1) Um grupo de manifestantes pertencentes a um recém-criada associação que exige a demissão de Florinda Chan (?) entregou uma petição na sede do Governo pedindo a saída da secretária para a Administração e Justiça. Os ânimos aqueceram - não que tivessem estado alguma vez arrefecidos - quando o grupo tentou subir até à zona da Penha, onde fica situada a residência de Florinda Chan, tendo sido necessária a intervenção policial. Uma atitude reprovável, a meu ver; se os indivíduos em causa não estão satisfeitos com o desempenho de um dirigente, devem demonstrá-lo em sede própria, e podem fazê-lo com toda a liberdade. Ir a casa dos alvos da sua contestação é descabido, e faz lembrar os tempos da Revolução Cultural, que não deixaram saudades. Penso até que se esta iniciativa tivesse sido feita de noite, levariam tochas e garfos agrícolas, como vemos nos linchamentos dos filmes. Foram detidos cinco manifestantes, no meio de uma enorme confusão que agitou a zona da Praia Grande nesta tarde escaldante de Domingo. Começa a apertar-se o cerco a Florinda Chan. A secretária foi recentemente ilibada de responsabilidades no famigerado "processo das campas", mas não se conseguiu livrar da acusação popular. Interessante, esta animosidade contra o nº 2 do Executivo. Consigo pensar em alguns altos quadros da Administração que têm por vezes comportamentos menos ortodoxos que Florinda Chan, mas que não se sujeitam à fúria de turbas ululantes que inclusivamente se atrevem a tentar invadir a sua privacidade. Penso que até se justificava uma associação do tipo "Grupo contra todos os dirigentes da RAEM com excepção de Florinda Chan e mais uns poucos".
2) O clima tem estado infernal, agora falando em termos de meteorologia proprimanete dita. Temperaturas de 30º Celsius, humidade relativa elevada, sol escaldante e ar parado, sem uma brisa que nos traga um pouco de alívio. É o tempo característico da proximidade de uma tempestade tropical, e quem nasceu no território ou vive aqui há muitos anos nem precisa de consultar o Boletim para perceber isto. Na realidade, estamos sob a influência da aproximação da tempestade Rumbia, que se dirige a caminho do continente a 75 km/h. Está içado o sinal 1 de Tempestade Tropical, mas não se prevê que seja içado o sinal 8, pois o Rumbia encaminha-se na direcção de Hainão. Mesmo assim podemos esperar muito calor, muita chuva e enfim, o costume, um tempo para esquecer. Boa semana!
domingo, 30 de junho de 2013
Rosberg vence corrida emocionante
Nico Rosberg venceu esta tarde o GP de Inglaterra em F1, realizado na mítica pista de Silverstone. O alemão filho do ex-campeão mundial, o finlandês Keke Rosberg, conquistou a segunda vitória da temporada numa corrida emocionante, marcada por alguns incidentes relacionados com os pneus Pirelli. Lewis Hamilton liderava à 10ª volta quando um dos seus pneus rebentou, o que lhe valeu uma paragem demorada nas boxes e compromoteu a vitória na prova. O inglês fez uma boa recordação e conseguiu levar o seu Mercedes ao quarto posto. A FIA vai agora avaliar a fiabilidade dos pneus da marca italiana, que já veio justificar a falha com um erro no corte do novo modelo, e promete resolver o problema o mais rapidamente possível. O tri-campeão mundial Sebastian Vettel liderou durante a maior parte da corrida, mas um problema com a caixa de velocidades à 41ª volta obrigou-o a desistir. Rosberg assumiu então a liderança, que manteve durante as restantes onze voltas, apesar da pressão do Red Bull de Mark Webber, que terminou "colado" ao alemão, com uma diferença de 0,7 segs. - menos que um piscar de olhos. Alonso foi terceiro, aguentando as investidas do irreverente Hamilton, que precisou de recuperar do último posto depois do seu acidente. Kimi Raikkonen, que chegou a discutir o primeiro lugar, terminou quinto, tendo julgado mal a estratégia de mudança de pneus, e ultrapassado por Alonso e Hamilton nas últimas três volta. Filipe Massa, que tem feito uma temporada muito discreta, foi sexton, à frente de Sutil, Ricciardo, Di Resta e Hulkenberg, que fecharam os lugares dos pontos. A Williams continua sem pontuar esta temporada, e hoje estiveram muito perto, com Pastor Maldonado e Valtteri Bottas a terminarem logo a seguir das posições pontuáveis. A McLaren também voltou a desiludir, com Sergio Perez a não conseguir terminar a prova, e Jenson Button a não fazer melhor que o 13º lugar. No mundial de pilotos Vettel continua a liderar com 132, mas Alonso aproximou-se, somando agora 111, Kimi Raikkonen tem 98, Hamilton 89, Webber 87 e Rosberg 82. Nos construtores a Red Bull continua confortavelmente na liderança com 219 pontos, seguida da Mercedes com 171, Ferrari com 168 e Lotus com 124. A próximo corrida realiza-se já este fim-de-semana, no circuito de Nurbruring, Alemanha.
