptou na sua voz original deixa os católicos mais identificados com a sua mensagem. Até que enfim um Papa com que pode trocar dois dedos de conversa sem o arame farpado do divino a separá-lo dos comuns mortais.

Sobre a imagem de pessoa simples e humilde de Francisco quer passar, perdoem-me destoar da festarola dos que pensam que este Papa é "fixe". É simpático que tenha abandonado alguns dos luxuosos adereços que Ratzinger, por exemplo, não dispensava, mas e daí? As jóias, os veludos, as capas, os bordados em ouro, os adornos de pedras preciosas que recusa ostentar não contribuem para que venha algum bem ao mundo. O dinheiro que poupa nestes luxos, nos criados, nas suites presidenciais e todo o resto que tem merecido a vénia de muitos observadores não vai direitinho para os pobres, para as crianças com fome, para os sem-abrigo ou para as instituições de apoio aos mais carentes. Fica entre as quatro paredes do Vaticano, cuja opulência é tal que se o próprio Jesus Cristo por lá passasse hoje, seria detido por vagabundagem. A modéstia do Papa Francisco faria todo o sentido se fosse extendida a toda a Santa Sé, originando uma revolução de valores e aproximasse mais a Igreja da sua génese, da seita clandestina dos pescadores de sandálias e vestimentas de linho, que apregoavam a caridade, o amor e a paz fraternal. Só o Francisco a cortar nas despesas é que não. Pode angariar alguma simpatia, mas trata-se apenas de uma opção pessoal, e não uma orientação a seguir daqui para a frente.

Ao querer transmitir a ideia de que se trata de uma pessoa simples, um homem como os outros, um mero mortal, Francisco comete alguns equívocos. É legítimo que prefira uma vida simples em vez do tratamento VIP, que diga-se em abono da verdade, deve ser um tédio e um atentado à privacidade. Só que algumas opções levam os mais desconfiados (como eu próprio) a suspeitar que se trata aqui de uma estratégia premeditada de aproximação aos fiéis do seu líder, de um plano elaborado para devolver a confiança na instituição da igreja. A decisão de prescindir de blindagem no veículo que o transporta por entre as multidões que o seguem, por exemplo, é um disparate. O Papa - qualquer Papa - pode ser a melhor pessoa do mundo, o mais liberal, o mais caridoso, o mais dialogante, auréola na cabeça e asas de anjinho nas costas, que não faltarão fanáticos dispostos a descarregar uma arma automática que transformem o sumo pontífice em sumo de pontífice. Se quando opta por prescindir do supérfluo transmite uma imagem positiva, abdicar do essencial desvia-o para um exagero pouco recomendável. A este ritmo qualquer dia temos o Papa de roupão e chinelos na fila da padaria, ou de bermudas e "crocks" a passear o cãozinho nas ruas de Roma, com o jornal debaixo do braço para recolher os cocós. Quer dizer, estamos a falar do Papa, amado pelos seus seguidores e odiado por grande parte das outras confissões. Nem oito nem oitenta.

Os que elogiaram a visita de Francisco ao Brasil e prevêm uma nova aurora radiosa para a Igreja Católica deviam guardar os foguetes para o fim da festa. Os milhões de brasileiros, jovens e outros visitantes estrangeiros que oraram com o Papa no Rio e em S. Paulo não necessitam de qualquer reafirmação para manter a sua fé. É com os desertores, os que viraram as costas à Igreja, e com as futuras gerações que o Vaticano tem que se preocupar. São os manifestantes que destoaram do ambiente de adoração ao Papa que esperam a resposta aos desafios da modernidade. É urgente tornar mais flexível a doutrina, debater os temas essenciais e fracturantes, promover o diálogo inter-religioso, punir exemplarmente os membros do clero que praticam crimes sexuais, acabar de uma vez por todas com as suspeitas de corrupção e jogos de bastidores, eliminar as suspeitas que vão afastando os cristãos. Não vai ser por repensar a posição quanto aos temas da contracepção, do casamento "gay" ou da procriação medicamente assistida que os fiéis de sempre vão fugir, antes pelo contrário, pode ser que os desiludidos regressem, e que os que estão para nascer olhem a Igreja Católica como uma opção aliciante. A imagem de criatura bondosa e humilde que o novo líder desta Igreja vai granjeando não chegam para varrer a imagem negativa que os mais realistas vão reiterando. São estes os trabalhos de Francisco, e aos 76 anos, não lhe resta senão arregaçar as mangas e deitar mãos à obra. E já.

Sopa chinesa


As férias escolares na China deixaram milhões e milhões de criançadas sem ter que os ature durante os dias da semana, e como o calor convida a um mergulho, que tal ir à piscina? O pior é que a ideia não é lá muito original, e o sol quando é quente, é para todos. Para todos é também a água da piscina, que apesar de não se ver muito bem, está lá, escondida entre os milhares de banhistas que sobrelotaram esta estância balnear algures no país mais populoso do mundo. Pode ser que não se divirtam muito neste aperto, mas pelo menos podem dizer que foram à piscina, cumprindo o ceremonial das férias de Verão. E isso ninguém lhes pode tirar.

A brincar, a brincar...


O Expresso publicou na sua edição electrónica de ontem uma infografia sobre os candidatos mais bizarros eleitos em sufrágios livres e democráticos um pouco por todo o mundo. Além do palhaço Tiririca, que escolhi como imagem deste "post", não há outros seres humanos vivos entre as dez escolhas do Expresso. Temos animais diversos, um personagem de animação e até um pó para os pés, mas o outro humano da lista é um falecido.

É interessante analisar as razões que levam as pessoas a usar o seu voto numa brincadeira qualquer, ou para expressar algum tipo de descontentamento que poderia ser expressado obtendo por se abster. Nem sei porque se incomodam aqueles "comediantes" que se dão ao trabalho de ir até à mesa de voto onde estão recenseados para escrever caralhadas no boletim ou pintar bigodes na imagem dos candidatos. E no fim ninguém acha piada, e mesmo que o resultado fosse um ataque histérico de riso, o autor não colhia os louros, uma vez que não se sabe quem é.

Quem opta por votar num candidato menos convencional, uma celebridade com ambições políticas, um personagem colorido que dificilmente se consegue imaginar a exercer um cargo politico ou qualquer outro dos improváveis, fá-lo muitas vezes por motivos alheios ao que considera a escolha mais acertada que sirva os interesses em jogo numa eleição. Uns fazem-no como forma de protesto pela classe dos politicos, outros apenas por brincadeira, e outros ainda crédulos que o candidato que todos sempre conheceram como palhaço/cantor/actor/etc. poderá fazer bom uso da sua popularidade e realizar um bom trabalho, afastado que está das esferas dos partidos e mais próximo do povo. São os que ingenuamente acreditam que os politicos já nasceram politicos. Seja como for, um voto é um voto, e sendo válido, conta tanto como os outros, sendo a eventual carga irónica ou mensagem oculta irrelevantes. E é assim que chegam longe os Tiriricas desta vida.

A expressão máxima da participação cívica na escolha dos destinos do país e do seu próprio futuro, tudo mais que a noção de voto implica, devia ser respeitada. Quem opta por se abster, porque "está-se a cagar para a política" (argumento muito recorrente) está no seu direito, mas perde legitimidade para criticar as escolhas que os outros fizeram por ele. Quem sabe se uma breve temporada sem eleições recupere a noção da importância do exercício desse direito tão precioso que é o voto. Suspendia-se a democracia por uns tempos, como sugeriu a dra. Manuela Ferreira Leite numa das suas intervenções mais célebres, e revivemos esses tempos que tantos recordam com nostalgia, quando queriam votar mas não podiam. E depois tirem as vossas conclusões.

Eles e elas, e vice-versa



Estes dois videos têm circulado na rede social Facebook desde o início desta semana, e realmente a ideia é sugestiva, e desperta a curiosidade de qualquer um. O "website" norte-americano Whatever, especializado em "apanhados" e outros vídeos humorísticos idealizou uma situação que a muitos de nós nem passa pela cabeça enfrentar um dia: uma mulher pergunta a homens desconhecidos que encontra na rua se querem fazer sexo com ela, e um homem faz a mesma proposta a mulheres que nunca viu.

Assim de repente até conseguimos prever as reacções, baseando-nos na forma como reagiriamos à pergunta: garantidamente a mulher terá muitos interessados, e o homem passará por tarado sexual. No início do segundo vídeo lemos uma citação do arquiduque Francisco Fernando: "se perguntarmos a cem pessoas se querem fazer sexo connosco, pelo menos uma dirá que sim". Curiosamente conheço alguém (ia ficar surpreendidos se vos dissesse quem...), que colocou esta teoria em prática, e com resultados acima dos 1% que a frase promete. Claro que não bastou chegar perto de um alvo aleatório e perguntar-lhe se quer fazer sexo. Foi preciso pelo menos meia-hora de charme. O jovem na experiência obtem zero respostas positivas. Qualquer mulher que não esteja encarcerada numa clínica para doentes mentais ou trabalhe no ramo da prostituição responde que "sim" a um estranho que lhe proponha sexo, mesmo que lhe apeteça muito. É aquela coisa do pudor, que só serve para atrapalhar.

A mulher, por seu lado, obteve sete respostas positivas e outras tantas negativas, contrariando a ideia de que qualquer homem estaria disposto a fazer sexo com uma mulher atraente que o convide, mesmo que a conheça há menos de um minuto. Mesmo os sete tipos que responderam afirmativamente desconfiavam que se tratava de alguma brincadeira. É um facto que qualquer homem normal e heterossexual aceitaria um relacionamento íntimo casual com uma mulher que mal conhece, contando que esta não seja repugnante. Mas assim desta forma tão directa, a tendência é para recusar, nem que seja apenas inicialmente, até perceber melhor as intenções da moça. Quando a esmola é grande o pobre desconfia. Caso a abordagem fosse feita numa discoteca ou num bar, com as defesas já condicionadas pelo consumo do álcool, faria mais sentido. Mas na rua em pleno dia, cheira a esturro.

