quarta-feira, 30 de abril de 2008

A educação e a bandeira


Um grupo de cidadãos entregou na AL uma petição no sentido de tornar obrigatória a presença da bandeira chinesa em todas as escolas de Macau em dias de aulas. Este grupo de patriotas representados por uma senhora que preferiu manter o anonimato (porque será?) acha que não tem sido feito o suficiente para elevar o patriotismo entre os jovens, e pedem a aplicação directa da “Lei da Bandeira Nacional da República Popular da China”.

Fong Chi Keong, presidente do comité da AL, afirma que não se vai alterar a actual lei que regula a exibição dos emblemas nacionais ou regionais. Considera que o sentimento patriótico deve ser promovido entre os jovens, e garante que se vai agir nesse sentido junto das instituições de ensino. “Há uma vasta variedade de estabelecimentos de ensino em Macau e algumas das escolas não têm equipamentos suficientes”, afirmou. Lá se fala algum senso.

Para estes patrioteiros, a bandeira resolve todas os problemas do ensino em Macau. A criminalidade juvenil, a violência nas escolas, o abandono escolar, o limitado acesso ao ensino gratuito, a parca qualidade do mesmo, ficam logo neutralizados com o içar da bandeira. Não sei qual o objectivo deste grupo, se provar que são muito patriotas, se esperam algum tipo de contrapartidas ou se simplesmente o facto de muita gente preferir o tal segundo sistema, lhes faz ainda muitas cócegas.

Não que eu tenha algo contra os símbolos nacionais da República Popular da China, não senhor. E vou até mais longe: como estamos na RPC propriamente dita, por mim a bandeira devia estar por toda a parte, o hino devia ser tocado todas as manhãs e claro, os jovens deviam aprender a amar este país que também lhes pertence. A RPC tem feito mais por mim do que o meu país de origem já alguma vez fez, e orgulho-me de ser cidadão permanente de uma Região Administrativa especial da RP China.

É que o simples facto de ter uma bandeira lá no alto para que toda a gente se lembre onde está, não é só por si um sinal de soberania. Quando Neil Armstrong caminhou na Lua e lá espetou a bandeira norte-americana, isso não deu aos yankees o direito de reclamar o satélite natural da Terra como seu, e só seu. Mais do que ter lá a bandeira é preciso assumir a responsabilidade de conduzir com eficácia os destinos do território.

Se há algo que profundamente me irrita é ver nos noticiários os tais fulanos que queimam bandeiras. Os palestinianos, por exemplo, adoram queimar bandeiras dos Estados Unidos e Israel, assumindo que tacando fogo a esses pedaços de pano estão a neutralizar de vez a honra e soberania daquelas nações. Mais do que "ofensa aos símbolos nacionais", os queimadores de bandeiras deviam ser presos por perturbação da ordem pública e tendências piromaníacas.

Mesmo quando vejo a bandeira nacional (de Portugal) em qualquer sítio remoto do mundo ou aquele puto indonésio que sobreviveu ao tsunami de 2004 com a camisola da selecção das quinas acho piada. Acho tanta piada como ao meu gato quando tenta apanhar os carros de Fórmula 1 no televisor. Não, não me rola uma lágrima pelo rosto nem me enche de orgulho, nem desato a cantar o hino. É só uma bandeira, bolas.

Já bastou quando depois da transição o Governo gastou milhões em minhoquices, quando mudou placas, plaquinhas, carimbos, selos, indicações toponímicas e tudo mais. Que sentido faz o chinês "vir primeiro", se os chineses vão só ler o chinês e os portugueses só o português? Mesmo os meus amigos chineses consideraram isto um desperdício de tempo e meios. Se era para mudar por mudar, mais valia ficarem quietos.

Ensinar o significado da bandeira, do hino, dos outros simbolos nacionais e a História do país é importante, pois claro. Mas mais importante é preparar os jovens para que sejam elementos úteis à sociedade, que desenvolvam uma maior capacidade de raciocínio, que tenham uma cultura geral mais vasta. Pensar que ver a bandeira da RPC içada na Escola Portuguesa de Macau, por exemplo, é um xeque-mate no campo da soberania, é fanatismo retrógrado.

Não sei porquê quando li esta notícia na imprensa de hoje, lembrei-me de um episódio que se passou pouco depois da transferência de soberania. Um cidadão tão alarmado quanto mal informado telefonou para o tal fórum matinal do canal chinês da Rádio Macau exigindo explicações para o facto da bandeira portuguesa "continuar içada no Edifício do Hospital de S. Rafael", que como se sabe é actualmente a sede do Consulado Geral de Portugal. "Mas agora não somos parte da China?", perguntava enfurecido. Ó meu amigo, somos pois. Educai-vos.

Morreu Ling Ling


Ling Ling (na imagem), o panda chinês que era a maior atracção do zoo de Ueno, em Tóquio, no Japão, morreu esta manhã de doença cardíaca. Ling Ling era o quinto panda gigante mais velho do mundo, com 22 anos e 7 meses, o equivalente a 70 anos humanos. O panda foi oferecido pela China em 1992 como símbolo da amizade entre os dois países. Visitantes e amigos de Ling Ling visitaram hoje o zoo de Ueno para expressar a sua tristeza, e foram recebidas milhares de mensagens de pesar. O céu ganha mais um panda.

Pombos espetados


Mais uma prova de como este mundo está cada vez mais doente e corrompido. Algum engraçadinho ou grupo de engraçadinhos em Seattle, estado de Washington, Estados Unidos, tem-se divertido a atirar dardos a pombos. As associações de defesa dos direitos dos animais estão naturalmente alarmadas, até porque alguns dos pássaros - como este nosso amigo - têm sobrevivido mesmo assim. Lamentável.

O pai da tocha



Em cima: Yao Yingjia liderou uma equipa de 34 químicos, designers e engenheiros na sua companhia informática Lenovo para desenhar a tocha olímpica. O design é inspirado nas nuvens e na caligrafia chinesa.

Em baixo: Como funciona a tocha olímpica. O mecanismo de ignição é aberto por uma pequena chave, depois do qual a tocha pode ser acendida por outra chama.

Why worry?


A lindíssima Kelly Chen é uma das personalidades do meio artístico que vai carregar Sexta-Feira a tocha olímpica pelas ruas de Hong Kong. A cantora/actriz está radiante, mas preocupada que "fique mal" com a camisola oficial enfiada dentro dos calções. Oh Kelly, é só mandar um dos teus fulminantes sorrisos, e quem quer saber da camisola?

Sexta-Feira em Hong Kong


A tocha olímpica chegou hoje à RAE vizinha de Hong Kong. 120 personalidades vão carregar o fogo sagrado na próxima Sexta-Feira, dia 2. Entre eles 48 atletas, 14 professores universitários, 12 políticos e 12 líderes comunitários. A corrida começa às 10:30 da manhão em Tsim Sha Tsui e termina às 18:00 na Praça da Bauhinia (pata-de-vaca) Dourada, em Wan Chai.

Os fantasmas dele


O novo single de Pedro Abrunhosa, "Quem me leva os meus fantasmas". Que comovente.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Revelações


Hoje foi dia de alegações finais no julgamento de Frederico Nolasco, administrador da sociedade H. Nolasco, indiciado pelo crime de corrupção activa e branqueamento de capitais. O advogado de defesa de F. Nolasco, Luís Almeida Pinto, disse que a restante administração da H. Nolasco, incluíndo a sócia maioritária Susana Chou, tinha conhecimento dos pagamentos feitos ao ex-secretário em nome da CSR, de modo a obter a licença para o tratamente de resíduos perigosos. De recordar que em Setembro último a presidente da AL garantiu ao Hoje Macau desconhecer quaisquer pagamentos feitos a Ao Man Long, e se os houve terão sido feitos por Frederico Nolasco a título individual. Susana Chou mostrou-se indisponível para fazer comentários. Veja a reportagem da TDM aqui.

Actualização em 30/04: Susana Chou prestou hoje esclarecimentos sobre o assunto ao Hoje Macau. Leia também, sobre o mesmo assunto, as opiniões de Carlos Morais José e José Rocha Dinis.

Zhuhai, meu amor


A primeira vez que passei as Portas do Cerco foi em Dezembro de 1992, poucos meses depois de ter chegado a Macau. Para mim foi uma experiência fascinante, pelo menos em termos de expectativa. Ali estava eu, jovem ribatejano que ainda um ano antes só tinha ido a Badajoz e a Londres (e a Paris, mas era muito pequenino), prestes a atravessar a fronteira para um mundo completamente desconhecido.

À medida que subia a adrenalina, chegava à antiga sala onde se emitiam os vistos. Dois ou três policias, impecavelmente uniformizados, tratavam com indeferença os estrangeiros que esperavam o precioso carimbo. Algumas filipinas, russas e até dois egípcios conversavam em línguas estranhas, no que parecia uma pequena Babilónia. Quase meia hora depois chegava a Zhuhai ( 珠海, em português "Pérola do mar" ou "Mar de pérola"), acompanhado de dois amigos e da nossa cicerone, a Lin.

