segunda-feira, 29 de julho de 2013
Praça de Santa Copacabana
O Papa Francisco concluíu ontem a sua visita ao Brasil com uma miss na praia de Copacabana, no Brasil, a que assistiram três milhões de fiéis. Três milhões, minha gente! É obra, e não será preciso acrescentar que o Encontro Mundial da Juventude, realizado durante a visita do sumo-pontífice, foi o mais concorrido de sempre. Viu-se um pouco de tudo em Copacabana, desde reencenações da paixão de Cristo, até protestos contra a Igreja Católica e algumas das suas orientações. Alguns manifestantes apareceram nus, e podia-se ver um deles cobrindo o sexo com um crucifixo. Não faltaram sequer mulheres em topless, além de outros personagens coloridos. Não fosse o Brasil o país do Carnaval. O Papa mostrou-se simpatético e compreensivo com o povo brasileiro, que tem protestado bastante nos últimos tempos, e deixou um recado aos governantes, apelando que escutem a voz do povo.
Jorge Mario Bergoglio, o argentino que em Março sucedeu ao demissionário cardeal Ratzinger no trono de Pedro, não podia ter escolhido melhor local para a sua primeira visita como chefe do Vaticano. O maior país católico do mundo não faltou à chamada, e até deu para esquecer a tão badalada deserção dos crentes para as seitas evangélicas. Uma das praias mais lindas do mundo ganhou um colorido diferente com a ocorrência de outra fauna que não a dos habituais "praieiros", e perante o mar de gente e de luz à beira-atlântico, até o Cristo Redentor deve ter esboçado um sorriso. Até os habituais críticos do despesismo que implica este tipo de eventos guardaram a viola e foram tocar para outra freguesia, tal foi a imponência da infra-estrutura montada especialmente para a visita papal. Copacabana transformou-se durante algumas horas no centro do catolicismo, e como a imprensa em língua inglesa tão oportunamente gracejou, tornou-se na "Popecabana".
Enquanto assistia às belas imagens que chegavam do Brasil, comentei com a minha companheira em jeito de brincadeira que o Vaticano devia mudar-se para o Rio de Janeiro. Ela respondeu-me um pouco ingenuamente que "uma visita é uma visita, mas ter lá o Papa não ia ter o mesmo impacto". Todos sabemos que não é bem assim, pois todas as semanas são aos milhares os fiéis de todo o mundo que se acorrem à Praça de S. Pedro para ver o Papa. Mudando a Santa Sé para o tropical Rio era garantia de festa todos os dias, muito "salero", muita devoção e demonstrações apaixonadas de fé, e até alguns protestos bem criativos. Para o Papa seria óptimo, pois além do clima, ficava na companhia dos anjinhos, das loiras e das morenas. Não sei o que se come no Vaticano, mas concerteza que não chega aos calcanhares de uma boa picanha ou de um suculento churrasco, para não falar da gaurnecida feijoada. Em Roma é tudo muito surumbático, muito sério, falta um sambinha que destoe dos moribundos cantos gregorianos, gente alegre que mexa com os pachorrentos cardeais. Era uma mudança mais que bem vinda. Claro que isto nunca seria possível, quer por motivos de logística como por razões históricas. Estamos aqui a falar da Igreja Católica-Romana, e não a Igreja Católica-Carioca, se bem que esta também não soa mal.
Neste mundo onde não faltam religiões a dar com um pau, quando uma ou duas chegavam muito bem, a Igreja Católica conta ainda com alguns focos de devoção incondicional. Não será muito difícil de prever que este Papa incluirá no itinerário do seu pontificado países como o México e as Filipinas, onde reside o maior número de católicos depois do Brasil, todos aguardando a sua benção. Não faltarão os habituais excessos, ataques de histeria, milagres atribuidos à presença do santo padre, todas essas curiosidades preciosas em termos de entretenimento, e sem os quais a Igreja Católica seria ainda mais aborrecida e previsível. Quanto aos portugueses, basta aguardar a ocasião em que o Papa Francisco resolva incluir na sua ocupada agenda uma visita ao santuário de Fátima, uma das etapas obrigatórias dessa volta ao Catolicismo em Papamóvel. Não fosse o valor facial da Cova da Iria no depositário dos milagres, e só tinhamos uma visita papal se o senhor "tiver tempo", e se não estiver a passar um programa jeitoso na RAI Uno, claro. Valha-nos Nossa Senhora de Fátima, portanto.
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