terça-feira, 30 de abril de 2013
A angústia dos Sinfonguenses
Os habitantes do Edifício Sin Fong, no Patane, estão furiosos. E com toda a razão. Este complexo habitacional situado na zona da Barra foi há pouco mais de duas décadas um dos projectos mais ambiciosos em termos de imobiliário, e os seus habitantes eram vistos como gente de bem. Mesmo em finais da década de 80 não era qualquer gato-pingado que podia comprar uma fracção no Sin Fong. Mesmo depois da época de ouro da construção em Macau, o Sin Fong manteve a sua fama. É ainda a maior referência em termos de habitação na marginal do Patane, entre a Barra e o Mercado Vermelho.
Mas para desespero dos “sin-fonguenses”, um dia a casa vem abaixo. Em Outubro passado o edifício foi considerado inabitável devido ao risco de desmoronamento, e as centenas de residentes do Sin Fong ficaram subitamente na rua com todos os tarecos, abandonados, sendo a única opção procurar outro lugar para viver. A qualidade da construção foi apontada como principal razão para a decadência do prédio: a estrutura seria composta apenas por 40% de cimento. Os dedos foram apontadas à construtora, uma das mais profícuas de Macau. Outra versão responsabiliza as obras que se realizavam no terreno anexo, onde se ia construír outro prédio. Os mais sensatos põem as culpas em ambas as circunstâncias.
Passados vários meses desde o escândalo que transformou um edifício onde residiam várias famílias numa cidade fantasma, as Obras Públicas não têm dúvidas: a ruína deve-se à qualidade da construção. A empresa responsável pelo Sin Fong manifestou a sua indignação, e respondeu com uma missiva publicada na imprensa na semana passada, atribuíndo as culpas às obras do lado. Missiva essa devidamente documentada, com fotografias dos danos alegadamente provocados pelo projecto em realização no terreno anexo.O director das OP, Jaime Carion, insiste que o Sin Fong é mesmo cócó, e se for necessário leva-se o caso a tribunal. Não tenho bem a certeza de quem pisou na bola, mas nesta roda-viva das empresas de construção existem interesses que nos escapam. Caso a empresa responsável pelo Sin Fong seja considerada culpada, deve suportar os custos da demolição e reconstrução do imóvel. Falamos aqui de valores acima dos 200 milhões de patacas. É obra, esta obra.
Quem não acha piada nenhuma a todo esta passar de bola são os residentes do Sin Fong, que apenas querem voltar para casa. O grupo de moradores criado após a crise apela ao Governo que os ajude a solucionar o problema. Mas porquê o Governo, se estas são contas de um rosário particular? E porque não? Um Governo que contribui automaticamente com 100 milhões de patacas para o terramoto de Sichuan, mesmo antes que se medisse a real dimensão do mesmo, tem dinheiro de sobra. Não quero aqui equiparar a dimensão da tragédia, mas se o Governo se prontifica a contribuir para o alívio de uma situação localizada numa realidade distante, porque não abrir os cordões à bolsa para ajudar os seus? E já basta de falar de milhões e mais milhões. Como não fui convidado para este banquete da construção e da especulação imobiliária, só sei falar de milhares. Esta conversa faz-me comichão no bolso.
As patinadelas da patinagem
Foi com interesse que li na edição de ontem do JTM a entrevista com António Aguiar, presidente da Associação de Patinagem de Macau (APM). A APM tem sido ao longo dos anos uma excepção honrosa no panorama do desporto no território, com a equipa de hóquei em patins a somar títulos asiáticos uns atrás dos outros. É indiferente que o desporto não tenha implantação na Ásia. Continua a ser a única modalidade em que Macau não obtem resultados que envergonham a sua bandeira. A selecção de hóquei patinado, comandada há vários anos pelo veterano Alberto Lisboa, disputou em 2005 o mundial “A”. Mais nenhum desporto praticado na região se pode orgulhar de ter disputado um campeonato do mundo. Quer se goste ou não do “pau com os ursos”, isto é um facto. Aconteceu mesmo, não foi um sonho. Tomem lá e embrulhem esta.
Lisboa “y sus muchachos” têm-se debatido com falta de condições derivadas de alguma indiferença dos corpos dirigentes responsáveis pelo desporto da RAEM. Pode soar um pouco a mania da perseguição, mas desde a criação da região administrativa desinvistiu-se no desporto que foi sempre considerado “dos portugueses”. É uma espécie de “cosanostra”. Atendendo aos resultados da selecção de hóquei em patins, estes atletas deviam ser motivados e acarinhados, e não ostracizados, como tantas vezes sucede. Em mais nenhuma modalidade o nome de Macau é temido pelos seus congéneres do Japão, Austrália, Inglaterra, Áustria ou Holanda. Imaginem o que seria um jogo de futebol entre o onze do território e a Inglaterra ou a Holanda. Um massacre horrendo e sem nome. Duvido que os jogadores de Macau tivessem sequer coragem de entrar em campo.
O pavilhão do Colégio D. Bosco é uma espécie de “santuário” do hóquei em patins de Macau. É aqui que treina a selecção e se dá a formação, todos os Sábados entre as 19:00 e as 20:30 – se os papás e mamãs que não sabiam isto e quiserem inscrever os pequenotes num desporto competitive e bonito, fica aqui a informação. Além do D. Bosco a selecção treina regularmente no Fórum, dependendo de factores de ordem burocrática que se prende com horários e tudo mais, em muitos casos esbarrando com uma evidente má vontade. Exemplo disso é a tal formação que se dá no D. Bosco aos Sábados, organizada pela Casa de Portugal. A agremiação lusa precisa de pagar o ar-condicionado durante os meses do Verão. Custava assim tanto ao IDM entrar com as 200 lecas ou lá o que é para que os miúdos dêm stickadas sem suarem em bica?
A comunidade chinesa ignora ou simplesmente desconhece este desporto. Os que tomam algum contacto inibem-se pelo facto de ser “violento” (alguém lhes devia explicar que o stick não é para bater em ninguém) e “caro” (um par de patins decentes pode custar qualquer coisa como quatro mil patacas). Tal como no hóquei em campo, o hóquei em patins contou sempre com uma adesão significativa da comunidade macaense. Apesar da selecção ser actualmente composta maioritariamente por expatriados portugueses, tempos houve em que os filhos da terra diziam presente, nomeadamente com a camisola do Lusitânia, o clube macaense por excelência. Se os chineses não jogam hóquei em patins, é porque não querem. Não existem condicionantes rácicas neste desporto. Quem começa cedo e se aplica com afinco pode também um dia ganhar um campeonato asiático, ou disputar um mundial.
O próprio hóquei em patins na sua globalidade sofre de uma certa marginalidade. Portugal e a Espanha são as maiores potências, Itália e Argentina intrometem-se de vez em quando, e todos os restantes países estão muitos furos abaixo. Equipas como a Suíça, França, Alemanha, Angola, Moçambique e Brasil produzem ocasionalmente uma geração de qualidade, mas nestes países a modalidade está muito longe de ser uma das mais populares. Em alguns países a modalidade tem um carácter regionalista. Na Inglaterra está praticamente limitado à região de Norfolk, e mesmo na Espanha é visto como “uma coisa dos catalães”, com o mítico Liceo da Corunha, da Galiza, a servir de excepção honrosa. Portugal deve ser um dos poucos países onde o desporto é popular de norte a sul e ilhas.
O facto do hóquei em patins não ser um desporto olímpico contribui para a sua pouca divulgação. É estranho que outros desportos como a esgrima, o hipismo e o caricato polo aquático sejam incluídos nas olimpíadas e o hóquei em patins seja excluído. Até o golfe, desporto elitista que não requer qualquer formação de raíz, vai passar a fazer parte das Olimpíadas. Foi modalidade de demonstração nos Jogos de Barcelona em 1992, e se a memória não me atraiçoa, foi um sucesso. O torneio foi bem disputado, com a Argentina a conquistar o ouro na final contra a Espanha, num jogo que foi a prolongamento e tudo. O hóquei em patins, que para quem o segue e aprecia é um desporto espectacular, viril e emotive, é uma espécie de parente pobre das modalidades. Está mais ou menos ao nível do corfebol ou da pelota basca.
Em Macau não resta senão aos responsáveis da modalidade continuar a gritar no deserto: “olhem para nós, estamos aqui a suar a camisola da RAEM e a ganhar títulos”. Os dirigentes desportivos do território, essa cambada de iluminados à luz da vela, continua a apostar no futebol, mesmo sem investir na formação ou levar esta aposta a sério. Até o badminton e o pingue-pongue são mais apoiados que o hóquei em patins. Se com as parkas condições oferecidas à Associação de Patinagem os resultados vão aparecendo, como seria se os atletas usufruíssem de condições compatíveis com a sua qualidade? Os ovos de ouro que a galinha da patinagem vai pondo são ignorados. Se calhar pensam que é apenas cobre.
O custo da austeridade
A austeridade está a ter um efeito devastador sobre a saúde na Europa e na América do Norte, é esta a conclusão de dois investigadores que será publicada no livro "O corpo da economia: porque mata a austeridade", de acordo com a "Euronews".
David Stuckler, professor da Universidade de Oxford, e Sanjay Basu, da Universidade de Stanford, concluíram que os cortes orçamentais podem provocar suicídio, depressão e doenças infecciosas devido à redução do acesso a medicamentos e cuidados de saúde.
As conclusões deste estudo fazem parte do livro "O corpo da economia: porque mata a austeridade", no qual os investigadores defendem que a austeridade causou dez mil suicídios e um milhão de casos de depressão na Europa e América do Norte.
Os professores dão o exemplo da Grécia, onde os cortes na prevenção do HIV levaram ao aumento de 200% da taxa de infetados. Nos EUA, mais de cinco milhões de americanos perderam o acesso aos cuidados de saúde durante a última recessão. Na Grã-Bretanha, cerca de dez mil famílias foram morar para a rua devido aos cortes do Governo.
In Expresso
Benfica mais perto do título
O Benfica venceu umas das "finais" da temporada, batendo no Funchal o Marítimo por duas bolas a uma. Lima inaugurou o marcador para os encarnados logo aos cinco minutos de grande penalidade, mas Igor igualaria para os madeirenses ainda antes do descanso. O mesmo Igor voltaria a marcar, mas na baliza errada, fazendo os três pontos voltar "voar" para Lisboa, para o ninho da águia. O Benfica mantém os quatro pontos de vantage sobre o FC Porto a 3 jornadas do fim. À equipa de Jorge Jesus basta vencer os jogos em casa, frente ao Estoril e ao Moreirense, podendo dar-se ao luxo de perder o clássico da penúltima jornada, no Dragão.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Vamos a pé?
O problema do trânsito em Macau foi o tema de reportage do Telejornal da última sexta-feira. Os residentes entrevistados – todos eles de origem portuguesa – são unânimes em concordar que andar de carro em Macau já não é o o que era. Nem de carro, nem de autocarro, e muito menos de táxi. A cidade conheceu um desenvolvimento exponencial nos últimos anos, e apesar das vantagens, o crescimento económico teve implicações negativas na qualidade de vida. A circulação automóvel é um bom exemplo disso.