A primeira impressão daquela cidade fazia estremecer a alma. Toda em cimento erguida, à tona dos desperdícios e do esterco, espapaçada na lama das últimas chuvas do ano. O sol de Inverno iluminava os caminhos desconhecidos, que pediam para que nos perdessemos neles. Mulheres mal vestidas, de meias rotas e cabelos sujos deitavam olhares lângidos. Homens de fatos encardidos e faces morenas olhavam e sorriam com um ar enigmático. A Lin dizia-nos para termos cuidado e ficarmos juntos.

Dizia-nos também para ignorarmos as crianças que nos rodeavam a pedir, algumas bastantes persistentes, que causavam nervoso miudinho a um dos nossos companheiros. Era difícil ignorar aquela realidade, que não sendo nova, era em tudo diferente da nossa. As crianças insistiam, alheios à nossa indiferença, alguns descalços, mal vestidos, rostos sujos. Uns mais atrevidos tentavam meter-nos a mão no bolso ou tirar os relógios. Chegava a ser preciso dar um chega para lá, e eles eventualmente desistiam, não sem balbuciar uns desaforos em chinês.

Ao longo da Avenida principal de Gongbei (distrito de Zhuhai) viam-se muitas bicicletas e poucos automóveis. O pavimento era esburacado, e de algumas lojas saíam mulheres que atiravam restos de comida e outro lixo para o chão. Alguns peões sentavam-se fumando, e a atracção especial era um indivíduo que chicoteava um macaco com chapéu de circo, compelindo-o a executar uns truques para os curiosos, tão poucos que era possível observar à distância o triste espectáculo.

Apanhámos um autocarro para o centro de Zhuhai, para uma espécie de entreposto comercial, onde se vendiam brinquedos e aparelhagens sonoras, em tudo semelhante aos que se encontravam nos ciganos da Praça de Espanha, em Lisboa. Os equipamentos de som, com colunas gigantescas, a fazer lembrar a feira das Galinheiras, tocavam música pop chinesa. Comprámos algumas bugigangas, mais pela novidade, assim tipo souvenir. Lembro-me de ter comprado um chapéu de palha.

No regresso o Mercado de Gongbei. Algumas senhoras portuguesas compravam loiças, e pareciam ter jeito para regatear. Depois o duty-free. Cigarros, whiskey, doces, tudo o que nos fizesse gastar o resto dos então incómodos renminbis que nos deram de troco num restaurante “de luxo” onde almoçámos, e tive o primeiro contacto com as famosas casas de banho de buraco no chão, onde o ar é praticamente irrespirável.

Voltei lá algumas vezes depois desta, e desisti. Estava visto, e era pouco. Isto até 1999, quando comecei a ir a Guangzhou tratar de negócios. Chegava a pernoitar em Zhuhai e apanhar o primeiro autocarro de manhã para a cosmopolita cidade capital da província de Cantão. Zhuhai estava mesmo mudada. Apareceram os bares à beira do rio, as discotecas, as lojas eram mais arrumadas, a comida inspirava mais confiança, viam-se mais estrangeiros, e, mais importante do que isso, menos miséria.

Cheguei a pagar 100 renminbis por uma noite num hotel de 4 estrelas, não muito longe da fronteira, que incluía um pequeno-almoço estilo chinês, em mesas redondas, impecavelmente limpas, com os carrinhos a trazer comidas mil. Chegava a comer tanto que por vezes não almoçava nesse dia. Ao fim da tal avenida principal tinham aparecido outras ruas, repavimentadas, com candeeiros novos de onde pendiam cestas de flores. Um bar que gostava especialmente, e ficava a dez minutos de táxi do Hotel, tinha música ao vivo e pelo menos uma das empregadas falava inglês.

Foi a fase do êxodo dos noctívagos de Macau para o outro lado. Às segundas-feiras muitos contavam os acontecimentos mirabolantes do fim se semana, e com um sorriso de satisfação garantiam que tinham encontrado tal sítio onde tudo era “bom, bonito e barato”. Muitos iam para ostentar, num tempo em que a pataca era muito mais forte e a economia ainda não se ressentia da SRAS. Contam-se histórias de loucas aventuras, de amores, traições, concubinas, e a expressão “ir lavar a cabeça a Zhuhai” passou a fazer parte do léxico local.

Passou a ser o local de romagem de fins de semana; dos DVDs pirata, dos recuerdos que os nossos compatriotas se apressavam a comprar antes das férias em Portugal (são mesmo da China! Juro!), das jantaradas baratuchas, dos karaokes, das meninas arrogantes que regateavam os preços das malas, sapatos e roupas e viravam as costas quando ouviam um não e voltavam atrás piedosamente quando ouviam um sim...era um tal de fazer o paraíso da miséria alheia.

E hoje a cidade vizinha conhece uma pujança a nível de qualidade de vida que começa mesmo a ameaçar Macau. Há cada vez mais habitação de qualidade a preços acessíveis, mais restaurantes de luxo (sem aspas), e a pataca já não dita as regras. A cidade já não é mais o buraco infecto e imundo com os pedintes e bebés no chão. É o milagre da Zona Económica Especial que no início até parecia uma piada de fraco gosto. Zhuhai, quem te viu e quem te vê.

No rescaldo da tragédia


O francês Pascal Boisson, 54 anos, vítima de fracturas múltiplas, é assistido por enfermeiras no hospital dos arredores de Zibo, província de Shandong, que foi ontem palco de um dos maiores acidentes de comboio da História. Contabilizam-se cerca de 70 mortos e mais de 400 feridos, entre eles um treinador de vela olímpica da RPC, que pode ver amputadas ambas as pernas. As autoridades dizem que o acidente se deveu a falha humana. Um dos comboios ia em excesso de velocidade, saiu dos carris e embateu noutro que se dirigia em direcção oposta.

A casa dos horrores



A notícia que chocou a Austria. Josef Fritzl (em cima), 73 anos, terá sequestrado a sua própria filha, Elisabeth, durante 24 anos numa cave improvisada (planta em baixo) da sua casa nos arredores de Amstetten. Durante o cativeiro, Fritzl abusou sexualmente da filha repetidas vezes, chegando a ter sete filhos com ela. Um terá morrido poucos dias depois de nascer, três foram adoptados por Josef e a esposa e os outros três, de 5, 18 e 19 anos, nunca viram a luz do dia. O maior e mais chocante caso de incesto e abuso sexual na História da Austria.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

A tocha da polémica


Agora que a questão do 1º de Maio parece resolvida, com mais associações a anunciarem que não participam devido à passagem da tocha olímpica durante o próximo fim de semana, e as que participam a não parecer chegar a um consenso em relação à organização, quem sabe se mais vale a pena nem ir com a manifestação para a frente, tal é a farsa que se arrisca vir a tornar.

As autoridades concentram agora os esforços na passagem do símbolo do olimpismo. A tocha chega no dia 2 de Maio e passa pelas ruas (e lagos) de Macau no dia 3. Ao contrário de várias outras cidades do mundo por onde o facho olímpico passou, não se esperam incidentes de maior, e a própria polícia já tratou de questionar alguns originários da região dos Himalaias (leia-se nepaleses), no sentido de perceber os seus planos nesse dia.

A maior polémica até ao momento prendeu-se com a birra do deputado José Pereira Coutinho, que alegando não ter sido convidado para transportar a chama olímpica, vai passar o fim de semana fora de Macau. Manuel Silvério, vice-presidente do Comité Olímpico de Macau, diz que convidou todos os deputados. Outros declinaram o convite por razões diversas, algumas bem sensatas, como sejam a idade ou o apuro físico. Espera-se a participação de 13 deputados.

Mas independente disso, será assim tanta a sede de protagonismo que por aqui grassa? Porque carga de água estão inscritas 120 alminhas (!) para carregar a tocha? É triste misturar o espírito do olimpismo com a vontade de aparecer. O que pensais fazer depois de transportar a tocha por alguns minutos? Incluir o feito no currículo? Até na Coreia do Norte, ditadura rígida de forte pendor burocrata e conhecida pelo clientelismo, só 18 foram convidados.

Não faria muito mais sentido serem os atletas, e só os atletas, a transportar o facho olímpico? Os representantes das modalidades olímpicas, alguns atletas dos Special Olympics, e vá lá, três ou quatro representantes do Governo e do IDM, mas agora convidar todos? Torna-se ridículo. Toda a gente que é ou pensa que é alguém vai lá estar, de sorrisinho maroto de “olha mãe estou aqui”, e em alguns casos a corrida que vão fazer com o facho será a primeira que fazem em muitos anos.