Esta eterna busca pelo fruto proibido alheio é cada vez mais condicionada por factores que nada têm a ver com a atração física ou com expressão carnal que consuma um namoro já longo onde se construíu uma relação de confiança mútua. Ambos os géneros continuam a gostar de sexo, como sempre, mas jogam mais na defensiva. As mulheres retraem-se temendo que os homens as queiram usar, e os homens temem cada vez mais que as mulheres exijam qualquer coisa em troca. A verdade é que nos tempos que correm, nem os homens mais atraentes têm um magnetismo que lubrifique uma vagina ao ponto do escorrimento com um simples sorriso ou olhar, nem as mulheres mais atraentes e por isso mais concorridas se dão a um homem sem considerar contrapartidas. Li uma vez que de entre as mulheres, os homossexuais de ambos os géneros e os homens heterossexuais, são estes últimos que mais dificuldade têm em obter sexo. Acredito, e nem era preciso uma pesquisa para constatar esse facto. Portanto é assim meus amigos, ou vamos à luta apesar da desvantagem, ou passamos para o lado do inimigo. E há mesmo quem cumpra a velha maxima: se não consegues vencê-los...

Naum diz qui nois rôbá, hein?


Ainda o Papa Francisco não se refez do “jetlag” causado pela viagem ao Brasil, e já naquele país se começam a ouvir disparates da boca dos seus imitadores baratos. Silas Malafaia é o líder de uma das frutas que compõem essa indigesta macedónia das igrejas evangélicas no Brasil, neste caso a Assembleia de Deus. Esta “Assembleia” que nem consegue produzir uma acta que comprove que Deus a tenha realmente convocado ou sequer participado dela, é mais uma daquelas instituições com fins lucrativos de idoneidade suspeita, que sob a capa de culto religioso vai extorquindo dinheiro a pobre gente ingénua e enriquecendo o seu património e enchendo os bolsos dos “enviados de Deus” que a dirigem – é bom para estes tipos que Deus não exista mesmo, e muito menos o Inferno, senão ai, ai.

Este Silas Malafaia, é agora notícia graças a um video divulgado no YouTube na segunda-feira, onde é visto a administrar um sermão a uma plateia de fiéis. O auto-intitulado pastor faz um discurso inflamado, onde começa por exortar os seus seguidores a não denunciar pastores desonestos, repito, a não denunciar. Isso mesmo, o “não“ está ali de propósito, não se trata de mais um dos meus lapsos involuntários. Malafaia justifica este apelo à impunidade dos vigaristas como ele dizendo que “ninguém se deve meter com os ungidos de Deus”, quem sabe sugerindo que Deus lhes passou uma guia que os autoriza a roubar. A seguir manda alguns recados a “quem só agora chegou ao Evangelho e fica julgando na internet”. Estes tipos realmente, usam a internet e mesmo assim não sabem que na arte do saque e da pilhagem, os longos anos de Evangelho são um posto?

Depois reitera que “quem calunia pastores não é crente”. Confesso que aqui fique um pouco confuso; então os pastores são mesmo ladrões ou tudo não passa de calúnias? E foi aí que entendi esta estratégia genial: tudo o que seja acusar os pastores são calúnias, mesmo que seja verdade. Isto não está ao alcance de qualquer um, meus amigos. Requer anos e anos de treino em malandragem, dado pelos melhores mestres. A estes “caluniadores” (eh, eh) Malafaia sugere mudem de igreja, em vez de se meter com quem é “ladrão e pilantra”. Vai ser complicado encontrar uma igreja composta por gente íntegra e honesta, e que ao mesmo tempo consiga comprar edifícios para albergar a sede, helicópetros para transportar os ministros de culto e alugar estádios para realizar eventos.

O líder da tríade evangélica termina o discurso de forma ambígua, não se entendendo se está a dar uma recomendação amiga ou a fazer ameaças de morte: “Isso é coisa séria, e já vi muita gente a morrer por causa disso. Não toma attitude contra pastor, não entra nessa furada”. Este senhor, que no mundo ideal estaria detido ou confinado a um hospícia numa camisa-de-força, ficou mesmo zangado. Os tais principiantes do Evangelho que se manifestam na internet que se cuidem. Ou isso, ou então abusou da medicação. Saravá, malandro!

Água benta e solos de bateria


Ainda na temática dos recordes, e este com honras de passar a constar no Guiness Book. Um vigário nova-iorquino inscreveu o nome naquela famosa publicação depois de construir a maior bateria do mundo, composta por 813 peças. Mark Temperato, um religioso com uma aparência pouco convencional, acumula as funções de pastor com as de baterista numa banda (de rock cristão, certamente), onde assume o nome artistico de RevM. A sua paixão pela percussão levou a que gastasse vinte dos seus 56 anos de vida a montar o monstruoso instrumento, que contém mais 450 peças que o recordista anterior. Para reclamar o título, Temperato precisou de tocar todos componentes da bateria, tarefa que completou numa hora, ora de pé ora sentado, e sem nunca tirar os pés do mesmo sítio, apesar de algumas das peças se encontrarem à distância de três metros uma da outra. Apesar da complexa amálgama de tambores, címbalos, badalos, congas e tudo mais, o baterista-seminarista garante conhecer todas as notas: “Tenho tudo memorizado, com os pianistas, mas esses só precisam de conhecer 88 teclas”. Temos que reconhecer mérito ao senhor, sem dúvida, mas não sei que utilidade prática teria a sua criação, que exigiria um investimento suplementar em termos de logística para levar numa digressão da banda de Temperato, ou melhor, do RevM. Por enquanto a maior bateria do mundo vai ficando na sua igreja, em Lakeville, Nova Iorque.

Génio ao cubo


“Por muito bom que sejas em alguma coisa, há sempre alguém melhor que tu” – esta é certamente a lição de vida mais realista e ao mesmo tempo mais cruel que um pai pode transmitir a um filho. Quando se é o melhor do mundo em qualquer função, o sentimento é um misto de invenciblidade e de receio, pois não está fora de hipótese vir a ser destronado no dia seguinte por algum pulha invejoso que dedicou a vida a olhar-nos de baixo, espreitando a oportunidade de nos exceder um dia, só para nos aborrecer. Existem categorias onde é possível determinar com mais ou menos exactidão quem é o melhor. Usain Bolt, por exemplo, é o homem mais rápido do mundo, e mesmo assim não se livra da sombra do efémero que paira sobre o seu feito. Mas se há formas eficazes de saber quem é o nº 1 no planeta recorrendo a métodos exactos, outros méritos são mais difíceis de classificar, de tão abstractos que são os critérios. A inteligência é um dos mais relativos.

A medição do Quociente de Inteligência, vulgo QI, pode ajudar a identificar um potencial génio, mas nem sempre o uso que se dá a uma capacidade produz resultados esplendorosos. Há ainda os que se notabilizam numa tarefa específica que normalmente requer inteligência, mas muitas vezes trata-se apenas de aptidão acidental, um talento isolado, ou até mera obra do acaso. É o caso deste rapaz na imagem, Feliks Zemdegs, um australiano de 17 anos com queda para o cubo de Rubik. Este puzzle idealizado pelo escultor e arquitecto húngaro que lhe deu o nome, deixou há trinta anos o mundo entretido a dar-lhe voltinhas, e muito boa gente à beira de um ataque de nervos. Alguns auto-intitualados “génios” garantiam mesmo que “era impossível” atinar com a combinação que deixasse todas as faces do cubo com a sua respectiva cor. Ora, se era assim que estava inicialmente, certamente que existia uma maneira de o fazer regressar à forma original, duh!

Para Zemdegs o cubo não tem segredos, e resolveu-o no tempo recorde de 7 segundos! O adolescente participou na competição mundial da modalidade, realizada em Las Vegas, onde participaram outros “Rubikianos” de todo o mundo. O concurso era composto de 15 provas, que consistiam em diferentes variações do puzzle, incluindo tentar alinhar as cores de forma correcta com os olhos vendados! Zemdegs não só bateu o recorde mundial, como venceu outras provas e terminou com uma média de 8,8 segundos. É obra. Como prémio levou um cheque de 3000 dólares, o que até parece curto para tamanho feito. Mal chega para cobrir a viagem entre a Austrália e os EUA. E assim se determina o melhor entre os melhores, mesmo que resolver o cubo de Rubik num piscar de olhos não seja necessariamente prova de inteligência superior ao comum dos mortais. Se calhar o rapaz nem consegue somar dois números inteiros de um dígito apenas sem contar pelos dedos da mão. Deu-lhe para aquilo, o magano.

O verdadeiro Messi?


Ora aqui está uma notícia que deita por terra a ideia de que há anjinhos a viver debaixo das nuvens e entre nós, comuns mortais. A revista argentina “Pronto” divulgou um alegado escândalo envolvendo Lionel Messi, o insuspeito craque do Barcelona e da selecção das pampas, e vencedor dos três últimos troféus da Bola de Ouro, prémio atribuído ao melhor jogador do ano. Conta a revista cor-de-rosa que Messi aproveitou uma folga após um jogo particular do Barcelona em Chicago para gozar uma folga em Las Vegas, e não resistiu ao chamamento da cidade do pecado, onde passou uma noite de arromba.

Se isto é verdade ou não, ou se existe algum exagero tão típico destas publicações sensacionalistas, é difícil afirmar com certeza, mas a juntar ao artigo está uma fotografia comprometedora de Messi abraçado a uma dançarina de “strip-tease”, que teve até honras de capa da revista. Desconhece-se até que nível terá o jogador cometido alguma infidelidade, mas a revista garante que a sua relação com Antonella, sua companheira de longa data, “está por um fio”. O casal está junto oficialmente desde 2009, e no ano passado tiveram o seu primeiro filho, Thiago. Pelo menos do rolo da massa o “pulga” não se livra, quando voltar à sua casa na Catalunha.