Vivemos numa cidade sem muito espaço, é um facto. A exiguidade do território não nos permite que se abram os braços, quanto mais que se diriga um automóvel com o à vontade que se verifica em Portugal ou em outros países. Em Macau não existe uma auto-estrada, onde podemos contemplar asfalto a perder de vista. Os aceleras e restantes adeptos da velocidade dentro de um perímetro urbano ficam relegados para as horas menos concorridas da madrugada, onde o trânsito não atrapalha tanto. E mesmo assim aposto que ainda lhes sabe a pouco.
Os entrevistados do Telejornal de sexta queixam-se que demoram agora mais tempo a circular dentro da cidade, entre as ilhas e a peninsula, e especialmente da dificuldade em encontrar estacionamento. Em menos de dez anos ter carro passou de comodidade a pesadelo. Há mesmo quem tenha optado por passar a viver mais próximo do trabalho e da escola dos filhos, a uma distância acessivel a pé. Já vão tarde: eu próprio sempre cuidei de residir a 10 ou 15 minutos a pé do trabalho. Já desconfiava do trânsito quando aqui cheguei, e a situação actual não me surpreende nem um pouco. Depender do carro ou de transportes públicos não é uma opção sensata.
Uma das razões que contribuíu nos últimos anos para a precaridade do trânsito é a subida do preço da habitação. Que sentido faz relacionar o preço da habitação com o trânsito, pergunta o leitor mais distraído. Tudo. Perante a impossibilidade de adquirir um casa, muitos residentes optam por comprar um carro. Juntando isto ao facto de qualquer pindérico, barbeiro ou condutor domingueiro poder facilmente obter a carta (especialmente desde que o Governo subsidiou a população com as 5000 patacas para “formação continua”), temos uma mistura explosiva, com mais carros e menos espaço para que circulem ou para que estacionem.
Outra das razões apontadas para o escoamento a conta-gotas do tréfego é a proliferação dos autocarros de turismo, com destaque para a frota dos casinos, que visa levar potenciais apostadores ao paraíso do jogo em Macau. Não deve haver um único automobilista que se queixe de não ter ficado entalado numa fila de trânsito causada pelos luxuosos “auto-pullman” do Galaxy, City of Dreams e afins. Mas queixar-se do quê, afinal? São estes que produzem as receitas que depois permitem que haja dinheiro para comprar popós, meus amigos. É uma pescadinha de rabo-na-boca. Mesmo que venenosa.
Há alguns anos foi criada a Direcção de Serviços de Assuntos de Trânsito (DSAT), cujas competências antes pertenciam ao IACM. A desanexação destas responsabilidades visavam melhorar a situação do tráfico, mas a DSAT transformou-se num verdadeiro saco de pancada, e em vez dos méritos inicialmente previstos, são-lhe imputadas responsabilidades. É surrealista que se crie um departamento que tem como propósito melhorar, e que depois de criado veja a situação piorar. Mas o que pode fazer Wong Wan e a sua equipa? O problema não se resolve com passes de magia, por muito boas que sejam as intenções. Vedar o trânsito a automóveis particulares na Avenida Almeida Ribeiro aos Domingos e dias feriados pode parecer uma boa ideia, mas é muito pouco. É como regar um imenso deserto com um simples copo de água. É preciso fazer muito mais, e melhor, e depressa.
A questão do estacionamento é provavelmente a mais grave, e o custo do parque automóvel é o nó mais complicado de desatar. É cada vez mais difícil encontrar estacionamento gratuito dentro da cidade, e quem não estaciona à margem da lei sujeita-se ao aumento desenfrado do custo. A loucura da especulação – que não é exclusivo da habitação – leva a que um parque perto do centro da cidade custe qualquer coisa como 1,5 milhão de dólares de Hong Kong. É curioso como um estacionamento pode custar até dez vezes mais que o próprio veículo. O aluguer de um estacionamento está mais ou menos ao nível do preço de um andar com dois quartos nos anos 90. Aqui perto de casa podem-se encontrar estacionamentos improvisados, ao ar livre em terrenos baldios, pela módica quantia de 1000 patacas mensais. Para ter um lugar onde enfiar o carro vale quase tudo.
Apesar de tudo a situação de Macau não é tão má como noutras grandes cidades asiáticas. O problema do “Gridlock” em cidades como Bangkok é muito mais grave, e chega-se a demorar mais de uma hora a atravessar uma avenida em horas de ponta. Mas com o mal dos outros podemos nós muito bem, e para quem aqui vive há mais de uma década sente a diferença. A solução é difícil de encontrar, mas eventualmente chegará, assim que se atinga o ponto de ruptura. Qualquer dia vamos ficar fartos de engarrafamentos, parquímetros, estacionamentos a preços exorbitantes e tudo mais, e vamos todos andar a pé. Eu já me antecipei. Fico à vossa espera.
Sopa
De quando em vez faço uma rica sopa que me serve de sustento pelo menos durante duas ou três refeições. Compro uma couve, um nabo, uma cebola, uma batata, dois tomates maduros e uma ou duas cenoura, corto tudo em pedaços, cozo, rego com azeite e junto uma pitada de sal. Parecendo que não, uma tigela cheia desta macedónia de vegetais chega para comfortar o estômago, e se for consumida ao jantar chega muito bem para ir dormir sem ter a barriga a dar as horas. Uma prática que se recomenda na ordem de pelo menos uma vez por semana para todos os amantes dos prazeres da vida: carne, vinho, cerveja e sexo casual com mulheres desconhecidas. É um pouco como o cão que come relva e assim faz a tão necessária purga. Com as devidas distâncias. Salvo seja, apetece dizer.
Existiu desde sempre um trauma com a sopa entre os mais novos. A sopa e os legumes em geral são um hábito que se adquire com a idade. Lembro-me de quando era pequeno odiar Caldo Verde, e causava-me impressão observar a forma quase religiosa com que os adultos sorviam aquela mistela que mais parecia uma maré repleta de algas. Continuo a não gostar de Caldo Verde por aí além, mas pelo menos agora compreendo o ritual. Sorver tigeladas de vegetais cozidos ralados ou cortados em pedaços a nadar em água a ferver é um dos preceitos daquilo que se convencionou chamar uma “alimentação equilibrada”. É assim que se obtêm as vitaminas. Deve ser isso.
Nem todas as sopas são aborrecidas como o Caldo Verde ou as restantes compostas inteiramente de vegetais. Os russos têm o delicioso Borsch, confecionada com bife, uma injecção de proteínas. Da Tailândia vem o Tom Yum-Gong, que devidamente guarnecido até parece uma caldeirada de marisco, e ainda com aquele “twist” tão exótico. E nem é preciso ir tão longe; nós próprios temos a sopa de rabo de boi, a sopa de peixe (quanto menos espinhas melhor), e a Sopa da Pedra, especialidade ribatejana composta por feijão, carne de porco, chouriço, entremeada, orelha e batata, que chega muito bem para uma refeição de enfarta-brutos. A designação de “Sopa” não lhe faz exactamente justiça. É como chamar ao Cozido à Portuguesa uma “entrada”.
Mas quando falamos de sopa, não podemos deixar de fora a Canja de Galinha. Isto da canja tem muito que se lhe diga. Analisando bem a sua composição, trata-se de uma mistura mórbida de gordura, miudezas, e por vezes a própria carne do galináceo. É uma sopa rebelde, e as versões variam de lar para lar. Na casa da minha saudosa avó paterna, era confecionada com arroz, e às muelas e fígados da ave juntavam-se também as patas. Outros lares substituem o arroz por massas: cotovelinhos, pevide, aletria e até letras, o que não só alimenta como entretém. Quando cheguei a Macau e descobri a versão local da canja, aquela com arroz moído, fiquei meio desconsolado. A canja de cá foi idealizada para gente desdentada. Faz-se muito melhor em qualquer hospital em Portugal.
Existem vegetais que entram em muitas sopas que seriam de outra forma intragáveis. Um bom exemplo disso é o feijão verde. Ninguém me consegue convencer a comer aquelas vagens esverdeadas a não ser cortadas em pedacinhos horizontais misturados num caldo. Mesmo a cenoura e o próprio nabo têm um aspecto mais convidativo na forma de rodelas e enfiados numa sopa. E quem já ouviu falar de “nabiça” sem a “sopa de” que lhe antecede? E os tais grelos, que têm uma conotação sexual, são completamente intragáveis fora do contexto de uma sopa…de grelos. Há quem goste de os comer com o bacalhau, mas para mim parece-me excessivo. Ou bacalhau, ou grelo.
As qualidades da sopa em geral são indesmentíveis. Quem não dispensa um prato de sopa pelo menos durante uma refeição do dia candidate-se a viver mais, e com mais saúde. A cara feia que os mais pequenos fazem perante o prato de sopa é eventualmente substituída pela satisfação de meter a colher à boca e cumprir a tal “purga” – a sopa não só alimenta como ajuda a desentupir o organismo de alguns excessos que infelizmente não conseguimos evitar. É mesmo assim, amigos. A Mafalda, personagem criada pelo cartoonista argentino Quino, e que detestava sopa, estava enganada. A sopa não só faz bem como também alimenta. É só preciso usar a imaginação.
Arsenal atrasa-se nos Emirates
A1-1M www.fasthighlights.com 发布人 fasthighlights-2012
Arsenal e Manchester United encontraram-se esta noite no Emirates Stadium, numa partida sem a importância de outros derbies do passado: o ManU já é campeão, e os “gunners” lutam por uma vaga na Champions League. Mesmo assim os londrinos começaram melhor, com Theo Walcott a inaugurar o marcador logo no segundo minuto. Mas quem pensava que a equipa de Alex Ferguson ia levanter o pé, enganou-se, e o empate chegaria ainda antes do intervalo de grande penalidade, convertida pelo holandês Robbie Van Persie. A divisão de pontos prejudice os aresnalistas, que permanecem no quarto lugar com mais dois pontos, mas também mais um jogo realizado.
Sporting espreme mais uma vitória
O Sporting voltou a sofrer para vencer na Liga Sagres, ao bater esta noite m Alvalade o Nacional por duas bolas a uma. Os leões começaram fortes e inauguraram o marcador logo aos seis minutos, por Diego Capel. A equipa de Jesualdo Ferreira continuou a exercer domínio, mas falhou no capítulo da concretização, e eventualmente os madeirenses chegaram ao empate no segundo tempo, graças a um excelente remate de Daniel Candeias, um jogador português com muito valor e que tarda a ser contratado por um dos grandes. O golo da vitória dos leões foi apontado pelo defesa Marcos Rojo já perto do fim, mantendo o Sporting na luta pela Europa. A equipa de Jesualdo Ferreira ascende ao 8º lugar, a dois do quinto classificado, o Estoril.
domingo, 28 de abril de 2013
Descaramento
Uma das notícias da semana prende-se com a intenção expressada pelos jovens Jorge Neto Valente Jr. e Duarte Alves de se candidatarem à posição de deputados na Assembleia Legislativa num future próximo. O primeiro é filho do actual presidente da Associação de Advogados de Macau e também ex-deputado da AL, Jorge Neto Valente, e o segundo filho do advogado Leonel Alves, que ocupa actualmente uma vaga no hemiciclo da RAEM, eleito pela via indirecta.