Finalmente a questão dos 16 milhões de patacas que a Fundação Macau disponibilizou para financiar o evento. O deputado Au Kam San demarcou-se da passagem da tocha por considerar isto um acto de despesismo. É preciso sobretudo não entrar em fundamentalismos de espécie alguma. Uma coisa é a passagem da tocha olímpica, uma honra para Macau e para as suas gentes, outra coisa é a gestão dos bens públicos. Ninguém tem o direito de acusar ninguém de traição por confundir patriotismo de ocasião com dissipação. E mais não digo...

Veja aqui o percurso da tocha olímpica por Macau.

A birra de Coutinho


O deputado José Pereira Coutinho fez birra, bateu com o pé, vai embora e não brinca mais. O presidente da ATFPM e representante para a Asia do Conselho das Comunidades Portuguesas está irado por não lhe ter sido extendida uma passadeira vermelha para transportar a tocha olímpica no próximo Sábado. Segundo Coutinho "não lhe foi feito qualquer convite", enquanto Manuel Silvério, vice-presidente do Comité Olímpico de Macau, garante que todos os deputados da AL foram convidados.

Coutinho está tão agastado com o desinteresse que afiança que vai sair de Macau, em sinal de protesto. Silvério assegura que a lista das personalidades que vão desfilar com a tocha foi entregue no Comité Olímpico em Pequim, que tem a última palavra, mas garante que nenhum dos candidatos - que são 120 - mereceu a reprovação dos responsáveis da capital chinesa.

Sinceramente não vejo o porquê da ira de Coutinho, e para mais quando se justifica que queira transportar a tocha “em nome da comunidade portuguesa”. I beg your pardon? Quem fez dele o representante da Comunidade Portuguesa? O mero facto de ter sido eleito para o tal Conselho das Comunidades? Se o quisesse fazer em nome dos funcionários públicos, através da ATFPM, tudo bem. Mas da “comunidade portuguesa”, bem, se quer dizer os portadores de passaporte português que votaram no dia 19, penso que esses se revêm noutras associações.

Admiro alguns aspectos do trabalho do deputado Pereira Coutinho, que tem sido nos últimos anos "a voz" dos funcionários públicos na AL, se bem que sem quaisquer efeitos visíveis ou conquistas significativas. Mas quando o sr. deputado fala em nome da comunidade portuguesa, talvez esteja a ser um tanto ou quanto generalista. Um pouco de humildade ficava-lhe bem, e já agora os FP ficam sem alguém que leve a tocha em nome deles. Será que pensou nisso?

Falha humana


Cerca de 70 mortos e mais de 400 feridos é a contabilidade provisória de um trágico acidente ferroviário verificado esta manhã em Zibo, província de Shandong, na República Popular da China. Dois comboios chocaram a alta velocidade, um vindo de Pequim e outro do litoral. Entre os feridos encontram-se alguns estrangeiros. As autoridades descartam a hipótese de ataque terrorista, inclinando-se para a possibilidade de falha humana.

Com tranquilidade


A tocha olímpica esteve hoje na Coreia do Norte pela primeira vez na História, com um clima de tranquilidade e festa. Os cidadãos norte-coreanos aplaudiram a passagem da tocha olímpica, num espectáculo pleno de cor e alegria, fazendo juz à amizade com a RPC e à plena concordância com a organização dos Jogos Olímpicos 2008 por Pequim. A maior estrela foi Pak Doo-Ik, 66 anos, o futebolista do campeonato do mundo de 1966, na Inglaterra, que marcou o golo da vitória contra a Itália, que qualificou os norte-coreanos para os quartos de final.

Monte Carlo campeão


A equipa de futebol do Monte Carlo sagrou-se ontem campeã de futebol de Macau, ao empatar a duas bolas contra o seu rival directo, o Lam Pak. Os comandados de Tam Iao San necessitavam apenas do empate para comemorar o título, que lhes fugia desde 2004. Com esta vitória o Monte Carlo interrompeu a série vitoriosa do Lam Pak, campeão nos últimos dois anos. Parabéns aos campeões.

Sem vergonha


O escultor dinamarquês Jens Galschiot foi impedido de entrar na RAE de Hong Kong, no Sábado, juntamente com a sua mulher e os seus dois filhos. Galschiot foi convidado pela Hong Kong Alliance in Support of the Patriotic Democratic Movements of China para participar numa demonstração que se vai realizar em Hong Kong no dia 2.

Galschiot é o autor da escultura "Pilar da vegonha" (na imagem entre o cameraman Niels Madsen e o presidente da Alliance Szeto Wah), patente na Universidade de Hong Kong, que homenageou as vítimas do massacre de Tiananmen, em 1989. O escultor ficou retido para interrogatório no aeroporto da RAEHK durante seis horas, e segundo ele não lhe foi dada qualquer justificação para lhe ser negada a entrada.

O gigante e o anão


Um poster de propaganda polaca do pós-guerra, onde se vê um soldado comunista do Armia Ludowa a pisar um membro do Armia Krajowa, fiel ao governo polaco no exílio, e onde se pode ler "O gigante e o anão reaccionário".

domingo, 27 de abril de 2008

A pílula do dia seguinte


A semana que passou foi pródiga em acontecimentos que determinaram mais ou menos o desfecho do próximo dia do Trabalhador. Ao contrário de 2007, em que o descontentamento saiu às ruas e terminou em confrontos entre manifestantes e autoridades, este ano o 1º de Maio resolveu-se “na secretaria”, e tudo indica que não participem mais dos que os adeptos “hardcore” deste desporto radical.

O momento decisivo desta contenda terá sido quando o Chefe do Executivo anunciou um subsídio de 5 mil patacas a cada residente permanente e 3 mil a cada residente não permanente, como forma de compensá-los pela galopante inflação que se tem verificado desde o início do ano. Esta forma pouco ortodoxa de redestribuição de riqueza colheu junto da população, ao ponto de algumas associações que planeavam participar das manifestações da próxima Quinta-Feira terem desistido de o fazer.

Há duas formas de analisar a questão. A primeira, que foi feita a quente, é censurar o Executivo por ter tomado uma medida populista e curta, que não resolve os problemas estruturais profundos de Macau. A segunda, para a qual a maioria se inclina agora, é apontar o dedo às tais associações que desistem de se manifestar. Então tudo o que queriam eram 5 mil patacas? Se calhar quando na manifestação do ano passado gritavam e exibiam cartazes pedindo o fim da corrupção, estavam na verdade a pedir que os deixassem fazer parte dela.

Os efeitos presentes e futuros são previsiveis. Primeiro vão sair os habituais bajuladores do Executivo (leia-se aqueles a quem a vida corre às mil maravilhas) a apontar o dedo aos manifestantes e à sua falta de princípios, e mais tarde basta atirar o patacame ao povo para que fique em casa no 1 de Maio. Mas não se iludam, pois se este Governo resolveu tomar esta medida, a pouco mais de um ano do fim do seu mandato, não significa que o próximo seja tão benemérito ou vá aturar tamanha pedinchice.

Mas a manifestação vai mesmo para a frente, pois as autoridades já receberam pedidos. Vão lá estar os profissionais do ramo, provavelmente umas poucas centenas (dizem dois mil, mas duvido), e muito provavelmente a população não vai estar lá a aplaudir como no ano passado. Se a polícia tivesse sentido irónico (e não tem...) até deixava os manifestantes passar por onde quiserem e bater as panelas à vontade, e se calhar até se juntava a eles para fazer número. Aquele heróico agente que disparou os tiros para o ar no ano passado podia ir na frente, a liderar a charanga.

Quem se está nas tintas para as manifestações ou tem mais que fazer do que seguir de perto as cogitações políticas são os cidadãos que passam por mais dificuldades, que fazem as contas ao aumento dos preços de primeira necessidade, que têm os filhos no ensino público, que não sabem o que é fazer férias fora de Macau. Para estes são as cinco mil que contam, e em alguns casos, pingam vinte mil patacas ou mais no agregado familiar, que dão um jeito do caraças.

É a realpolitik à moda de Macau. Não me parece que seja condição sine qua non para receber o lai si não participar em qualquer manifestação ou não discutir a política do Governo. Edmund Ho anunciou o subsídio uma semana antes do 1º de Maio, so what? Patos foram eles que morderam o isco. Se por acaso acham que o Governo os andava a f..., isto bem pode funcionar como a pílula do dia seguinte.

Raikkonen passeia na Catalunha


Mais uma dobradinha da Ferrari, agora na Catalunha, desta vez com o campeão do mundo Kimi Raikkonen em primeiro, seguido do seu companheiro de equipa, o brasileiro Filipe Massa. A grande surpresa do fim-de-semana aconteceu nos treinos de qualificação, com o piloto “da casa”, Fernando Alonso, a sair do segundo lugar atrás do "ice-man", que obteve a pole position.