Messi é a nemesis de Cristiano Ronaldo nos relvados, e ao mesmo tempo a sua antítese em termos de mediatismo nas relações amorosas. Enquanto o português é conhecido pela sua fama de mulherengo e longa lista de ex-namoradas, o argentino pauta-se pela descrição, preferindo transmitir a imagem de atleta regrado, deixando saber muito pouco da sua vida privada. Mas enquanto os santos são de pau, Messi é de carne e osso, e não seria uma anormalidade se o astro da bola tivesse uma ou outra escapadela. E depois é preciso não esquecer que Messi, apesar da sua pequena estatura, é bem dotado em algo que todas as mulheres procuram, e que as deixa enlouquecidas. Estou a falar de dinheiro, claro. Estavam a pensar no quê?

Sons da "silly season": Caravan of Love


Os Housemartins foram uma simpática banda de Hull, Inglaterra, que apesar da sua curta existência serviu de rampa de lançamento a outros projectos que ainda hoje vão-se mantendo com sucesso. Alguns dos elementos formariam mais tarde os Beautiful South, e outro viria a obter reconhecimento mundial com o projecto Fatboy Slim; falo, já adivinharam, de Norman Cook. A música dos Housemartins inseria-se na definição de “alternativa”, com influências diversas e uma queda para o experimentalismo. O estilo eclético produziu temas que iam do pop-rock ao gospel, passando pelo jazz e o “slow-rock”, um reportório que incluíu ainda versões de clássicos como “You’ve Got a friend” (a melhor versão deste original de Carole King, na minha modesta opinião) ou “He Aint’s Heavy (He’s my brother)”. A natureza inofensiva das letras, talvez explicada pela orientação cristã e marxista da banda, tornaram a música dos Housemartins acessível a todos, se bem que havia quem não conseguisse digerir tanta “bondade”. A banda gravou apenas dois albums de originais entre 1986 e 1987, mas pelo meio lançou o single que viria a ser o seu maior sucesso: “Caravan of Love”, o único que os levou ao nº 1 do “top” de vendas do Reino Unido. Uma canção lindíssima, um original dos Isley Brothers, que a gravaram apenas um ano antes, e aqui interpretada “a capella” pelos quatro elementos dos Housemartins sem recurso a qualquer instrumento, aproveitando de forma inteligente a acústica de uma igreja. Um momento de grande inspiração, que vale sempre a pena recordar.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Sô chofer, por favor, não seja um estupor


Quem segue o blogue com mais atenção recorda-se certamente desta entrada no final da semana anterior, onde faço um relato detalhado de um desaguisado que tive com um motorista de autocarro, que hesitou em abrir a porta e deixar-me tomar o transporte, apesar de me encontrar na paragem designada para o efeito. Escrevi aquele "post" assim que tive acesso a um PC com ligação à rede, "malhando o ferro" enquanto ainda estava quente, cuidando que a mostarda ainda se situava ao nível do nariz, e ficasse bem expresso o meu descontentamento com o péssimo serviço de um professional da rede de transportes que tem por missão servir a população. É um facto que recorri livremente a um tipo de linguagem mais colorida, mas a forma como me senti ofendido na dignidade levou-me a não ser poupado no recurso à obscenidade e ao insulto gratuito. Já é desagradável quando se esgota a via da diplomacia, mas quando esta nem chega a sair da gaveta, não há chá de camomila que dilua a acidez da bílis.

Partilhei a minha pequena odisseia com colegas, amigos e conhecidos que fui encontrando nos dois ou três dias que se seguiram, e além da simpatia que recebi e do apoio unânime à decisão de fazer um manguito ao motorista, notei ainda uma reacção passiva ao comportamento do meu antagonista, que foi recebida com "normalidade". Não se tratava de indiferença ou qualquer coisa que beliscasse a legitimidade da minha revolta, mas aparentemente situações desta natureza começam a tornar-se tão frequentes que já não consitituem novidade ou surpresa. Escutei mesmo outros episódios passados com os meus convivas, ou por eles testemunhados, alguns deles mesmo chocantes e com uma intensidade igual ou superior àquele que se passou comigo. Tudo indica que estas altercações entre motoristas e passageiros ocorrem com frequência diária, e só não são mais devido à passividade inata de que sofre ainda muita da nossa população, que reage ao desaforo com uma atitude muito "zen". No fosse a famosa "paciência de chinês" dos locais, e a profissão de motorista era considerada de alto risco, recusada pelas seguradoras e elegível para uma licença de porte de arma. Dar aulas num liceu da periferia da Amadora ia parecer ao docente um piquenique no campo, perante o que podia acontecer caso um motorista de autocarro levasse uma resposta à medida dos abusos que comete.

Das queixas que já ouvi o que mais se evidencia é a diversidade das mesmas. Reconheço que deve ser complicado a alguém que se encontra confinado a um assento em frente a um volante provocar tantos transtornos e raramente repetir os mesmos. Deve ser preciso uma grande dose de criatividade e muita imaginação. Um dia mais produtivo consistirá em omitir uma ou outra paragem, passando ao lado de outro autocarro parado à sua frente e deixando apeadas as pessoas que ali esperavam, seguido de uma arrancada súbita da paragem, apesar de notar ao longe o cidadão que vem a fazer um "sprint" enquanto gesticula, para ver se ainda apanha o transporte, e para acabar nada como ignorar uma velhinha que bate desesperadamente na porta implorando para entrar, com o veículo à distância de meia dúzia de metros da paragem - regras são regras, tivesse chegado a tempo! Pelo meio pratica-se uma condução periciclante que faz o autocarro tremer que nem uma batedeira eléctrica, ensaiam-se umas travagens bruscas de modo a testar a segurança, e que não sai ninguém disparado pelo vidro da frente, e quebra-se a rotina com o divertido jogo "quantas pessoas se conseguem enfiar num autocarro", permitindo a entrada a mais passageiros mesmo quando os que leva estão apertados ao ponto de já só conseguirem mexer os olhos. Um motorista de autocarro em Macau deve ter sempre imensas histórias para contar todos os dias à mesa do jantar.

Há quem apresente várias teorias para explicar o comportamento errático de alguns destes motoristas. Uma delas é a escassez de profissionais qualificados, e a dificuldade em recrutar e dar formação a novos motoristas, que leva os actuais a pensar que gozam de espécie de imunidade, e que a tolerância da parte da sua entidade patronal é infinita. Outros defendem que o decréscimo da qualidade do serviço se deve à opção por motoristas do continente chinês, onde se pratica uma condução mais agressiva, as regras são mais facilmente contornáveis e conceitos como "cortesia" ou "serviência" são ainda estranhos. Uma explicação menos recorrente mas nem por isso descartável é a de algum ressabiamento pelo facto dos colegas taxistas irem cantando e rindo enquanto fazem gato-sapato dos cidadãos, selecionando a clientela e cobrando tarifas criminosas a seu bel-prazer, enquanto eles aturam os pés-de-chinelo que optam pelo transporte público, onde o salário é o mesmo seja qual for o número de passageiros, ou que se trabalhe bem ou mal. Sendo assim opta-se por se trabalhar mal, e já agora porcamente, também. Qualquer destas teorias e outras que não referi poderá explicar a displicência dos motoristas, e alguns casos mais graves podem mesmo ter duas destas como causa, ou um pouco de cada uma. Só Freud explica, enfim.

É um facto que andar de autocarro em Macau é uma opção económica, especialmente se compararmos o mesmo serviço noutras cidades da região, especialmente Hong Kong, mesmo aqui ao lado. O governo oferece-se generosamente para cobrir parcialmente a tarifa a quem opte pelos cartões pré-pagos, e os idosos viajam de forma gratuita. Mas nem que se pagassem apenas dez avos, isso seria justificação para prestar um mau serviço. Não é por ser mais barato ou mesmo dado que vai aceitar ser tratado como gado enfiado à má fila no camburão do matadouro. E nem a abundância que é ter três concessionárias de transportes públicos a operar, o que normalmente sugere que cada uma tente prestar um serviço melhor que a concorrência, redime a experiência traumatizante que constitui andar de autocarro na RAEM. Como se não bastasse o desconforto de partilhar o mesmo espaço com estranhos, num ambiente de odores mistos, fruto dos variáveis graus de higiene pessoal, espremidos contra roupa impregnada por secreções sudoríferas e expostos a uma flora bacteriana de proporções amazónicas, ainda temos que levar com a má educação e rabujice dos motoristas? Se por acaso a sua atitude advém do facto de pensarem que estão a levar ali bois e não pessoas, basta olhar para o espelho mesmo à sua frente para perceber quem é afinal a besta bovina. E olhem com jeitinho, não vão os cornos partir o vidro.

Conflito da faixa de gaze


Mais um capítulo na polémica da putativa contratação de enfermeiros portugueses para a RAEM. Primeiro foi a vice-presidente da Associação Geral das Mulheres, Wong Kit Cheng, a opôr-se à importação de enfermeiros de Portugal, alegando mesmo que isto "colocaria em risco a vida dos cidadãos". A Associação Luso-Chinesa veio de seguida refutar essas afirmações, desvalorizando as preocupações de Wong, e agora é a vez da Associação de Enfermeiros propriamente dita lançar mais achas para a fogueira, fortalecendo a opinião da primeira. A Associação do Pessoal de Enfermagem de Macau (APEM), na voz da sua presidente Mónica de Assis Cordeiro, é mais moderada que Wong Kit Cheng nos argumentos que a levam a opôr-se a contratação dos enfermeiros portugueses, baseando-se sobretudo no facto de ser "desnecessário". Apesar disso as razões que apresenta não convencem, e parece-me que existe aqui um enorme mal-entendido, ignorando-se por completo o essencial: a falta de profissionais de enfermagem.

