quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Mr. Chui goes to Beijing
Nota prévia: antes que me perguntem mais uma vez o que quer dizer este título, ou avisar-me de que "não faz sentido", vou adiantando que foi inspirado em "Mr. Smith goes to Washington", filme de 1939 realizado por Frank Capra e com James Stewart no papel principal, sobre um homem simplório que é eleito para o senado norte-americano. E não, não estou a chamar ninguém de simplório, e se ainda não entenderam, peçam a outro que vos explique.
Ainda como que num estado de graça que nunca existiu, e depois da desgraça que foram os três meses anteriores à sua reeleição como Chefe do Executivo, Chui Sai On foi a Pequim encontrar-se com as mais altas individualidades do regime chinês, que o reconduziram por mais cinco anos no cargo público de maior importância na RAEM. Desta passagem pela capital do império do meio, voltei a notar que a população local falante do dialecto cantonense voltou a apontar o Mandarim defeituoso do CE - não, não foi nervosismo aquando da primeira tomada de posse, e aparentemente o nosso chefe não está tão à vontade com a língua oficial da China. Observei o humor com que assistiam a curiosidade, o que é compreensível, e até mais interessante que o significado da cerimónia em si, mas não consigo deixar de pensar como em Macau, onde até os chineses são de diferentes origens da China, onde se fala com pronúncias diferentes, se dá tanta importância a este detalhe. É frequente ver locais a discutir com os seus semelhantes, e se lhes perguntamos o que se passou eles respondem "não se vê logo pela pronúncia que aquele gajo é...(inserir uma província ou simplesmente "China")". Interessante, isto. Da forma como conhecemos o bairrismo, esta é a sua versão "paz podre".
Quanto a Chui e os seus encontros com o presidente Xi Jingping e o primeiro-ministro Li Keqiang, o que eles terão dito uns aos outros nunca vamos saber, é óbvio, e depois das incidências deste Verão, terão tido uma longa conversa. Nesse aspecto não me parece que o presidente chinês tenha censurado o nosso CE por aí além, pois apesar do comportamento "trapalhão" do lado de Macau, o que a China tem com que se preocupar aqui ao lado em Hong Kong já é suficiente para lhe dar azia, quanto mais ter que levar com Macau para sobremesa. Claro que Chui Sai On terá levado um "puxão de orelhas", ao contrário do que voltou para cá a dizer, que a conversa "não teve nada a ver com as manifestações". Quer dizer, ter a ver, teve de certeza, a intensidade é não foi talvez aquela que ele estaria à espera - teve sorte, pode-se dizer assim. Podia era ter passado o recado, enfim, pois quando veio dizer que "no pasa nada" e a população "está feliz", das duas uma: ou o seu "felicómetro" está avariado, ou Xi Jingping acredita, uma vez que em Macau um "croupier" ganha mais que um juíz do Supremo Tribunal da China (para quem não é daqui e está a ler isto, juro que oficialmente é verdade). Ou então o presidente sabe e não se importa/acha normal/é cúmplice. Olha, sei lá, isso são assuntos sínicos.
As orientações do presidente chinês para o nosso CE parece terem sido mais claras mas noutra direcção: "melhorar o funcionamento da Administração", a aproveitou ainda para diplomaticamente lhe pedir mais dinamismo da sua parte, e isso era óptimo, o chefe ver o que isto é. É! Quanto à "máquina administrativa", a hora é de substituir as peças, pois caso contrário continuará a funcionar devagar - não porque os que lá estão seja incompetentes, note-se, e eu nem sei se são, mas nestes cargos é preciso rotatividade, caras novas, ideias frescas, e não fazer como se tem optado até hoje pela eternização da entronização (ena, gostaram desta que inventei mesmo agora?). Seria reconfortante saber que o presidente Xi preocupa-se connosco, e que tenham realmente dito a Chui Sai On para representá-lo aqui melhor, que é o que parcialmente o nosso CE está aqui a fazer: desempenhar o cargo de líder de executivo de uma RAE da R.P. China, representando assim o povo, a nação e o partido, que têm em Xi Jingping o seu presidente. Isto posto desta forma, tão bonito que parece novinho em folha tirado da caixa dá logo vontade de arregaçar as mangas e deitar mãos à obra. Vamos lá então!
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