Uma corrida marcada por vários acidentes e duas entradas do pace-car, tendo sido o mais aparatoso protagonizado por Heikko Kovalainen à 24ª volta, quando o McLaren do finlandês teve um pneu furado e embateu com violência contra a barreira de protecção. Apesar do aparato do acidente, Kovalainen saiu em maca, mas consciente e aparentemente ileso.

Foi um dia aziago para a Renault, depois de Nélson Piquet Jr. voltar a desiludir (desistiu à 7ª volta depois de um embate com Sebastien Bourdais), Fernando Alonso partiu o motor à 34ª volta, quando se encontrava em 5º lugar, para desespero de Flavio Briatore e da affición espanhola.

O pódio ficou completo com o McLaren de Lewis Hamilton; Robert Kubica (BMW) terminou em quarto, Mark Webber em quinto, Jenson Button, mercê das várias incidências da corrida conquistou um surpreendente sexto lugar e três pontos para a Honda, Nakajima foi sétimo e Jarno Trulli completou o lote de pilotos nos pontos. Nick Heidfeld foi nono, muito por culpa de uma penalização de dez segundos a meio da corrida.

Raikkonen lidera agora mais destacado o mundial de pilotos, com 29 pontos, seguido de Lewis Hamilton com 20, Robert Kubica com 19 e Filipe Massa com 18. Nos construtores a Ferrari passou para a liderança com 47 pontos, seguida da BMW com 35 e a McLaren com 34. A próxima prova do mundial de F1 realiza-se na Turquia, dia 11 de Maio.

Turistas foleiros


Uma das consequências do aumento do número de turistas em Macau nos últimos anos é a invasão de todo o tipo de gente foleira. Não há dia que não se observem – e são cada vez mais – os “backpackers” estrangeiros de barbas e cabelos compridos, calções e sandálias, de higiene pessoal duvidosa e que um muitos casos nem dinheiro têm para pagar um hotel decente. Mas são os turistas chineses aqueles que mais gosto de observar.

O típico turista foleiro chinês tem entre 35 e 50 anos. Usa camisa aos quadrados azuis (claros e escuros) de marca “Jingzian” ou “Haoxiu” ou outra qualquer do género. Calças de fato pretas ou cinzentas, curtas de baínha, que deixam ver as meias com padrões aberrantes. Sapatos que apesar de novos parecem ter pelo menos dois anos e que têm uma capacidade quase magnética de atrair a lama quando chove. O cinto tem uma fivela rectangular com um símbolo semelhante ao da “City Chain” no centro. Já cheguei a ver na China pacotes (sim, pacotes) que incluíem estes adereços pela módica quantia de 99 RMBs. É mais que moda. É o “chassis” do chinês moderno, com bom gosto.

Têm uma unha mais comprida que as outras, um penteado irrepreensivelmente aborrecido, que não fica a dever nada à imaginação. Tem um tufo de cabelo a sair da face que dizem ser “para dar sorte”. Passeia-se pelos supermercados manuseando garrafas de azeite italiano ou vinho português com um ar de que sabe exactamente do que se trata. Compra garrafas caríssimas de conhaque “Rémy Martin” ou de whisky de malte, que lhe causam imenso desprazer físico mas que lhe dão “estatuto”. Come no “Vong Chi Kei” e paga o que for preciso para saborear a “cozinha ocidental”, que se resume normalmente a uma posta de bacalhau salgadíssima na “Vencedora” ou aos pastéis de ovo da Margaret.

As fêmeas com que se fazem acompanhar – normalmente mais novas que eles – trajam quase sempre de preto. Têm cabelo liso e apanhado, usam vestidos curtos e sem mangas, sapatos abertos. Invadem as lojas da Sasa e gastam pequenas fortunas em perfumes de marcas que desconhecem e que em alguns casos nem experimentaram. Chegam a lojas de sapatos e antes de sequer dizer “boa tarde” apressam-se a descalçar os presuntos e a testar o que lhes vem à mão (ou ao pé), e muitas vezes saiem sem comprar nada. As mais velhas vêm normalmente em “tour” com a família e andam de casino em casino a segurar uma bandeirinha. Voltam para a China Continental carregados de caixas de batatas fritas da Lay’s (cuidado com as imitações) e convencidas que viram Macau.

Os turistas de Hong Kong são outra espécie curiosa. Mais cuidadosos no trato e na aparência, são facilmente identificáveis por andarem na rua de mapa na mão com um ar perdido, em vez de perguntar as direcções (eu por exemplo onde quer que vá gosto de perguntar, nem que seja para comunicar com a população local). Tiram fotografias de tudo: das igrejas, das casas, da comida, das pedras da calçada, de tudo. Têm o irritante hábito de aparecer nas fotos a fazer o sinal de vitória com os dedos, típico de quem não sabe o que fazer com as mãos. Os mais jovens vêm “à descoberta”, como quem sai da cidade (Hong Kong) e vem fazer turismo rural (a Macau). São imediatamente reconhecidos pela população local, que os despreza.

Mas como bons hóspedes que somos, é quase “noblesse oblige” tratar estes turistas com simpatia. São eles o espelho da nossa economia de sucesso. Macau welcomes you. E temos tanta porcaria para despachar daqui para fora.

Publicada em Leocardo

Americans stay home


Os cidadãos americanos de Macau e Hong Kong foram avisados na Quinta-Feira para "serem cautelosos" durante a passagem da tocha olímpica por estes dois territórios entre os dias 1 e 3 de Maio. O Consulado Geral dos Estados Unidos da América em Hong Kong emitiu este comunicado a propósito do Dia do Trabalhador em Macau, marcado no passado por violentos confrontos. "Os cidadãos americanos têm de ser cautelosos, pois o conflito pode surgir quando menos se espera, e têm de seguir as notícias para se manterem informados sobre as áreas ou situações mais problemáticas", diz o comunicado. Scott McKay, americano residente em Hong Kong considera este anúncio "estranho", e considera que é "ridículo que tenha que haver um aviso".

Almada-1 Negreiros-0


Um dia, há muitos anos, um repórter pedia a um cidadão o prognóstico para o Totobola daquela semana. O cidadão, revoltado, retorquiu: "Totobola? Neste país só se fala de futebol. E a cultura?". Surpreendido, o repórter perguntou então: "Tudo bem. Então o que pensa de Almada Negreiros?". O cidadão respondeu depois de pensar um pouco: "Vai ser um jogo difícil, mas o Almada ganha".

I Like Chopin


Uma música ideal para uma tarde domingueira aborrecida como esta. São os Gazebo e o seu maior (único?) sucesso, I Like Chopin.

sábado, 26 de abril de 2008

Um grande equívoco


Está patente na Escola Portuguesa de Macau uma exposição fotográfica sobre o 25 de Abril, onde um grupo de alunos do 1º ano (penso eu) recria através de fotografias a preto e branco uma sala de aula dos anos 60, onde segundo eles reinava a censura e o terror. As fotografias têm legendas da autoria dos alunos, onde se lê, por exemplo, que naquele tempo "a professora mandava nos alunos", que "batia com a régua" (usam uma colher de pau para esse efeito), que "não se brincava na sala de aula", que "tinham que aprender a matéria de cor", "os professores faziam tudo o que o Salazar mandava" e provavelmente a pior de todas, "os livros da escola agora são mais giros".

Penso que aqui deve haver um tremendo equívoco. Não sei quem teve esta lamentável ideia, ou que tipo de orgulho sádico teve em explicar aos meninos que o ensino de hoje é de alguma forma melhor do que se praticava há 40 anos, ou de que os pobres professores de então pactuavam com o regime. Se há algo que Abril mudou para pior foi o ensino, que julgando pelo actual estado de coisas, mais valia ter mesmo ficado pela cartilha maternal ou a rígida disciplina que se mantinha na sala de aula.

Quando se acha mau "a professora mandar nos alunos" ou não se poder "brincar na sala de aula", é quase como dizer que a Patrícia da Escola Carolina Michaelis é uma pobre vítima, e se berrou com a professora para que lhe desse o telemóvel enquanto a puxava e tentava arrancar-lhe o aparelho das mãos, estava a "revoltar-se contra a opressora". E quem meteu na cabeça destas crianças que os professores faziam "tudo o que o Salazar mandava"? Sinceramente penso que o presidente do Conselho tinha mais em mãos que vistoriar pessoalmente tudo o que os professores faziam.

De facto os professores "batiam com a régua", e isso é deveras censurável. Mas pensar que isso foi um problema da ditadura ou dos anos 60 é errado. Frequentei o ensino básico entre 1979 e 1983 e nesse tempo os professores ainda aplicavam castigos corporais. Não que eu tivesse alguma vez sentido isso na pele, mas muitos dos meus colegas levavam reguadas e tabefes de fazer enrubescer as suas pristinas faces. Terá sido provavelmente em meados dos anos 80 que os professores deixaram de bater, não sei precisar.

