quarta-feira, 31 de julho de 2013
A brincar, a brincar...
O Expresso publicou na sua edição electrónica de ontem uma infografia sobre os candidatos mais bizarros eleitos em sufrágios livres e democráticos um pouco por todo o mundo. Além do palhaço Tiririca, que escolhi como imagem deste "post", não há outros seres humanos vivos entre as dez escolhas do Expresso. Temos animais diversos, um personagem de animação e até um pó para os pés, mas o outro humano da lista é um falecido.
É interessante analisar as razões que levam as pessoas a usar o seu voto numa brincadeira qualquer, ou para expressar algum tipo de descontentamento que poderia ser expressado obtendo por se abster. Nem sei porque se incomodam aqueles "comediantes" que se dão ao trabalho de ir até à mesa de voto onde estão recenseados para escrever caralhadas no boletim ou pintar bigodes na imagem dos candidatos. E no fim ninguém acha piada, e mesmo que o resultado fosse um ataque histérico de riso, o autor não colhia os louros, uma vez que não se sabe quem é.
Quem opta por votar num candidato menos convencional, uma celebridade com ambições políticas, um personagem colorido que dificilmente se consegue imaginar a exercer um cargo politico ou qualquer outro dos improváveis, fá-lo muitas vezes por motivos alheios ao que considera a escolha mais acertada que sirva os interesses em jogo numa eleição. Uns fazem-no como forma de protesto pela classe dos politicos, outros apenas por brincadeira, e outros ainda crédulos que o candidato que todos sempre conheceram como palhaço/cantor/actor/etc. poderá fazer bom uso da sua popularidade e realizar um bom trabalho, afastado que está das esferas dos partidos e mais próximo do povo. São os que ingenuamente acreditam que os politicos já nasceram politicos. Seja como for, um voto é um voto, e sendo válido, conta tanto como os outros, sendo a eventual carga irónica ou mensagem oculta irrelevantes. E é assim que chegam longe os Tiriricas desta vida.
A expressão máxima da participação cívica na escolha dos destinos do país e do seu próprio futuro, tudo mais que a noção de voto implica, devia ser respeitada. Quem opta por se abster, porque "está-se a cagar para a política" (argumento muito recorrente) está no seu direito, mas perde legitimidade para criticar as escolhas que os outros fizeram por ele. Quem sabe se uma breve temporada sem eleições recupere a noção da importância do exercício desse direito tão precioso que é o voto. Suspendia-se a democracia por uns tempos, como sugeriu a dra. Manuela Ferreira Leite numa das suas intervenções mais célebres, e revivemos esses tempos que tantos recordam com nostalgia, quando queriam votar mas não podiam. E depois tirem as vossas conclusões.
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