sábado, 20 de abril de 2013
Essa guerra sai ou não?
A situação escaldante na Península coreana vai arrefecendo em águas de bacalhau. O ímpeto inicial do regime norte-coreano em atacar os “imperialistas americanos e os seus fantoches da Coreia do Sul” vai dando lugar a mais uma crise passageira, mais uma dor de dentes do regime de Pyongyang. A julga pela retórica inflamada de há uma semana, já tinha acontecido uma guerra termo-nuclear. Um pouco por esse mundo fora e especialmente aqui na região Ásia-Pacífico ficamos estupefactos. É como se estivessemos a sós na arena com um touro bravo, mas o bicho teima em não avançar. E ainda bem, por um lado. É um alívio se esta é apenas uma birra do novo Kim, o terceiro da dinastia, uma forma de consolidar o poder e ganhar o respeito dos norte-coreanos. Só que é uma brincadeira de mau gosto. Preocupações já temos muitas, e não precisávamos de mais esta.
Os norte-coreanos, o povo mais miserável, isolado e ignorante do mundo vai correspondendo à retórica do regime preparando-se para uma guerra que provavelmente nunca chegará. O aparato da contagem das armas, as recomendações a diplomatas e outros estrangeiros para que saíam do país por razões de segurança e restante verborreia propagandística terá provavelmente um desfecho inconsequente: não há guerra porque o inimigo “acobardou-se”, Kim Jong-Un é elevado à categoria de “grande líder”, e lá ficam os pobres dos norte-coreanos entregues à sua triste sorte, convencidos de que são os maiores do mundo. É um filme de mortos-vivos que fascina cada vez mais o resto do mundo, que não consegue entender o que se passa na Coreia do Norte. O país é o enigma da moda, um cubo de Rubik com gente lá dentro. Um mistério que seduz como um desporto radical.
O meu egoísmo, gosto pelo conforto e aversão a guerras leva a que me congratule pelo facto de não haver guerra. Os norte-americanos já garantiram que não vão atacar e a China, que sempre manteve uma postura tranquila, já devia saber desde o início que tudo não passava de fogo de vista. O próprio regime de Pyongyang sabe que um eventual ataque a posições americanas seria um suicídio, e o tom crescente das ameaças teria apenas como finalidade fazer a comunidade internacional repensar as sanções que lhe têm sido impostas. Uma atitude algo ingénua, mas não seria de esperar que os líderes de um país parado no tempo tomasse decisões inteligentes, ou optasse pela via da diplomacia. Chego a pensar que nem sabem o significado da palavra “diplomacia”.
Por outro lado gostava mesmo que a situação se resolvesse, e se para tal fosse necessário um conflito armada de larga escala, porque não? Seria uma boa oportunidade para enterrar de vez o último resquício da Guerra Fria, e tenho a certeza que o final seria um final feliz, como nos bons velhos filmes de guerra. Os “bons” iam ganhar. Que não fica a ganhar com este impasse é o povo norte-coreano, que vai continuar a sofrer, e na perspectiva do regime se perpetuar (e tudo indica que sim, julgando pela juventude do Kim neto) serão mais algumas décadas de penúria. A única solução para o impasse seria interna, mas não parece credível que exista uma oposição forte dentro da Coreia do Norte que leve a cabo esta empreitada. De uma forma ou outra, é urgente que o regime caia. As implicações que isso terá numa eventual unificação da peninsula ou no mapa geo-político da própria região analisam-se depois. Um problema de cada vez.
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