Ambos os “candidatos a candidatos” são actualmente empresários, e no caso de Duarte Alves, a comunidade portuguesa conhece-o mais como dirigente-mor da equipa de futebol do Benfica de Macau. As intenções políticas destes filhos de personalidades conhecidas e respeitadas na sociedade de Macau foram recebidas ao mesmo tempo com surpresa e indignação; o sector democrata acusa-os de querer comprar um cargo politico, e a generalidade da opinião pública pergunta simplesmente: “Quem são?”.
O director do Hoje Macau, Carlos Morais José, assinou na edição de quinta-feira um editorial sobre o assunto, destacando a inexperiência de Neto Valente Jr. e Duarte Alvesm e o facto de conhecerem pouco da sociedade de Macau, derivado de terem nascido “em berço de ouro”. A opinião de CMJ foi mal recebida pelo menos pelo primeiro, que expressou o seu desagrado pelos comentários do jornalista numa rede social. Apesar de não ter nada contra Neto Valente Jr. ou Duarte Alves, e reconhecer o direito a qualquer cidadão da RAEM de se candidatar a um cargo politico, não me resta senão concordar com o director do Hoje.
Não é segredo nenhum que o desempenho de um cargo politico pode trazer vantagens lucrativas para os seus titulares – e isto torna-se ainda mais verdade em Macau, onde é bem conhecida a promiscuidade entre o interesse público e os interesses privados. Além disso, e se for mesmo esse o caso, é preocupante que a filiação destes dois “candidatos a candidatos” lhes proporcione alguma espécie de vantagem. O maior exemplo que temos deste tipo de sucessão hierárquica política na região é o da Coreia do Norte, e temos que concordar que se trata de um péssimo exemplo.
Não sei em que circunstâncias Neto Valente Jr. e Duarte Alves manifestaram a ambição a uma carreira política, mas se estão mesmo a falar a sério, o “timing” não foi o ideal. Ambos deviam dar-se a conhecer melhor antes de dar um passo tão importante, deixar saber onde se colocam no plano ideológico, de como poderão contribuír para o debate politico e em que termos podem fazer a diferença a serviço da população ou dos grupos de interesse que os elegerão. Assim saídos do nada, manifestando este tipo de ambição, serão apenas acusados de descaramento. E com razão.
Liga de Elite - 12ª jornada
Realizou-se este fim-de-semana mais uma jornada da Liga de Elite de Macau, a 12ª, e terceira da segunda volta. A jornada arrancou na sexta, com a Polícia a bater o Lam Ieng pela margem minima. O golo de Chan Weng Son aos 62 minutos foi suficiente para a formação da PSP segurar o quinto posto da classificação, assumindo-se como o "primeiro dos últimos", tal é a diferença entre as quarto equipas mais fortes e as restantes - a Polícia encontra-se a 11 pontos do quarto classificado, o Lam Pak.
No Sábado pelas 14 horas realizou-se a partida mais aguardada desta ronda, o Benfica-Ka I. Os encarnados confirmaram o bom momento de forma e bateram os tri-campeões do território por expressivos 3-0. Filipe Duarte inaugurou o marcador aos sete minutos, enquanto Bruno Martinho e Pio Júnior marcaram no segundo tempo. O Ka I viu-se reduzido a dez elementos aos 65 minutos depois da expulsão de Cléber Lima, e pode dar-se por contente de não ter sido vergado a uma humilhação ainda maior, tal foi o domínio das águias de Macau.
A seguir jogou o Monte Carlo, que sabendo do resultado dos rivais mais directos, tinha a possibilidade de ampliar a vantagem na liderança para seis pontos. Os pupilos do experiente Tam Iao San não enjeitaram a oportunidade, e bateram tranquilamente o latenra-vermelha, os Sub-23, também por 3-0. O jovem promissor - que curiosamente pertenceu aos quadros da equipa de formação apoiada pela AFM - apontou dois golos, depois de Felipe de Souza ter inaugurado o marcador logo aos dois minutos.
Já hoje o Lam Pak goleou o Chau Pak Kei por 4-1, com William Gomes novamente em destaque, ao apontar mais dois golos. O golo de honra do CPK foi obtido já no periodo de descontos, pelo camaronês Roger Batoum. Na partida que encerrou a jornada o Kuan Tai venceu o aflito Kei Lun por 2-0. A equipa de João Rosa ascendeu ao sexton posto com a contribuição do contingente africano: Patience Shako e Arnold Mbuyu foram os autores dos golos. O Monte Carlo lidera ainda mais destacado, com 36 pontos, seguido de Benfica e Ka I com 30, Lam Pak 27, Polícia 16, Kuan Tai 15, Lam Ieng 1`3, CPK 9, Kei Lun 3 e Sub-23 com zero pontos.
Entretanto na segunda divisão, o Sporting obteve a decimal vitória consecutiva ao golear o Pau Peng por 3-0. Os leões mantêm seis pontos de vantagem sobre Lai Chi e Hong Ngai, que também somaram três pontos esta jornada. A equipa da Casa de Portugal deu um pontapé na crise ao golear o Ponto 48 por quatro bolas a uma, e saíu da zona de despromoção. Os comandados por Pelé demonstraram mais uma vez ser uma equipa irregular, mas podem respirar melhor caso vençam na próxima jornada o Chuac Lun, equipa que se encontra imediatamente abaixo da linha de água, a três pontos da formação lusa.
Liverpool humilha Magpies
O Liverpool goleou ontem o Newcastle em St. James Park por expressivos 6-0, um resultado que evidencia bem a diferença entre as duas equipas, ao mesmo tempo que acentua a crise dos "magpies", que lutam pela manutenção este ano, depois de na época passada terem discutido um lugar na Liga dos Campeões. Sem o uruguaio Luis Suarez, castigado por dez jogos depois de ter mordido o defesa sérvio do Chelsea Ivanovic na jornada anterior, o Liverpool contou com a inspiração de Daniel Sturridge e Jordan Henderson, que apontaram dois golos cada. Mesmo assim os "reds" ocupam um modesto 7º lugar, sem perspectivas de uma participação nas provas da UEFA na próxima temporada, enquanto o Newcastle é 16º, com mais cinco pontos que o Wigan, abaixo da linha de água, mas com mais um jogo efectuado.
Porto à coca
O Porto conseguiu manter a pressão sobre o Benfica ao bater no Dragão o V. Setubal por duas bolas a zero. Os dragões estão a um ponto dos encarnados e vão ficar amanhã a torcer que o Marítimo roube pontos aos rivais mais directos, em jogo que se disputará no caldeirão dos Barreiros. Os sadinos trouxeram a lição bem estudada, e adoptaram uma posição mais defensive, com a esperança de conquistar pelo menos um ponto que os ajude na luta pela manutenção. Tudo corria bem para o Vitória, que até teve no guardião polaco Pisczcek um herói ao defender uma grande penalidade de James Rodríguez aos 61 minutos. O colombiano redimir-se-ia cinco minutos depois ao assistir de trivela o argentine Lucho Gonzalez para o primeiro golo do Porto. O belga Defour traria a tranquilidade a cinco minutos do fim ao apontar o segundo, confirmando o triunfo caseiro. Os sadinos não vencem no Porto desde 1972.
sábado, 27 de abril de 2013
Vídeo da semana
O programa "Cinco para a meia-noite" da última quinta-feira, noite de 25 de Abril, foi provavelmente o melhor de sempre. Os convidados de de Pedro Fernandes foram nem mais que Jorge Palma e Manuel João Vieira - apenas os melhores músicos portugueses da actualidade. O resultado foi hilariante e espectacular, e para comemorar a ocasião, MJV improvisou este "Lenine", acompanhado à guitarra por Jorge Palma. Um momento único em televisão.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Revolução e harmonia
I
Comemora-se hoje mais um aniversário da Revolução dos Cravos, que exactamente há 39 anos neste dia derrubou a ditadura do Estado Novo em Portugal e instituíu uma democracia parlamentar e multi-partidária, aboliu a censura, libertou os presos políticos e de delito de opinião, e eventualmente pôs fim à Guerra do Ultramar, trazendo de volta a casa os nossos soldados. É uma feliz coincidência que hoje, dia 25 de Abril, tenha a oportunidade de escrever neste espaço. É mais do que isso: é uma honra. Há cada vez mais pessoas ressentidas com o 25 de Abril e as suas conquistas, e faz-se muita confusão entre a Revolução dos Cravos e os cravos da pós-revolução. É verdade que foram cometidos alguns excessos no período que se seguiu ao derrube do regime de Marcelo Caetano, nomeadamente durante o PREC, uma nódoa na nossa História mais recente. No que a revoluções diz respeito, Portugal não detém o exclusivo dos problemas que surjem no contexto de uma nova realidade. Os exemplos sucedem-se, mesmo nos dias de hoje. Foram quase 50 anos na penumbra, na sombra do autoritarismo musculado, e é normal que apareçam obstáculos, problemas novos e opiniões divergentes. Ao fim de um pesadelo nem sempre se segue um sonho lindo, é preciso repensar, reconstruír, reorganizar, e sobretudo encontrar o rumo certo, o que muitas vezes se afigura uma tarefa complicada. As políticas fracassadas e as decisões infelizes que se seguiram à revolução não invalidam as conquistas obtidas neste dia que se comemora. De todas a mais importante foi a liberdade, que uma vez alcançada pode ser usada para o bem ou para o mal. Depende apenas de nós usá-la com siso, aproveitá-la e tratar bem dela, para que não a voltemos a perder. Por mais descontentes que estejamos com a actual situação, nada substitui a liberdade, e nada justifica o regresso ao passado, ao 24 de Abril. É lamentável que tanta gente jovem suspire agora por Salazar e pelos nepotes do Estado Novo, mesmo sem conhecimento de causa. Se é apenas como protesto pela actual austeridade é um erro. É como receitar a alguém com uma enxaqueca que lhe cortem a cabeça. Este 25 de Abril, mais um que nos faz recordar o longínquo ano de 1974 em que Portugal reconquistou a liberdade e entrou – se bem que tardiamente – no caminho da modernidade é para ser celebrado sem reservas. Quando vamos ao aniversário de alguém não é para o criticar ou apontar-lhe defeitos. 25 de Abril sempre!