Benfica de Macau vence Taça
O Benfica venceu ontem a Taça de Macau ao derrotar na final o Ka I por uma bola a zero. O único golo do encontro foi marcado por Bruno Martinho, um dos portugueses do emblema da águia. Os encarnados conquistam assim o seu primeiro trófeu oficial desde a refundação da equipa há cinco anos, depois de terminar o campeonato no 2º lugar, apenas a um ponto do campeão Monte Carlo. Parabéns para o Benfica de Macau e para os benfiquistas do território.
Gana no caminho de Portugal
Portugal vai defrontar a selecção do Gana nos oitavos-de-final do mundial de sub-20, que decorre na Turquia. Um adversário complicado, uma vez que os africanos têm tradições nos mundiais de juniores, contando com um título mundial e dois segundos lugares. A selecção portuguesa é contudo a que melhor desempenho teve na fase de grupos, saindo vencedora do Grupo B, e com o mérito de ter mais golos marcados: dez. O sportinguista Bruma é ainda o melhor marcador do torneio até ao momento, tendo apontado cinco golos nos três jogos realizados. O confronto com os ganeses está marcado para dia 3 de Julho em Kayseri, que tem servido de base aos portugueses desde o início, e caso os pupilos de Edgar Borges saíam vitoriosos, encontram nos quartos-de-final o vencedor da eliminatória entre a Croácia e o Chile. Boa sorte para os jovens lusos, e que consigam trazer para Portugal o tri-campeonato.
sábado, 29 de junho de 2013
A diferença é Macau
Artigo publicado na edição que quinta-feira do Hoje Macau. Já agora parabéns ao Hoje pela nova edição online, revista e aumentada.
Parte I: O luxo
Macau, Região Administrativa Especial da República Popular da China, ano de 2013. Milhares de turistas atravessam todos os meses as Portas do Cerco, chegam ao Terminal Marítimo do Porto Exterior, aterram no Aeroporto Internacional na Ponta da Cabrita, na Taipa. Nos aterros do NAPE brilham os neons dos casinos, os letreiros luminosos das lojas de penhores e das casas de câmbio. Dentro dos hotéis de cinco estrelas proliferam os espaços comerciais das mais conhecidas multinacionais, onde se encontram roupas, malas, relógios, joalharia e outros adereços a preços proibitivos para o cidadão médio local. Milhares de trabalhadores residentes e outros tantos não-residentes ganham a vida nos restaurantes, bares, saunas, clubes nocturnos e outros locais elegantemente exclusivos, ou atrás da mesa da roleta e do Bacará. Pelos passeios largos pontuados por praças ajardinadas circulam os visitantes, os jogadores e alguns poucos curiosos. Os novos ricos topam-se à distância: sacos de compras, vestuário primando pelo ostensível, pautado por combinações aberrantes e traços de ruralidade que nem a pilhéria do neo-capitalismo conseguem disfarçar. Pelas horas do lobo atacam as mulheres da vida e espreitam os agiotas; horas antes alguém havia furtivamente espalhado pelo chão panfletos que publicitam favores sexuais. Na Taipa, na “strip” do COTAI, mais do mesmo. Autocarros a rodos depositam mais turistas que contemplam o triunfo do luxo e da abastança onde em tempos só existia mar, e que as mãos dos pobres ergueram por ordem dos ricos, para que estes ficassem agora ainda mais ricos. Estupidamente ricos. Uma pedra da calçada vale mais do que muitos ganham num mês com o suor do seu rosto. Investiram-se e investem-se milhares de milhões para se obter um retorno de milhões de milhões. A dança do cifrão é executada a um ritmo alucinante. Batem-se recordes de receitas, mesmo contra as previsões dos mais pessimistas. Aposta-se para ganhar, e as “odds” são de muitos contra um. O luxo está bem e recomenda-se. Que se acendam os “robusto” com notas de mil.
