terça-feira, 30 de setembro de 2014
Negros hábitos
Jesus he loves me.
Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão.
Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!
Isaías 10:01-02
Quando olho para o currículo do padre Tolentino Mendonça, teólogo, escritor e poeta premiado, e ainda por cima um jovem, tendo em conta que falamos da Igreja, estranho ser a mesma pessoa que aquando da sua visita a Macau na semana passada na condição de vice-reitor da Universidade Católica questionou as habilitações do professor Eric Sautedé, afastado em Julho num caso de saneamento político que percorreu toda a imprensa local, muita estrangeira, e colocou em causa os pressupostos da liberdade de imprensa em Macau. Este é um tipo de publicidade que a Universidade de S. José, afiliada da UC portuguesa não precisa de todo, depois de no passado a Universidade ter sido acusada de facilitismo na atribuição de cursos superiores, suspeitas confirmadas pelos reitor e vice-reitor da instituição superior de ensino, Rúben Cabral e Ivo Carneiro de Sousa, entretanto demissionários.
A entrada da Univ. Católica e dos padrecos na gestão da USJ veio trazer um maior grau de credibilidade (não sei porquê...), mas até prova em contrário, a demissão de Eric Sautedé deveu-se a comentários políticos "incómodos". Claro que aqui por "incómodos" entenda-se que desagradar ao governo da RAEM não fica bem quando este tão generosamente aceitou ceder um lote de terreno na Ilha Verde para construír o "campus" da USJ. Tolentino diz que Stilwell garantiu que as habilitações foram a razão e este acreditou. Stilwell deve ter transmitido o recado directamente de Deus, portanto. Sautedé defende-se na edição de hoje do Macau Daily Times,mas para quê, se é que mais que evidente que nesta missa só os bons cordeirinhos têm lugar?
domingo, 28 de setembro de 2014
O pecado mora ao lado
Foi um fim de semana a ferro e fogo em Hong Kong, com confrontos em várias zonas do centro da RAEHK. De um lado dos protestos estava o movimento Occupy Central, que assim entrou efectivamente em marcha sete meses depois de ter anunciado os seus planos de ocupar o centro financeiro de Hong Kong; mais de um milhar de activistas pernoitaram em Causeway Bay, deitados na estrada, e outros 3000 bloquearam os acessos a Mong Kong, chegando alguns deles a erguer barricadas. De outro lado estavam os estudantes, que iniciaram no dia 22 um boicote as aulas que já anunciaram que vão continuar pelo menos mais esta semana. O conhecido estudante e activista Joshua Wong foi detido durante 40 horas sem acusacao formada e eventualmente libertado ontem pelas 22 horas após ordem do Tribunal Supremo da RAEHK. Dois membros do LEGCO, Emily Lau e Albert Ho estiveram também sob custódia da policia, que fez um total de 78 detenções, além de se terem contado 38 feridos depois das autoridades terem recorrido ao uso da força, com bastões e gás lacrimogenio. As autoridades justificaram o uso da força pelo facto de "a manifestação não ter sido autorizada, os manifestantes levarem conduta desordeira, entrando sem autorização em espaços comerciais e edifícios públicos, molestando funcionários e impedindo a polícia de fazer o seu trabalho". Numa altura em que se fala em greve geral, o Chefe do Executivo C.Y. Leung veio desmentir rumores de uma eventual intervenção do Exército de Libertação Popular, por ordem do Governo Central. É possível que Pequim não queira intervir agora, mas não significa que não o possa fazer mais tarde. Seja como for, a razão pela qual a situação não ficou ainda resolvida nada tem a ver com o sufrágio universal, e ainda menos com a insolência dos manifestantes. Desde quando é que "evitar um banho de sangue" foi preocupação para Pequim? Além disso, já que o mundo inteiro está de olhos na situação em Hong Kong e o presidente de Taiwan veio dizer que "não lhe interessa o segundo sistema" (nunca interessou realmente, mas agora é uma boa altura para vir dizê-lo), mais um banho de sangue ou menos um tanto faz.
Eu gostava de tomar aqui um partido, mas infelizmente não posso. De um lado temos o governo da RAEHK, que fez promessas que sabia de antemão que nao podia cumprir e com isso tudo o que conseguiu foi algum tempo, e do outro lado o sector democrata, cujo extremar de posições os leva agora a entrar num braço-de-ferro que nunca poderá ganhar. Mas estes são dois adversarios que lutam a beira de um precipício, tentando empurrar o outro ou pelo menos cair com ele, caso tenha que cair. Antes de elaborar mais a esse respeito, ha três pontos que gostaria de deixar bem claros:
Primeiro: desobediência civil é um crime, não é nenhuma brincadeira ou a forma ideal de demonstrar descontentamento - longe disso. Este conceito de desobediência civil foi primeiro definido pelo escritor norte-americano Henry David Thoreau, que era abolicionista, e como tal propôs esta "resistência a um governo civil" como medida para esse fim, ou seja, a libertação dos escravos. O seu ensaio a esse respeito inspirou outros como Gandhi, na luta pela criacção e soberania de um estado indiano, ou ainda Martin Luther King e Nelson Mandela nas suas lutas contra o fim da segregação racial nos EUA e na África do Sul. Pesem agora isto na balança com as reivindicações dos activistas em Hong Kong e ponderem se tal coisa se justifica. É que caso a desobediencia civil fosse prática corrente, tolerada e não reprimida exemplarmente e assim desencorajada viviamos na anarquia total, e cada vez que um grupo de três ou quatro individuos tivessem uma exigência qualquer podiam ir ao extremo de cometer actos que colocavam em risco todos os outros. Primeiro ponto.
Segundo: os agentes da autoridade, ou a polícia, são pessoas como nós, e com toda a certeza preferiam ficar em casa ou cumprir o turno a multar os donos dos cachorros que deixam os cocós no parque do que a carregar sobre as outras pessoas com bastões e gás lacrimogenio. Atenção que nao estou a dizer com isto que aprovo a actuação da polícia de Hong Kong nestes dois dias, pois nunca poderia aprovar o uso de meios violentos sobre pessoas desarmadas, mas lembrem-se que estavam a cumprir ordens, e não me venham agora dizer que "deviam desobedecer" também. Quem me tem seguido desde o início, desde o anterior blogue "Leocardo", deve recordar-se da foto reportagem que fiz da manifestação do 1 de Maio de 2007, de triste memória. Estive na altura no "olho do furacão" e assisti da parte das autoridades a um excesso de zelo que não se justificava de todo. Eram pouco mais de 1500, se tanto, os manifestantes que passaram da Av. Tamagnini Barbosa até ao Mercado Vermelho na altura em que o tal agente disparou os cinco tiros para o ar, a uns dez metros do local onde eu me encontrava, e ao contrário do que a polícia revelou (ou daquilo que estava a espera) os provocadores que supostamente se tinham infiltrado na manifestação nao eram tantos assim, e estavam a "guardar-se" para a chegada do grupo ao Patane, o que como se sabe nunca viria a acontecer. Na altura andei a responder durante semanas na secção de comentarios aos apologistas do "porrada nos gajos que e o que eles merecem". Se isto aqui foi assim, imaginem estes dias em Hong Kong, e imaginem-se ainda no lugar das pessoas que se encontravam nos edifícios que os manifestantes tomaram de assalto. Certamente que no momento em que eles começassem a partir tudo o que encontrassem pela frente não iam querer que os polícias lhes pedissem para parar com modos, pois não? Segundo ponto.
Terceiro: Paralisar o centro financeiro de Hong Kong tem implicações nos mercados, e significa a perda de avultadas somas de capital de que a RAEHK precisa como ar para respirar, uma vez que ali não há petróleo nem casinos. Depois isto levara inevitavelmente à perda de confiança dos investidores, ao encerramento de empresas, à perda de milhares de postos de trabalho, e há mesmo pessoas que antecipando um cenário menos dantesco já falam em emigrar. Já tinha deixado neste post de 2 de Julho último a minha opinião sobre o que considero ter sido uma grande falta do Governo Central, ao ter deixado a execução do principio "um pais, dois sistemas" nas mãos de pessoas que não entendiam nada de política. Sendo esta uma empreitada sobretudo política, foi um erro deixar no mesmo ringue dirigentes sem tacto e uma oposição experiente, bem organizada e com um segundo sistema que lhes permite "esticar" até onde quiserem enquanto que na China não lhes era dada sequer a ponta da corda. Mas a pergunta que se impõe e esta: estas pessoas querem o bem de Hong Kong? Será mesmo necessário arruinar financeiramente o território em nome de uma exigência que sabem de antemão ser difícil de ver atendida, pois a China e um regime totalitário e eles são parte integrante do seu território, e estão perfeitamente conscientes disso? E é com esta interrogação que fecho o terceiro ponto e sigo para o essencial.
É perfeitamente legítimo, recomendável em termos de futuro até, ambicionar a uma maior abertura democrática por parte da China, mas se Pequim se mostra tantas vezes relutante a grandes progressos nesse sentido, tem as suas razões. Fica difícil acreditar que tiram algum gozo da forma quase obsessiva como controlam ou querem controlar tudo, ou como desconfiam daquilo que aparenta ser inofensivo. O que está aqui em jogo é o próprio poder, que na China, muito por culpa da sua dimensão, heterogeneidade e dispersão populacional, a juntar uma massiva população migrante que acaba por se tornar impossivel de controlar. Nos últimos cem anos o poder esteve primeiro nas mãos dos nacionalistas, a seguir os comunistas tomaram-no e a partir de então inverteram-se os papés, e o partido único sabe disso muito bem: o inimigo nao lhes fez uma vénia ao retirar-se do combate. Mao teve a visão para "fechar para balanço" e assim arrumar a casa, consolidando o poder do partido e já agora o seu próprio poder, só que veio a concentrar-se de tal forma neste último que deixou os outros dois inacabados aquando da sua morte. O país tinha ficado num estado lastimoso depois de Mao, e ao seu sucessor Deng Xiaoping não restou senão uma fuga para para a frente, pegando nas migalhas que o seu antecessor deixou, ou seja, os contactos com o presidente norte-americano Nixon, e apostou na abertura económica, usando sobretudo o seu potencial humano como chamariz para chamar as potências ocidentais a investir.
E tudo corria bem nos primeiros anos, com a meta dos oito pontos percentuais de crescimento por ano da economia a serem cumpridos e ultrapassados, e ainda como estímulo negociava com sucesso o retorno de Hong Kong e Macau à mãe pátria. Com a economia a crescer e o orgulho nacional em alta, poucos esperavam pelo duro golpe que se daria em 1989, com o massacre de Tiananmen. O movimento estudantil que ocupou durante dois meses o centro de Pequim não era um produto do acaso: eram "eles", e muitas devem ter sido as noites em que o fantasma de Mao perturbava o sono de Deng repetindo incessantemente: "eu avisei, eu tinha razão". Posso estar apenas a dar um colorido extra ao conto, mas a verdade é que para travar o avanço do movimento Deng virou-se para os alunos de Mao, a ala conservadora do partido, fechou os reformadores na dispensa e foi sentir o pulso ao exército. A prioridade era que o regime não caísse, e depois da "cosmética" Deng tentaria encontrar um jeito de minimizar os danos, pois já era tarde para voltar atrás e fechar novamente a China para tentar arrancar as ervas daninhas. Deng teve sucesso em convencer os seus homólogos estrangeiros que provavelmente aquela foi a solução menos má para todos. No entanto tinha ficado o aviso, e Tiananmen foi como que um "cartão amarelo", passando a referência daquilo que a China não pode fazer caso queira continuar a jogar ao lado das grandes potências, e de quando em vez o "inimigo" aproveita para provocar, e espera um momento de fraqueza para atacar.