II
Uma característica fascinante da política que se faz em Macau tem a ver com uma certa passividade perante algumas situações que noutras paragens teriam consequências desagradáveis. Algumas “gaffes” cometidas por directores, secretários e outros amanuenses com responsabilidades no Governo da RAEM são toleradas de uma forma quase mecânica pela população em geral, que como já se sabe não é propriamente conhecida pelo seu espírito crítico. Casos tornados públicos recentemente no território e que em Portugal, por exemplo, levariam um alto responsável a apresentar a demissão no dia seguinte passam sem qualquer punição ou apuramento de responsabilidades. Os infractores vão-se perpetuando nas suas funções, e nem que os mandassem embora eles saíam. Os suspeitos do costume (os democratas) atiram umas farpas, exigem explicações, mas os visados fazem orelhas moucas – deixam falar e ficam à espera que o assunto “morra”, ou que uma outra tropelia qualquer seja cometida por outro autor. E assim vão passando as estações, e ficando os mesmos cantando e sorrindo a caminho do banco. Tenho um amigo muito tolerante que responde ao descontentamento esporádico de algumas faixas da população com um pacificador: “Está tudo bem, as coisas funcionam”. De facto em Macau ninguém morre de fome, os autocarros chegam mais ou menos a horas, e as repartições abrem às nove horas nos dias úteis. Em Macau não se justifica um “25 de Abril”, simplesmente…porque não. Tudo em nome da tal “harmonia”.
Benfica perde na Turquia
O Benfica perdeu ontem na Turquia frente ao Fenerbahçe por uma bola a zero, em jogo das meias-finais da Liga Europa. Os turcos dominaram o encontro, desperdiçaram uma grande penalidade e mandaram algumas bolas ao ferro da baliza de Arthur. Mesmo assim o único golo do encontro foi marcado na sequência de um pontapé de canto mal assinalado pela equipa de arbitragem, com Korkmaz a aproveitar para facturar. O Benfica terá que fazer pela vida na Luz daqui a uma semana se quiser chegar à final de Amesterdão. Foi a primeira derrota dos encarnados no ano civil de 2013 - a equipa de Jorge Jesus ficou 39 partidas sem perder.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
25 de Abril sempre (ou pelo menos hoje)
Foi há 39 anos que Portugal iniciou um novo ciclo na sua história. Depois de uma atribulada Primeira República, seguiu-se o autoritarismo imposto pelo Estado Novo, que mergulhou o país em quase cinco décadas de marasmo. A Revolução dos Cravos trouxe o regresso à discordância e ao divisionismo, com os Governos a sucederem-se até ao evento do cavaquismo, que trouxe dez anos de governação estável, até ao estado de coisas em que o país actualmente se encontra: endividado, arruinado e decadente. Ou seja, o regresso à normalidade. Um alívio saber que concordamos em discordar, fiéis à nossa natureza. E qual é o mal? Afinal estamos vivos. Tesos mas vivinhos da silva.
E agora pergunta-me o prezado leitor, ao estilo do pitoresco jornalista Baptista-Bastos: “ó Leocardo, onde é que estavas no 25 de Abril?”. Estava na barriga da minha mãe, ora. Só não vim para a rua ajudar a derrubar o regime porque era um feto na quarta ou quinta semana de gestação. Não me venham dizer que não falo com conhecimento de causa. Fui concebido na recta final da longa noite do fascismo. Sou o produto de uma das últimas quecas dadas durante o Estado Novo. Enquanto os meus pais se divertiam na alcova, estavam os nossos soldados a lutar no Ultramar. A minha gestação foi delirante, repleta de eventos de fazer arrepiar os cabelos. Nasci em plena liberdade, mas sou um revolucionário uterino.
O 25 de Abril de 1974, data que hoje comemoramos (enquanto a troika ainda nos deixa) foi um acontecimento muito kitsch. Tanques na rua, cravos nos canos das armas, cânticos de intervenção, gajos cabeludos e de bigode na rua, calças de boca de sino, tudo documentado a preto e branco. Se estes personagens vivessem nos dias de hoje, seriam facilmente objecto de galhofa por parte da nova geração. “Ei man, olha-me para aquele cromo! Ganda cena, ouve!”. Os jovens adultos ainda conseguem identificar a moda graças à série “That 70’s show”. Os mais jovens sabem apenas que o 25 de Abril “é feriado”. Zeca Afonso e os restantes abrileiros (os que ainda estão vivos) pertencem a um passado distante. São uma nota de rodapé nos currículos escolares.
O periodo pós-revolucionário, que ficou muito adequadamente conhecido por PREC (Processo Revolucionário em Curso) foi dado a toda a espécie de excessos. Pintavam-se murais, faziam-se greves, criavam-se sindicatos, nacionalizava-se quase tudo, e o país arriscou uma Guerra Civil e uma ditadura comunista ao mesmo tempo. A adrenalina estava ao máximo. Era pleno Verão Quente e estava eu a exigir a chupeta de braço esquerdo em riste, e cada fralda cagada era um comentário social e politico. Cada vez que ouvia falar do camarada Vasco saía mais uma fornada de cócó. Era um pequeno reacionário. Ainda bem que não me lembro de nada disto, e por duas razões: primeiro porque era uma chatice, e depois porque significava que seria mais velho que os 38 anos, 4 meses e 18 dias que tenho hoje. Livrei-me de boa.
Comemorei vários feriados do 25 de Abril tecendo loas aos paladinos que levaram a cabo a tarefa de soltar o país das rédeas do fascismo, e não me arrependo de nada. Apesar de simpatizar com a malta comuna que nunca está contente com nada, nunca fui realmente de esquerda, nunca dei o corpo ao manifesto por nada, nunca senti o perigo inerente à contestação e ao contra-poder, mas e depois? Chamem-me parvo, se quiserem. Prisões, tortura e martírios são daquelas coisas que me incomodam. Implicam longos períodos sem tomar banho ou trocar de camisa. Prefiro assistir às revoluções pela televisão. Parabéns aos gajos que se sacrificaram pelos nossos direitos, mas a mim quem me tira uma boa noite de sono, tira-me tudo.
O 25 de Abril e o seu epílogo deixaram sobretudo um enorme património cultural. O nosso património artístico, cultural e lexical ficou a ganhar com a revolução. Por muito que não concordemos com a mensagem, não podemos deixar de apreciar as canções de intervenção, a poesia, os murais do MRPP, a banalização da palavra “merda”, que até já consta de qualquer dicionário da nossa língua, toda essa manifestação do que antes estava esmagado e oprimido. E qual é o mal? Estávamos realmente melhor antes de podermos dizer “merda”? Ou de poder escrever “merda” sem levar com o pau da censura? Merda para isso. Que merda era essa? Ai a merda. Merda, merda, merda.
Mesmo que a Revolução dos Cravos pareça cada vez mais um paradoxo distante (arrisco a prever o seu esquecimento dentro de algumas décadas), é preciso lembrar hoje esta data como o dia em que a malta deu um murro na mesa. Fartou-se daquela merda toda (aí está…) e disse basta. É uma mensagem que podemos passar aos mais novos, e que lhes pode ser útil no futuro. Se um dia ficarem fartos desta merda toda, lembrem-se daqueles cotas cabeludos que vestiam roupas largas como os palhaços, e façam também vocês o vosso próprio 25 de Abril. E não se esqueçam que no calendário esta data é assinalada como “Dia da Liberdade”. E a Liberdade é um valor que devemos prezar. E quem pensa o contrário, que vá simplesmente à merda.
É o Otelo, pá!
Cada vez que se comemora o aniversário da Revolução dos Cravos, Otelo Saraiva de Carvalho sai da prateleira. Gostava de poder dizer mais sobre este personagem, mas não entendo o que diz. Fala uma lingua esquisita, só se percebem alguns murmúrios inconsequentes: “hmmm…hmmm…camaradas…hmm…hmm…acção desencadeada….hmm…hmmm…fascistas…pá!”. Todas as frases de Otelo acabam com “pá”. É um gajo fixe, pá. À frente do seu tempo, pá. Isto apesar dos seus 76 anos bem contados. O Otelo é dos nossos, pá. É o avô da malta. Militar de carreira na Guerra do Ultramar, com comissões em Angola e na Guiné, foi um dos principais actores do 25 de Abril. Muito bem, pá. A sua acção nos anos que se seguiram à revolução é que foram questionáveis; candidato derrotado à Presidência da República em 1976 e 1980 (onde obteve pouco mais de 1% dos votos), foi posteriormente preso sob a acusação de liderar a organização terrorista FP-25, responsável pela morte de 17 pessoas e a autoria de vários atentados bombistas. Indultado em 1996, leva uma vida privada discreta, sendo recordado em cada aniversário da Revolução dos Cravos, quando tem sempre estórias novas e bizarras para contar. Descontente com o actual estado da democracia, defende que é preciso um novo 25 de Abril. Não surpreende. É do 25 de Abril que vive este Otelo. Foram os seus 15 minutos de fama. Até pró ano, pá!
Avante camarada
“Avante camarada” é o hino revolucionário em português por excelência. Composta em 1967 por Luís Cília durante o seu exílio em França, foi editada pela primeira vez em Moscovo pela editora Melodia e fez parte da colectânea “Canções Portuguesas”. Luísa Bastos deu voz à música, que seria reeditada em 1974, já depois da revolução, pela editora Sasseti, e com arranjos de Pedro Osório. Já na ressaca revolucionária, foi gravada novamente em 1981, com a mesma Luísa Bastos acompanhada por grandes nomes do cancionetismo nacional, como Carlos Alberto Moniz, Maria do Amparo, Carlos Mendes, Fernando Tordo, Samuel e um coro de 25 elementos. O Partido Comunista Português adoptou o tema como um dos seus hinos.
Grândola, vila morena
Zeca Afonso, o poeta de Abril por excelência, figura indissocíavel do dia que hoje se comemora. Em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade. Feliz 25 de Abril, compatriotas.
Foi bonita a festa, pá
Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Pizza Napolitana
A Itália elegeu a semana passada o seu presidente. Pela primeira vez na História, os transalpinos reconduziram o chefe de Estado, que neste caso é Giorgio Napolitano, que cumprirá um segundo mandato até 2020. Até aqui tudo normal, a não ser pelo facto de Napolitano ter actualmente a bonita idade de 87 anos. Isto significa que terá eventualmente 94 quando der lugar a um novo presidente. Não sei a escolha deste decano se deve à falta de alternativas ou devido ao optimismo dos italianos, mas temos que admitir que se trata de uma aposta arriscada. Caso Napolitano sobreviva a mais este mandato, ficam provados os méritos da dieta mediterrânica e comprovada a eficácia do azeite e da pasta. Já o próprio Sívio Berlusconi, cujo apetite sexual se mantém férico aos 76 anos, é objecto do nosso pasmo. É sintomático da própria Itália como a conhecemos: a Torre de Pisa está inclinada, mas não cai.
Lance pagante
A confissão de Lance Armstrong sobre o consumo de doping durante praticamente toda a sua carreira foi apenas o acender de um longo rastilho. Depois de ver retiradas as suas sete vitórias no “Tour” e a sua medalha olímpica em Sydney, o ciclista batoteira vai ter que indemnizar o Governo norte-americano em milhões de dólares. Em causa está o lucro obtido por Armstrong em serviços postais e patrocínios diversos. O ciclista e os seus companheiros de equipas terão recebido perto de 50 milhões de dólares dos correios dos Estados Unidos e outros 20 milhões em patrocínios. Triste fim para aquele que foi considerado em tempos um herói e um exemplo de coragem. Banido, falido e humilhado. Para quem acredita nestas coisas do misticismo, será a morte que Armstrong venceu a pedir-lhe contas.