"Aprender a matéria de cor" é bastante mau, sem dúvida. Mas não penso que a actual geração de cabecinhas (pouco) pensadoras seja mais inteligente ou detenha uma maior capacidade intelectual que naquele tempo. Aliás, basta trocar dois dedos de conversa com um adolescente ou pré-adolescente que não seja nosso filho (esses somos obrigados a aturar) para que se sintam naúseas. Não sabem nada de História, Geografia ou cultura geral. Os que sabem são postos a um canto e rotulados de maluquinhos. Ia-me esquecendo: os que tiram boas notas...decoraram.

Quanto aos livros, bem, não sei se perdi aqui alguma geração dourada dos livros da escola Primária, mas os de hoje e do meu tempo são uma autêntica cagada, cheios de temas fúteis, e que ensinam lições de moral rasca que me fazem pensar se afinal os miúdos andam a ser preparados para a vida real, ou para a vida de faz de conta dos autores daqueles verborreicos textos. Isso mesmo, os antigos livros da Escola Primária eram de longe melhores, ensinavam lições práticas e úteis, adequadas a crianças daquela idade. Acreditem nos velhotes, aí eles têm razão. Os de agora são mais giros,se calhar. Da mesma forma que um cão a caçar a própria cauda é giro.

Quando os mais velhos dizem que no tempo deles aprendiam tudo em 4 anos e depois iam trabalhar, isto pode parecer saudosista e até pretencioso, mas não fica muito longe da verdade. Que aprendiam os rios, as serras, a aritmética, a moral, sim, isso tudo é a mais pura das verdades. A escola era então uma instituição acarinhada, com um significado quase sagrado. O professor era um mestre, um poço de sabedoria. Era um sistema quase confuciano, de respeito mútuo, regras e distâncias estabelecidas. Hoje é uma bandalheira.

Se o objectivo era ensinar às criancinhas que o 25 de Abril foi um dia em que se alcançou "a liberdade", a educação não é nem de longe nem de perto o melhor exemplo. Podiam pegar na censura, nos presos políticos, ensinar como as pessoas nesse tempo não podiam dizer ou escrever o que pensavam, que existia um sistema de delação, uma Guerra agastante que mandava os jovens portugueses para um combate sem sentido, um país isolado mergulhado num marasmo e atraso funcional, enfim, mil e uma coisas. Mas a educação, por favor, não.

Leituras


- Começa a ser um vício ler às quartas-feiras os deliciosos artigos de Ana Cristina Alves no Hoje Macau. Esta semana a especialista em assunto sínicos fala-nos dos Chineses e os mortos.

- Pinto Fernandes diz-nos como se calhar a questão da tocha olímpica será apenas um problema de nome, em O Facho e a Tocha.

- Nuno Lima Bastos foi atacado por um cobarde, que sem a devida coragem para o enfrentar na cara, e convencido que vivemos em algum estado de sítio, fez queixinhas e tentou prejudicá-lo profissionalmente. Leia mais em O Cobarde.

- Saiba ainda no JTM como foram as comemorações do 25 de Abril em Macau. Um trabalho de Vítor Quintã.

- Ainda no rescaldo das eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas, Pedro Daniel Oliveira faz uma análise interessante n'O Clarim, em Conselho das Comunidades Portuguesas e CPLP são fracassos políticos.

Bom fim de semana!

Suicídios no Japão


Uma jovem japonesa de 14 anos suicidou-se na quinta-feira em Konan, sul do Japão, ao misturar detergente da roupa com um produto de limpeza, produzindo sulfato de hidrogénio. Os gases inalados mataram de imediato a jovem e provocaram nauseas a 90 vizinhos, que tiveram que receber tratamento hospitalar. Também ontem um homem de 31 anos suicidou-se nos arredores de Tóquio, trancando-se no seu carro e misturando detergente com sais de banho. Há notícias de uma outra morte semelhante em Nagoya, onde uma mulher de 41 anos se terá suicidado ao misturar sabão em pó com um desinfectante de sanitas. Este ano no Japão terão acontecido cerca de 30 suicídios com detergente. O gás emitido pelo sulfato de hidrogénio é incolor e produz um odor semelhante a um ovo podre, e pode levar à morte por sufocação quando inalado. Grandes químicos, estes japoneses...

Telhado para as mãozinhas


Uma ideia absoultamente revolucionária do Banco Comercial de Macau (BCM), que equipou as suas caixas ATM com esta pequena cobertura de metal, para que os fregueses possam digitar o código pessoal protegidos dos olhares alheios.

Loja de Saupaveis


Será que estes "saupaveis" também estão a tirar o curso de Estudos Portugueses na UMAC?

Tocha na Austrália


A tocha de todas as polémicas passou na Quinta-Feira pela Austrália. Em Camberra manifestantes pró-Pequim desfilavam atrás da bandeira chinesa, enquanto uma manifestante pró-Tibete era detida.

Tá bem abelha...


Este poster soviete diz-nos para "construír como se fosse para nós mesmos". Vamos ao trabalho, portanto.

25 de Abril sempre


Neste 25 de Abril Herman José fala-nos das diferenças entre o antigo regime e o actual estado de coisas. Fala-nos ainda da polémica da Depuralina, do Festival da Canção e vai à Foz onde nos diz que tinha uma namorada. Ganda mentiroso.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Uma carta de Abril


Não percas tempo aprende que o sol já lá vem.
Vá não demores aprende que a hora é de tu assumires o comando.


José Mário Branco, “A Mãe”

Passam hoje 34 anos desde que o Movimento das Forças Armadas (MFA) blah blah blah de madrugada blah blah blah. Já se sabe. Os leitores deste blogue são pessoas informadas e inteligentes que não se deixam dormir depois de três quatro linhas de prosa. O que sempre me deprimiu são aqueles programazecos assim do tipo “Lentes de Contacto” que saiem para a rua e perguntam a adolescentes e pré-adolescentes o que foi o 25 de Abril. A maioria responde “não sei” (quando às vezes queria era dizer “não me chateie”), alguns do tipo intelectual e menino bem que começam a debitar o que aprenderam nos livros, e ainda outros que respondem “é Feriado”.

Das discussões de elevadíssimo caril filosófico (eu sei que é cariz, mas gosto mais de caril) que tenho com o colega R., brotou uma ideia. Será que daqui a 50 anos ainda se comemora o 25/4? Será que os tugas acomodados do futuro vão dar importância à data? Será que continuará a ser feriado? É uma questão pertinente, pois cada vez mais se assistem a manifestações de desagrado com o presente, de forte componente saudosista. Já se sabe; são os velhotes que lembram como um pão custava quinze tostões, ou de como se comprava não sei o quê com 20 paus, ou a pior de todas, de como havia “respeito”.

Depois há o revisionismo histérico (já sei, histórico), de que o 25 de Abril foi “ilegítimo”, de que as nacionalizações foram “ilegais”, de que o PREC foi “uma tragédia”. Ah pois foi, mas de pequenas tragédias dessas é feita a nossa História, a reconquista, as descobertas, a República, o Estado Novo, a Guerra Colonial, enfim, só desgraças. Eu por acaso até gosto de olhar para as imagens da revolução e do PREC. Malta gadelhuda, calças de flanela e boca de sino, mulheres sem soutien, tudo a preto e branco num estilo muito kitsch.

Por acaso o argumento de que o 25 de Abril foi mau colhe bastante entre muita malta nova que por aí anda. Perdoai-lhes Buda que eles não sabem o que dizem. Quiçá são algum tipo de masoquistas que gostam da opressão, da censura e da Guerra. Que não tiveram nenhum familiar preso em Caxias ou Peniche (ou tiveram e não querem saber) e que nem fazem ideia do medo com que o cidadão médio vivia, nem do clientelismo que vigorava na sociedade. Como já disse aqui inúmeras vezes não partilho os ideais de esquerda, e Diabos me levem se iamos sair de uma ditadura para cair noutra. Mas o que foi alcançado neste dia foi mais do que qualquer conquista ideológica, foi uma porta que se abriu, e que só o nosso fatalismo lusitano impediu que se fosse mais longe.

Mas os extremos por vezes tocam-se. Já alguns esquerdistas badamecos têm muito a mania de atirar aquela pergunta em tom inquisitório: “onde estava no 25 de Abril?” (estou a falar de si, meu caro BB!), como se daí dependesse qualquer tipo de posicionamento democrático ou anti-democrático. O actual presidente da República, Prof. Cavaco Silva, foi criticado em alguns quartéis por ter dito que ficou em casa, pois os seus meninos “eram muito pequeninos”. Eu sinceramente não me lembro bem onde estava nesse dia. Provavelmente dormi muitas horas, mamei, babei-me e borrei algumas fraldas. Eram umas fraldas reaccionárias, aquelas.