Parte II: O lixo
Macau, Região Administrativa Especial da República Popular da China, ano de 2013. Milhares de cidadãos tomam de assalto a cidade dos homens cedo pela manhã, longe dos néons, das lojas com nomes italianos e franceses, das fontes luminosas e musicadas. Os passeios que calcorreiam a caminho do trabalho são estreitos, e nem uma palmeira à vista. Debaixo do calor tórrido, do sol impiedoso ou da chuva torrencial seguem a mesma direcção de sempre, atravessando as ruas velhas, os prédios antigos e decadentes, os toldos improvisados, dos latões de lixo fétidos. Desviam-se dos vendilhões, dos carrinhos de mão, dos baldes de flores, das tendinhas de massa frita, os caixotes de fruta no caminho, das obras que se vão fazendo aqui e ali, cuja banda sonora de britadeiras e betoneiras são o ruído de fundo matinal a que já se vão habituando, mesmo contrafeitos. Vastas vezes atravessam a estrada à margem das regras para cortar caminho. Ouve-se a buzina de um carro. Mais à frente outra obra, mais buracos abertos no chão. A meio metro dos ombros passa um autocarro, roncando e fumegando libertino e imperial. Os motociclos tentam imitá-los, e em nada lhes ficam a dever em termos de poluição sonora e ambiental. O ar que se respira não é o dos hotéis de cinco estrelas do outro lado da batalha, “smoke-free” e cheirando a novo. Não é com os novos-ricos que se cruzam, mas com os velhos pobres; gente magra e cansada, roupa coçada, chinelos de plástico, toalha a sair da camisa para suportar o calor, homens sem camisa, mulheres bronzeadas, chapéu de palha, ar cansado do peso da rotina do pátio, do beco, da rua, do bairro. A horas certas as ruas são invadidas por centenas de estudantes, grandes grupos de uniformes previsíveis, batas brancas encardidas, sapatos pretos enrugados e gastos. É o lixo no seu esplendor, o mundo do povo miúdo com olhos que brilham com a perspectiva do cheque anual que os generosos senhores do Governo começam a distribuir este mês.
Parte III: Cruzam-se os mundos
Graças a Deus ou ao Buda pelos “tai-lous” americanos e pelos oligarcas do burgo que embelezaram grande parte da nossa Macau – mesmo que essa parte tivesse sido na sua maioria “inventada”, roubada ao mar – e ainda nos disponibilizam uma raspa do limão dos milhões de milhões que vão facturando. De vez em quando cruzam-se os dois mundos, um lado e o outro, quando aos fins-de-semana e dias feriados se veste uma fatiota mais catita e se faz um faustoso repasto nos amplos “buffets” da Disneylândia casineira, e a comida a granel por centena e meia de paus “com direito a uma bebida” dá a sensação que se “pertence” à elite. Afinal foi pela porta da frente que se entrou, como gente grande, e não pelas traseiras como os serviçais. Se estes fossem dois desenhos daqueles que encontramos na página dos passatempos dos jornais que nos desafiam a procurar as diferenças, bastava desenhar um grande círculo à volta de um deles. É esta a grande diferença. A diferença é Macau.
O que são as largadas?
Um dos eventos mais coloridos das festas dos santos populares que agora terminam são as populares largadas de touros. Este espectáculo curioso que causa a estranheza de qualquer estrangeiro civilizado e que causa repulsa nos defensores dos direitos dos animais consiste em fechar um conjunto de vias públicas, barricar o acesso às moradias com trincheiras ou outras barreiras, e como o nome indica, largar um touro. As largadas so especialmente populares no sul, nas zonas ribeirinhas do Tejo, sendo as mais conhecidas as realizadas no Montijo, Alcochete, Moita do Ribatejo ou Samora Correia, entre outras localidades menos urbanizadas. A forma varia de região para região. No Rosário da Moita, por exemplo, são célebres as largadas na praia. Nos Açores o touro fica com os movimentos delimitados por uma corda, fazendo mesmo assim um número considerável de estragos, como comprovam as imagens.