Ricardina Branson, ao seu serviço
Os passageiros de um vôo da Air Asia ainda não designado entre Perth e Kuala Lumpur no próximo mês vão ter uma surpresa. O bilionário Richard Branson, proprietário do grupo Virgin, sera um dos assistentes de bordo, e aparecerá vestido de hospedeira! Já foi há mais de um ano que Branson perdeu uma aposta com o CEO da Air Asia,Tony Fernandes, numa corrida de Fórmula 1, onde ambos apostaram na classificação das suas escuderias – a Virgin e a Lotus – respectivamente, e chegou a vez de Branson pagar…com o corpinho. De acordo com o estabelecido na aposta, o bilionário deverá rapar as pernas, usar um uniforme feminino da Air Asia, maquilhagem e saltos altos a condizer. Durante o vôo Branson juntar-se-á às restantes hospedeiras servindo chá e café aos passageiros da companhia de baixo custo. A receita do vôo que terá Branson como “hospedeira” reverterão a favor da Starlight Children’s Foundation, sediada na Austrália. Desportivismo, transformismo e caridade, todos num só.
Dortmund foi mais real
Afigura-se uma final alemã na Liga dos Campeões, contra todas as expectativas. O Borussia Dortmund goleou ontem o Real Madrid no jogo da primeira-mão da meia-final por 4-1, complicando as contas de José Mourinho com vista à final do próximo mês. O polaco Lewandowski foi o carrasco dos merengues, apontando os quatro golos dos alemães, tendo o português C. Ronaldo facturado para o Real - um golo que poderá fazer toda a diferença caso aconteça a "remontada" em Chamartín. Os madrilenos precisam de vencer pelo menos por 3-0, ou ficar a assistir à final da maior prova do futebol europeu pela televisão.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
A arte da obscenidade
Quando estudava na Escola Primária fui ensinado que era “feio” dizer palavrões, mesmo os mais inocentes. Um simples “sacana” ou “cabrão” podia valer um arraial de reguada, pimenta na lingua, uma palmada na boca, ou uma carta aos encarregados de educação. Foi um periodo de opressão, e pode-se mesmo dizer, de censura. Foi quando me juntei aos restantes “índios” no ensino Preparatório, o que no meu tempo era conhecido por Ciclo, que se soltou o Bocage ou o Vilhena que existe em cada um de nós, e comecei a dizer as primeiras caralhadas, longe dos olhares dos pais ou da atitude censória dos anjinhos que compõem o mundo infantil: professores primários, avós dos colegas, meninos e meninas de bem. Quando somos deixados entregues a nós próprios, alargam-se os horizontes, e descobrimos que dizer palavrões é não só uma conduta normal, mas também uma espécie de descompressão. Foda-se, é um alívio.
Mais do que começar a fumar ou a beber alcóol, dizer palavrões é o primeiro sinal de maioridade. Toda a gente diz palavrões, desde o doutor ao trolha, do cónego ao engenheiro, da dona de casa ao atleta de alta competição – e estes últimos usam e abusam do expediente, pelo que é dado a entender durante os movimentos dos lábios durante as transmissões televisivas de alguns jogos de futebol, por exemplo. Quem nunca pragejou não é normal, certamente. Algumas profanidades têm mesmo uma função de catarse, e servem para exorcizar os males do mundo a que somos constantemente expostos. Num mundo perfeito, sem dor nem contrariedades, os palavrões não fariam qualquer sentido. No mundo real são tão adequados como as batatas fritas que acompanham o bitoque. Não faria sentido viver sem eles.
Os portugueses dizem imensos palavrões no dia-a-dia, mas são mais tímidos quando os transportam para a ficção. É raro ouvir palavras como “foda-se” ou “caralho” na televisão ou no cinema, e mesmo os impropérios mais inocentes como “merda” ou “filho da puta” são atirados muito timidamente, seguidos de uma pausa escusada, como se viesse aí o senhor prior castigar os meninos com umas palmadas no rabo. Nas conversas de café ou entre amigos não é raro escapar um ou outro palavrão perfeitamente natural e simplesmente descartável. Ninguém se incomoda que fulano solte um espontâneo “vai levar no cu” ou um “puta que pariu” durante um argumento mais aquecido. Não se fica rotulado de porcalhão por deixar escapar de vez em quando um calão mais gráfico ou impróprio. Mas que caralho, vivemos ou não em liberdade?
É claro que existem limites. Um indivíduo que use palavrões como se fosse pontuação é normalmente considerado um “ordinário”. Alguém que diz “foda-se” quando se magoa ou “ai o caralho…” quando não acerta à primeira com uma tarefa, está perdoado; é apenas um desabafo. É preciso desconfiar de quem nunca diz um palavrão quando a vida lhe corre mal: podemos estar na presença de um potencial psicopata, que acumula frustações e pode explodir a qualquer altura com consequências mais graves. Chamar de “paneleiro” a um indivíduo assumidamente homossexual ou “puta” a uma prostituta pode ser ofensivo, mas apenas porque é verdade. Usados como simples interjeição, os palavrões perdem o seu carácter de insulto. Um indivíduo meio efeminado e cobarde, mesmo que heterossexual, arrisca-se a ser chamado de “paneleiro”, e uma mulher leviana pode ser chamada de “puta”, mesmo que não se preste a favores sexuais por dinheiro – e nos dias que correm, arrisca-se ainda a ser chamada de “parva”.
A própria designação dos órgãos sexuais merece quase sempre um tratamento mais popular, sem que algum mal venha ao mundo. Chamar de “cona” à vagina, “mamas” aos seios, “caralho” ao pénis ou “colhões” aos testículos não é mais do que libertá-los do pesadismo das designações médicas e científicas. É muito mais conveniente dizer que se tem “cócegas no caralho” do que “um prurido no pénis”. Os parasitas que habitam as partes baixas do mais badalhocos e badalhocas são mais conhecidos por “chatos na pintelheira” do que “pediculose púbica”. Poucos serão os que tratam este problema pela segunda opção. Mesmo as excreções são tratadas de forma mais ligeira. É mais habitual dizer “cagar” do que o pesadão “defecar”, ou “merda” em vez de “fezes”. Em que outro local se ouve a palavra “fezes” a não ser no consultório médico?
O acto físico do amor é propício a um vocabulário mais colorido, mesmo entre os mais conservadores. Na intimidade do leito os casais mais rapidamente entiçam o parceiro com um “fodes tão bem” do que com um seco “fazes amor com competência”, e um simples “fode-me” substitui o mais elaborado “faz amor comigo”. O coito oral é mais conhecido por “broche” e “minete”, conforme o caso, sendo as alternativas “fellatio” e “cunnilingus” mais adequadas a uma aula de Latim do que um acto sexual propriamente dito. Dizer “estou a vir-me” é mais simpático que dizer “estou a ejacular”, e entre os mais solitários a “punheta” define competentemente a auto-gratificação. “Masturbação” parece mais o nome de uma doença tropical.
Se existe ainda algum tipo de preconceito quanto a estas palavras que todos conhecemos tão bem e amiúde usamos isso só pode ser fruto de muitos anos de opressão e censura, que levam a que exista ainda um conservadorismo escusado e bacoco. Usemos com prazer o vocabulário que os nossos poetas mais malditos dotaram a nossa lingua. São palavras lindas, que utilizadas no contexto apropriado produzem resultados magníficos. Não se inibam de mandar tudo “pró caralho” quando for realmente necessário. E digam lá com sinceridade: foder não é muito melhor do que “fazer amor”?
Um cabaz de tampas
O deputado José Pereira Coutinho esteve especialmente activo esta semana na AL, apresentando seis diplomas de proposta de lei abrangendo os temas mais variados, desde a protecção dos animais ao direito à imagem dos suspeitos encapuzados, passando pela protecção da reserva ambiental de Coloane à violência doméstica - tudo temas fracturantes, e os diplomas tiveram em comum o facto de terem sido reprovados pelos restantes deputados do hemiciclo da RAEM. Não se pode dizer que JPC não tenha tentado, mas o facto de estar conotado com a ala pró-democrata da AL coloca-o em desvantagem perante os sectores tradicionais, que por vezes votam contra "porque sim", como vamos ver mais adiante.
A questão da protecção dos direitos dos animais, uma legislação que tarda em Macau, foi reprovada com o voto contra ou a abstenção da esmagadora maioria dos deputados. Alguns dos argumentos são válidos, como a falta de um objecto específico da lei, referido por Kwan Tsui Hang. O deputado Chan Chak Mo, conhecido empresário da restauração, acusou Pereira Coutinho de "eleitoralismo", uma vez que estamos em ano de eleições. É curioso que o sr. deputado Chan Chak Mo esteja preocupado com eleitoralismo, uma vez que é eleito pela obscura via indirecta. Se calhar estava a tentar da uma de "espertalhão", e para quem o conhece mais ou menos bem, sabe que de esperto ou inteligente o senhor tem muito pouco.
A questão dos encapuzados é também um tema interessante. Em Macau um suspeito é apresentado à comunicação social com a cabeça coberta por um pano preto com dois buracos no lugar dos olhos, a fazer lembrar um farricoco, muitas vezes em frente a uma mesa onde estão exibidas as provas do alegado crime. Este tipo de exibição não abona muito a favor do princípio da presunção da inocência. Perante uma imagem tão flagrante, existirá a tendência do suspeito ser condenado em praça publica. O ideal seria que o suspeito não fosse apresentado de todo. Neste diploma o deputado Leonel Alves, conhecido advogado e veterano da AL votou ao lado de Coutinho.
Entre alguns dos argumentos apresentados pelos deputados para reprovar este pacote de leis estão lacunas, imprecisões ou zonas cinzentas nos diplomas. Tenho curiosidade em saber se fosse o próprio Executivo a apresentar propostas exactamente idênticas, se seriam também reprovadas. Desconfio que não. E assim vai o orgão legislativo maximo da RAEM.
Fazer o bem (olhando a quem)
O mais recente sismo na provincia de Sichuan, na República Popular da China, gerou a habitual onda de solidaderiedade na RAEM. As imagens das vítimas que perderam familiares e propriedade são de partir o coração, e apelam à contribuição de modo a amenizar a dor. O problema é sempre o mesmo: será que a contribuição de instituições governamentais, empresas e particulares chegam a seu destino? O que se perde pelo caminho? Quanto das 100 patacas do cidadão comum chegam ao destinatário? E porquê? O Governo da RAEM accionou um plano de emergência após a tragédia do ultimo fim-de-semana, disponibilizando um total de 100 milhões de patacas. Dinheiro do erário publico, portanto em nome de toda a população, e uma soma bem avultada, diga-se de passagem. Para onde vai todo o restante que tem sido colectado por associações privadas em nome da ajuda à população de Ya'an, onde se deu o epicentro da tragédia? O LegCo da região vizinha de Hong Kong está reticente em contribuir com os cem milhões para o alívio das gentes de Sichuan, pois querem ter a certeza que a quantia chega às populações afectadas. E nós também. Não queremos que o dinheiro caia nos bolsos de intermediários corruptos, politicos desonestos e dirigentes pouco escrupolosos. Sem transparência perde-se a vontade de doar.