E é isso que está a acontecer hoje; vinte e cinco anos depois o local não e Tiananmen em Pequim mas Central District em Hong Kong e o mobil não é a politica mas sim a economia. Há 25 anos o momento de fraqueza foi a queda da cortina de ferro, que culminou com o fim do bloco socialista do leste europeu, e agora podem ser vários motivos, desde as disputas internas no partido aos sucessivos escândalos de corrupção que envolveram altos dirigentes do partido, e que levaram o presidente Xi Jingping a iniciar uma campanha de combate a esse flagelo que começava a desacreditar o partido. Só que isto deixou-o entre a espada e a parede, pois se por um lado agrada ao povo ver serem aplicados castigos a corruptos que em alguns casos tinham fortunas surrealistas, alguns deles com verdadeiras grutas de Ali Babá em casa, por outro lado isto deixou muita gente irritada; é que por cada cem milhões de yuan que um destes dirigentes recebe, há outro tanto que é distribuído por intermediários, às vezes centenas deles. Quando Bo Xilai foi detido, Xi Jinping não arranjou apenas um inimigo, mas muitos opositores. Seja qual for a causa pela qual o regime abanou (e ainda abana), a verdade é que tem estado bastante reservado, discreto, não exercendo a habitual dureza que exercia em certas situações - anda "à coca".
Quanto aos "outros", eles estão aí, e isso é uma das poucas certezas, e o que querem é o poder. É possível que entre eles existam pessoas com ideiais democráticos válidos, mas sejamos realistas: na China nunca poderia funcionar um sistema multipartidário; num país onde um ajuntamento de mais de cinco pessoas é considerado ilegal, uma vez que fosse dada essa liberdade apareciam milhões de partidos, e para que se desenvolva uma consciência política do nada demora décadas - quando os americanos apregoam que a China devia ter uma democracia parlamentar representativa só podem estar a gozar. Faz parte do topo da lista do livro "como irritar a China". Além do mais ninguém ia andar atrás do poder tantos anos para depois prestar-se a dividi-lo voluntariamente, ainda mais tratando-se da China, onde nunca na sua história jamais alguém em circunstância alguma aceitou dividir o poder. Actualmente o Partido Comunista e a sua influência estão tão enraízados que a queda do regime implicaria certamente tudo de diferente do que há agora, e isso abre uma caixa de Pandora com consequências imprevisíveis, mas que com toda a certeza levaria a anos de crise e indefinação, e isso não seria bom nem para a China, nem para Hong Kong, nem para nós, em Macau. E é nesta corda bamba em forma de rastilho de dinamite que vamos fazendo equilibrismo.
Veni, vidi, vídeo
Tenho o prazer de anunciar que todos os vídeos feitos por mim estão agora na minha conta da rede social Facebook. Desde os mais rudimentares de 2008 a 2011, altura em que ainda estava sob anonimato, até aos vídeos das séries "Depilações" e "Macalhau Espiritual", passando por outros onde aparece a minha pessoa - sim, já sei que não sou nada de especial mas não consegui contactar o Orlando Bloom a tempo de desempenhar o meu papel - estão lá todos os "bonecos" que mexem. E assim são cerca de 30 vídeos, que finalmente tive tempo de partilhar e guardar (e assim também fico com mais espaço no disco rígido), e espero ter adquirido o bom hábito de continuar a fazê-lo à medida que vão aparecendo vídeos novos. Como a minha vida é um livro aberto e não tenho nada a esconder, toda a gente é livre de ver, partilhar, comentar, etc. os vídeos. Já agora quem é leitor e seguidor do blogue, tem conta no Facebook e não fez ainda pedido de amizade, está à vontade para o fazer, aceitarei com todo o gosto, e para vos tornar a vida mais fácil deixo aqui o link e tudo: https://www.facebook.com/leocardo.emmacau. Aí está. Obrigado e voltem sempre.
Leocardo
Carreiro, o barbeiro
Não tenho por hábito fazer publicidade de serviços, marcas e produtos (se for para falar mal sim, o meu "génio do mal" criativo entra em acção), mas quando o faço é bom sinal, pois parte de uma ideia ou iniciativa que pelo menos à partida parecem-me muito boas. Assim sendo, é com muito gosto que anuncio que em breve teremos em Macau um barbeiro - ou cabeleireiro, se preferirem, pois as mulheres (quase todas) não têm barba - unissexo, e "em português". Dou ênfase a este detalhe do "em português" pois parece que ultimamente a comunidade portuguesa tem começado a investir em Macau como forma de criar aqui raízes, e parece estar ultrapassado o complexo "histórico" que levou muita gente a acreditar que bastava ser português para receber um tratamento especial. Ora já não é assim, paciência, o passado está lá atrás, toca a olhar para o futuro. No passado era normalmente na restauração que a nossa comunidade investia, pois era mais fácil, e beneficiava sempre do facto de ser uma área respeitada em termos turísticos, mas ultimamente tivemos a inauguração de uma padaria, e agora temos um barbeiro a quem dá para pedir exactamente o que se quer sem recurso a tradução e sem dar azo a mal-entendidos. E já agora, uma vez que o Rui Carreiro corta e molda cabelos, espero que não se tenha importado com o meu corte e molde da sua imagem e da imagem da sua marca - e garanto que ele tem muito mais jeito com os cabelos do que eu com as imagens, mesmo nunca tendo ele cortado a minha gadelha.
E vai ser aqui que o Rui Carreiro vai dar as "tesouradas", na Calçada da Rocha, que se não estou em erro fica algures da Calçada das Verdades, não muito longe do centro - diria que na latitude entre o Consulado Geral de Portugal e a Rua das Mariazinhas mas para cima, como quem vai para a Fortaleza do Monte. Certamente que o Rui Carreiro vai fazer a adequada promoção do local, e deverá ter entre a clientela uma grande fatia da nossa comunidade, dos portugueses, e não só - mas julgo que só com os portugueses (e portuguesas, lógico) já se safava. É que o Rui Carreiro já não é nenhum estranho, apesar de ser um jovem (mais jovem que eu, creio) e de não estar por cá há muito tempo, mas tempo suficiente para se dar a conhecer: trabalhou como estilista em alguns "shows", nomeadamente no "Dancing Water" do COD, e tem contribuído para várias iniciativas organizados pela Casa de Portugal, além de ter participado como actor na peça dos Doçi Papiaçam di Macau "Aqui tem diabo", em 2012. Falei pessoalmente com ele uma vez apenas, e apesar de eu não ser uma pessoa que se deixe levar pelas primeiras impressões, para o bem e para o mal, achei que o Rui é uma pessoa encantadora e tem uma particularidade especial: é um "diabo" micaelense, dos Açores, e tem aquele sotaque e tudo! "Mô fôn", ahah! Eu peço-lhe é que me perdoe se não me vir no seu salão muitas vezes, pois para mim isto de cortar a trufa é enfadonho, detesto esperar, e para mim o barbeiro ideal é 1) o que ficar mais perto de casa e 2) estiver vazio. Mesmo assim espero poder dar lá um pulo e espreitar a loja do Rui. E boa sorte para ele, claro, se bem que é de sorte que ele menos precisa. Um abraço!
E vão dez!
A selecção de hóquei em patins de Macau sagrou-se pela décima vez (sexta consecutiva) campeã asiática da modalidade, na cidade chinesa de Hainin. A equipa de Alberto Lisboa tinha pela frente as selecções do Japão, India e Taiwan, que era considerado o adversário mais complicado. De facto a equipa da Formosa chegou à final, mas a selecção levaria a melhor por números que não deixam dúvidas: 13-3. Mais um título, e volta a repetir-se a história de sempre, pois a selecção tem poucos apoios, e continuam a faltar locais onde treinar. Segundo Alberto Lisboa este foi o asiático para o qual a equipa foi menos bem preparada. Aparentemente para a Ásia continua a ser suficiente, mas desta forma os atletas da única modalidade na RAEM que ganha títulos continentais e participa em competições não pode ter aspirações a chegar mais longe. Mas pronto, vamos continuar a pensar nesse problema a partir de amanhã, pois hoje o dia é para comemorar mais um título. Parabéns ao hóquei em patins de Macau.
Premier League - 6ª jornada
Oito das dez partidas da Premier League realizaram-se ontem, Sábado, com dois "derbies", e o primeiro deles a ser disputado em Anfield Road entre o Liverpool e o Everton, e que terminaria empatado a uma bola. A equipa de Brendan Rodgers, que está a ter um início de época desapontante esteve perto de conseguir o triunfo, com um golo de Steven Gerrard aos 65 minutos, só que no segundo minuto dos descontos os "toffees" obtinham a igualdade através de Phiel Jagielka, defesa internacional inglês.
Em Stamford Bridge mais uma vitória para o Chelsea, e em ritmo de samba, com 3-0 sobre o Aston Villa. Três golos brasileiros, ou quase, deram aos londrinos mais três pontos - Oscar marcou o primeiro aos 7 minutos, Diego Costa, que é brasileiro mas naturalizado espanhol fez o segundo aos 59, e Willian fechou a contagem vinte minutos depois. A equipa de José Mourinho lidera com mais três pontos que o sensacional Southampton, que ontem venceu em casa o Queen's Park Rangers por 2-1.
O Manchester City regressou às vitórias ao vencer fora o Hull City por 4-2, num jogo em que a equipa da casa deu boa réplica. Os campeões entraram em grande estilo, e Sergio Agüero inaugurou o marcador aos sete minutos, para Edin Džeko fazer o segundo quatro minutos depois. O Hull não baixou os braços e voltou à carga, chegando ao empate ainda antes do intervalo. O ex-portista Eliaquim Mangala deu uma ajuda, ao apontar um auto-golo aos 21 minutos, e aos 32 Abel Hernandez fazia de "penalty" o empate. Na etapa complementar Džeko voltou ao marcar aos 68, para a três minutos do fim o veterano Frank Lampard confirmar a vitória do City. A outra equipa de Manchester, o United, a vencer em casa o West Ham por 2-1, naquela que foi apenas a segunda vitória da equipa de Louis Van Gaal em seis jogos.