E qual é a finalidade deste evento tão bizarro quanto perigoso? Tradição, e não há mais nada que o justifique. Suponho que terão havido tempos em que as largadas serviriam para atestar a braveza dos tipos que se arriscam a enfrentar um animal chifrudo com meia tonelada de peso, arriscando a integridade física e até a própria vida. Seria mais fácil explicar tratando-se de algum ritual de iniciação ou de acasalamento, mas não. Quem se expõe a este tipo de perigo estará sob algum tipo de transtorno, psicose, ou simplesmente embriagado ao ponto de não avaliar as possíveis consequências das suas acções. Um touro não é um brinquedo, e com um ser humano pela frente, mesmo que acidentalmente, não se intimida e parte para o ataque. Não é possível negociar com um touro ou pedir-lhe que tenha “fair-play”. Ele avança, marra, destrói, dá coices. E o que mais seria de esperar?
As imagens destas largadas são bem ilucidativas dos indivíduos que nelas participam. Marialvas com tiques de machão, provavelmente copm necessidade de se afirmarem, ora porque têm um pénis atrofiado, ora porque querem impressionar alguma cachopa (não sei que mulher no seu perfeito juízo se impressionaria com isto), ora porque se calhar cresceram no campo, junto dos burros e das vacas, e o metanol do estrume lhes causou danos cerebrais irreparáveis. Mesmo assim ainda suspeito que o principal responsável pela néscia ousadia é o álcool. Só uma piela tão grande que paralize os neurónios ao ponto de não fazer uso do mínimo bom senso faz com que se fique no meio da rua à mercê de uma besta impossível de dominar sozinho e desarmado.
Entre os candidatos a partir umas costelas encontramos alguns jovens, talvez românticos, talvez analfabetos, bem como outros indivíduos com idade para ter juízo. Alguns carregam uma barriga que torna virtualmente impossível escapar às investidas do touro, que além de não enfardar até à obesidade, tem quatro patas e corre mais depressa. Alguns levam capas e guarda-chuvas, dão palmadas no focinho ou no lombo do animal, e em menos de dois segundos voam pelos ares. Outros encaram ou touro e dão passinhos de dança, como quem brinca à apanhada com uma menina. Todos fazem figura de palhaço depois de projectados pelos ares após um par de cornadas. Acho piada que alguns se levantem depois, como se não fosse nada, e sacudam o pó das calças. A roupa fica manchada na mesma, e o mais difícil mesmo é limpar as nódoas que ficam no orgulho. Essas nunca vão sair, nem com o melhor detergente.
Não consigo sentir pena dos tipos que levam marradas dos touros nas largadas. Quando vejo estas imagens, fico sadisticamente a torcer pelo animal, que no fundo é quem tem menos a culpa deste triste espectáculo. Os que têm a sorte de escapar com uns esfolões ou alguns hematomas fazem uma cara brava como de quem diz “tive azar…o bicho não vale nada”. Outros dão um pontapé na areia como quem ficou frustrado com a colhida, talvez esperando poder escapar da fúria do bicho que já de si está pior que estragado que o levem ali para fazer este frete. Quanto aos que ficam gravemente feridos ou morrem, o que dizer? Colheram o que plantaram. Deviam pensar nos filhos antes de arriscarem ir parar ao jardim das tabuletas. Já pensaram bem o que ficam a pensar as pessoas? – “O teu pai morreu? De quê?”. – “Olha, foi colhido por um touro numa largada…”. – “ A sério? O teu pai era uma besta”.
S. Pedro do Montijo
Hoje é dia de S. Pedro, feriado municipal no Montijo, minha terra Natal, e em todas as localidades onde o santo que foi o primeiro Papa é padroeiro. É com o S. Pedro que se encerra o período de festas juninas dos santos populares, e agora só temos febras e sardinhadas para o ano. Um grande abraço para todos os "pedristas" do país, e até para o ano!