Mónica de Assis Cordeiro imita Wong Kit Cheng, escudando-se no factor da língua, e sai com uma calinada semelhante, alegando que a vinda dos portugueses não só não vai resolver o problema da falta de enfermeiros, como ainda vai "aumentar a carga de trabalho dos enfermeiros portugueses". O porquê dos enfermeiros portugueses virem atrapalhar em vez de ajudar não fica bem explicado. Os argumentos da qualidade do serviço, da comunicação com os pacientes ou o facto da maioria dos utentes do hospital ou dos centros de saúde são também usados, e como cereja no topo do bolo, Cordeiro remata com uma piada: "Actualmente os enfermeiros filipinos falam um pouco de português e chinês, reduzindo o obstáculo da linguagem". Se os filipinos aprendem outra língua que facilite a comunicação com os doentes, porque é que os portugueses não podem também vir a fazê-lo após um curto periodo de adaptação? Mistérios do arco-da-velha.

Fico sem perceber esta relutância com a vinda de enfermeiros de Portugal. Serão resquícios de algum trauma pós-colonial? Se os serviços de saúde de Macau estão necessitados de enfermeiros, pouca importa que sejam portugueses, chinesas, russos ou argelinos, desde que cumpram com a sua função. O Governo da RAEM pondera a contratação de portugueses porque existe um protocolo de cooperação nesta área com Portugal, e não por razões de natureza histórica ou cultural. Esta insistência que o domínio de um idioma é fundametal na qualidade do serviço é tão oco que nem um Pica-Pau se incomoda a bicar à procura de minhocas. Porquê exactamente têm os enfermeiros de entender os doentes de modo a ficarem cientes das suas necessidades? Estamos a falar de enfermeiros do serviço público ou de meros serventes? Quem quiser alguém que leve o idoso a passear ou para coçar as costas a um acamado não necessita de um enfermeiro. Basta contratar uma empregada indonésia, e a maioria destas até dominam o chinês.

É pena que a procura de soluções para os problemas sofra com estas questões que pouco ou nada têm a ver com critérios de qualidade, competência ou profissionalismo, e que se continue a dar primazia ao politicamente correcto. Existe um receio injustificado que algumas decisões possam dar lugar a dúvidas sobre a autonomia da região, e dá-se a entender que qualquer coisa que tenha a ver com a vinda de mais portugueses seja um regresso ao passado, e que o Governo não tem "um par deles no sítio" para mostrar quem manda. É preciso recordar a esta gente as palavras do pequeno grande Deng Xiaoping, o responsável-mor pelas reformas essenciais que serviram de base ao grandes progressos que a China realizou nos últimos trinta anos: "Não importa se o gato é preto ou branco, desde que apanhe o rato".

Portugal afastado da final do europeu de sub-19


SER3-2POR 发布人 omfgoals
Portugal foi afastado do Europeu de sub-19 que se está a realizar na Lituânia, ao perder nas meias-finais com a Sérvia no desempate pelos pontapés da marca de grande penalidade, depois de um empate a duas bolas depois do prolongamento. A selecção lusa ficou em desvantagem logo aos seis minutos, um problema que parece comum aos conjuntos nacionais, e que se explica por uma certa apatia inicial, um "esperar para ver" que normalmente produz maus resultados. E como sempre, Portugal reagiu, dominou a partida, e deu a volta ao marcador no segundo tempo. Mas a cinco minutos do fim os sérvios empataram, novamente graças à desatenção que parece ser genética. Depois de um prolongamento onde Portugal foi superior mas falhou na finalização, a Sérvia foi mais feliz nos penalties, convertendo três remates contra dois dos jovens lusos. Os sérvios defrontam a França na final de depois de amanhã.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Macau, capital do soco


Macau ultrapassou Las Vegas em termos de receitas originadas pelo jogo. Isto são “old news”, que já toda a gente está farta de saber. Esta notícia tem barbas, e as próprias concessionárias norte-americanas a operar no território há muito que vão “tapando os buracos” do prejuízo que as suas operações no Nevada vêm dando nos últimos anos com o dinheiro de Macau. Só que este “feito” que deixará os mais elementares torcedores do pequeno David que derrubou o gigante Golias com um sabor indiferente na boca, de bolacha de água-e-sal. Não fosse a generosidade de Pequim e a política dos vistos individuais, e seria impossível este cantinho do sul da China bater aos pontos a mítica Las Vegas, que os menos atentos ainda consideram a meca mundial do jogo. Enquanto Las Vegas continua a ser sinónimo de “glamour” e é procurada por formas de entretenimento que vão além da sempre-mesmice das apostas, Macau é uma enorme máquina de lavar do regime chinês, onde os casinos se elevam sobre uma cidade desinteressante, ainda que suportada por um património cada vez mais volátil, que dificilmente convida a uma segunda visita.

Depois deste triunfo sobre Las Vegas nos cifrões, Macau prepara-se para aproveitar a embalagem e retirar à cidade norte-americana o estatuto de capital do boxe. Do boxe, sim, aquela espécie de desporto barbárico que consiste em dois tipos semi-nus dentro de um ringue a distribuir “fruta” até que um deles caia para o lado. O vencedor é o que se conseguir aguentar de pé após ter recebido do adversário um número de socos no crânio e arredores, suficiente para causar lesões cerebrais graves. O derrotado é normalmente o que acaba estendido no tapete, uma situação humilhante, pelo menos para qualquer um de nós. Só que após o arraial de porrada a que o indivíduo é sujeito, é uma sorte que se lembre do próprio nome, quanto mais ter a noção de espaço, tempo e do que acabou de lhe acontecer.

Não consigo partilhar o entusiasmo dos que exultam cada vez que Macau entra no mapa mundial de qualquer coisa. O boxe não passa de uma selvajaria, uma manifestação primitiva do mais animalesco que há na espécie humana. Como se motiva alguém a encher de porrada outra pessoa que não nos fez mal algum? E que exemplo estamos a dar aos mais jovens? Que isto é um espectáculo, e estes tipos uns atletas? Modelos de virtude porque “têm fama e dinheiro”? Que se aprende qualquer coisa com o boxe? Nenhum pai no seu perfeito juízo encoraja um filho a seguir uma carreira no boxe. Não se vai criar um filho para acabar com a cara feita num bolo, e com um QI inferior ao de quando começou, que já não era nada por aí além – afinal optou pela profissão de boxista. O tal Manny Pacquiao que agora nos visita, e aquele outro indivíduo cujo nome não me recordo que veio para levar porrada dele em Novembro, mal conseguem juntar três ou quatro palavras que dêm sentido a uma frase.

Além da ausência de qualquer componente educativa ou cultural, o boxe arrasta consigo outros aspectos nada recomendáveis, que me levam mesmo a pensar que Las Vegas ficaria agradecida se a “capital” mudasse para estas bandas. Quando penso em boxe profissional vem-me à cabeça as apostas, os resultados arranjados, as quedas coreografadas no “round” indicado, e tudo controlado pela máfia. Quem acredita que a maioria dos combates não são combinados, é muito crente. É o tipo de pessoa que no fim do shakesperiano “Romeu & Julieta” telefona aos paramédicos, para “virem socorrer um jovem casal envenenado”. Entre um combate de boxe, onde os bilhetes são caríssimos, e a tourada, prefiro mil vezes esta última. Brutalidade por brutalidade sempre é melhor que seja genuína, e pelo menos ninguém convence o touro a atirar-se para o chão simulando um “knock-out”. Pensando bem, comparada com o boxe, a tourada chega a ser uma arte.

Não me levem a mal os adeptos do boxe, ou melhor desta adulteração do boxe original. Assim como a luta livre, que hoje todos identificam com as macacadas do “wrestling”, o boxe é uma modalidade milenar, praticada nas Olimpíadas tanto da era moderna como nas da antiguidade. Só que o boxe olímpico obedece a regras mais rígidas, e o objectivo principal é fazer o maior número de pontos através de golpes cirúrgicos no adversário. Em termos de emoção é tão monótono que faz com que o espectador mais hiperactivo seja induzido em comatose. Este boxe que agora nos querem impingir é como um número de circo, levado a cabo por montanhas de músculos, grande parte deles com uma qualquer falha na psique. A imagem de brutalidade que alguns deles transmite vai além dos ringues, e chegam a estar a braços com problemas na justiça, revelando tendências homicidas preocupantes. Se estou a exagerar? Um nome: Mike Tyson. Chega? E com isto ganho este argumento. E por KO.

Notas de segunda-feira


1) O Jornal Tribuna de Macau publicou hoje na sua coluna de variedades das segundas-feira, “De Fonte Limpa”, uma notícia que podia muito bem merecer honras de “caixa”. Uma loja situada na Travessa dos Anjos, propriedade de um empresário de Taiwan, afixou na montra um cartaz onde se pode ler que os clientes Filipinos “não são bem vindos”. Em causa está o incidente de Maio último em águas territoriais das Filipinas, quando a guarda-costeira daquele país disparou indiscriminadamente sobre um barco de pesca da ilha nacionalista, causando a morte a um pescador. Gerou-se uma grande animosidade em torno do caso, com os trabalhadores filipinos em Taiwan a sofrerem retaliações por parte dos locais, que ficaram um tanto ou quanto confusos na hora de atribuir as culpas da ofensa à dignidade nacional que representou a morte de um pescador. O governo de Taipé exigiu a Manila um pedido de desculpas, que nunca chegou, e apesar do caso ter ficado meio esquecido, sobrou uma réstia de ressentimento. O dono desta loja na Travessa dos Anjos tem todo o direito a ficar indignado. Pode ser que seja originário de Taiwan, mas como comerciante deixa muito a desejar. Qual é o comerciante que recusa clientes com base na sua nacionalidade?