Finalmente o "derby" londrino, o clássico entre o Arsenal e o Tottenham, que terminou empatado a uma bola. Os visitantes chegaram à vantagem aos 56 minutos pelo belga de origem marroquina Nacer Chadli, mas o Arsenal chegaria ao empate por Oxlade-Chamberlain aos 74, um resultado que deixa as duas equipas mais longe do líder Chelsea. Noutras partidas de Sábado desta sexta jornada o Crystal Palace bateu o Leicester City por 2-0 e entrou nos dez primeiros, enquanto o Sunderland fazia o seu quinto empate em seis jogos, depois de um nulo frente ao Swansea no Stadium of Light. A jornada completa-se hoje com os jogos West Bromwich-Burnley e Stoke City-Newcastle. Classificação dos dez primeiros.
1 Chelsea 6 16
2 Southampton 6 13
3 Manchester City 6 11
4 Arsenal 6 10
5 Swansea City 6 10
6 Aston Villa 6 10
7 Manchester United 6 8
8 Tottenham Hotspur 6 8
9 Crystal Palace 6 8
10 Leicester City 6 8
Barça super, Real normal
Também em Espanha os grandes anteciparam os seus jogos no campeonato com vista aos encontros da Liga dos Campeões na terça e na quarta-feira. O Real Madrid jogou primeiro, e bateu o Villarreal por 2-0 no El Madrigal, com ambos os golos apontados no primeiro tempo. O croata Luca Modric marcou aos 33, e sete minutos depois foi Cristiano Ronaldo a assinar o seu 10º golo no campeonato, e também o seu décimo em seis dias. O Real Madrid ocupa o 5º lugar com 12 pontos, menos 4 que o líder Barcelona.
Barcelona esse que recebeu e goleou o Granada por 6-0, com três golos do brasileiro Neymar e dois de Lionel Messi. Os catalães lideram com 16 pontos,17 golos marcados e zero sofridos, e parece ter feito bem à equipa a entrada do treinador Luis Enrique. Entretanto o At. Madrid isolou-se no 2º lugar a dois pontos do líder ao golear no Vicente Calderón o Sevilha por 4-0, naquela que foi a primeira derrota dos andaluzes.
Benfica à medida na Medideira
O Benfica reforçou a liderança da Liga ZON Sagres ao vencer ontem à noite na Medideira o Estoril por 3-2, uma vitória que acabaria por se tornar difícil quando tudo parecia fácil. Isto porque os "canarinhos" entraram muito mal e deram dois golos de vantagem ao Benfica, com o brasileiro Talisca a marcar aos 3 e aos 8 minutos. O jogador de 20 anos contratado ao Bahia esta temporada igualou o portista Jackson Martínez na liderança da lista dos melhores marcadores com 5 golos, juntando os dois de ontem aos três apontados em Setúbal na 4ª jornada. O Estoril reagiu, e antes do intervalo Diogo Amado fazia o 1-2, para os 53 o brasileiro Kleber fazer o empate. Contrariedade para a equipa de José Couceiro quando aos 66 minutos o médio argentino Matias Cabrera é expulso por acumulação de amarelos, e em superioridade numérica o Benfica "matou" o jogo, com Lima a apontar o terceiro golo aos 70 minutos. Com esta vitória a equipa de Jorge Jesus aumenta a vantagem para 4 pontos sobre o FC Porto e seis sobre o Sporting.
sábado, 27 de setembro de 2014
Amordedeus? Quebram-se-lhe os dentes
Sem muito tempo para actualizar o blogue devido a afazeres pessoais, ao mesmo tempo que preparava a edição do 2º episódio de "Macalhau Espiritual", que espero apresentar ainda antes da hora de almoço de Domingo. Enquanto isso deixo-vos com o artigo de quinta-feira do Hoje Macau. Continuação de um bom fim-de-semana.
O Homem Invisível foi uma péssima invenção
Vive à custa do meu mal e não tem nada de bom para dar
Embora, às vezes, ele faça aliciantes promessas
Nenhuma delas até hoje me conseguiu acalmar
Jorge Palma, O Homem Invisível
Uma das notícias da semana foram as declarações do matemático e cosmologista Stephen Hawking, que depois de 72 anos de vida e cinquenta deles sofrendo de esclerose motora amiotrófica, decidiu que “não acredita em Deus”. Ora essa, depois de tantas provas, como é possível não acreditar? Esperem, não é bem assim, é o contrário, Deus não pode possivelmente existir, com tanto mal que tem vindo ao mundo. Ou isso, ou está a perder a guerra com o Seu arqui-inimigo Satanás, vulgo “o Diabo”, que apesar de não se manifestar tanto ou ter obras erguidas em seu nome, ficou com aquela má fama de que “quer instituir o reino do mal”. Má publicidade é melhor que nenhuma publicidade, e aqui o Senhor das Trevas tem o mesmo potencial da China (pelo menos até há três ou quatro anos): ninguém gosta dele, acusam-no das maiores barbaridades, mas na hora de se sentar à mesa e falar de negócios, é tudo uma questão de “pontos de vista”.
Se Hawking era crente antes desta brilhante conclusão (até as crianças com anos de catequese duvidam da existência de Deus mal Lhe pedem qualquer coisa e Ele não dá), pode-se dizer que é um resistente, pois na condição em que se encontra não há fé nem paciência que aguentem. Acreditar que ter o aspecto do fantoche de um qualquer ventríloquo faz parte de um “grande plano” dá logo vontade de perguntar: desculpem lá, mas se isto era um “plano” e o meu “papel” é este, bem me podiam ter consultado, não acham? Mas esperem lá, que Deus é assim um bocado como as agências de seguros, e deixa sempre letras miudinhas no fim de todos os contratos – ou acrescenta-as. Portanto a lógica é a seguinte: se algo de bom acontece, é “graças a Deus”, e se é mau, “paciência”. Este ou esta “paciência” deve ser um dos diabretes estagiários do demo, o/a maroto/a.
É sempre chato quando se perde um aliado de peso como Stephen Hawking, um homem inteligente, um dos pesos pesados da elite pensadora. É fácil angariar crentes entre a gente mais humilde e menos escolarizada; há fanáticos que incomodam os demais crentes “porque são doentes mentais, coitados”, e há de entre os que blasfemam “os alcoólicos, coitados”. São todos tão “coitados” que Deus terá misericórdia das suas almas quando estiverem a sofrer dores lancinantes mergulhados na lava dos infernos. Os “crentes”, gente de bem, sim senhor, porque tem “fé” esse antídoto da ciência, ficam de peito inchado sempre que alguém “que estudou” acredita também na tese da existência de Deus, de um Criador, e isso é quanto baste para invalidar qualquer alegação de outro que tenha também queimado muita pestana mas que não acredite em Deus – é parvo e tirou o dia para os chatear, enfim.
Os chineses chamam a Deus “神”, ou “san”, assim unicamente, mas para O distinguir do seu panteão politeísta usam “一神教” (“yat san gau”), literalmente “um só Deus”, referindo-se à religiões abraâmicas, o judaísmo cristianismo e o islamismo. Simpática, esta tolerância por parte dos chineses com os que acreditam num único Deus, e como troco levam o nome de “pagão”, que tem assim uma conotação com “selvagem”. Abraão é o tipo que detém os direitos de autor do tal “Deus” da Tora, da Bíblia e do Alcorão, o que nos leva a pensar que mensagem tão difusa é esta que nos quis passar, e que levou a tanto conflito entre estes três principais entrepostos da Sua adoração. Se calhar é adeptos da porrada, a que depois assiste lá em cima através da “Sky Sports”. Perdão, da “Heaven Sports”.
Quem não acredita em Deus, ou que nega a Sua existência é chamado de “ateu”. Ouvi esta palavra pela primeira vez quando tinha os meus seis ou sete anos, e o meu limitado vocabulário da altura fez-me associar esta palavra que não conhecia a outra que me era mais familiar: “atum”. Foi aí que filosofei pela primeira vez, questionando se a negação do divino implicava a transformação num peixe escombrídeo de carne aveludada e apetitosa, mas cheguei à conclusão que sim, que isso era bem possível, e até prova em contrário abdiquei das latas de Bom Petisco e de Atum General com que fazia as sandes que levava para a praia.
Acreditar em Deus, ser “crente”, é muito mais fácil do que ser “atum”, perdão, “ateu”, pois tudo tem a sua explicação. A minha avózinha, por exemplo, dizia-me que se eu me portasse mal, “Deus castigava”. Isto deixou-me um pouco de pé atrás com Deus, pois não entendia como alguém que supostamente criou o Universo e todo o resto se importasse com um fedelho se sete anos que surrupiasse umas bolachas às escondidas. Cada vez que fazia uma daquelas birras próprias da idade, e pedia qualquer coisa à minha avó dizendo no fim “…pelo amor de Deus”, como que apelando à sua costela católica, ela respondia: “quem morde em Deus quebra-se-lhe os dentes”. Isto deixou-me profundamente baralhado, pois já conhecia a outra máxima “Deus dá nozes a quem não tem dentes”, o que me levou a especular sobre a possibilidade de ao não dar nozes a quem tem dentes, estes desprovidos de nozes fossem tentar morder em quem os privou delas. Profundo, muito profundo.
Mas a cartilha do crente tem todas as soluções, e há duas fórmulas mágicas e os seus derivados que servem a a todos: o teísmo, que nos diz que concerteza, Deus existe e anda normalmente chateado com tudo e mais alguma coisa, e exige que O adoremos com muita força, indo à missa todos os domingos, cumprindo os jejuns e participando de todas as procissões, e o deísmo que diz que tudo bem, Ele existe, está lá mas prefere não ser incomodado, e portanto não há problema se em vez de ir à missa se opte por ficar na cama a cozer a bebedeira do Sábado ou antes ir ver os jogos dos juvenis ou dos iniciados do clube da terra. E se existem exemplos de uma crueldade ser cometida por Deus? Ah isso é no Antigo Testamento, portanto não conta. Foi durante o “lost weekend” de Deus.
Sporting e Porto em onda de empates
Sporting e FC Porto mantiveram ontem a invencibilidade na Liga Sagres ao empatarem a uma bola no Estádio Alvalade XXI, em jogo antecipado da 6ª jornada. Os leões entraram com garra a marcaram logo no segundo minuto por Jonathan Silva, um jovem argentino de 20 anos contratado aos Estudiantes esta época. Começou bem a equipa de Marco Silva, mas o Porto não se intimidou e veio à procura do empate, que chegaria aos 56 minutos com um autogolo do defesa francês Mahammadou Sarr, outra contratação para 2014/2015. Foi o terceiro empate consecutivo dos dragões para o campeonato, e o quarto empate para o Sporting. Caso o Benfica vença esta noite no Estoril fica com mais quatro e seis pontos sobre os seus rivais, respectivamente.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Cachorrada
Na edição de quinta-feira do Hoje Macau, Loi Man Keong traça um retrato nada positivo da Administração Pública na RAEM, dando destaque ao facto de existir cada vez mais sobreposição de funções e excesso de departamentos. Vinda esta opinião de alguém que faz parte do Conselho Consultivo da Reforma para a Administração Pública, só pode ser verdade - e é grave, também. É lógico que estando numa posição crítica, o também vice-presidente do Centro de Política Colectiva nunca poderia fazer nada sozinho, mesmo que tenha a solução, ou o princípio da solução em mãos. E para dizer a verdade, todos têm a sua opinião muito própria sobre a forma de gerir uma empresa, ou no caso dos mais humildes pelo menos uma sugestão, mas o problema é sempre o mesmo: se eu tenho razão, porque é que sempre alguém que discorda? Deve ser essa coisa nova que chama "pluralidade", ou diferença de opiniões. Na Administração, este "pluralidade", ou diversidade, é ampliada à enésima potência, e entre os que têm umas ideias que se aproveitam mas falam para as paredes e os completamente alienados que sabe-se lá como são ouvidos (e "mandam") há um pouco de tudo, e infelizmente mais do último exemplo do que do primeiro.