Os artistas convidados a orar no 25/4 recordam sempre aquele dia como se pertencesse a um Portugal distante, obscuro. Nos primeiros anos ainda tinham um ar mais sério, mais grave, usavam termos como “luta de classes”, “camaradas” ou “pequena burguesia”. Falavam para um plateia composta por indivíduos carrancudos, de bigode e casaco de ganga. Hoje aparece lá a esquerda conhaque, que ri dos tiques revolucionários de outrora (e até abana a cabeça em tom reprovatório enquanto ri, estilo Jorge Coelho), e se calhar até pensam “como foi possível?”. Éramos mesmo uns “ganda” malucos.

Em Macau o Dia de Cravos bateu com pouca força. É uma sociedade muito conservadora que se pela pelos santinhos, missas e procissões. Talvez seja por isso que alguma da beatada da metrópole se deu tão bem com os ares de cá. Talvez por isso não compreendam que afinal é o povo quem mais ordenha (ordena, bolas!). As actividades do 25/4 resumem-se ao feriado no Consulado, da Escola Portuguesa, e ao protocolo da praxe. Sempre presentes estão os habituais papa-eventos, que vão lá seja qual for o orador. Seja o Manuel Alegre, o Adelino Gomes ou o Major Tomé, alto lá que a fila da frente é do sôtor.

Ainda ontem na EPM realizou-se um mini-concerto pelos alunos do 1º ciclo em que se cantaram as costumeiras canções abrilistas. O “Grândola Vila Morena” e por aí fora. Já enjoam, sinceramente. Nem quero saber se o “Grândola” é o hino do 25/4, como disse muito bem a Paula Balonas. Começa a ficar parecido como “Atirei o pau ao gato”, das vezes que é repetido entre as crianças. E que tal ensinar aos jovens as canções do Zé Mário Branco? Ou mesmo outros tema do Zeca, também menos politicamente correctos mais com igual verve revolucionária, assim do tipo “Traz outro amigo também” ou “O que faz falta”.

Na Segunda-Feira foi convidado no programa Câmara Clara o José Barata Moura, filósofo e um dos baladeiros daquele tempo, mais conhecido pelas músicas infantis de que foi autor, como “Joana come a papa” ou “Fungagá da Bicharada”. A certa altura Paula Moura Pinheiro perguntava-lhe em tom inquisitório porque é que carregava as canções de mensagens políticas. Gostei da resposta de JBM, mas principalmente da ideia de que é preciso deixar de tratar as crianças como se fossem atrasadinhos mentais e largar o conceito de que uma canção infantil tem de ser sobre um animal giro ou algum conceito torpe.

Pessoalmente penso que a lição de Abril, mais que as suas bases ideológicas, era uma lição que até podia ser ensinada sem se perder na conjuntura própria dos anos 70. Procurar uma analogia entre o que se passa hoje e aquilo que Abril nos ensinou. É preciso demonstrar mais que nunca que o todo faz a força, e de que parar é morrer. Não são preciso mais revoluções, nacionalizações ou qualquer tipo de radicalismos. Basta um pouquinho de vontade. Ah mas ainda bem que temos pelo menos um dia para nos lembrarmos que na volta, ainda vem alguém com coragem para bater o pé…

Nota: como podem observar, este foi um dia dedicado ao 25 de Abril neste blogue. A habitual rubrica das sextas-feiras Leituras será publicada amanhã, bem como a restante programação.

A cantiga é uma arma


A Revolução dos Cravos foi também uma revolução musical. Partiu-se do bafiento nacional cançonetismo que tinha o seu expoente máximo no fado e no Festival da Canção, e ídolos como Simone de Oliveira, Amália Rodrigues ou António Calvário, e surgiu a chamada música de intervenção, com fortes influências francesas mas com uma raíz bem portuguesa. Foi o tempo dos baladeiros e dos cantores populares como Zeca Afonso, José Mário Branco, Luís Cilia, Tonicha, Padre Fanhais, Pedro Barroso, José Barata Moura, Fausto, Vitorino e muitos outros. Mesmo os cantores "alinhados" da nova geração, como Paulo de Carvalho, Fernando Tordo e Carlos Mendes cantavam temas de teor revolucionário e de poetas como José Carlos Ary dos Santos ou Manuel Alegre. Onde outrora se vivia na a clandestinidade, com discos gravados em segredo ou no estrangeiro, passava-se a uma prolífica produção musical, com um disco ou novos hinos praticamente todos os dias. A cantiga é uma arma, e eles ficaram a saber.

Aprile 25



Hoje celebra-se em Itália o Dia da Libertação, que marca o fim do Fascismo. Em 25 de Abril de 1945 o exército nazi retirava-se do norte de Itália devido a uma insurreição da resistência italiana. Parabéns aos camaradas italianos.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Manifestantes recuam


Uma grande parte da população terá ficado satisfeita com as medidas tomadas pelo Executvo, anunciadas por Edmund Ho na passada terça-feira, ao ponto de algumas associações terem desistido de participar na manifestação do próximo dia 1 de Maio. Em causa está a distribuição de cinco mil patacas pela população de modo a tenuar os efeitos da inflação. Quem o diz é o deputado do Novo Macau Democrático, Ng Kwok Cheong, que mantem no entanto reservas em relação aos efeitos da medida.

O líder do NMD reafirma que a sua associação não vai organizar os protestos do dia 1 de Maio, mas apoia qualquer residente ou associação que queira participar dos protestos. Ng afirma que há outras frentes que vão aproveitar o feriado da próxima quinta-feira para manifestar o seu descontentamento pelas políticas do Governo. Mesmo que não haja manifestação, Ng Kwok Cheong assegura que vai haver uma reunião aberta no Jardim do Iao Hon. Veja a reportagem da TDM aqui.

Mais que nunca


O preço do arroz ultrapassou a barreira psicológica dos 1000 dólares por tonelada. O arroz é a base da alimentação de 1/4 da população da Terra, e a sua falta significa que mais cem milhões de pessoas podem vir a passar fome. Sei que o contributo é pequeno, mas por favor ajude os mais necessitados com o link na sua direita, e apoie o projecto FreeRice, em que pode doar grãos daquele precioso alimento, ao mesmo tempo pode melhorar o seu vocabulário de inglês. Se quiser pode munir-se de um dicionário, e prometo que se vai divertir. Só ontem foram doados 243,885,100 grãos de arroz. Obrigado.

Medidas bem recebidas


Os investidores consideraram positivas as medidas apresentadas Terça-Feira pelo Chefe do Executivo de Macau para travar o crescimento do sector jogo. As acções das principais concessionárias do jogo registaram subidas no mercado bolsista.

Edmund Ho anunciou que não vão ser feitos mais aterros para a construção de novos casinos, ou mais slot machines ou mesas de jogo num futuro próximo.

Os analistas concordam que as medidas são um incentivo aos jogadores, pois reforçam a margem de lucro dos casinos já existentes, a maior preocupação do mercado. Alguns dos casinos já não têm dificuldades em conter os custos, devido à galopante inflação que se regista na região.

Morgan Stanley afirmou que as medidas são positivas para os operadores existentes: "O Governo já aprovou a maioria das obras já anunciadas pelas concessionárias, como as Wynn's Diamond Suites e o projecto da MGM no Cotai, que vão continuar a desenvolver-se."

Edmund Ho afirmou também que Macau vai ser mais rigoroso com os angariadores de jogo, que recrutam jogadores para as mesas VIP e cobram comissões.

As acções da A-max Holdings registou ontem uma subida de 17.9%, enquanto a Melco Internacional subiu 5.49%.

O analista Enoch Fung, da Goldman Sachs, chamou mais uma vez a atenção para a necessidade de Macau em diversificar a sua economia. "Concentrar toda uma economia no jogo, e todos os problemas sociais que daí advêm, tem de ser uma preocupação do Governo", disse.

Existem no território 4311 mesas jogo, dez vezes mais desde a transferência de soberania. O Governo recebeu este ano 10.1 mil milhões de patacas em impostos do jogo.

Como fazer um blogue de sucesso


Este é um post antigo, de Outubro de 2006, do blogue Arcebispo de Cantuária, que ensina eficazmente "como fazer um blogue de sucesso". Achei engraçado e resolvi partilhar, com a devida vénia.

Nos dias que correm, este poderia (e se calhar deveria) ser o titulo de um pequeno livro muito engraçado que haveria à venda nas estações dos C.T.T. e no Continente, mas infelizmente agora não tenho tempo porque estou ali a ver se chove para apanhar a roupa.

Por isso, fica aqui, tão à borla como as chamadas ao fim de semana entre as 3 e as 5 da manhã para familiares com mais de 93 anos da PT, o guia para fazer um belogue de sucesso.