2) Ainda na senda da mais elementar xenofobia. A Associação Luso-Chinesa de Enfermeiros comentou as declarações de Wong Kit Cheng, a vice-presidente da Associação Geral das Mulheres, que na semana passada se mostrou aversa à contratação de enfermeiros portugueses. Entre as razões alegadas por Wong, a mais controversa prendia-se com a possibilidade do desconhecimento da língua chinesa por parte dos enfermeiros portugueses representar “um perigo para a vida dos cidadãos”. A associação de profissionais da enfermagem vem agora dizer que a comunicação nunca constituiu um problema, e que no caso de ser preciso dialogar com os doentes, recorre-se aos conhecimentos de inglês ou outra forma que dê para transmitir o essencial. Em caso de emergência, qualquer enfermeiro devidamente preparado sabe como agir. Esta é uma profissão que depende de formação e aptidões técnicas, e não de paleio, que parece ser a especialidade de Wong Kit Cheng, que é a nº 2 da lista dos “kai-fong” às eleições de 15 de Setembro. A polémica foi aobordada no programa da TDM “Contraponto”, que foi para o ar na noite de ontem, e penso que muito ficou por dizer. O painel de comentadores residentes foi demasiado brando com Wong Kit Cheng, e o tema merecia uma baordagem mais extensiva do que os dois ou três minutos a que teve direito. Frederico Rato teve uma tirada interessante, ao sugerir que a candidata da UPP terá perdido o voto dos portuguesas com as suas declarações. Ora todos sabemos muito bem que nenhum português votaria na senhora, que nunca viram mais gorda, nem que ela dissesse maravilhas de nós. E ela sabe disso muito bem, daí que tenha estado à vontade para vomitar todas aquelas alarvidades.

3) Realizou-se o sorteio do torneio da I Divisão da "Bolinha", o futebol em miniature do território, que leva habitualmente mais público ao relvado sintético do Colégio D. Bosco do que o futebol de 11 ao Estádio da Taipa. Mais uma vez o desiquilíbrio foi a nota dominante, com um dos grupos a juntar o grosso das equipas favoritas. Assim no Grupo A, além dos Sub-23, equipa campeã em título, estão os "gigantes" Monte Carlo, Ka I e Lam Pak, além das duas equipas de matriz portuguesa, a Casa de Portugal e o FC Porto. Os dragões são os vice-campeões, tendo perdido a final do ano passado para os jovens da Associação de Futebol de Macau (AFM) nas grandes penalidades. Enquanto isso no Grupo B ficaram equipas de segundo plano como o Lam Ieng, Lai Chi, Pau Peng, Taxi Chi Iao, e até a equipa "B" dos Sub-23, além de outros ilustres desconhecidos. É difícil explicar como é que um sorteio determina que todas as equipas teoricamente favoritas à vitória no torneio fiquem colocadas no mesmo grupo. Os mais desatentos podem mesmo ficar a pensar que o grupo A é a primeira divisão e o B a divisão secundária. Esta disposição pode levar mesmo a que uma das equipas mais fortes desça de divisão, enquanto uma mais fraca possa discutir a fase final de acesso ao título. Quer dizer, não existe em Macau um sistema que determine cabeças-de-série, que evite que as equipas mas fortes não se encontrem todas logo na fase inicial da prova, como acontece nos sorteios das competições desportivas um pouco por todo o mundo. É triste assistir à forma como a AFM insiste em encontrar sempre uma minhoca cada vez que leva o sacho à terra e dá uma cavadela. Só em Macau, francamente.

Agora é a doer, camaradas!


Fazendo um pequeno exercício de memória, é possível que muitos se recordem dos Homens da Luta, uma brincadeira da autoria dos irmãos Nuno e Vasco Duarte que teve início no programa "Vai Tudo Abaixo", da SIC Radical, e que "transbordou" até ao ponto de se ter transformado numa espécie de movimento cívico. Ou mais ou menos isso. Os personagens do Neto e Falâncio, os "cromos" inspirados nos contestatários do periodo do PREC a que os dois irmãos deram vida, começaram a ganhar notoriedade com várias acções de rua, algumas bastante mediáticas, lançaram um álbum de originais e venceram o Festival da Canção, indo representar o país na Eurovisão, em Dusseldorf. Desconfio que nem os próprios humoristas esperavam levar tão longe a brincadeira. Mas tal como a fama lhes caíu praticamente do céu, os Homens da Luta eclipsaram-se, levados pela maré das modas. Teve piada mas pronto, já rimos, contem outra. Só que agora, e em ano de eleições autárquicas, eis que reaparece Nuno Duarte, também conhecido pelo nome artístico de "Jel", como candidato à Câmara Municipal de Cascais pelo Partido Trabalhista Português (PTP). A plataforma utilizada não permite a Jel sonhar sequer com um lugar de vereador, mas a minha dúvida é a seguinte: isto é a brincar, ou o tipo está mesmo a falar a sério?

Vi a notícia no Telejornal e o Jel não deixa nenhuma pista que se trata de uma brincadeira, ao contrário do que fez Manuel João Vieira com as suas pseudo-candidaturas à Presidência da República. Já sem a fatiota e o bigode dos Homens da Luta, Jel disse à reportagem da RTP que o encontrou na praia que aceitou o convite que lhe foi endereçado pelo PTP, e que o slogan da campanha é "Vamos meter Cascais na linha". Tem piada, mas não sugere que se trata de um "gag" mais elaborado, alguma paródia às eleições ou uma sátira ao poder autárquico. Supondo que portanto o Jel está mesmo disposto a levar a candidatura a sério, fico sem entender porquê. Ele próprio deve estar consciente das suas hipóteses, que são nulas, e se o objectivo é contribuir para o debate politico ou qualquer outro chavão usado nestas circunstâncias, para que se vai incomodar? Os Homens da Luta tinham piada por causa da sua aparência retro e retórica demagoga, e do barulho que faziam. Jel cumpriu ali com sucesso a função de humorista, mas não demonstrou nenhuma qualidade que o possa levar a aspirar a uma carreira política. Nem deve ser esse o seu objectivo, enfim, se calhar que ir lá ver como é que se faz a sério, uma vez que já experimentou andar a brincar de megafone na mão. Só tenho pena que em vez de renovar o seu reportório e dedicar-se a fazer-nos rir, que é o que faz melhor, vá perder o seu tempo com esta fantochada de eleições, campanhas, discursos chatos e promessas vãs, tudo coisas sem piada nenhuma. Pode ser que a experiência o inspire, e que dali faça depois qualquer coisa com graça, fazendo uso da sua veia cómica. Agora duvido é o levem a sério, e espero que os seus fãs não lhe virem as costas. Eu é que nunca votaria nele. Nem como forma de protesto pela sujidade que é a política.

Praça de Santa Copacabana


O Papa Francisco concluíu ontem a sua visita ao Brasil com uma miss na praia de Copacabana, no Brasil, a que assistiram três milhões de fiéis. Três milhões, minha gente! É obra, e não será preciso acrescentar que o Encontro Mundial da Juventude, realizado durante a visita do sumo-pontífice, foi o mais concorrido de sempre. Viu-se um pouco de tudo em Copacabana, desde reencenações da paixão de Cristo, até protestos contra a Igreja Católica e algumas das suas orientações. Alguns manifestantes apareceram nus, e podia-se ver um deles cobrindo o sexo com um crucifixo. Não faltaram sequer mulheres em topless, além de outros personagens coloridos. Não fosse o Brasil o país do Carnaval. O Papa mostrou-se simpatético e compreensivo com o povo brasileiro, que tem protestado bastante nos últimos tempos, e deixou um recado aos governantes, apelando que escutem a voz do povo.

Jorge Mario Bergoglio, o argentino que em Março sucedeu ao demissionário cardeal Ratzinger no trono de Pedro, não podia ter escolhido melhor local para a sua primeira visita como chefe do Vaticano. O maior país católico do mundo não faltou à chamada, e até deu para esquecer a tão badalada deserção dos crentes para as seitas evangélicas. Uma das praias mais lindas do mundo ganhou um colorido diferente com a ocorrência de outra fauna que não a dos habituais "praieiros", e perante o mar de gente e de luz à beira-atlântico, até o Cristo Redentor deve ter esboçado um sorriso. Até os habituais críticos do despesismo que implica este tipo de eventos guardaram a viola e foram tocar para outra freguesia, tal foi a imponência da infra-estrutura montada especialmente para a visita papal. Copacabana transformou-se durante algumas horas no centro do catolicismo, e como a imprensa em língua inglesa tão oportunamente gracejou, tornou-se na "Popecabana".

Enquanto assistia às belas imagens que chegavam do Brasil, comentei com a minha companheira em jeito de brincadeira que o Vaticano devia mudar-se para o Rio de Janeiro. Ela respondeu-me um pouco ingenuamente que "uma visita é uma visita, mas ter lá o Papa não ia ter o mesmo impacto". Todos sabemos que não é bem assim, pois todas as semanas são aos milhares os fiéis de todo o mundo que se acorrem à Praça de S. Pedro para ver o Papa. Mudando a Santa Sé para o tropical Rio era garantia de festa todos os dias, muito "salero", muita devoção e demonstrações apaixonadas de fé, e até alguns protestos bem criativos. Para o Papa seria óptimo, pois além do clima, ficava na companhia dos anjinhos, das loiras e das morenas. Não sei o que se come no Vaticano, mas concerteza que não chega aos calcanhares de uma boa picanha ou de um suculento churrasco, para não falar da gaurnecida feijoada. Em Roma é tudo muito surumbático, muito sério, falta um sambinha que destoe dos moribundos cantos gregorianos, gente alegre que mexa com os pachorrentos cardeais. Era uma mudança mais que bem vinda. Claro que isto nunca seria possível, quer por motivos de logística como por razões históricas. Estamos aqui a falar da Igreja Católica-Romana, e não a Igreja Católica-Carioca, se bem que esta também não soa mal.

Neste mundo onde não faltam religiões a dar com um pau, quando uma ou duas chegavam muito bem, a Igreja Católica conta ainda com alguns focos de devoção incondicional. Não será muito difícil de prever que este Papa incluirá no itinerário do seu pontificado países como o México e as Filipinas, onde reside o maior número de católicos depois do Brasil, todos aguardando a sua benção. Não faltarão os habituais excessos, ataques de histeria, milagres atribuidos à presença do santo padre, todas essas curiosidades preciosas em termos de entretenimento, e sem os quais a Igreja Católica seria ainda mais aborrecida e previsível. Quanto aos portugueses, basta aguardar a ocasião em que o Papa Francisco resolva incluir na sua ocupada agenda uma visita ao santuário de Fátima, uma das etapas obrigatórias dessa volta ao Catolicismo em Papamóvel. Não fosse o valor facial da Cova da Iria no depositário dos milagres, e só tinhamos uma visita papal se o senhor "tiver tempo", e se não estiver a passar um programa jeitoso na RAI Uno, claro. Valha-nos Nossa Senhora de Fátima, portanto.