Para se falar da Administração com conhecimento de causa é preciso estar dentro da Administração, ou ter lá estado alguns anos. As comparações com o tempo dos portugueses, até 1999, seriam inevitáveis, caso não fossem fúteis: é verdade que inicialmente se tentou mudar alguma coisa, melhorar a eficácia, investir em equipamento, renovar quadros, implementar novas ideias, eliminar alguns vícios antigos. Terá sido apenas uma forma que encontraram de mostrar serviço, de se apresentar com um grande potencial de competência, mas desde logo no lugar dos antigos vícios apareceram novos, e os velhos regressariam com uma nova roupagem. Uma das maiores críticas feitas à anterior administração tinha sido o excesso de funcionários e de departamentos, o que era entendido como uma forma dos portugueses acomodarem familiares e amigos - não há que negar, aconteceu, de facto. Depois de 2000 a situação não só se manteve como piorou radicalmente, e se antes as coisas eram feitas mais discretamente, pois era difícil ir pesquisar a origem de alguém que chegava ao território oriundo de um local que ficava a milhares de quilómetros de distância. Agora chega-se ao ponto de apresentar um novo funcionário como o marido/filho/namorada/amiga de alguém do mesmo departamento ou de outro da mesma direcção. Realisticamente, em Macau, as únicas perspectivas de carreira estão nos casinos e na administração, e para quem não se acha talhado para a primeira e tem "cunha", a segunda é opção, e se há falta de vagas abre-se mais uma, e onde comem 337 bem podem comer 519.
A Administração que tomou posse após a transferência de soberania inovou, em certos aspectos, funcionou bem na maioria dos casos, e depois acomodou-se, estagnou, e agora só à custa de arrancá-la do sítio é que se pode esperar algo de novo e positivo - é como uma cárie. O principal problema reside na própria cultura local, a chinesa, e sem querer desfazer dessa particularidade, existem dois defeitos com influência na funcionalidade em geral, além do já referido acomodamento, há o medo de assumir responsabilidades, e ambos advêm do mesmo conceito: o da "face". Não é preciso vir um Loi Man Keong para nos dizer que algo está mal, e que o exemplo parte logo de cima. Ninguém imaginava com toda a certeza que ao fim de 15 anos de RAEM teríamos três dos cinco secretários com que se iniciou o percurso a 20 de Dezembro de 1999. O problema aqui é que sendo este cargo apenas excedido pelo do Chefe do Executivo, e qualquer mudança implicaria necessariamente ou aposentação do titular do cargo, a sua despromoção, ou algo pior - dos dois restantes secretários um foi para Chefe do Executivo e o outro é Ao Man Leong, e aí está o exemplo do melhor e do pior dos mundos. Torna-se impossível assim implementar a medida da rotatividade ou da alternância de poderes, pois qualquer saída, mesmo que bem intencionada, será sempre tomada como um sinal de fraqueza por parte de quem é substituído, ou um saneamento. Caso a saída aconteça por motivos alheios ao dirigente, arranja-se um lugar num cargo equivalente, mesmo que as funções sejam completamente díspares das anteriores, e se necessário "inventa-se" um departamento - não supreendente portanto que a máquina administrativa esteja tão "gorda".
Permanecer demasiado tempo num cargo de chefia tem as suas implicações em matéria de gestão dos recursos, tanto materiais, como humanos. Nesta área do globo tão propensa a consolidações do poder a receios de perder esse poder, usam-se e abusam-se de "manobras de distração": estabelece-se um sistema de delação, promovem-se não-oficialmente um ou dois "testas de ferro", mantêm-se os mais competentes (afinal o trabalho precisa de ser feito de algum jeito) e dá-se-lhes algumas regalias ao mesmo tempo que se lhes mostra preferência por outros menos úteis, segue-se de perto que tem iniciativa, apresenta sugestões ou questiona ordens directas, e mal este erre, multiplica-se o erro por 200 na escala da gravidade, faz-se uma cara de caso e diz-se que o tipo "pôs em risco o funcionamento da repartição" e fica logo posto de parte. Qualquer ousadia depende bastante do vínculo laboral, e mesmo que se pense que os funcionários do quadro têm mais margem de manobra, nem isso é definitivo, tal é a profundidade a que o carbúnculo penetrou no sistema. Para manter este estado de coma basta recorrer à classificação de serviço, aos bónus por desempenho, e basicamente é como pescar peixe num barril, uma vez que os recursos hierárquicos são um desperdício de tempo, e possivelmente um dos poucos casos de "trabalho de equipa" digno desse nome - não por uma questão de cooperação, mas mais de mutualismo forçado: hoje limpo a tua barra porque pode ser que amanhã tu limpes a minha.
O medo de errar leva a que não se faça, ou que se evite fazer mais do que o minimamente essencial, e isto tem uma razão de ser. Um exemplo prático: dois funcionários que respondem a ofícios, e ao fim do dia um deles respondeu a dois ofícios, e sem cometer qualquer erro, enquanto o outro respondeu a dez, mas num deles existe uma falha qualquer, mesmo sem importância, uma gralha ou uma mera omissão. O primeiro é considerado "exemplar", o outro "distraído", e cai logo nele um "olho gordo", fica marcado. Se no dia seguinte o "exemplar" vai no terceiro ofício, e o outro, exercendo cautelas redobradas, ainda está a fazer o segundo, perguntam-lhe a razão do atraso. Usemos o mesmo exemplo mas alargado: existe um terceiro funcionário, que no mesmo dia fez também dois ofícios, e certos, tal como o seu colega "exemplar". Assim passam estes a ser exemplares e ainda consideram "justiça poética" que o outro tenha errado, pois estava a "engraxar", ou como ainda é mais comum pensar-se, "a lixar os colegas". Errar deixou de ser humano, pois e todos têm medo de cometer uma falha que todos os outros aproveitem para apontar e assim serem considerados "responsáveis e diligentes". Isto porque quem erra "faz de propósito", e quer "prejudicar a chefia", que depois caso o erro seja grave "terá que assumir" - que não só não assumiria como ainda encontraria um bode expiatório para os seus próprios erros, claro.
Existe uma "teoria do caos" muito curiosa para fomentar o medo de errar. Digamos que na imaginária Direcção da Lavagem dos Utensílios de Cozinha (DLUC, pode ser que criem qualquer coisa semelhante para acomodar Raymond Tam) alguém parte um copo, entre os milhares que lá estão. Eleva-se aquilo para algo quase criminoso, uma desgraça, e se o tipo que partiu o copo se atreve a dizer "é apenas um copo", leva como resposta "e se toda a gente partir também um copo!?!?". Ora aí está, o melhor mesmo é meter na cadeia aquele perigosíssimo sabotador do parte-copos, não vá alguém pensar que "não faz mal" partir um copo, e desatarem ao mesmo tempo a atirá-los ao chão, numa sinfonia de vidro partido em cacos. E talvez seja por esta importância que se dá aos copos (não querem que depois as pessoas bebam com a boca encostada à garrafa ou ao pacote, pois não?) que se cria a ideia de que um funcionário é funcionário antes de ser cidadão, ou seja, em tudo o que faz na sua vida privada, terá que ter em conta que representa a administração, e se partir um copo em casa, no bar ou num café, é como se tivesse partido um copo lá na DLUC. Agora se na DLUC chateam-lhe os cornos ao ponto de em casa partir os dentes ou a cabeça à esposa, já que nem um copo lhe é dado a partir para aliviar a pressão, então aí "problema seu", mas só até enquanto a violência doméstica não for crime público, pois nesse caso é o equivalente a ter partido uma cristaleira completa lá na DLUC.
Mas não se pense que são infelizes, os rapazes e as raparigas lá na DLUC; vão para lá todos contentes da vida, e sabem muito bem que nada lhes acontece se não partirem nenhum copo, e no caso nesse dia só tenham talheres de alumínio ou recipientes de plástico para lavar, até o fazem cantando e rindo, mas sempre levando aquilo muito a sério, como se fosse neuro-cirurgia. Portanto quando alguém partir, ou sequer rachar ou lascar um copo, toca a denunciá-lo, pois isso é "trabalho de equipa". E por aqui equipa entende-se "equipas", pois existem dois ou mais grupos que por alguma razão que a certo pontos esquecem completamente porquê, odeiam-se umas às outras. Assim temos a equipa A, sempre conotada com um quadro médio que tem boas relações com a chefia, e a equipa B, "same same but different". Quem não de uma ou de outra equipa, pode sempre fazer de agente duplo, aquilo que os alemães chamam "hurensohn". Os que optarem por não querer nada com essa "cachorrada" são suspeitos, e 1) estão contra todos e têm uma agenda oculta para conquistar o universo, ou 2) são problemáticos, metem-se na droga, frequentam antros de prostituição, ou pior que isso, atrevem-se a considerar o trabalho da DLUC cagativo, e ousam colocar-se em primeiro lugar como cidadãos. Ultraje dos ultrajes, recusar-se a ser Judas mesmo-ali-à-mão. Quem pensa ele que é para pedir apenas que não o chateiem? Toca já a meter uns copos de vidro fino mesmo à beira do lava-loiça do gajo.
Acho piada quando oiço alguns dirigentes (e não só) falarem de meritocracia. Essa deve ser a palavra do ano para aqueles parasitas que se auto-intitulam "formadores", que no fundo vão debitar conversa de chacha a tipos que abanam a cabeça dizendo que sim a tudo o que ele diz mas têm as suas prioridades, e estão-se nas tintas para o que ele estiver para ali a ladrar. Não que ele se importe muito com isso, desde que lhe paguem pelo verbotim, e no fim da aula termina dizendo "meritocracia!", e riem todos à gargalhada. O que vigora é uma filhadaputacracia, ou em alemão, "hurensohnkraten". Não sei se o tal Loi Man Keong é um dos tais tipos que têm o conhecimento "in libro" das coisas, ou se está só a falar por falar, mas colocando tudo isto nos pratos da balança, pode-se dizer que não se fazem omeletes não porque não há ovos, mas porque não há galinhas, e portanto é melhor deixar os ovos em paz que pelo menos sempre se pode dizer que os há. Um trabalho que podia, devia ter começado a ser feito há anos era o de educar no sentido de se perceber que os funcionários da administração trabalham para uma figura colectiva abstracta: o Governo. Nem as chefias têm esta mentalidade, e comportam-se como donos da loja, nem os funcionários, que nem se atrevem a pensar alto em tamanho desaforo, quase um crime de lesa-majestade. Mas "relax, guy", os ovos estão lá não estão? A porta abre às nove e fecha às seis nos dias úteis, é ou não é? E o nosso maioral foi lá acima dizer que está tudo bem não foi? Então descontrai-te, meu, e cuidado com os copos.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Enchega, enchega, enchega, enchega a minha agulha...