1 – O Titulo

Tem que ser pomposo, surreal, idiota mesmo, que não queira dizer absolutamente nada e não dê a minima ideia do tema blogado. Mas tem que soar bem, tipo:

A Ratazana de Eça de Queirós
http://aratazanadeecadequeroz.blogspot.com

O Meu Telefone Não Toca
http://omeutelefonenaotoca.blogspot.com

A Doninha Amorosa
http://doninhaamorosa.blogs.sapo.pt

Eu e a Minha Bisavó
http://eueaminhabisavo.blog.pt

etc.

2 – O Sub-Titulo

Espécie de lema, máxima, do belogue ou filosofia de vida do beloguista. Tal como o titulo, deve ser totalmente absurdo, sem qualquer relação ao titulo e, acima de tudo, incompreensivel.

Fica bem colocar uma citação, desde que seja de autor de quem nunca ninguém tenha ouvido falar excepto o beloguista, caso em que a citação pode perfeitamente ser inventada. Esta forma dá um ar erudito ao belogue desde que mantenha a condição de não significafr absolutamente nada nem ser possuidor de qualque relevância.

Exemplos:

We have no more beginnings. {George Steiner}
http://origemdasespecies.blogspot.com/

...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ...(Sá de Miranda)
http://abrupto.blogspot.com/

3 – Os Links

É fácil: é ir ao topes dos belogues mais visitados, copiar os links destes e por no nosso. Convém ter muitos para parecer que realmente nos interessamos pelo que os outros escrevem e até lemos 523 belogues por dia, só para ser cultos, embora isso na realidade demore uma semana (só para ler, se for para perceber... guarde para Agosto)

4 – Os Postes

Aquilo que se escreve ou copia e posteriormente de publica, ou posta, é a parte menos importante do belogue. Pode nunca se chegar a dizer seja o que for, desde que se ponha lá qualquer coisa todos os dias (postar só de vez em quando está reservado ao estatuto de “mito”, ver http://gatofedorento.blogspot.com/), citando muita gente, fazendo muitas referências (de preferência incluir abundantes menções a jornais e revistas estrangeiros), tudo cheio de links, que podem ser apenas palavras em Bold porque ninguém vai verificar.

Algo neste estilo:

16.10.2006

Do Uganda leio no imprescindivel Daily Monitor do meu amigo Mamadou Dhera curioso artigo sobre corrupção. A mercer a nossa atenção.

De vez em quando, tentar colocar piadinhas:

15.10.2006

O Governo entregou o Orçamento de Estado numa PEN com um erro, falta-lhe um A. É que o Orçamento de Estado dá PENA!

Ou mesmo optar pelo estilo absolutamente minimalista:

Ortega.Sandinistas.(Via O Insurgente e Tomar Partido)
© FJV 10/17/2006

E pronto! 4 simples passos e aí temos um belogue pronto para o sucesso. Ah! esqueci-me de um requisito essencial: conhecer alguém famoso ou mesmo um jornalista que fale sobre o seu belogue. Depois, este começará a ser por sua vez adicionado às listas do outros belogues de sucesso, estilo HerbaLife. Dizem que alimenta o ego, mas eu não caio nessas tangas.

A vitória do socialismo


Um poster albanês dos anos 70, que reclama a vitória do socialismo sobre o capitalismo.

Caravan of love


Não sei porquê, mas apeteceu-me este êxito de 1986 dos Housemartins, a banda de Hull, de onde saíram os Beautiful South e o mega sucesso Fatboy Slim. Se calhar o que faz falta é algum "love".

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Eu sou de Macau, e você?


O Governo anunciou ontem um pacote de medidas, que passam por amenizar os efeitos da inflação através da atribuição do tal subsídio de 5000 patacas a cada residente permanente, e 3000 para cada residente não permanente, subsídios para os residentes com dificuldades em pagar as rendas e que esperam habitação social, e (mais) medidas de incentivo à mão de obra local. Anunciou ainda que não vão ser feitos mais aterros e que o número dos casinos se manterá nos 29.

A primeira medida, a tal que em termos leigos significa que o Governo vai dar 5 mil patacas “a cada um”, foi recebida com alguma surpresa e relativo agrado. O pior foi o chorrilho de disparates que passei o dia a ouvir a esse respeito. Que é pouco, não chega, os tais dois mil milhões deviam ser usados nisto e naquilo (como se dois mil milhões aparecessem aí todos os dias prontinhos a ser gastos), que fulano e outrano não merece, e por aí fora. É assim, quem acha que não precisa – e são mais as vozes que as nozes – existe um leque muito vasto de caridades a que pode oferecer o dinheiro.

Aquilo é que foi a ouvir os economistas de ocasião a fazer contas aos dois mil milhões; todos tinham as mais mirabolantes ideias de como podia ser utilizado "em vez de" distribuir pela população. Alguns defendiam que devia ir para os velhos, outros para a educação, ou para o Fundo de Segurança Social, enfim, em muitos casos cada um puxava a brasa à sua sardinha. Uma das ideias mais engraçadas passava por "distribuir pela população mais carenciada". Oh oh. Conhecendo Macau, lá iam os vigaristas, viciados e outros parasitas apinhar-se à porta das Finanças a tentar passar a perna ao Zé.

Sabemos muito bem que as cinco mil patacas não vão resolver todos os males. Há quem fale da necessidade do Hospital público, de medidas mais efectivas no combate a inflação, enfim, de soluções para os males de que o território padece. As cinco mil são, no entanto, uma mudança bem vinda ao estado de coisas que vigorava até ontem, ou seja, muita parra, pouca uva. E que alternativa melhor? Ter o chefe do Executivo a falar pelos cotovelos de medidas para a resolução de problemas que de por muitos boas e sensatas que sejam se perdem nos corredores do poder?

A intenção deste subsídio é de atenuar os efeitos da inflação. Ou seja, para quem gastou mais dinheiro nestes últimos meses, pode assim vê-lo recuperado. A atribuição deste subsídio não significa que o Governo vai lavar as mãos e dar por resolvidas todas as contendas. Para nós, cidadãos informados e conscientes da profundidade dos problemas sociais de Macau este lai si de cinco mil até pode parecer "uma piada" ou o Governo "a atirar areia para os olhos". Para os agregados familiares de quatro, cinco ou mais pessoas que têm de sobreviver com dez mil patacas por mês é quase como uma miragem no deserto.

Pode ser que estas medidas sejam uma forma que o Executivo encontrou de colocar alguma água na fervura. Os problemas não são de ontem, e este anúncio chega a pouco mais de uma semana do início de Maio, que é, como se sabe, o período do ano em que a contestação sobe de tom e sai à rua, e a um ano do final do segundo mandato de Edmund Ho. Congratulo-me no entanto que tenham chegado, e já diz o povo e muito bem, mais vale tarde que nunca. O que é mais curioso é como tantas vozes que andam tanto tempo silenciadas se levantam exactamente no momento em que são apresentadas soluções para os problemas.

O que mais que angustia é a passividade e o pessimismo crónico; o tal “Macau sã assi”, que no linguajar maquista até pode ser engraçado, mas que na maioria dos outros casos toma contornos trágico-cómicos. Tudo o que se resolve fazer “está certo”, e o melhor é não levantar ondas. Exprimentem falar do caso Ao Man Long em voz alta. À mera menção do nome do ex-secretário caído em desgraça, reparem na quantidade de pessoas que começam a olhar para um lado e para o outro com um ar assustado a dizer “chiu”. Até parece que a Stasi alemã está à espreita.

Nem o mais elementar respeito pela Lei Básica colhe entre os conformistas de trazer por casa. Os direitos à greve, ao sindicalismo, à manifestação são todos um facto, mas com um “mas” que os aniquila antes que brotem da fértil terra da mini-constituição que gere a vida e os destinos da RAEM. E sempre com o mesmo argumento careta: a China quer assim. Lamento desiludir os curvadinhos do reino, mas a China não quer nada disto. As gentes de Macau são cidadãos da RPC, e como tal a última coisa que a RPC quer é ver os seus cidadãos infelizes ou deprimidos, enquanto outros há que enriquecem às custas do erário que afinal é de todos.

Não basta acreditar no princípio de “um país, dois sistemas” só quando nos dá jeito. É preciso acreditar no “elevado grau de autonomia”, que se por acaso não é maior, é porque ainda muito há para aprender. Se por vezes o Governo Central emana ocasionalmente “recomendações” é porque se preocupa sinceramente, e mal de nós do dia em que o deixe de fazer da forma diplomática como o tem feito até hoje. Os cidadãos devem manifestar-se e apresentar as suas preocupações e ambições, e para isso não é necessário que saíam para as ruas a partir tudo ou que se expressem no tal programa das manhãs do canal chinês da Rádio Macau, que tem uma agenda política que tresanda.