La donna é nera


Cécile Kyenge é uma política italiana que fez história ao tornar-se na primeira chefe de gabinete negra de um Governo em Roma. Kyenge nasceu em Leopoldville, actualmente na República Democrática do Congo, em 1964, emigrou para a Itália em 1983 e casou com um cidadão italiano em 1994, de quem tem dois filhos. Oftalmologista de profissão, concorreu em 2004 para o conselho municipal da cidade de Modena, onde reside, e nos anos seguintes ficou conhecida pelo seu trabalho no Fórum Internacional de Cooperação e Imigração. Em Abril deste ano foi convidada pelo executivo liderado por Enrico Letta para ministra da Integração. A sua ascensão política não foi bem vista por alguma da oposição, nomeadamente a dos partidos da extrema-direita, a quem incomoda a sua aparência pouco italiana. Ainda há quinze dias o presidente do partido Liga do Norte, uma plataforma nacionalista e conservadora conhecida pelas suas posições anti-imigração comparou-a com um “orangotango”, e sugeriu que realizasse as suas ambições políticas “no seu país de origem”. Uma nova polémica deu-se ontem, quando durante a realização de um comício, Kyenge foi atingida por bananas atiradas por um desconhecido. A ministra reagiu com desportivismo, e até algum humor, declarando que o ataque “foi um desperdício de comida”. Apesar da pouca importância que Kyenge deu a mais esta demonstração de antipatia, a polícia está à procura do agressor, e está aberto o debate sobre o racismo na sociedade italiana. Na realidade deve ser complicado para os orgulhosos italianos aceitar esta “diversidade” inédita, que chegou até à esfera da política. O que diria Júlio César desta figura tão incaracterística que integra o Governo daquilo que resta do império romano?

Mãmã, podemos ficar com o gatinho?


Um zoo da China oferece uma proposta tão inovadora como controversa. O Parque da Vida Selvagem de Kunming, na província de Yunnan, encoraja crianças de tenra idade a brincar com tigres bebés. Os promotores desta iniciativa defendem que se humanos e tigres crescerem juntos, desenvolvem uma relação de cumplicidade que levarão a que o felino fique tão domesticado como um inofensivo gatinho. Os pais discordam, e apesar de não temerem as crias, não acreditam que um tigre adulto seja uma boa ideia para ter como animal doméstico, pois afinal “um tigre é sempre um tigre”. E partilho da preocupação dos pais, claro. Não é preciso esperar até acordar um dia com uma perna arrancada à dentada para contrariar a teoria dos génios do zoo de Kunming.

Um dia o casamento vem abaixo


Mais um video que nos chega da Rússia, cada vez mais uma mina de ouro de imagens do fantástico e do bizarro. Um simpático casal de jovens russos preparava-se para contrair matrimónio, mas enquanto subia para a forca, um edifício ali próximo resolve desmoronar parcialmente - deve ser o Sin Fong lá do sítio - e desvia a atenção tanto dos noivos como dos convidados. Será prenúncio de bom casamento, ou pelo contrário, de mau agoiro?

Ventos do apocalipse (o Diabo peidou-se)


Seis estudantes que frequentavam um acampamento onde se dedicavam a estudos bíblicos foram vítimas de uma brincadeira nada cristã. Os seis jovens foram assistidos num hospital de Maryland nos Estados Unidos com problemas respiratórios e irritação nos olhos depois de um brincalhão não identificado ter lançado um “spray” de mau cheiro nos tubos de ventilação da cabine onde se iam dedicar ao estudo dos evangelhos. O “spray” em questão é suposto reproduzir o cheiro das flatulências mais intensas, e de acordo com os seus fabricantes são um “produto seguro, ideal para pregar partidas”. As autoridades investigam agora se realmente se tratou de uma brincadeira que correu mal, ou se houve malicia por parte do seu autor. É caso para dizer: por enquanto, só Deus sabe.

Hamilton príncipe entre os magiares


Lewis Hamilton venceu ontem o Grande Prémio da Hungria, disputado no circuito de Hungaroring. Foi a primeira vitória do britânico no mundial deste ano, e a quarta no circuito magiar. Hamilton venceu na Hungria em 2007, ano da sua estreia no “circo”, em 2009 e novamente em 2012, sempre ao volante de um McLaren, e agora leva pela primeira vez a Mercedes ao lugar mais alto do pódio esta temporada. No segundo lugar a 10 segundos do vencedor ficou o Lotus de Kimi Raikkonen, que resistiu às investidas do tri-campeão mundial Sebastian Vettel, que teve que se contentar com o terceiro lugar, à frente do seu companheiro de equipa na Red Bull, Mark Webber. Fernando Alonso não foi além do quinto lugar, deixando fugir Vettel na liderança do mundial de pilotos, estando agora a 39 pontos do alemão, e perdendo a vice-liderança para Raikkonen. Jean Grosjean foi sexto, Button sétimo, Massa oitavo e Sérgio Perez nono, enquanto Pastor Maldonado somou o primeiro ponto da temporada para a Williams, graças ao décimo lugar, o último dos pontuáveis. Vettel lidera o mundial de pilotos com 172 pontos, seguido de Raikkonen com 134, Alonso 133, Hamilton 124 e Webber 105. Nos construtores lidera a Red Bull com 277 pontos, seguida da Mercedes com 208, Ferrari 194 e Lotus 183. A próxima prova realiza-se a 25 de Agosto em Spa Francochamps, na Bélgica.

Sons da "silly season": Eu Jah


Para que não me chamem de pré-histórico e me acusem de saudosismo, deixo -vos hoje com um video mais recente do que a habitual galeria dos anos 80. "Eu Jah" é um dos sucessos deste Verão em Portugal, e em apenas 4 dias o video tem já mais de 150 mil visualizações no YouTube. Não sei muito sobre o autor, que suponho tartar-se de um tal Ricardo Pereira (outro?), que deve ser ainda o intérprete. Trata-se de uma paródia à música "afro", nomeadamente ao reggae, como dá a entender o título, um trocadilho com o nome que os rastafari dão a Deus. Dispensei alguns minutos para ler os comentários, e entre os que consideram o video hilariante, há outros que o consideram ofensivo. Eu sento-me no muro entre as duas opiniões; não penso que a música ofenda, nem considero a letra hilariante como tantos sugere. Entrando na onda, "jah" vi melhor. Contudo o video é divertido, está bem realizado e parece ter dado algum trabalho. E "jah" que esta rubrica se chama "Sons da silly season", é um clip bastante "silly", de facto. "Jah" agora vejam e digam o que pensam.

domingo, 28 de julho de 2013

O dragão pariu uma montanha


Foi com alguma surpresa que fiquei a saber pela imprensa da mudança de instalações da Polícia Judiciária. Devo ter andado distraído, pois não fazia ideia desta importante notícia. A PJ vai assim deixar as instalações da Rua Central onde funcionava há 20 anos, um edifício belíssimo em termos de arquitectura, e vai passar a combater o crime a partir do jovem mas cinzentão Edifício Xin Hua, junto do Gabinete de Ligação da RPC, para os lados do reservatório. Vai ser menos cómodo para quem esteja no centro da cidade e queira fazer uma denúncia. A mudança de ares prende-se com a construção da futura nova Biblioteca Central, que será localizada no edifício do antigo Tribunal Judicial de Base, nas imediações da agora ex-PJ. É mesmo pena, pois o quartel-general da Judite era já uma referência naquela zona da cidade.

Desde 1999, data da criação da RAEM, foram operadas mudanças de instalações várias, algumas bem pensadas, outras nem por isso. Ainda durante os últimos meses da administração portuguesa, alguns serviços públicos que se encontravam dispersos um pouco por toda a cidade foram aglomerados no novo Edif. Administração Pública (EAP), propriedade dos Correios – uma boa ideia, conveniente para o utente. Alguns anos depois saíu de lá o Instituto de Habitação, que passou a funcionar em sede própria, na Ilha Verde. Mais recentemente, praticamente ao lado do EAP passou a funcionar uma dependência da Imprensa Oficial. Para os lugares deixados vago no EAP entraram o Gabinete de Tradução Jurídica e a Comissão Eleitoral.

Entre os casos de “upgrading” bem sucedidos estão a Assembleia Legislativa e os Serviços de Identificação. O hemiciclo deixou o elegante mas diminuto salão do Palácio do Governo, na Praia Grande, e mudou-se para a zona de Nam Van, um pouco mais à frente, com honras de sede própria localizada numa nova praça que foi baptizada exactamente de Praça da Assembleia Legislativa. Os SIM deixaram a Calçada do Tronco Velho, onde ocupavam um andar escuro e triste, e passaram para um edifício novo e maior, muito mais organizado e funcional. Do outro lado da rua ficaram os Serviços de Educação, em instalações um pouco mais reduzidas mas semelhantes em termos de funcionalidade. Um aspecto comum em muitas destas mudanças é a concentração da maior parte dos serviços na zona da Praia Grande, facilitando a vida ao cidadão, que pode tratar das formalidades burocráticas sem recorrer a qualquer tipo de transporte.