Afasta, afasta, afasta, afasta o meu "didali". Mas então não é mesmo verdade que quem (ainda) é (infelizmente) vivo (ou viva) sempre aparece? Vejam só vocês que o poeta infeliz que emendou o soneto e o sapateiro que arranhou o rabecão estão hoje no seu dia, a rir do doido (ou doida) que viu a casa em chamas e foi deitar-lhe gasolina em cima. E que oportunamente, também, pois comete-se um erro de palmatória que salta logo à vista sem ser necessário começar sequer a ler a única "frase" que compõe mais este momunento à iliteracia armada-aos-cucos. E reparem como coloco a palavra "frase" entre aspas, da mesma forma que a ignóbil faz com "especialista". O que a especialista em dizer/escrever/fazer merda não sabe é que uma pessoa pode ser especialista em muita coisa, enquanto que para um monte de letras juntas formarem uma frase é preciso obedecer a um certo conjunto de regras que a asinina ufana nunca fez passar por aquela cabeça oca sem que saísse pela folga entre as orelhas - e reparem como acabei de dar dois bons exemplos,e logo na mesma frase.
O estilo é único, inconfundível. Além do verbo inventado e das aspas desnecessárias, está tudo ali, desde os parênteses por fechar, ao "smiley" ao contrário com que tenta demostrar que é imune ao desaforo, "superior a estas coisas" e a percepção errónea própria dos esclerosados de que está a fazer uma rica piada. Note-se o chavascal de ideias no fim do texto, onde primeiro se sugere que eu (suponho que seja dirigido à minha pessoa, esta viscosa logorreia) sou primeiro "míope", e portanto não "enchego" (ahahah), e nos tais parênteses abertos consta que tenho um determinado grau de cegueira: "tanta". Isto de quantificar a cegueira tem que se lhe diga, e era sempre motivo de discussão entre Ray Charles e Stevie Wonder, cada um dizendo-se menos cego que o outro - conseguissem pelo menos ver a fuça um do outro e tinhamos logo sarilho. Assumo então que a minha visão é portanto um caleidoscópio entre o escuro e o pouco nítido. Porreiro. E com que então dor de corno. Eu hoje até queria sopas e sossego, mas já que o desafio está lançado e logo na data em que se assinala o aniversário do dia em que o mundo ficou mais torpe, vamos a isto. Vem um "miminho" a caminho, e não é pelos CTT. Já que todos temos direito a rir um bocadinho...
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Mr. Chui goes to Beijing
Nota prévia: antes que me perguntem mais uma vez o que quer dizer este título, ou avisar-me de que "não faz sentido", vou adiantando que foi inspirado em "Mr. Smith goes to Washington", filme de 1939 realizado por Frank Capra e com James Stewart no papel principal, sobre um homem simplório que é eleito para o senado norte-americano. E não, não estou a chamar ninguém de simplório, e se ainda não entenderam, peçam a outro que vos explique.
Ainda como que num estado de graça que nunca existiu, e depois da desgraça que foram os três meses anteriores à sua reeleição como Chefe do Executivo, Chui Sai On foi a Pequim encontrar-se com as mais altas individualidades do regime chinês, que o reconduziram por mais cinco anos no cargo público de maior importância na RAEM. Desta passagem pela capital do império do meio, voltei a notar que a população local falante do dialecto cantonense voltou a apontar o Mandarim defeituoso do CE - não, não foi nervosismo aquando da primeira tomada de posse, e aparentemente o nosso chefe não está tão à vontade com a língua oficial da China. Observei o humor com que assistiam a curiosidade, o que é compreensível, e até mais interessante que o significado da cerimónia em si, mas não consigo deixar de pensar como em Macau, onde até os chineses são de diferentes origens da China, onde se fala com pronúncias diferentes, se dá tanta importância a este detalhe. É frequente ver locais a discutir com os seus semelhantes, e se lhes perguntamos o que se passou eles respondem "não se vê logo pela pronúncia que aquele gajo é...(inserir uma província ou simplesmente "China")". Interessante, isto. Da forma como conhecemos o bairrismo, esta é a sua versão "paz podre".
Quanto a Chui e os seus encontros com o presidente Xi Jingping e o primeiro-ministro Li Keqiang, o que eles terão dito uns aos outros nunca vamos saber, é óbvio, e depois das incidências deste Verão, terão tido uma longa conversa. Nesse aspecto não me parece que o presidente chinês tenha censurado o nosso CE por aí além, pois apesar do comportamento "trapalhão" do lado de Macau, o que a China tem com que se preocupar aqui ao lado em Hong Kong já é suficiente para lhe dar azia, quanto mais ter que levar com Macau para sobremesa. Claro que Chui Sai On terá levado um "puxão de orelhas", ao contrário do que voltou para cá a dizer, que a conversa "não teve nada a ver com as manifestações". Quer dizer, ter a ver, teve de certeza, a intensidade é não foi talvez aquela que ele estaria à espera - teve sorte, pode-se dizer assim. Podia era ter passado o recado, enfim, pois quando veio dizer que "no pasa nada" e a população "está feliz", das duas uma: ou o seu "felicómetro" está avariado, ou Xi Jingping acredita, uma vez que em Macau um "croupier" ganha mais que um juíz do Supremo Tribunal da China (para quem não é daqui e está a ler isto, juro que oficialmente é verdade). Ou então o presidente sabe e não se importa/acha normal/é cúmplice. Olha, sei lá, isso são assuntos sínicos.
As orientações do presidente chinês para o nosso CE parece terem sido mais claras mas noutra direcção: "melhorar o funcionamento da Administração", a aproveitou ainda para diplomaticamente lhe pedir mais dinamismo da sua parte, e isso era óptimo, o chefe ver o que isto é. É! Quanto à "máquina administrativa", a hora é de substituir as peças, pois caso contrário continuará a funcionar devagar - não porque os que lá estão seja incompetentes, note-se, e eu nem sei se são, mas nestes cargos é preciso rotatividade, caras novas, ideias frescas, e não fazer como se tem optado até hoje pela eternização da entronização (ena, gostaram desta que inventei mesmo agora?). Seria reconfortante saber que o presidente Xi preocupa-se connosco, e que tenham realmente dito a Chui Sai On para representá-lo aqui melhor, que é o que parcialmente o nosso CE está aqui a fazer: desempenhar o cargo de líder de executivo de uma RAE da R.P. China, representando assim o povo, a nação e o partido, que têm em Xi Jingping o seu presidente. Isto posto desta forma, tão bonito que parece novinho em folha tirado da caixa dá logo vontade de arregaçar as mangas e deitar mãos à obra. Vamos lá então!
Santos da casa
Fernando Santos tornou-se no início o novo selecionador nacional, substituíndo assim Paulo Bento, despedido no último dia 11, poucos dias após a derrota em casa frente à Albânia no primeiro jogo de qualificação para Euro 2016. Fernando Santos, apesar de não ser uma escolha consensual, seria provavelmente entre os disponíveis o treinador com maior currículo - mesmo que mais formativo do que propriamente somativo. Com 60 anos de idade e 27 como treinador de futebol, conquistou seis títulos, e cinco deles durante os três anos em que treinou o FC Porto, entre 1998 e 2001. Foi depois de sair dos dragões que foi para a Grécia onde adquiriu um estatuto "de culto", e só se pode entender desta forma, uma vez que o único título conquistado foi a Taça da Grécia em 2002, com o AEK Atenas, o que mesmo assim não o impediu de ganhar o prémio de melhor treinador do ano quatro vezes até 2010, e eventualmente ser considerado o treinador grego (!) da década. Pelo meio ficaram passagens menos bem sucedidas pelo Sporting e pelo Benfica, de onde seria demitido, mas que lhe valeram um raro "triplo", como treinador principal dos três grandes do futebol português. Mas é na Grécia que adquiriu estatuto de super-treinador, e passou a tomar conta da selecção helénica em Julho de 2010, substituíndo o mítico Otto Rehaggel, e ali conseguiu fazer história ao levar o país pela primeira vez à fase seguinte de um mundial de futebol, este ano no Brasil. Estava actualmente suspenso por oito jogos após ter sido expulso contra a Costa Rica.
Pelo que se tem visto na imprensa e pelas reacções em geral, Fernando Santos não aparece como nenhum "salvador", até porque se estivessemos aqui a falar de um naufrágio, teriamos que contar com uma tripulação competente, que não ficasse à espera que o capitão os levasse ao colo, um a um. Após o mundial do Brasil, quando a continuação de Paulo Bento ainda não era definitiva (e não seria, mas por outros motivos), a maioria dos adeptos portugueses gostaria de ter José Mourinho como selecionador. Aqui pode-se aplicar a máxima "sem ovos não se fazem omeletes", e salvo raras expcepções, o sucesso à frente de um clube dificilmente se transfere para as selecções - única excepção de que me recordo ultimamente será a de Vicente Del Bosque, que venceu a Liga dos Campões pelo Real Madrid em 2000 e 2002, e o mundial pela Espanha em 2010. Ao selecionador cabe sobretudo ter conhecimentos técnicos, e avaliar em conjunto com os restantes técnicos nacionais quais os jogadores em melhores condições e selecioná-los.
Infelizmente Portugal, e mais pela sua dimensão do que por outro aspecto, terá inevitavelmente passar por fases de renovação, e ultimamente os clubes grandes (Benfica, FC Porto e Sporting) têm desinvestido nos jogadores nacionais, o que torna a escolha mais limitada, não havendo hoje uma "geração dourada" dos tempos em que o onze nacional era composto na maioria por jogadores de clubes do topo do futebol europeu. Conseguimos uma grande sucesso já neste milénio graças aos jogadores da formação nos anos 90, o que nos permitiu ir já na oitava competição internacional consecutiva, algo impensável há 20 ou 30 anos. A realidade agora é outra, temos o melhor jogador do mundo, mas existe um enorme déficit em várias posições, onde outras selecções têm por vezes um leque variado de opções mas a nossa selecção chega a precisar de improvisar. Por muito que custe dispensar um Verão de dois em dois anos sem apoiar a selecção, é possível que Portugal tenha que passar mais cedo ou mais tarde por uma "travessia do deserto", e ter mesmo que ficar sem disputar um torneio internacional. Olhemos para um exemplo próximo do nosso, a Bélgica, que falhou todos os torneios entre 2002 e 2012. Não é preciso tanto para nós, talvez, mas não seria de todo uma fatalidade - seria apenas "normal".