Basta olhar para o exemplo de Hong Kong para perceber que aqui deve ter havido um erro de casting qualquer. Imaginem o que seria de Hong Kong, um território que enchia de orgulho o império britânico, que lhe chamava a sua "jóia da coroa”, com o dinheiro do jogo. Nem precisavam de construír os casinos no centro; podiam muito bem mandá-los para os New Territories ou Lantau. Se dizem que Hong Kong “morre de inveja” de Macau por causa do jogo, eu morro de inveja da cultura democrática do território vizinho, e sobretudo da capacidade crítica da sua população.

O que faz falta neste último ano deste Executivo – que vai ficar para a História, nem que seja por ter sido o primeiro – é criar condições para que o Executivo que se segue encontre a casa arrumada, que possa partir de um ponto positivo e assegure o cumprimento das necessidades mais básicas da sociedade. E ao próximo Executivo cabe aproveitar as lições válidas destes últimos nove anos, e aprender com os erros que foram cometidos. Agora não vale a pena pedir desculpas por este ou por aquele caso particular. Só não erra quem não faz.

E a nós, que somos cidadãos residentes de Macau, não nos basta ser críticos quando a obra está feita. Ideias precisam-se. É mais fácil falar do que podia ser feito quando a obra nasceu. Não estão contentes com as cinco mil patacas? Podia ter sido feito algo mais? O quê? Digam sem medos, mas enquanto ainda pode ser feito. E cabe-nos sobretudo a nós, comunidade portuguesa, democratas por excelência (e como sempre nos lembramos disso) deixar de lado o que se passa lá no longínquo Sai Iong e começar a dar o nosso contributo, a levar a sério a nossa presença nesta terra, que em muitos dos casos já se prolonga há décadas. Eu sou de Macau, e você?

Ficam avisados


A pré-candidata democrata às eleições americanas, Hillary Clinton, disse ontem no programa Good Morning America da ABC que os Estados Unidos "têm capacidade para obliterar o Irão", e que "atacaria o Irão se fosse presidente", caso o país dos Ayatollahs insista na ideia de "destruir o estado de Israel". Ficam avisados, portanto.

Os nossos amiguinhos de Taiwan


Neste poster de propaganda chinesa de 1955 podemos ler: "Tios do Exército de Libertação Popular, salvem depressa os nossos amiguinhos que sofrem em Taiwan". Quem diria...

Windows Travel


Neste Dia do Livro, Manuel Marques ensina como escrever crónicas de viagens...sem sair de casa! A ver.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Que futuro?


Está na ordem do dia a redução da idade da imputabilidade criminal para os 14 anos. Os adolescentes desta idade vão ter a partir de agora de responder por crimes violentos e não só; outros como o atentado ao património na forma de fogo posto ou tráfico de droga são contemplados nesta autêntica revolução legislativa.

Para o fazer o Governo socorreu-se de sondagens. Um inquérito feito a 1202 residentes, ou seja, 0.2% da população. Deste grupo de iluminados, 90% concorda que jovens maiores de 14 anos possam ser responsabilizados pelos crimes violentos, ou seja, homicídio, violação ou ofensas graves à integridade física. Dos inquiridos, 70% defendem que as penalizações sejam alargadas aos crimes de tráfico de droga ou fogo posto.

Não sei quem são estes inquiridos, o seu escalão etário, as suas habilitações literárias ou o seu estrato social, mas concerteza para eles “está tudo bem”, desde que não lhes toque a um dos seus familiares; filhos, netos ou irmão, pois aí o caso já muda de figura. Já diziam os antigos “quem não sente não é filho de boa gente”, e o que importa é manter os malandrins atrás das grades, independente da sua idade.

Isto é visto para muitos como uma panaceia para todos os males da sociedade. Em Macau, cidade do jogo onde as associações de malfeitores convivem de perto com o resto da população, alguns destes jovens são, em vez de vítimas, os cúmplices. É do conhecimento geral que alguns destes putos são mais perigosos que muitos criminosos. Aos 14 ou 15 anos andam armados, praticam actos indecentes na via pública ou dizem palavrões no autocarro.

É vê-los por aí caídos aos cantos, drogados, sem poderem usufruír da “vida espectacular sem drogas”, como diz o anúncio. Leio na imprensa de hoje que uma certa senhora, profissional da Educação, considera esta proposta de lei “adequada às exigências da sociedade”, que “contribui para a harmonia” e dá mesmo exemplos recentes, como o dos jovens que imolaram um gato ou os menores de 16 anos que consomem drogas. Queimaram o chano e apanharam uma moca? Prisão, já.

Para os casos de tráfico de droga, a situação pode mesmo tomar contornos surrealistas. Imagine-se um jovem de 14 anos apanhado na posse de uma quantidade considerável de estupefacientes. A moldura penal é de 8 a 12 anos. Isto significa que este jovem pode vir, aos 25 anos, a passar quase metade da sua vida na prisão. Isto é reabilitação? É isto correccional? Há quem ache que sim, e que disponha de estudos, inquéritos, estatísticas e argumentos. Mas eu duvido.

Mas no fim a quem interessa isto da imputabilidade? Aos senhores do crime, que usam jovens normalmente oriundos de famílias problemáticas, e que os iludem com promessas de grandeza, glória e dinheiro fácil, e que recrutam nas casa de jogos electrónicos, esses autênticos antros de vício. Vão poder deixar de usar jovens de 14 anos para concretizar os seus maléficos intentos? Começam a usar os de 13. Daí muda outra vez a lei, usam os de 11, até ao dia em que temos isto transformado num autêntico circo.

Mas e os jovens, afinal sabem ou não o que fazem? Hoje em dia estão cada vez mais espertos, o raio dos miúdos. Mas no caso particular do crime, cada caso é um caso, e lembro-me das doutas palavras do Dr. Jorge Neto Valente a esse respeito: “há maiores de 18 anos que não sabem o que fazem”. É um facto que há muitos jovens com discernimento para distinguir o mal do bem, mas no submundo com que convivem desde tenra idade, isso importa?

Se a sociedade encontrou nesta medida uma forma de dissuadir a criminalidade violenta entre os jovens, então tudo bem, mas se a prisão é uma forma de corrigir os comportamentos delinquentes, então tudo o que tem sido escrito, dito e feito a respeito da psicologia juvenil dos últimos anos está errado. E no caso de Macau está tragicamente errado.

Tai Chung Pou e Hoje Macau juntam forças


O suplemento em português do Tai Chung Pou suspende hoje a sua publicação, no actual formato, para retomar o contacto diário com os seus leitores, numa edição conjunta com o jornal Hoje Macau, a partir do dia 1 de Maio.

Recordamos que o “Tai Chung Pou em Português” surgiu nas bancas, integrado na edição diária do jornal em língua chinesa Tai Chung Pou, no dia 10 de Setembro de 2007. A nossa filosofia editorial tem apontado no sentido de oferecermos ao público de língua portuguesa uma leitura complementar dos jornais já existentes e não tentarmos competir com essas publicações. Como é conhecido, temos privilegiado nas nossas páginas o intercâmbio com a Cidade e as pessoas que a compõem, do ponto de vista humano, social e cultural, indo bem além da mera agenda política.

Surge pois como natural que tenha sido aproveitada a oportunidade entretanto surgida de o Suplemento passar a integrar um dos jornais previamente existentes, tornando assim o seu conteúdo mais acessível. Fica deste modo resolvida uma dificuldade com que nos debatíamos desde o primeiro número e que dizia respeito à distribuição.

Em termos editoriais, as administrações do Hoje Macau e do nosso Suplemento acordaram em continuar a oferecer aos leitores o mesmo tipo de conteúdos que cada uma das publicações tem disponibilizado, só que, a partir do próximo mês, os mesmos ficarão reunidos num mesmo jornal.

O Hoje Macau, que se publica desde Setembro de 2001 (na linha do jornal Macau Hoje, fundado em 1990, que o precedeu), é um dos pilares do jornalismo que se pratica na RAEM, sendo conhecida a forma como tem defendido, na prática, a liberdade de opinião e a objectividade da informação, apresentando aos leitores a realidade nas suas mais diversas facetas.

Cremos pois que a iniciativa será bem recebida pelos leitores de ambas as publicações e, desde já, marcamos encontro, a partir de 1 de Maio, sob o título Hoje Macau.


O coordenador do suplemento em Português do Tai Chung Pou, Luís Ortet

Vinte mil


Não, não vou falar outra vez das vinte mil lecas extra que vão entrar no orçamento familiar graças ao nosso benemérito Governo, mas sim do número de visitas. Isso mesmo, em menos de cinco meses o vosso Bairro do Oriente atingiu as 20.000 visitas. Só para que se tenha uma ideia da importância deste pastel, o outro blogue deste vosso servo demorou mais de um ano a atingir essa marca! Obrigado a todos que fizeram isto possível e não se esqueçam, mi casa es su casa. Um grande abraço a todos!