Entre as mudanças menos consensuais está, por exemplo, o Gabinete de Comunicação Social, que estava perfeitamente identificado junto à Igreja de S. Domingos, e passou para um edifício qualquer na Praia Grande. Juro que ainda não sei bem onde. O caso mais mediático e a maior asneira foi a mudança do Tribunal Judicial de Base (TJB). A casa da justiça funcionava num edifício destinado ao efeito, o histórico e impomente edifício do Tribunal em frente à estátua de Jorge Alvares, junto à baía da Praia Grande, e inexplicavelmente foi deslocado para um centro comercial ali próximo, o Macau Square. O resultado é surrealista, com magistrados, funcionários judiciais, advogados, arguidos e testemunhas a partilhar diariamente o elevador com cidadãos comuns que nada têm a ver com os processos judiciais. Em Macau realizam-se julgamentos em salas improvisadas num espaço originalmente destinado a comércio. Enquanto o TJB continua à espera de um espaço à altura da sua importância, o antigo Tribunal ficou abandonado, estando actualmente a ser aproveitado para exposições e futuramente servirá de instalação à já referida Biblioteca Central, um projecto que tem ficado para as calendas gregas.

Para último guardei o melhor. Ou antes, o pior. A Universidade de Macau (UMAC) encontra-se actualmente em mudanças, deixando as instalações do Pac-On, na Taipa, onde sempre funcionou, e partindo para a Ilha da Montanha, um território gentilmente cedido pela R.P. China de modo a aliviar a saturação do território provocada pela falta de espaço. O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, afirmou recentemente que o novo “campus” estará sob a jurisdição das leis de Macau, uma dúvida levantada desde o anúncio da transferência. Uma boa notícia para quem duvidava das boas intenções do Governo Central, mas quanto ao resto, não há nada que redima o disparate que foi levar a UMAC para uma zona ainda mais periférica que o local onde se encontrava.

Não sou o primeiro a dizê-lo, mas levar a Universidade para longe do centro da cidade é um perfeito disparate, um erro de palmatória. A experiência da Universidade, a “universitas”, só faz sentido se for partilhada com a vivência da cidade onde se encontra. Coimbra tem uma das universidades mais famosas e antigas da Europa mas isso não se deve apenas ao peso da tradição ou à qualidade dos académicos. É uma cidade interessante, cheia de História, com gente educada e hospitaleira. A Sorbonne nunca seria o que é sem a cumplicidade com Paris, a cidade Luz. Oxford e Cambridge são exemplos acabados de como a cidade cresceu à volta das suas celebérrimas instituições de ensino superior. Em Macau vigora a mentalidade do campo de concentração de onde saem os doutores, do convento emissor de diplomas.

A partir deste ano lectivo de 2013/2014 os estudantes da UMAC ficarão sitiados, dependents de transportes públicos, horários, cancelas e guardas caso se queiram aventurar na cidade que os recebe para que prossigam a sua formação académica. Fala-se de um eventual desenvolvimento urbano a médio prazo na Ilha da Montanha, mas não acredito por um segundo que isso venha a valorizar a Universidade em termos culturais, ou que os novos residentes da ilha se insiram no padrão de residente-tipo de Macau. Em cima da mesa estão ainda projectos que visam “atirar” para aquele local asilos da terceira idade, estabelecimentos de ensino especial e clínicas de tratamento de doentes psiquiátricos. É como se estivessem a varrer o lixo todo para debaixo do tapete – sem desprezo pelos estudantes universitários. Qualquer dia Macau é uma cidade de casinos, hotéis, lojas de turistas e habitação com preços incomportáveis para os seus residentes. Para os restantes, nada como o ar puro…da montanha.

O raio do "feng-shui"


O “feng-shui”, ou como se diz no dialecto cantonês, “fông-sói”, é uma pseudo-ciência muito respeitada pelos mais supersticiosos – os chineses e não só. A palavra “feng-shui” significa literalmente “vento e água”, e terá a ver com a procura do equilíbrio ideal que conduza a vida no sentido da paz e da prosperidade, e que afaste as forças negativas que trazem consigo o azar. Como este “equilíbrio” e a sua procura não está ao alcance de qualquer um, existem estudiosos do tema, “iluminados” que dizem conhecer as curvas do labirinto que leva à sorte ou ao infortúnio. Há quem não tome decisões sem consultar o seu mestre de “feng-shui”, e mesmo os não-crentes respeitam a superstição quando chega a hora de comprar uma casa ou montar um negócio. Escusado será dizer que para os “especialistas” este é um negócio bastante lucrativo, e os mestres do “feng-shui” mais mediáticos enriquecem à custa de consultas, previsões, livros e presenças na TV, tudo graças à crença de muito boa gente, que os considera uma espécie de intermediários entre os deuses e os mortais. Estão para a vidência como os meteorologistas estão para a previsão do tempo, mas gozam de mais popularidade, apesar da meteorologia assentar em princípios científicos. Para se habilitar a uma carreira no “feng-shui” basta passar alguns bons anos a “estudar” patranhas, e depois alegar uma relação íntima com o sobrenatural. Além da indispenável cara-de-pau, alguma publicidade também pode dar jeito. Não queria chegar ao ponto de os chamar “charlatões”, mas o estatuto que alguns adquirem é invejável: ganham rios de dinheiro sem trabalhar, e para isso basta debitar previsões ambíguas e contraditórias, suportadas sempre com um “senão” qualquer caso não se concretizem. Mas se por um lado isto dá a entender dinheiro fácil e boa vida, existe o reverso da moeda. Se o que não falta por aí são tansos que acreditam nos contos da carochinha, existe a possibilidade de alguns desses tansos levarem a sua burrice tão a sério que de podem tornar perigosos, ao ponto de pedir ao seu “guru” que lhe preste contas caso as coisas dêm para o torto. E foi o que aconteceu com Alieon Yu (na imagem), uma das celebridades do “feng-shui” de Hong Kong, que viu um dos seus clientes pegar fogo ao seu escritório em Tin Ming, depois de uma previsão que não bateu certo. Nãããão! Impossível, uma previsão de um mestre de “feng-shui” que não dá certo. Ao que este mundo chegou.

As razões que levaram o cliente insatisfeito a incendiar o escritório do mestre chegam a dar pena. Suen Lok Wai, um empresário actualmente com 42 anos, foi em tempos um milionário com negócios na construção civil, e cliente de longa data de Alieon Yu. Numa das primeiras consultas o empresário lamentou-se das tentativas frustradas de fazer um filho à sua esposa, e depois das orientações do mestre, foi abençoado com uma criança dois anos mais tarde, e outra passados três anos. Obra e graça do divino, certamente. Entusiasmado com as boas graças, Suen passou a confiar cegamente no mestre, que num assomo de arrogância e sem medir as consequências fez uma previsão mirabulante: um dos filhos do empresário seria no futuro uma alta figura do governo na China, mas para que isso acontecesse, Suen precisaria de mudar os seus negócios para o continente. E assim foi, com o construtor a mudar-se de armas e bagagens para Xangai. Quem não achou muita piada foi a sra. Suen, que pediu o divórcio e foi viver para os Estados Unidos com os filhos, levando-os para longe dos delírios do pai. Os negócios em Xangai correram mal, e quase falido Suen regressaria a Hong Kong para recomeçar a fortuna, mas sem sorte.

Apercebendo-se da sua ingenuidade, o empresário culpou o mestre, e no ano passado foi pela primeira vez ao seu escritório pedir-lhe que lhe pagasse 12800 dólares de Hong Kong por um figurino que lhe havia oferecido em tempos. Meio sem graça, sentindo-se parcialmente culpado, Alieon acedeu e deu-lhe o dinheiro. Em Janeiro Suen voltou a exigir dinheiro, desta vez 25 mil dólares, o dinheiro que Aileon cobrou pelas consultas, mas levou uma nega. E nem foi do próprio mestre em que tanto confiara, que delegou para os seus assistentes a função de “enxotar” o cliente insatisfeito. Passado meia-hora, ouviu-se um estrondo, e a entrada do escritório do mestre estava em chamas. A única vítima foi o próprio incendiário, que ficou com queimaduras num braço, e viria mais tarde a ser detido pelas autoridades. Suen diz ter tentado provocar o incêndio para demonstrar que Alieon Yu “é uma fraude”, e avisar os seus potenciais clientes desse facto – ele há gente que só aprende quando é tarde demais. Aileon, por seu lado, diz que previu o incidente, e por isso “deixou nove baldes de água no escritório”, antes de se ausentar. A história agora contada numa reportage do Sing Tao Daily em conjunto com o Apple Daily não indica se o vidente terá alertado os seus empregados para a eventualidade de fogo posto. Mas talvez habituados às manias do seu chanfrado patrão, terão achado isso “normal”. Um dia como qualquer outro nesse emocionante mundo do “feng-shui”.

Cola de merda


Muitos turistas que visitam o México ouvem falar de uma tal “vingança de Montezuma”. Este Montezuma era um líder tribal nativo daquele território colonizado pelos espanhóis, e que morreu à mão do invasor, quando lutava pela autonomia do seu povo. Esta “vingança” não é fatal para pode muito bem estragar as férias aos mais desprevenidos. Um estrangeiro que beba a água da rede local arrisca-se a contrair uma infecção bacteriana gástrica, com fibre, vómitos, diarreias e tudo o que há direito, enquanto os mexicanos gozam de uma imunidade natural. Os cuidados são sempre poucos, e com excepção dos hotéis com três ou mais estrelas, o perigo espreita em qualquer esquina. Alguns dos que se acautelam optando pela água mineral engarrafada, “caem” como tordos na armadilha do gelo das bebidas em bares e restaurantes típicos.

Na China, tal como no México, a qualidade da água da rede não inspira confiança, e tal como os mexicanos além-mar, os chineses estão equipados com defesas naturais que os protegem da flora bacteriologica mais traiçoeira. Mas apesar de cada vez mais turistas visitarem o país e o número de estrangeiros a trabalhar na China continuar a aumentar, pouco se tem feito pela qualidade da água. Antes pelo contrário, e os mais cuidadosos arriscam-se a cair na mesma armadilha que muitos dos turistas no longíquo México: o gelo. Uma reportagem recente da CCTV demonstra que a qualidade do gelo utilizada nas bebidas mais consumidas é tão má que seria preferível beber a água acumulada no suporte do piaçaba da casa-de-banho. Foram recolhidas amostras de gelo em três conhecidas cadeias de “fast-food”a operar em Pequim: as multinacionais McDonald’s e KFC, e a doméstica Kung Fu.