Outro aspecto muito comentado, infelizmente - e digo infelizmente pelo facto de ser propelado e não haver quem o refute, o que só pode querer dizer uma coisa - é o da forte influência dos agentes desportivos, os empresários dos jogadores. Vivemos num país livre e democrático, cada um tem direito à iniciativa privada, e desde que cumpra a lei pouco importa quem gosta ou não gosta. O que devem os responsáveis da selecção ponderar é se querem os adeptos do seu lado, ou se preferem os cifrões. Se escolherem a segunda hipótese é possível que os muitos portugueses que apoiam sempre a selecção comecem a virar as costas, pois quem joga para ganhar em numerário, não jogará sempre para ganhar em campo. A minha esperança - e recordo que estamos num grupo difícil, com a Sérvia e Dinamarca - é que o problema fosse mesmo Paulo Bento, que já causava um evidente mal-estar. É que só assim quer Fernando Santos, Mourinho ou um sem-abrigo à frente da selecção fará sempre melhor. São os jogadores que correm atrás da bola, e como pessoas são também corrompíveis. Basta fazer esta gestão então, e para Fernando Santos boa sorte é o que todos lhe desejamos.
CR7 marca 7
Cristiano Ronaldo está em grande outra vez, depois de uma lesão que o apoquentou durante vários meses, e para nosso azar (nosso da selecção portuguesa, entenda-se) prejudicou o seu desempenho no mundial do Brasil. Agora o CR7 voltou à forma que lhe valeram o título de melhor jogador do mundo em 2013, e nos últimos dois encontros para a liga espanhola apontou 7 (sete) golos em apenas quatro dias - quatro na vitória por 8-2 na Corunha no Sábado, e mais três ontem na goleada em casa ao Elche por 5-1. O internacional português é já o artilheiro da La Liga como nove golos em quatro partidas realizadas.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Depilações - 3º episódio (em breve)
Salvé! Os sempre simpáticos (e atentos) leitores já devem ter notado que existe (ou existia) um "post" e branco no blogue com um título que sugere que devia lá estar pelo menos um vídeo, nomeadamente o 3º episódio da série "Depilações". De facto contava ainda deixar hoje de manhã o vídeo, mas acontece que desta vez a duração do mesmo é de 18 minutos, e por isso demora várias horas a converter em formato .wmv e outras tantas para carregar no YouTube. Mesmo assim com quase toda a certeza esta noite já vai ser possível deixar aqui o filme, e enquanto isso não acontece, deixo-vos com umas imagens paradas. Promete, oh oh...
O que (te) diria Neruda
A mais feliz e amarga das horas foste tu, quando procurava encontrar-me, queria que me salvasses.
A musa que criou as ideias que ficam entre a letra maiúscula e o ponto final com que fiz as frases,
Tenho tudo, o pão, o ar e a água, chego vivo à Primavera mas sem o teu sorriso eu morro,
Como brevemente me amaste, e nem a eternidade chega para te esquecer, e daí mais além.
Deixa que os nossos corações ardam para sempre qual estrela nas alturas, que nada os separe.
Deixa-me convidar-te para o futuro, um futuro que ainda não começou e já é feito de saudades,
Não me firas, que te feres também, e vem antes comigo sentar-te à beira do poço pescar a luz caída.
Se assim te amo é porque não sei amar de outra maneira, é cara de anjo que me desperta os demónios.
Não me deixes morrer assim; se da morte não nos salvamos deixa que o amor nos salve da vida,
Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, faz as tuas escolhas mas não fiques presa às consequências.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Premier League - 5ª jornada
Mais uma jornada da Premier League inglesa, desta feita a quinta, e que arrancou no Sábado com o jogo entre o Aston Villa e o Arsenal. Alguma expectativa em torno desta partida, uma vez que a equipa de Birmingham vinha fazendo o melhor arranque de época dos últimos, e encontrava-se no 2ª lugar a dois pontos do líder Chelsea. O Arsenal por seu turno vinha de três empates consecutivos e não podia perder mais pontos, e de facto a equipa de Arsene Wenger fez valer a sua maior experiência em situações de pressão, resolvendo a questão do vencedor em apenas 5 minutos: Ozil marcou aos 32, Welbeck aos 34 e o defesa da casa Cisshoko contribuíu com um autogolo dois minutos depois.
Noutras partidas de Sábado destaque para a vitória do Southampton no reduto do Swansea pela margem mínima, resultado que leva os "saints" ao 2º lugar a par do Aston Villa. Entretanto Queen's Park Rangers e Stoke City empatavam a dois golos em Loftus Road, mesmo resultado se verificaria no Newcastle-Hull; os magpies continuam sem vencer qualquer encontro e repartem o último lugar com o Burnley, que empatou em casa sem golos frente ao Sunderland. Terminando a ronda de Sábado, o West Ham recebeu e venceu o Liverpool por 3-1, confirmando assim o mau início de época para a equipa de Brendan Rogers, que soma duas vitórias e três derrotas em cinco jogos. Mau início traduzido ainda nesta partida, pois aos sete minutos o Liverpool perdia por dois golos de diferença, apontados por Winston Reid e Diafra Sakho. Os "reds" reduziriam aos 26 por Raheem Sterling e foram em busca de pelo menos o empate, mas a dois minutos do fim Morgan Amalfitano encerrava as contas, confirmando o triunfo da equipa da casa.
Já no Domingo mais dores de cabeça para Louis van Gaal e para os adeptos do Manchester United, que depois da goleada imposta ao Queen's Park Rangers por 4-0 em Old Trafford pensavam ter finalmente encontrado o caminho das vitórias, mas esbarraram no Leicester, que venceu em casa os "red devils" por uns pouco habituais 5-3. Os visitantes ainda estiveram na frente por dois golos, com Van Persie a marcar aos 13, e Di Maria aos 16. A tarde parecia ser tranquila, mas logo no minuto seguinte Leonardo Ulloa reduzia para o Leicester. No segundo tempo Ander Herrera fazia o terceiro para o Man. United, aos 57 minutos, e depois foi o descalabro; David Nugent reduziria de "penalty" aos 62, e dois minutos depois o veterano argentino Esteban Cambiasso fazia o empate. Seria preciso esperar quinze minutos para Jamie Vardy colocar os da casa em vantagem pela primeira vez, e já com o adversário desorientado, faziam o quinto aos 83 de "penalty" por Ulloa, num lance que valeu a expulsão a Tyler Blackett. O Manchester United ocupa um modesto 12º lugar com cinco pontos.
Algumas surpresas nas restantes partidas de Domingo, com West Bromwich e Crystal Palace a obterem as primeiras vitórias e logo fora de casa à custa dos favoritos Tottenham (1-0) e Everton (3-2) respectivamente. A jornada ficou encerrada com o jogo grande entre Manchester City e o Chelsea, com os londrinos a liderarem após esta jornada fosse qual fosse o resultado, e teriam mantido o recorde perfeito de vitórias não fosse uma "traição". Assim os "blues" marcararam numa fase importante do encontro pelo alemão André Schürrle, decorriam 71 minutos, mas quem mais senão Frank Lampard, ex-jogador do Chelsea este ano no City, viria a empatar a seis minutos do fim. O internacional inglês que alinhou durante 13 temporadas pelo seu adversário de ontem não festejou o golo.
Classificação (dez primeiros):
1 Chelsea 5 13
2 Southampton 5 10
3 Aston Villa 5 10
4 Arsenal 5 9
5 Swansea City 5 9
6 Manchester City 5 8
7 Leicester City 5 8
8 West Ham United 5 7
9 Tottenham Hotspur 5 7
10 Hull City 5 6
Benfica isolado, Sporting goleia, Porto atrasa-se
O Benfica venceu ontem na Luz o Moreirense por 3-1, em partida da 5ª jornada da Liga Sagres, o jogo que marcou a estreia do guardião internacional brasileiro Júlio César na baliza do Benfica. O Moreirense trazia a lição estudada: defender, atrever-se caso surja uma oportunidade, e se marcar defender ainda mais. E foi isso que aconteceu, quando aos 17 minutos João Pedro marcou para os visitantes, que foram resistindo ao massacre ofensivo das águias até à expulsão do defesa Marcelo Oliveira, aos 57 minutos, por acumulação de amarelos. A estratégia do treinador Miguel Leal desmoronou-se, e os golos do Benfica surgiram com naturalidade, primeiro por Eliseu aos 69 minutos, depois Máxi Pereira aos 77 e finalmente por Lima aos 84, de "penalty". A vitória valeu a liderança isolada ao Benfica.
O Sporting foi a Barcelos tirar a barriga de misérias, e goleou o Gil Vicente por esclarecedores 4-0. Tudo fácil, com Adrien Silva a inaugurar o marcador aos 10 minutos, e dois minutos depois fazia o segundo, deixando os leões mais tranquilos. Mais golos só no segundo tempo, pelo argelino Slimani aos 69 e pelo peruano Carrillo aos 83. No Dragão reeditou-se o clássico entre Porto e Boavista, sete anos depois, e o jogo esteve para não se realizar devido ao mau estado do terreno, provocado pela chuva torrencial que caía na cidade invicta. O jogo ficou condicionado por esse factor, e o Porto ainda mais condicionado com o vermelho directo mostrado ao defesa Maicon logo aos 25 minutos. Ficou mais fácil para os axadrezados defender, e a partida acabaria em branco. Sporting e FC Porto encontram-se na próxima sexta-feira em Alvalade.
domingo, 21 de setembro de 2014
Macau: o tal Verão
E pronto, aqui está uma pequena montagem da minha autoria (nota-se) em jeito de "álbum de recordações" do que foi o Verão que vai chegando ao fim aqui em Macau. Espero que gostem.
Cisão e "generation gap"
Estava eu esta noite a ver o programa Contraponto, que contava hoje com Emanuel Graça, Isabel Castro e Sérgio Terra, quando é perguntada a opinião a este último sobre a alegada "cisão" no Novo Macau. No fim da semana passada o deputado Ng Kwok Cheong e o actual presidente da associação, Sulu Sou, tornaram público um diferendo quanto à utilização dos gabinete reservado aos deputados na Assembleia Legislativa: Ng considera que o gabinete é da responsabilidade dos deputados, neste caso ele e Au Kam San, enquanto Sou defende que o espaço deve continuar a ser gerido pela associação. Atendendo a esta capa e a este artigo do Jornal Tribuna de Macau, de que Sérgio Terra é director-editorial executivo (?), pensei que não ia perder mais uma oportunidade de "malhar nos democratas", uma modalidade em que a "academia" da Calçada do Tronco Velho parece ser exímia em formar talentos. Não que isso me incomode pessoalmente, o que me incomoda mesmo é o monopensamento, e a facilidade com que certas pessoas, supostamente inteligentes, licenciadas em comunicação, letras, etc. assimilam certas "certezas" dois ou três dias depois de chegarem a Macau, e com essas certezas vão ficando, num exemplo gritante de "sugestão bem sucedida" - isto para não lhe chamar "lavagem cerebral". Mas não, o sr. Terra surpreendeu-me e fez uma análise quase perfeita da questão, pasme-se.