Barça leva banho de bola
O Bayern deu um autêntico banho de bola ao Barcelona na Allianz Arena de Munique, esmagando os catalães por quarto bolas a zero. Thomas Müller inaugurou e fechou o marcador, com golos de Gomez e Robben pelo meio. Os teutónicos dominaram a partida a seu bel-prazer perante um adversário que contou com um Lionel Messi a meio gás, recuperando ainda de uma lesão recente. Tarefa dificultada para a equipa de Tito Villanueva, que precisa agora de encetar uma recuperação histórica para chegar à final do próximo mês.
terça-feira, 23 de abril de 2013
O fosso existe
Os sociólogos estão cada vez mais preocupados com o fosso entre os mais ricos e os mais pobres em Macau. Eu também estou preocupado, pois se em Macau não existem tantos “pobres” na acepção do termo como isso, sinto-me incluído no grupo daqueles que andam à míngua. É simples: se não sou rico, então sou pobre. Se calhar Agnes Lam até tem alguma razão. Se existe uma classe média, esta anda muito caladinha, e ver os navios a passar. Os ricos, esses, vão ficando cada vez mais ricos.
Em Macau é assim, sempre foi e provavelmente sempre será. Os mais ricos nunca estão satisfeitos, enquanto os remediados e os pobrezinhos vão batendo com a cabeça numa redoma que os impede de chegar lá acima. As elites do território serão as únicas do mundo: tudo querem, tudo podem e tudo lhes é permitido. Existe um certo cheiro a injustiça no ar (talvez por isso tanta gente use máscara cirúrgica), e uma sensação de impunidade. Mas como vai dando para viver e a partir do próximo mês começam a chegar os cheques de 8000 patacas, a malta vai comendo calada. Até pode ser que estejamos a ser enrabados, mas pelo menos é com anestesia.
Mais do que olhar para números, estatísticas e factos concrectos é preciso olhar para o abstracto, e até para a próxima natureza. Quando era puto, numa das muitas vezes que visitei o Zoo de Lisboa (sempre um prazer) observei o comportamento de três macacos que partilhavam a mesma jaula. Um deles, certamente o líder, monopolizava os amendoins que eram mandados pelos visitantes. Um dos outros apanhou um amendoím e comeu-o, o que provocou a ira do “chefe”, que o perseguiu com o intuito de o castigar pela audácia. Enquanto isso o terceiro estendia a mão de fora da grade pedindo amendoins aos “primos” humanos, olhando constantemente para trás, certificando-se que o macaco dominador não o controlava. Pareciam tão humanos que me causou uma certa impressão.
Estabelecendo um paralelo entre estes macacos portugueses naturalizados e a situação em Macau, não encontramos assim tantas diferenças. Em vez de símios enjaulados temos empresários da construção, do jogo, “pang iaos” próximos do Governo central e afins que vão comendo a grande parte dos amendoíns, deixando apenas “os outros” (nós, portanto) comer quando já estão de papo bem cheio – e mesmo assim ficam a desejar tem mais estômagos para encher, tal é a ganância e a relutância em ver outros macacos a papar a fartura de amendoíns que por aqui temos. Ver um sumarento terreno onde se podia construir um empreendimento de luxo transformado em projecto de habitação social parte-lhes o coração. É como se lhes arrancassem um rim. Vão para a cama a chorar, como se tivessem perdido um filho.
Enquanto os gulosos prosseguem esta faustosa ceia, os restantes “macacos” vão apanhando o que sobra dos amendoíns, alguns já pisados, passados ou amolecidos pelo mijo do chefe. Por mais que alguns chimpanzés mais corajosos façam barulho nas redes sociais ou nos forums da radio, os macacos-omega vão fazendo orelhas moucas e encolhendo os ombros, esperando apenas que cesse a gritaria na jaula, e possam prosseguir no açambarcamento dos amendoíns mais apetecíveis. É fácil analisar isto do fosso entre os (muito) ricos e mais pobres (ou menos ricos), mas para mim este tal fosso não é muito diferente do que separava os visitantes do Zoo dos três macacos que disputavam os amendoíns.
ManU confirma título
Tal como se esperava, o Manchester United festejou ontem mais um título da Premier League, o 20º da sua história e o 13º da era Alex Ferguson. O modesto Aston Villa não foi adversário à altura, e o holandês Van Persie fez o gusto ao pé logo aos dois minutos. O avançado completariaó "hat-trick" ainda na primeira parte, o que lhe vale agora a liderança da tabela dos melhores marcadores da Premier League. A segunda parte foi em ambiente de festa, e os "red devils" não bateram mais no Villa. O título volta a greater Manchester, depois de um ano do outro lado da cidade.
Sichuan meu amor
A provincia chinesa de Sichuan foi abalada este fim-de-semana por mais um sismo, que já causou mais de 200 mortos, milhares de feridos e prejuízos materiais incalculáveis. Entre as imagens de desespero e de destruição que vào chegando daquela malograda região do continente, há uma que tem o condão de nos deixar bem dispostos. Uma jornalista que se ia casar interrompe a cerimónia e faz reportagem ao vivo, com vestido de noiva e tudo. Um exemplo de profissionalismo, dirão. O marido é que não terá grandes esperanças em ser a prioridade na vida da jovem reporter.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
A fome não era de bola
O avançado Luís Suarez esteve em destaque pelos melhores e pelos piores motivos no empate a duas bolas do Liverpool frente ao Chelsea em Anfield Road. O internacional uruguaio, artilheiro-mor do campeonato inglês, apontou no ultimo minute o golo do empate da sua equipa, mas apenas porque o árbitro não terá visto esta agressão aos 73 minutos, quando Suarez morde o braço direito do defesa sérvio Ivanovic, dentro da area dos "blues". Mesmo assim o jogador arrisca-se a um castigo severo e pode falhar a ponta final do campeonato. O avançado é tido quase como certo nos alemães do Bayern de Munique na próxima época, e é caso para dizer que não quer sair de Inglaterra sem deixar a sua marca. Marca dos dentes, neste caso.
Manchester morto, Manchester posto
O Manchester United pode sagrar-se já hoje campeão da Premier League, caso vence esta noite em Old Trafford o aflito Aston Villa. Em caso de vitória os "red devils" passarão a dispôr de 16 pontos de vantagem sobre o Manchester City, com 15 pontos apenas em disputa. Isto porque os citizens foram derrotados ontem em White Hart Lane por 3-1 frente ao Tottenham, com golos de Dempsey, Defoe e Bale nos últimos 15 minutos, depois dos visitantes se terem colocado em vantagem logo no quinto minuto do encontro por intermédio de Samir Nasri. Os "Spurs" ocupam o quinto lugar com menos um ponto que o Chelsea e menos dois que o Arsenal, com os "gunners" a contra com mais um jogo disputado. Luta renhida nos lugares de acesso à Liga dos Campeões na próxima temporada.
Benfica vence derby
O Benfica bateu o Sporting por duas bolas a zero e ultrapassou mais um obstáculo a caminho do título. Sálvio e Lima foram os marcadores, mas os leões queixam-se da arbitragem de João Capela, que não terá visto duas grandes penalidades a seu favor quando o resultado ainda estava em branco. Curiosamente este é o mesmo árbitro que arbitrou o Benfica-FC Porto da época passada, que terminou com a vitória dos dragões por 3-2, com um golo irregular de Maicon a decidir a partida, e eventualmente o título. O Benfica mantém 4 pontos de vantagem sobre os azuis e brancos a 4 jornadas do fim. Caso os encarnados vençam o Marítimo no Funchal e o Estoril em casa, vão para o Dragão com uma vantagem que lhes permite perder esse "derby" e manter a liderança. Na última jornada o Moreirense visita a Luz, e tudo indica que se a equipa de Jorge Jesus se mantenha na liderança até esse dia, os minhotos serão os "cabeçudos" da festa do título. Contas mais complicadas para o FC Porto e para Vítor Pereira, que certamente contava com uma ajuda do Sporting esta noite.
domingo, 21 de abril de 2013
Palavra do ano: estirpe
Se a palavra de 2011 neste blogue foi “procrastinação”, a palavra deste ano civil que agora decorre é “estirpe”. Tudo por culpa do virus H7N9, uma nova estirpe (aí está…) da gripe aviária e que já causou várias fatalidades na China continental, colocando as autoridades da região em alerta. A estirpe é mencionada em todos os noticiárias, e as pessoas tremem ao ouvir esta palavra. É como se um Jack, o “estirpador” estivesse à solta. Quando se ouve falar em estirpe não pode ser coisa boa. A estirpe é uma nova ameaça. A estirpe, esta em particular, pode matar.
A estirpe, "strain" na tradução inglesa, que soa ao muito mais agradável e inofensivo “strip”, é mais uma daquelas palavras que se tornam subitamente infames mesmo que antes muita gente nunca tenha ouvido falar dela. Foi como a palavra “austeridade” em Portugal. Muitos já viviam em estado de austeridade, mas não lhe davam esse nome – diziam simplesmente que eram “tesos”. A estirpe fez muito boa gente puxar do dicionário e saber do que se trata. Os medicos, farmacêuticos e gajos dos laboratórios enchem o peito de orgulho: “antes de vocês ouvirem falar da estirpe já estávamos nós fartos dela”. Estirpe: a palavra do ano. E já agora vamos esperar que esta estirpe da gripe dos galináceos não faça mossa.
Liga de Elite - 11ª jornada
Realizou-se este fim-de-semana mais uma jornada da Liga de Elite de Macau, que mais mais uma vez demonstrou que existe um abismo entre os quarto primeiros e as restantes equipas, com os favoritos a obter vitórias expressivas. A ronda iniciou-se contudo com uma partida entre duas equipas da cauda da tabela, com o lam Ieng, equipa satélite do "grande" Lam Pak, a bater com alguma dificuldade o Kei Lun, penúltimo classificado e quase condenado à despromoção. O Kei Lun inaugurou o marcador, mas o Lam Ieng virou o resultado para 3-1, e ainda antes do intervalo concederam o segundo, deixando alguma expectativa para a etapa complementar. As expactivas não foram correspondidas, e os 45 minutos finais não foram tão férteis em golos. Os azuis apontaram o quarto a dez minutos do fim, e o melhor que o Kei Lun fez foi reduzir a um minuto do fim. Com esta vitória o Lam Ieng ascendeu ao quinto posto, enquanto o Kei Lun continua em penúltimo com 3 pontos, a seis da linha de água e sem grandes esperanças de melhoras.
No Sábado à tarde foi altura dos candidatos puxarem dos galões, e presentearem os seus adversaries com goleadas. O Benfica esteve em destaque, ao bater a Polícia por sete golos sem resposta, num jogo que se previa menos fácil para os encarnados. O Benfica já vencia por 5-0 ao intervalo, e aos 22 minutos já levava quarto golos de vantage. Bruno Martinho apontou um "hat-triick", Jorge Tavares bisou, enquanto Filipe Duarte e Pio Júnior marcaram um cada. De seguida o Ka I bateu o Chao Pak Kei por 5-1, numa partida que ao intervalo se encontrava empatada a um golo. Nicolas Torrão, artilheiro do campeonato, apontou dois golos, tantos quantos o cabo-verdiano Allison Brito, que foi titular. O suplente Carlos Silva também marcou para os tri-campeões, enquanto o camaronês Roger Batoum marcou pelo CPK.