A qualidade da água utilizada para confecionar o gelo foi analisada e comparada com água da sanita de um lavabo comum em número de bactérias prejudiciais à saúde. A KFC apresentou resultados desastrosos, com as análises a revelar a presença de 900 colónias bacteriológicas por mililitro – doze vezes mais que a água da retrete. O gelo da King Fu apresentou resultados menos maus, mas igualmente preocupantes: cinco vezes mais bacterias que um comum urinol. A McDonald’s, por seu lado, apresentou os melhores resultados, mesmo que negativos. Se calhar a ética compele-os a que façam gelo com “água da sanita autêntica”, em vez das outras duas cadeias de comida rápida, que apenas Deus sabe onde foram buscar a água que depois misturam nas colas e nas fantas. Os resultados desta reportagem deixaram a opinião pública em estado de choque, e na internet são aos milhões os que dizem “nunca mais comerem no KFC”.

A companhia do coronel Saunders e dos seus cadáveres de galinha fritos apresentou um pedido formal de desculpas, mas sublinha que o restaurante onde foram recolhidas as amostras de gelo “é um caso excepcional”. Claro, que azar, de entre todos os gajos foram logo escolher aquele que usa água do esgoto para fazer cubos de gelo. A Kung Fu, por seu lado, prometeu tomar mais cuidado daqui para a frente, mas deixou saber que a divulgação destes resultados “não afectou a venda de bebidas”. É um caso de fidelidade acima do consumidor acima de qualquer suspeita, concerteza. Quanto à McDonald’s, que sai por cima neste escândalo alimentar, está de parabéns, e garante ao consumidor que a água para o gelo continuará a vir dos seus lavabos, e não de outra origem mais duvidosa.

Guardiola entra a perder


DFL Supercup 2013 Borussia Dortmund 4-2 Bayern... 发布人 ourmatch
Guardiola entrou a perder ao comando do Bayern de Munique na nova época que arrancou ontem, com a realização da Supertaça da Alemanha. O Borússia Dortmund conquistou o troféu depois de bater os bávaros por quatro bolas a duas, vingando assim a derrota na final da Liga dos Campeões há dois meses. Marco Reus, pelo Dortmund, e Arjen Robben, pelo Bayern, estiveram em destaque ao apontar dois golos cada. Guardiola tem este ano a difícil tarefa de substituir Jupp Heynckes, que no ano passado ganhou tudo o que havia para ganhar com o Bayern. Para já começou mal.

Canguru, diz-me tu...


O tratador de um zoo de Shandong, na China, teve ontem um dia que dificilmente esquecerá. O funcionário do jardim zoológico entrou no habitat de um canguru adulto que pulava alegremente e entretia o público, e deu-lhe um tabefe, sem que se fique a perceber bem porquê. O marsupial, que é australiano e por isso desconhece os preceitos confucianos da obediência, respondeu à letra, e brindou o agressor com um gancho de direita que o deixou a ver as estrelas da bandeira chinesa. O tratador, já de cabeça e “face” perdida, tenta reagir, no ensejo de ter a última palavra e vingar-se do bicho – este não leu “Moby Dick”, coitado. Mas a superioridade do canguru, criatura conhecida pelo jeito para o boxe, era evidente, e não fosse outro funcionário do zoo tê-lo retirado daquele ringue de boxe improvável, e o animal humano tinha levado um enxerto de porrada do animal que havia provocado sem motivo aparente. Agora qual deles é o irracional, deixo ao critério do leitor.

sábado, 27 de julho de 2013

Crime, dizem eles


Como conclusão do nosso programa de hoje, deixo-vos com o artigo de quinta-feira do Hoje Macau. Continuação de um bom fim-de-semana, apesar dos aguaceiros marotos.

Andando a pé por Macau encontramos cartazes publicitários dos vários serviços públicos, alguns deles verdadeiras pérolas, merecedores de um olhar mais atento. Um exemplo disso é um panfleto do Governo de Macau apelando à participação nas eleições do próximo dia 15 de Setembro, um tal “Dia de Eleição” (sic), onde é importante cumprir o dever cívico de modo a “votar nos nossos representantes”. Votar nestes é um pouco como chover no molhado, uma vez que já são “nossos representantes”. Ficaria melhor “eleger os nossos representantes”, mas se calhar estou a ser demasiado preciosista, pois percebe-se na mesma. Mais agressiva é a mensagem do Gabinete de Combate à Droga do Governo de Macau, com um poster onde se lê “Não pense que consegue escapar se cometer crimes de droga”, lembrando ainda que “Todos os postos fronteiriços/Ninguém escapa às malhas da justiça”. Deveras intimidador, e quem avisa, amigo é. Mas apesar da imagem tentacular e implacável das autoridades no combate ao tráfico e consumo de substâncias ilícitas que se tenta passar, a eficácia real é aquilo que se sabe. Muitos são os que vão entrando pelos buracos da malha, e dizer que “ninguém escapa” vai um bem além do exagero.

Mas falando de vícios, além da droga temos ainda o jogo compulsivo. Grossa comparação, pensarão alguns, mas as semelhanças são tão evidentes que apenas por obra e graça do politicamente correcto não saltam à vista de todos e convidam a um debate sério sobre o assunto. As drogas ditas duras provocam no seu consumidor dependência física, que obriga a que as consuma assiduamente, escravizando-o e tornando-o improdutivo, atirando-o para a marginalidade e obrigando-o a roubar para alimentar o vício. O jogador compulsivo recorre ao mesmo tipo de expedientes, e mesmo que esta dependência não se manifeste na forma de uma dolorosa ressaca, o jogador é muitas vezes levado a repetir a prática quase inconscientemente, muitas vezes com a mesma frequência com que um heroinómano se injecta. Ambos têm a consciência que as suas acções prejudicam a si e aos seus, e que estão afundados numa lama imunda de que não é fácil sair. A grande diferença é na despesa; enquanto que a um toxicodependente não é humanamente possível ultrapassar uma despesa fixa, um jogador não conhece limites. Não há droga conhecida que leve o seu infeliz dependente a gastar 50 mil patacas numa hora, que é muitas vezes o valor de uma simples aposta numa mesa de jogo. Os toxicodependentes causam o sofrimento de familiares e amigos, e a censura da sociedade. Os jogadores compulsivos também. Qual é a diferença, realmente?

O mundo da droga está populado por indivíduos sem escrúpulos que obtêm lucro com a miséria alheia. O jogo também. De um lado temos os traficantes, os “mensageiros da morte”. Do outro temos os agiotas, frios e calculistas a quem pouco importa que as vidas e as famílias que destroem. A droga provoca danos irreparáveis para a saúde, um facto. Ficar horas a fio fechado num casino, tantas vezes exposto ao fumo, inebriado pelo néon pelo tilintar das máquinas, alienado do tempo e do espaço, não é propriamente o mesmo que um passeio nos verdejantes trilhos de Coloane. A droga é um crime, a sua venda, posse e consumo são punidos com penas de prisão. O jogo não só não é um crime, como nem chega a ser ilegal, e é visto como a trave-mestra da economia. É promovido, encorajado, e está ao acesso de qualquer cidadão maior de 21 anos que não exerça cargos públicos ou não esteja interditado. Mesmo para estes últimos estar impedido de frequentar um antro de jogo é uma opção muito mais atraente do que uma temporada atrás das grades, como acontece com os pobres diabos que têm o azar de cair “nas malhas da justiça” que servem o combate à droga.

Mas isto é Macau, meus amigos. A droga mata, destrói e corrompe a juventude. O jogo leva a economia ao colo, paga as contas, engorda o erário público e cria milhares de postos de trabalho. Quando as autoridades interceptam um traficante e o levam ao Ministério Público cumprem o seu dever, da mesma forma que um “croupier” assiste a um apostador perder tudo o que tem e ainda contrair dívidas que provavelmente nunca vai conseguir pagar. Qual destes profissionais dorme melhor à noite, ou tem a disposição de partilhar com a familiares e amigos os seus méritos profissionais? O combate à dependência de estupefacientes é feito por profissionais esforçados e competentes, conta com a ajuda de voluntários e privados que participam de boa vontade em actividades de sensibilização e consciencialização dos para as vantagens de uma vida saudável, sem drogas. O jogo compulsivo é abordado mais timidamente; existe uma “hotline”, dois ou três carolas que tratam do problema, e ocasionalmente é tratado na imprensa com pouco mais que uma nota de rodapé. Lá existir existe, mas é pouco.

Existe uma confusão que impede que se encontre a fronteira entre o mal e o crime, entre o imoral e o ilegal, entre a mera censura e o rigoroso castigo. O homicídio, por exemplo, pode custar uma vida humana, a da vítima, e a liberdade ao seu autor. A moldura penal do homicídio depende de factores diversos como a premeditação, o método utilizado e a cooperação com as autoridades, mas a privação da liberdade é um desfecho inevitável. No caso da corrupção, que praticado nas altas esferas e círculos de influência pode significar a ruína de empresas, levar à pobreza de centenas de famílias e provocar o desinteresse da parte de investidores por falta de confiança no sistema, é ainda vista de uma forma muito branda, muito “na desportiva”. Em Macau isto é tão evidente que nem é necessário levantar o tapete para encontrar a sujidade, e com a excepção de um certo ex-secretário e os seus “amigalhaços” arrastados pelo “tsunami” que provocou, impunidade é a palavra de ordem. Homicídio: crime de sangue, muito mau. Corrupção: crime de colarinho branco, portanto… crime? Calma lá, essa é uma palavra forte. Um palavrão. Haja contenção, que não se trata de morte de homem… pelo menos de modo flagrante e directo, com tiros e facadas, crianças a chorar baba e ranho e vizinhos a ligar para a polícia. O que é um crime afinal? Não nos compete definir o que não são contas do nosso rosário. Os senhores que apanham os bandidos é que sabem.