Sim, de facto não parece nada de grave, até porque se fosse nem apareciam juntos a fazer aquelas declarações à imprensa na quinta-feira, sim, existe um conflito de gerações entre os veteranos do Novo Macau e os novos membros, e sim, são mais as coisas que os unem do que as que os separam - pudera, com tudo o que arriscaram quando optaram por se alistar no campo da pró-democracia. Sérgio Terra ganha até um bónus ao comparar as diferenças entre a velha guarda e os "juniores" dos democratas, afirmando que os primeiros pautavam-se mais pela assistência às necessidades directas da população, enquanto os outros têm uma preferência pelo activismo político no sentido de pressionar o Executivo a levar a cabo a eternamente adiada reforma administrativa e política. Ng Kwok Cheong teve também um passado no activismo, se bem que eram outros tempos, e não há dúvida que a nova geração está muito mais bem preparada. Talvez o jornalista do JTM tenha apenas pecado por defeito nos números, pois actualmente o Novo Macau tem contado com uma adesão em massa da juventude que vem saíndo das universidades, e talvez isto explique um pouco a situação de Bill Chou e o seu despedimento da UMAC - sem ele se assumir como membro do NM já é o que se vê, com ele certamente que muitos outros futuros licenciados seriam igualmente "convertidos".
Outro aspecto que Sérgio Terra abordou de leve foi o do eleitorado do Novo Macau, que vinha crescendo até ao ano passado quando sofreu uma derrota após a arriscada aposta em dividir-se em três listas. Aqui por muita razão que tenha quem disser que o NM vive numa "terra de ninguém" no espectro político local, isso incomoda-me e aborrece-me. É verdade, não nego, mas não acho certo. Deve ser defeito meu, que olho para a política e para as eleições como uma forma mais representativa, mais abrangente, e não "localizada" como acontece em Macau. Posso dar a entender que sou apoiante ou militante do NM, mas isso não é de todo verdade; pode ser que sim, que tenha votade numa das suas listas numa ou outra eleição (aqui sigo o exemplo do grande Rocha Dinis e escudo-me no secretismo do voto, e nem posso dizer que "votei no António", pois esse é o nome português de Ng Kwok Cheong), mas se sigo de perto as suas actividades é porque eles se dão a conhecer, e andam sempre por aí, e não apenas durante as eleições. Não sou operário, não sou nem de Jiangmen nem de Fujian, não trabalho no casino e sou funcionário público mas entendo que o sindicalismo fica de um lado e as eleições legislativas de outro. A meu ver, mesmo não existindo partidos políticos (nem a China deixaria que tal acontecesse), deviam existir "listas" mais abrangentes, pois do modo que as coisas estão, basta ter 10 mil empregados para ser eleito deputado - e já se sabe que nem sempre o patrão é bondoso ou generoso ao ponto de lhe querer dar o voto. E nem aqui o NM é perfeito, pois há um senão na sua (tentadora) proposta: querem mais democracia, mais abertura, mais participação civil, tudo bem, mas para quê? Com que objectivo? Não chega dizer "vamos por este caminho" sem dizer primeiro onde o caminho nos leva.
E voltando então à alegada cisão entre os elementos do Novo Macau, nomeadamente o seu fundador e líder histórico e o seu actual presidente, achei aquilo tudo demasiado estranho para ser levado a sério, mas por outro lado não consigo ler que estratégia se pode tirar de um eventual "bluff". Os dois não me pareciam desavindos, falaram com calma, quase juntos, só faltava abraçarem-se, como velhos "camaradas de luta". Agora o que não dá para perceber é que dividendos se podem tirar, se os há, tornando pública uma questão tão pífia como essa dos gabinetes da AL. Aliás até podia ser por causa de uma escova de dentos ou um estacionamento para a motorizada, pois aqui a verdadeira notícia é o facto das duas gerações de democratas estarem novamente de costas voltadas. Já aconteceu antes, e com resultados desastrosos, quando Jason Chao assumiu durante as eleições no ano passado a rotura com alguns elementos mais velhos da associação, nomeadamente Au Kam San, com quem tinha concorrido em 2009 como segundo da lista. Por coincidência, e bem a propósito veio o comentário do Sérgio Terra, preparei um vídeo em homenagem à malta nova que andou por aí este Verão de punho estendido e a dar dores de cabeça à nomenclatura. Agitar antes de beber, dizem os pacotes de leite com chocolate, e agora resta ver se conseguiram adoçicar a mistura. Pois isso parece de tudo aquilo que é mais definitivo: quem não está satisfeito com isto tudo, o Novo Macau é o lugar para estar. A um certo preço, claro.
Hamilton dá o salto em Singapura
Lewis Hamilton venceu hoje o Grande Prémio de Singapura, disputado no circuito urbano de Marina Bay naquela cidade-estado asiática, e aproveitou o infortúnio de Nico Rosberg para passar para a liderança do mundial de pilotos. Rosberg saíu das boxes, tentou recuperar posições, mas desistiria após uma paragem nas boxes à 14ª volta. Hamilton aproveitou o terreno livre para demonstrar a superioridade do seu Mercedes, e os Red Bull aproveitaram a corrida desastrosa dos Williams para ocuparem os restantes lugares do pódio, com o tetra-campeão Sebastian Vettel a terminar à frente do seu companheiro de equipa Daniel Ricciardo. Fernando Alonso voltou aos pontos, terminando no quarto lugar, à frente do Williams de Filipe Massa e do supreendente Jean-Éric Vergne, que levou o seu Toro-Rosso ao sexto lugar. O outro Ferrari, de Kimi Raikkonen, foi oitavo, entre os dois pilotos da Force India: Sergio Perez que foi sétimo, e Nico Hülkenberg, que foi nono. O McLaren de Kevin Magnussen fechou os lugares dos pontos, resistindo às investidas do Williams de Valtteri Bottas, que foi 11º. O mundial de pilotos é agora liderado por Hamilton com 241 pontos, contra 238 de Rosberg, 183 de Ricciardo, 133 de Alonso e 124 de Vettel. Nos construtores a Mercedes domina a seu bel-prazer com 479 pontos, seguida da Red Bull com 305, Williams 187, Ferrari 178 e Force India 117. A próxima etapa do mundial de F1 realiza-se a 5 de Outubro no Japão, no circuito internacional de Suzuka.
Happy is decadent
Um grupo de seis jovens, três homens e três mulheres, foram condenados no Irão a seis meses de prisão e a um total de 91 chicotadas (a dividir pelos seis, entenda-se) por terem feito este vídeo na casa de um deles, onde "apenas" apenas dançam ao som do tema "Happy", de Pharrell Williams. O vídeo foi colocado no YouTube a 19 de Maio, tornou-se viral um mês depois, e não foi preciso esperar muito para que a brigada dos bons costumes da polícia iraniana viesse detê-los e acusá-los de "indecência" - elas não por estarem a cumprir o código de vestuário, que obriga ao uso do "hijad", ou véu islâmico, e embos por estarem a dançar juntos. Durante o tempo que tiveram detidos foram alegadamente maltratados, humilhados e obrigados a ir à televisão pedir desculpas pelo "crime horrível" que cometeram. Um deles, Sassan Solemani, que realizou, foi condenado um ano de prisão, e o advogado do grupo vai tentar agora que a pena seja suspensa por três anos, período durante o qual o melhor mesmo é ficarem fechados em casa, e não muito próximos da janela.
A comunidade internacional e as associações de direitos humanos ficaram chocadas é lógico, não consigo é entender porquê - qual é a novidade? No Irão vigora a lei islâmica, ou seja, a lei que se aplicada nas pessoas é supostamente emanada do Homem Invisível e transmitida por uns tipos demasiado sinistros para que convençam seja quem for que há entidade divina com o desplante suficiente para lhes dirigir a palavra. No Irão os homens são obrigados a ter aparência de troglodita, as mulheres parecem múmias, e a censura é uma perspectiva de carreira convidativa, pois vai da imprensa à internet, passando pela televisão e pelas artes. Imaginem que nas revistas de moda (estrangeiras, claro) os braços e as pernas das mulheres são pintados com um marcador preto, e não pode ficar nem um tornozelo à mostra. Mesmo assim pode-se dizer que estes jovens tiveram azar, ou cometeram o erro de publicitar a sua ousadia para todo o mundo ver, pois caso as leis fossem rigorosamente aplicadas, cerca de 90% da população do Irão estava na cadeia. Este vídeo para nós pode não parecer nada de especial (em todos os aspectos, aliás) para estes tipos é pior do que bestialidade ou incesto rematado com canibalismo. Para perceber só mesmo tendo uma cabecinha, muito pequena. Uma tola pequenina, pequenina, uma "aya-tola".
iPhones há muitos, seu palerma!
Jack Cooksey, um australiano de 18 anos foi o primeiro
E a seguir quando o palonço tirou o telélé da caixa para o mostrar ao mundo, que estava colado ao pequeno ecrã a salivar à espera da chegada deste Messias com botões, oops, deixou-o cair, e de repente: ohhhhh!!!! Foi como se tivesse deixado cair o Menino Jesus, se tivesse hoje renascido: "Anuncio a chegada do nosso Salvador! Epá merda...olha se ele for assim um bocadinho lento a entender as coisas, já sabem a razão". Mas o fantasma de Sto. Estevão Empregos (Steve Jobs) protegeu a sua criação, e o telemóvel foi a funcionar para casa. Ora essa, tenho um Samsung com dois anos que deixo cair com a frequência de duas vezes por mês deixando a carcaça, a tampa e a bateria cada uma para seu lado e ainda funciona muito bem, portanto qual é o espanto? O que a malta queria mesmo era um "twist" irónico, o tipo foi o primeiro a comprar o brinquedo, e depois f...u-se, e depois diziam "toma lá que é para não seres guloso!". E se ele morresse, então? Melhor ainda. E você, já foi comprar o seu iPhone 6, apesar do seu celular ainda funcionar na perfeição?
Vota aê, meu chapa, mêrmão
Pergunta: quais são os cinco países mais populosos da Terra? Resposta: China, Índia, Estados Unidos, Indonésia e Brasil. Agora quais destes são uma democracia a sério? Já sei, já sei, "nenhum" e tal, mas os que afirmam ser uma democracia. A China já se sabe, não é e orgulha-se, agora das outras quatro retiremos aquelas em que as mulheres são apedrejadas por mostrar um cotovelo ou onde as virgens são sacrificadas a Kalima para pedir protecção das inundações, e ficamos com os Estados Unidos e o Brasil. "Ah mas os americanos são hipócritas porcos imperialistas e o Brasil está minado de corrupção e pobreza" - dirá agora o efeminado pseudo-humanista leitor que se auto-intitula de esquerda. Sim, eu sei, lá fora a chuva cai, e ninguém falou aqui de coerência ou idoneidade, e além disso os meus sinceros pêsames pela morte anunciada do Bloco de Esquerda. De volta ao que nos trouxe aqui, os norte-americanos são de facto uns chatos do c... quando se trata de política, e fossemos todos idiotas até pensávamos que estão a falar a sério - o que eles precisavam era de um Salazar, um "Saltunlucky oh yeah mudafoka!".