Esta tarde mais jogos, mais goleadas dos favoritos. O Lam Pak goleou os Sub-23, que continuam sem pontuar, por expressivos 7-0, com o brasileiro William Gomes a apontar quatro golos. O líder Monte Carlo encerrou a jornada com uma goleada sobre o Kuan Tai. A equipa de João Rosa, conhecida pelo seu espírito combative, não resistiu mais de 34 minutos e saiu vergada a uma derrota por seis golos sem resposta. O jovem internacional Leong Ka Hang imitou William Gomes e fez ele próprio um "poker". O Monte Carlo lidera com 33 pontos, seguido do Ka I com 30, Benfica 27, Lam Pak 24, Lam Ieng e Polícia 13, Kuan Tai 12, Chao Pak Kei 9, Kei Lun 9 e Sub-23 com zero pontos.
Na segunda divisão realizou-se a primeira jornada da segunda volta, e o Sporting consolidou a liderança ao golear na quarta-feira o segundo vlassificado, o Lai Chi, por quarto bolas a uma. O Lai Chi tinha imposto a única derrota do campeonato aos leões, e era a única equipa Invicta (três empates). O Sporting lidera agora com seis pontos de vantagem, e o Lai Chi foi alvcançado pelo Hong Ngai no segundo posto. O Hong Ngai, despromovido do escalão principal na época passada com derrotas em todos os jogos, bateu a equipa da Casa de Portugal por apenas 1-0. Apesar do resultado equilibrado, a formação de Pelé continua com a corda na garganta, ocupando um modesto penúltimo lugar com duas vitórias e oito derrotas.
Porto pressiona
O FC Porto bateu ontem o Moreirense por três bolas a zero em Moreira de Cónegos, com dois golos de Jackson Martines e um de Fernando. O colombiano voltou a marcar depois de seis jogos em branco, e consolidou a liderança na lista dos melhores marcadores, com 25 golos. Os dragões ficam a um ponto do lider Benfica, que recebe hoje o Sporting na Luz, e colocam pressão sobre os encarnados.
sábado, 20 de abril de 2013
Nublado, húmido, chuvoso e merdoso
Entrámos oficialmente no clima de Verão em Macau. As últimas semanas, com especial incidência nos últimos dias, têm sido marcadas pelo tempo húmido, quente, chuvoso e merdoso. O tal de que me queixo há anos sem que ninguém tenha pena de mim. Como sofro, meu Deus. O clima é um dos aspectos menos bem conseguidos desta terra, onde afinal nem se vive mal. Se os Céus nos presentearam com a benesse dos casinos e do dinheiro fácil, exigiram em troca que penássemos debaixo de um clima infernal. É um purgatório de suor, roupas molhadas e sapatos encharcados.
O calor até nem é o maior problema, pois as temperaturas raramente ultrapassam os trinta graus Celsius, mas a humidade relativa próxima dos 100% torna a simples tarefa de andar na rua uma tortura. É como uma sessão de sauna, mas com roupa e sem os apetrechos que tornam a experiência tão aprazível. Não é nada simpático passar o dia com a roupa colada ao corpo, uma situação que se agrava com o uso de um fato, caso a profissão o exija. Um dia típico de Verão em Macau inclui calor, humidade e aguaceiros, por vezes chuva torrencial. Sol nem vê-lo. É assim desde Abril ou Maio até Setembro. Ninguém merece.
A chuva é quiçá o aspecto mais desagradável, muito devido à sua imprevisibilidade. O guarda-chuva torna-se um utilitário indispensável – quem quiser investir num negócio de baixo risco em Macau, uma fábrica de guarda-chuvas é o ideal. Depender do guarda-chuva é um enfado. Quem se lembra de sair de casa com ele arrisca-se a passar o dia inteiro a carregá-lo sem precisar de o abrir. Quem arrisca e sai de casa de mãos a abanar, confiando que não chove, arrisca-se a apanhar uma épica molha. Macau deve ser um dos poucos locais do mundo onde é completamente impossível prever quando chove. Mesmo um dia de sol aparentemente inofensivo pode descabar numa bátega diluviana. Repito: é castigo divino.
Apesar da frequência do uso do guarda-chuva pela população, os nossos cidadãos parecem ter ainda alguma dificuldade em utilizá-lo de forma correcta. Nas ruas mais concorridas, os guarda-chuvas ocupam uma parte considerável do espaço destinado à circulação, já de si muito escasso. Os mais altos (ou menos baixos, como é o caso) são os que mais sofrem com a displicência, arriscando muitas vezes a levar com uma vareta num olho. Não sei se foram feitos estudos sobre o impacto civilizacional do uso dos guarda-chuvas, ou se as conclusões explicam algum dos comportamentos, como abrir o guarda-chuva à saída de uma loja ou de um edifício sem cuidar que passa por ali alguém que pode ser atingido pela propulsão do cabo, ou a irritante mania de manter o chapéu aberto debaixo das verandas, onde obviamente não chove. A atitude predominante é egoísta: o mundo sou eu, o meu guarda-chuva e mais ninguém.
Contudo o uso do guarda-chuva não garante que se chegue ao destino sequinho, sequinho, como no anúncio das fraldas Dodot. A chuva que aqui cai é mesmo chata, e nem o guarda-chuva mais largo impede que as calças fiquem encharcadas dos joelhos para baixo. O escoamento deficitário das águas da chuva levam a que os sapatos fiquem empapados ao atravessar os mini-riachos que se formam nos passeios nos dias de maior pluviosidade. A chuva quando cai é para todos. Alguns tentam manter-se secos optando por capas de chuva ou simplesmente cobrindo o calçado com sacos de plástico, ou optando por chinelos. A estética fica completamente esquecida quando se trata de manter seca a indumentária. Que se lixe, não há nada pior que passar o dia inteiro enfiado num escritório molhado como um pinto.
Até pode ser que alguns escapem deste pequeno inferno e procurem outras paragens onde podem usufruir de um clima mais ameno, paisagens parasidíacas, gente bonita, mulheres voluptuosas ou um serviço de luxo ao preço da uva mijona, mas não conheço ninguém que tenha tantas férias que consiga escapar completamente deste clima fustigante. Faz parte da experiência que é viver em Macau. Aguentem, equipem-se dos tais guarda-chuvas, das capas, usem e abusem dos ares-condicionados e dos secadores, paguem a conta da electricidade e não refilem.
Egg tarts my ass
Fui ontem ao final da tarde ao café “Margaret’s Café & Nata”, localizado no centro da cidade e conhecido regionalmente e até mundialmente pelos “Portuguese egg tarts”, uma versão corrompida dos nossos pastéis de nata e que estranhamente muitos dos nossos compatriotas se orgulham – é como se nos orgulhessemos de vinho do Porto espanhol . Já fui mal atendido várias vezes neste estabelecimento, e foi apenas por vontade da minha companhia, que tinha vontade de comer duas das tais “egg tarts”. Apesar de se tratar de uma sexta-feira à tarde, horário normalmente concorrido por turistas da China continental e de Hong Kong, a fila não era assim tão comprida, e deu para chegar ao balcão em menos de cinco minutos. Notei que estavam alguns clientes à espera das “egg tarts”, e haviam apenas três na prateleira da loja. Perguntei se precisava de esperar muito tempo por uma nova fornada, pois estava com alguma pressa. A menina da caixa perguntou-me quantas queria, pelo que repeti “duas”. Fez um longo silêncio e uma cara de parva, e simplesmente não respondeu, provavelmente consciente de que a resposta não iria satisfazer as minhas humildes pretensões: levar as “egg tarts” e sair dali para fora. Já com as 16 patacas contadas na mão, respondi-lhe então: “deixa lá, já não quero nada”. Fui até à Caravela com a minha companhia e ali lhe saciei o apetite pelos pastéis de nata, com um serviço bem mais profissional, simpático, quase familiar. E ainda por apenas mais duas patacas usufruíu da experiência de comer um produto mais próximo do original.
Detesto ter que despejar aqui esta litrada de fel, mas o que é demais já chateia. As últimas vezes que fui ao “Margaret’s” – e que se dividem em espaços de vários meses – tenho sempre alguma razão de queixa. O serviço é mediocre, e chega a dar a entender que existe uma certa má vontade por parte dos empregados e da proprietária. A fama do local precede-o, e para muitos dos turistas que visitam o território chega a ser um local de passagem obrigatório, isto apesar de se venderem imitações que são praticamente a mesma coisa em várias outras lojas do território. O volume de negócio permite-lhes dispensar clientes como eu que desejam apenas ser atendidos com o mínimo de consideração, e que pagam para ser servidos com alguma qualidade. Quanto à proprietária, a tal Margaret (nome de guerra daquela senhora chinesa excessivamente maquilhada que costuma ficar perto da caixa a ver as pataquinhas cair), a sua arrogância chega a ser quase cómica. Tudo o que a senhora fez para merecer este sucesso foi casar com o inventor das “egg tarts”. Big deal. Não criou nada, não contribuíu com um chavelho para o bem da humanidade, e comercializa um sub-produto que muita gente consome mais por moda do que por gosto. E quem gosta tem muito mau gosto, peço desculpa pela sinceridade. E mais uma vez saí de lá com a promessa de que nunca mais ponho lá os pés. Espero que desta seja mesmo de vez.
Sai mosca!
As autoridades chinesas estão a tentar combater o fenómeno das casas-de-banho públicas infrequentáveis, propondo regras paras limitar o número de moscas e eliminar os cheiros nauseabundos. A manutenção das latrinas públicas na China é deficitária, especialmente em estações de transportes públicos. Os novos regulamentos do Ministério da Saúde limitam o número de moscas a uma por metro quadrado em lavabos nos edifícios comerciais, enquanto são permitidos três na mesma area em casas-de-banho públicas. O novo regulamento inclui ainda uma nova classificação para os odores emanados pelas casas-de-banho, bem como outras exigencies. Por exemplo, num local frequentado aproximadamente pelo mesmo número de homens e mulheres, o número de retretes na casa-de-banho feminina deve ser o dobro. A iniciativa sucedeu um protesto levado a cabo por um grupo de 20 mulheres que no final do ano passado invadiram um lavabo masculino em Guangzhou com cartazes exigindo o mesmo tempo de espera para usar a retrete para homens e mulheres.
Amantes passageiros
Já pensou como se comportam os passageiros de um avião destinado a cair? É o que Pedro Almodôvar sugere na sua nova película, "Amantes Passageiros", agora em estreia. Um vôo condenado entre Madrid e a Cidade do México é o cenário para uma comédia louca, ao estilo do que o realizador nos tem habituado. O filme conta com Javier Câmara, Cecilia Roth e Lola Dueñas nos papéis principais, e ainda com participações especiais de António Banderas, Penelope Cruz e Paz Vega. É o regresso de Almodôvar a um tom mais ligeiro depois de uma fase mais artística. A não perder.