Resta portanto o Brasil, que para o bem ou para o mal é uma democracia, e dos 200 e tal milhões de "neguinhos" e "neguinhas" que por ali andam a maioria deles tem capacidade eleitoral, e a 5 de Outubro vão às urnas eleger o presidente, ou "presidenta" como eles dizem, e será uma mulher quase com toda a certeza, mas também vão eleger o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, no que é designado por "eleições gerais". Ora desses mais de 100 milhões de eleitores, qualquer um que 1) tenha nacionalidade brasileira; 2) esteja filiado num partido político há pelo menos 1 ano; 3) possua domicílio eleitoral na região onde concorre o cargo; 4) tenha pleno exercício dos seus direitos políticos pode ser candidato! Aos 18 pode concorrer para vereador, aos 21 para "prefeito" (a versão brasuca de "presidente da câmara"), ou deputado federal, aos 30 para governador e aos 35 para presidente daquele "tronço" todo! Portanto basta não ser como o filho do Pelé, o Edinho, ou o Fernandinho Beira-Mar e ter a "ficha" limpa, e pode mandar na quinta nação mais populosa do mundo. E se for como o Collor de Mello? Ora, isso não só não tem importância como o coloca numa situação de vantagem perante os outros candidatos!
Mas isto tudo a propósito daquele vídeo ali em cima, onde vemos a campanha televisiva de alguns candidatos às eleições gerais, que por mais ridículo que pareçam, têm o seu tempo de antena garantido por lei, e numa "democracia" já se sabe, ninguém é demasiado "maluco" para não ter direito à palavra (e agora falando a sério, ainda bem). Desde o sucesso do palhaço Tiririca, que foi eleito deputado federal sem saber ler nem escrever, têm aparecido inúmeras imitações ou tentativas de aliciar um eleitorado mais "populista", e só neste "clip" de 4 minutos temos um Bin Laden, um Jackie Chan, um pai de santo, uma cinquentona que pensa que é um bebé de colo, vários super-heróis, e uma tal Negona Filé, que encarecida e humildemente pede para que votem nela, mas apenas "se não tiverem ninguém em quem votar". Olha já viram que simpática? Menos uma razão para ficar em casa no dia 5 de Outubro a dizer mal dos políticos que tem, sem ter ido votar nos outros e por isso devia era ficar calado. Mas enfim, pelo menos ali dá para rir da desgraça. É o Brasil: Portugal vezes vinte e onde é sempre Carnaval.
8-2 bem Real!
O Real Madrid venceu ontem o Deportivo no Estádio Riazor na Corunha por um resultado que já não se usa: 8-2! Se estes foram os números e Cristiano Ronaldo esteve em campo, a pergunta que se impõe é "quantos golos marcou o internacional português, e a resposta são 3, mais um "hat-trick" que o aproximam do recorde de Raúl como jogador "merengue" com mais golos marcados fora. O Real vencia por 3-0 ao intervalo, com o CR7 a marcar o primeiro e o terceiro, e pelo meio James Rodríguez também fez o gosto ao pé marcando um golo sensacional, ele que é especialista em golos vistosos. No segundo tempo o Depor reduzia de "penalty" por Medunjanin, mas aí chegou a hora do galês Gareth Bale mosrtrar a razão de ser o jogador mais caro da história dos madrilenos, apontando dois golos, seguido de mais um de Ronaldo. Os galegos ainda reduziriam para 2-6 por Toché, mas o mexicano Javi Hernández, que substituíu Bale a quinze minutos do fim ainda foi a tempo de marcar dois golos, aos 88 e já nos descontos. Noutras partidas o campeão em título Atletico Madrid não foi além de um empate em casa a dois golos com o Celta de Vigo, resultado que também se verificou no Espanyol-Málaga, com o português Duda a marcar o golo do empate para os malaguenhos no último minuto. Finalmente surpresa em Bilbao com o Athletic, que costuma ser quase intransponível em casa, a ser surpreendido por 0-1 frente ao Granada.
sábado, 20 de setembro de 2014
O manifesto, os folhetos e etcetera
Semana cansativa, em que finalmente assumo que o Bairro do Oriente é tudo o que me resta, e se amanhã desvanecesse, era algo que poderia perdurar durante algum tempo como o meu resto, tirando o esqueleto (o meu, e isto é se não fosse cremado). Nesta nota que parece deprimente, mas longe disso, deixo-vos com o artigo de quinta-feira do Hoje Macau. Continuem a olhar as estrelas, meus gafanhotos.
O Estado proíbe ao indivíduo a prática de actos ilícitos não porque deseje aboli-los, mas sim porque quer monopolizá-los. Sigmund Freud
Imaginem este cenário: quinze ou dezasseis agentes da autoridade formam uma barreira para impedir a passagem a mais de mil manifestantes, e para esta suposição pouco importa se a manifestação é ou não autorizada, se seria inicialmente pacífica ou se houve número imprevisto de participantes. Sem canhões de água, gás pimenta ou outros meios de que pudessem dispôr de imediato, e nem para a chegada de reforços há tempo: é preciso agir. Os manifestantes estão furiosos, fazem pressão sobre os agentes, e está-se prestes a chegar a um ponto crítico. O que decide a polícia? Numa situação normal, num país, estado, cidade normais, noutro lugar qualquer, é possível que o chefe da polícia chamasse o homem ou os homens que ali o mandaram que viessem dialogar com as pessoas, e assim tentar resolver a situação pacificamente. Em Macau acredito que os polícias iam ao choque, numa manobra “kamikaze”, tentando impedir o maior número possível de manifestantes de ultrapassar o cordão policial.
Se tenho esta impressão, é porque os nossos governantes fazem-me pensar que decidiriam assim – se não fossem outros a fazê-lo por eles, como tantas vezes dá a sensação que acontece – a ordem seria “antes quebrar que torcer”. Quando por vezes satirizo a prof. Agnes Lam, da UMAC, que persiste “ad nauseum” no discurso de que “o governo precisa criar canais de comunicação com a população”, não estou a sugerir que ela está errada, mas apenas que é redundante que venha a público dizer o que toda a gente sabe, vê e sente: existe um distanciamento entre o topo e o meio da pirâmide, enquanto o fundo se vai aproximando cada vez mais do meio – ou o meio do fundo, dependendo do optimismo de cada um, da velha dialéctica do “copo meio cheio ou copo meio vazio”.
As elites acomodam-se, criando em seu redor uma redoma de silêncio, onde para chegar se passa por um intricando labirinto habitado por emissários seus, que apaziguam os que ali andam perdidos garantindo que “fazem chegar a sua voz” ao topo, algo que já deu para perceber que não passa de nada mais que “paninhos quentes”. As elites governam, ou pelo menos deviam governar, e ao contrário de uma ditadura ou “autocracia” se preferem esse eufemismo, não actuam. Podiam actuar mal, ou resolver mal, que sempre é melhor que não actuar de todo ou não resolver nada, passam a imagem da indiferença, que os leva a tratar apenas do que lhes interessa a si e aos seus próximos, tentando ao mesmo tempo convencer todo o resto de que a governação é uma tarefa “complicada”, e que fazer política em Macau é como atravessar um campo minado, e o melhor é deixá-los tratar dessa questão tão “sensível”, e quanto menos falarmos, duvidarmos ou questionarmos, melhor para todos.
E com isto desencoraja-se o protesto: fiquem aí quietinhos e deixem-nos tomar conta do essencial, e não se atrevam a certas “espertezas” que possam baixar drasticamente o vosso índice de empregabilidade. Quem se organiza contra a inércia para obter as respostas que muitos procuram – os activistas, as associações não alinhadas com o sistema ou as vozes dissonantes – são inevitavelmente “destabilizadores”, com uma “agenda oculta”, e se for preciso insinuar que estão “ao serviço de uma potência estrangeira”, que seja, e há sempre quem acredite. Se fosse mesmo assim, então seria por culpa destes “rebeldes” que o acesso à habitação própria é quase uma utopia, que a qualidade de vida diminui a olhos vistos, e tratar uma simples gripe no hospital público implica ter que perder um dia inteiro, ou é ainda por culpa deles que a tão apregoada diversificação económica nunca passou do papel, ou sequer das intenções, e basta a China moderar a política dos vistos individuais para que soe o alarme, e aqueles que agora investem não hesitem em desinvestir. Macau é óptimo para fazer grandes negócios, sim senhor, e para quem não é convidado para a “festa”, como é? Essa “pastilha” da “harmonia” que querem impôr é mais larga que a traqueia, e nem chega a passar pela faringe.
Pode parecer fora de contexto, mas olhemos para o caso recente dos tais “folhetos pornográficos”, que subitamente passaram de um acessório mais “kitsch” dessa instalação mais vasta que é a indústria do jogo, a um passe-social para crimes como o lenocínio ou o tráfico de pessoas com alguma droga à mistura – os “folhetos” são agora vistos como um bilhete para um espectáculo de sexo, drogas e “rock’n’roll”, mas sem “rock’n’roll”. Quando fui consultar a tal lei que regula a venda, exposição e exibição de material pornográfico, na parte que constitui ilícito criminal lê-se que “é proibido afixar ou expor em montras, paredes ou em outros lugares públicos, pôr à venda ou vender, exibir, emitir ou por outra forma dar publicidade a cartazes, anúncios, avisos, programas, manuscritos…” e a este ponto juro que pensei que ia encontrar ali um “etcetera”, e qual Arquimedes que acaba de entrar na banheira de uma qualquer sauna da Casinolândia de Macau exclamei “eureka!”, e aí estava a solução para muitas das dores de cabeça que afligem os nossos dedicados governantes, e que lhes poderia : etcetera.
Incluir esta fórmula mágica, o etcetera, em muita da legislação mais ambígua, desde a os regulamentos municipais, passando pela lei dos dados pessoais a terminando até no Código Penal, se necessário, seria “tiro e queda”. Bastaria um etcetera, ou simplesmente etc., e determinada situação incómoda para o Governo que não está legalmente prevista e portanto não é ilegal, passa a ser, bastando atirar-lhe com o etcetera em. No caso do etcetera vir a ter um efeito perverso e ser usado contra a nomenclatura, vêm os tribunais “interpretar”, que no dicionário local quer também dizer “subverter” ou “perverter”, e emite-se um despacho onde conste que “os residentes de Macau não têm direito ao etcetera”. Para os casos mais complicados, pode-se recorrer aos serviços de um médium, que assim invoca o “espírito da lei” e deixa de ser necessário que jovens supostamente inteligentes e com um largo futuro pela frente na área do Direito ou outros com um conhecimento e uma experiência vasta na matéria se prestem a certas tristes figuras. Confiar no nosso Governo é um pouco como tentar agradar a uma amante exigente: ela não nos diz que etceteras gosta – nós é que somos obrigados a saber.