Mercury
Aí está a confirmação do que já se esperava. O actor britânico Sasha Baron Cohen vai desempenhar o papel principal no filme "Mercury", um biópico sobre o carismático vocalista da banda The Queen, Freddie Mercury, desaparecido em 1991 vítima de SIDA. O projecto vinha sendo adiado desde há alguns anos, mas sairá no próximo ano mais ou menos por esta altura. Cohen está entusiasmado com o papel, pois era um grande fã da banda, vem tendo aulas de canto e já começou a treinar os tiques e pronúncia do malogrado cantor. O actor de origem judaica que se celebrizou na série "Ali G" e outras comédias que foram um sucesso de bilheteira já tinha feito papéis cantados nos filmes "Sweeney Todd: The Demon Barber Of Fleet Street" e "Les Miserables". A fasquia fica agora mais elevada. O filme dedicado a Freddie Mercury vinha sendo pensado desde 2010, e Johnny Depp chegou a ser considerado para o papel. Sem dúvida um filme que deixará na expectativa os fãs dos Queen e não só.
Essa guerra sai ou não?
A situação escaldante na Península coreana vai arrefecendo em águas de bacalhau. O ímpeto inicial do regime norte-coreano em atacar os “imperialistas americanos e os seus fantoches da Coreia do Sul” vai dando lugar a mais uma crise passageira, mais uma dor de dentes do regime de Pyongyang. A julga pela retórica inflamada de há uma semana, já tinha acontecido uma guerra termo-nuclear. Um pouco por esse mundo fora e especialmente aqui na região Ásia-Pacífico ficamos estupefactos. É como se estivessemos a sós na arena com um touro bravo, mas o bicho teima em não avançar. E ainda bem, por um lado. É um alívio se esta é apenas uma birra do novo Kim, o terceiro da dinastia, uma forma de consolidar o poder e ganhar o respeito dos norte-coreanos. Só que é uma brincadeira de mau gosto. Preocupações já temos muitas, e não precisávamos de mais esta.
Os norte-coreanos, o povo mais miserável, isolado e ignorante do mundo vai correspondendo à retórica do regime preparando-se para uma guerra que provavelmente nunca chegará. O aparato da contagem das armas, as recomendações a diplomatas e outros estrangeiros para que saíam do país por razões de segurança e restante verborreia propagandística terá provavelmente um desfecho inconsequente: não há guerra porque o inimigo “acobardou-se”, Kim Jong-Un é elevado à categoria de “grande líder”, e lá ficam os pobres dos norte-coreanos entregues à sua triste sorte, convencidos de que são os maiores do mundo. É um filme de mortos-vivos que fascina cada vez mais o resto do mundo, que não consegue entender o que se passa na Coreia do Norte. O país é o enigma da moda, um cubo de Rubik com gente lá dentro. Um mistério que seduz como um desporto radical.
O meu egoísmo, gosto pelo conforto e aversão a guerras leva a que me congratule pelo facto de não haver guerra. Os norte-americanos já garantiram que não vão atacar e a China, que sempre manteve uma postura tranquila, já devia saber desde o início que tudo não passava de fogo de vista. O próprio regime de Pyongyang sabe que um eventual ataque a posições americanas seria um suicídio, e o tom crescente das ameaças teria apenas como finalidade fazer a comunidade internacional repensar as sanções que lhe têm sido impostas. Uma atitude algo ingénua, mas não seria de esperar que os líderes de um país parado no tempo tomasse decisões inteligentes, ou optasse pela via da diplomacia. Chego a pensar que nem sabem o significado da palavra “diplomacia”.
Por outro lado gostava mesmo que a situação se resolvesse, e se para tal fosse necessário um conflito armada de larga escala, porque não? Seria uma boa oportunidade para enterrar de vez o último resquício da Guerra Fria, e tenho a certeza que o final seria um final feliz, como nos bons velhos filmes de guerra. Os “bons” iam ganhar. Que não fica a ganhar com este impasse é o povo norte-coreano, que vai continuar a sofrer, e na perspectiva do regime se perpetuar (e tudo indica que sim, julgando pela juventude do Kim neto) serão mais algumas décadas de penúria. A única solução para o impasse seria interna, mas não parece credível que exista uma oposição forte dentro da Coreia do Norte que leve a cabo esta empreitada. De uma forma ou outra, é urgente que o regime caia. As implicações que isso terá numa eventual unificação da peninsula ou no mapa geo-político da própria região analisam-se depois. Um problema de cada vez.
Wanted
A polícia identificou os responsáveis pelos atentados da maratona de Boston esta semana: os irmãos Temerlan e Dzhokhar Tarnaev, 26 e 19 anos, respectivamente, naturais da Rússia e residentes na América, em Cambridge, Massachusetts. Os irmãos são originários da região da Chechénia e confessam a fé islâmica. Tamerlan foi abatido numa perseguição pelo MIT, mas Dzhokhar continua a monte. Os dois irmãos mudaram-se para os Estados Unidos durante os anos 90, e estavam integrados na sociedade norte-americana. Confirma-se a tese de um acto terrorista isolado.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Saudade triste fado
Como sempre acontece às sextas-feiras, fica aqui o artigo da edição de ontem do Hoje Macau.
Quando era pequeno sonhava conhecer o Oriente distante, e até vir para Macau nunca me passou pela cabeça vir a fazê-lo. Felizmente existia algures no sul da imensa China um pequeno cantinha onde se encontrava o último reduto do Império português. A minha vinda para o território foi igual a tantas outras. Trazido por familiares que por sua vez tinham aqui outros parentes ou amigos, foi uma decisão complicada e um passo dado na escuridão. Em Portugal muito pouco se falava ou sabia de Macau. No início dos anos 90, em pleno cavaquismo e à sombra do desenvolvimento realizado pela chegada dos fundos europeus (os tais que pensávamos que não acabavam e não eram preciso ser pagos), a juntar à eventualidade da entrega do território à China em menos de dez anos, pouca gente pensava em vir para tão longe. A tendência era mesmo o regresso, ou no caso dos portugueses nascidos em Macau, o ingresso nos quadros da administração em Portugal. Olhando para trás, tenho a certeza que muito mais gente optaria vir para Macau, caso tivessem ideia das facilidades que o território oferecia, e ainda oferece, em termos de empregabilidade e qualidade de vida.
Passada mais de uma década da entrega de Macau à R.P. China à luz do segundo sistema e com as garantias asseguradas pela Lei Básica, pode-se dizer que muitos dos receios iniciais foram infundados. É normal que exista algum ressentimento, especialmente da parte de alguns residentes de etnia chinesa que não tiraram proveito da presença portuguesa, e que hoje gozam de mais cidadania e não enfrentam qualquer barreira étnica ou linguística no acesso ao emprego, mas sem radicalismos. Não se repetiram os excessos da descolonização portuguesa em África, como tantos temiam, e que tantas marcas deixou em centenas de milhares de portugueses que se viram expoliados de todas as suas posses. Assente a poeira da transição, muitos escolheram regressar ao território, e muitos novos emigrantes portugueses procuram Macau como destino. A RAEM, apesar de não ter as portas escancaradas como acontecia antes de 1999, continua a ser um destino mais acolhedor ao imigrante lusitano do que outros tradicionais, como a Suíça, a França ou o Luxemburgo. Mesmo Angola ou o Brasil, que gozam da vantagem de se falar o mesmo idioma, não são tão aprazíveis como Macau. Aqui o facto de ser português não é tanto um obstáculo. Com alguma vontade e um pouco de sorte, sentimo-nos quase como em nossa casa.
A vida não é fácil no início, pois apesar do português ser uma língua oficial, dá-se alguma primazia à fluência no inglês, frequentemente utilizado nos sectores do entretenimento e da hotelaria. Uma das grandes diferenças em relação ao tempo da administração portuguesa é a preferência por profissionais qualificados. Torna-se complicado a um compatriota apenas com o ensino secundário completo ou sem qualquer especialização encontrar emprego em Macau. Longe vão os tempos em que o simples facto de ser português garantia um vencimento no fim do mês. Existe mais pragmatismo, se bem que o título de residente permanente de Macau ainda oferece vantagens que não estão ao alcance de um simples aventureiro de primeira viagem. Contudo é dada uma garantia rara em Portugal nos tempos que correm: quem trabalha recebe, e quem se esforça vê reconhecido o seu esforço. Não há salários em atraso, cortes, falências, despedimentos colectivos, planos de austeridade e outros expedientes que nos deixam sem vontade de sair da cama de manhã e ir trabalhar para aquecer. Não há mas nem senões, nem desculpas de mau pagador – nem há sequer maus pagadores, pasme-se.
Mas existe sempre um vazio em qualquer português que deixa a sua terra e escolhe fazer a vida noutro local. É inevitável. É aquela maldita da saudade que nos acompanha desde que chegamos ao mundo. Qualquer português prefere ficar em Portugal nas mesmas condições que noutro país qualquer. Deixar a nossa terra natal é quase sempre um mal necessário. Sentimos falta das coisas que tinhamos à nossa volta quando crescemos, e se noutros países onde existe uma comunidade portuguesa existe uma rede de acesso a produtos que tornam as distâncias mais curtas, em Macau não acontece o mesmo. É difícil encontrar aqui muitas das comodidades que conferem a nossa portugalidade, para não falar do clima, ou das praias, que em Macau existem mas deixam-nos a suspirar pela nossa magnífica costa. Falta-nos o nosso marisco, fresquíssimo, os nossos talhos, aquela adega onde iamos beber um copo de traçado com os amigos, a padaria onde comíamos aquele pão com chouriço acabadinho de sair, ainda de madrugada e depois da farra, os bitoques, os finos, as bicas em condições, tanta coisa. Mesmo o que ainda aqui vai chegando deixa a desejar em termos de quantidade e em qualidade, e há coisas que compramos quase como por impulso, para matar a maldita saudade. Dificilmente alguém em Portugal pagaria 1 euro e 30 cêntimos por um daqueles pacotes de litro de Compal de pêssego.
Para quem se adapta a um ambiente hostil em termos de clima ou paladar, Macau pode até tornar-se numa experiência agradável, e a distância deixa de ser um problema. Os que provam e aprovam o que Macau tem para oferecer alargam os horizontes, esquecem o preconceito, começam a estranhar menos algumas das diferenças às quais nunca nos habituamos completamente – não se pede que se mude a nossa natureza, mas simplesmente que se adapte. Usando um pouco de filosofia oriental, “ser flexível como uma palmeira, e não rígido como um cedro”. Se dizem de Nova Iorque que “if you can make it here, you can make it anywhere”, o mesmo se pode dizer de Macau, apesar de todos os aspectos que nos aproximam do nosso país de origem. E depois há sempre as férias para atordoar o bichinho da saudade. E depois do regresso até pensamos com os nossos botões: “a nossa casa é onde nos sentimos bem”.