O Buda cora de vergonha
Do grupo de países onde nascer pode ser considerado um azar, um deles é a Birmânia. A ex-colónia britânica, uma das jóias da coroa do império, foi governada desde 1962 até há pouco tempo por uma junta militar infame, que oprimiu o povo birmanês, limitou direitos fundamentais como a liberdade de expressão ou de associação, governou com mão-de-ferro e obliterou qualquer forma de oposição interna. Nem a censura dos organismos internacionais ou os sucessivos embargos económicos intimidaram os generais da junta, e dos que tentaram corajosamente mas em vão mudar o país nasceu um mito: Aung San Suu-kyi, filha de Aung San, um dos heróis da independência do país. Suu-kyi esteve em prisão domiciliária durante 15 anos, foi laureada com o Prémio Nobel da Paz e tornou-se o símbolo da resistência contra a junta em particular, e da luta contra todas as formas de opressão em geral. Entre algumas das decisões tirânicas da Junta, a maior parte com consequências para a população, amordaçada e empobrecida, as mais curiosas foram certamente a mudança do nome do país para “Myanmar”, que é agora a designação mundialmente reconhecida, em vez do mais musical e menos exótico “Birmânia”, ou “Burma”, em inglês, Há alguns anos, temendo uma intervenção militar no sentido de derrubar o regime, mudaram a capital de Rangum – que a par de Mandalay sera a cidade mais conhecida pela generalidade dos estrangeiros – para um sítio com um nome impronunciável: Naypyidaw. Fossem apenas esses os “pecados” da Junta, e seriam os birmaneses muito mais felizes. O pior foi mesmo a forma tirânica com que os destinos do país foram conduzidos durante quase 40 anos.
Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe, a junta decidiu em 2010 levar a cabo uma série de reformas democráticas progressivas. Não que realmente lhes apetecesse largar a chucha do poder, mas terão finalmente chegado à conclusão que seria melhor exercê-lo em democracia do que serem eventualmente obliterados e deitados ao tapete, não podendo depois encontrar sequer um trabalho a limpar latrinas. Assim em 2011 foi aprovada uma nova constituição, Aung San Suu-kyi foi finalmente libertada, e em 1 de Abril do ano seguinte as primeiras eleições livres. Foi no primeiro de Abril mas não era mentira: os birmaneses podiam finalmente eleger os seus representantes em liberdade. Mas se foram “livres”, estas eleições não foram de modo algum transparentes, com a Junta a vencer com uma margem confortável, acusada de coação e manipulação de resultados. Pelo menos o ar que se respirava era menos mau, Suu-kyi passou para a oposição, que agora pode fazer sem arriscar ser presa, e quem sabe se nas próximas eleições se consomam as reformas democráticas.
Se aparentemente a Birmânia encaminha-se para um sistema mais compatível com a modernidade, a liberdade adquirida começou a trazer outros problemas. Pouco depois das eleições deram-se os distúrbios do estado de Rakhine, no noroeste do país, onde a maioria budista do país atacou elementos da minoria Rohingya, uma etnia de origem Bengali muçulmana cuja população na Birmânia anda por volta dos 800 mil – birmaneses, como todos os outros, mas considerados indesejáveis pelos restantes. Os confrontos de Junho foram o culminar de semanas de mal-estar, e resultaram em 80 mortes e mais de um milhar de refugiados. O país estava agora a braços com um novo problema: o ódio religioso e étnico. Alguns politólogos reconhecem que uma das poucas vantagens de um regime totalitário é o de não tolerar divisões internas que coloquem em causa a segurança, mesmo que a autoridade seja exercida pela opressão. A Junta conseguia, apesar de tudo, manter uma certa unidade e paz civil, apesar da miséria e do descontentamento. Chegou a tão ambicionada democracia, e com ela a liberdade de poder partir a cabeça ao vizinho se não gostarmos dele. Os que avisam para os perigos de “demasiada liberdade” apontam para o exemplo. Ali ao lado, na China, um outro regime muito criticado pelos amantes da democracia aponta o dedo e reclama: “estão a ver como é?”.
O ódio que leva a que se semeie o terror no oeste da Birmânia tem um rosto, como não podia deixar de ser. Ashin Wirathu, um monge budista que através dos seus discursos inflama os seus seguidores, apelando à violência contra os muçulmanos no país. Wirathu era um preso politico, que depois de ver as portas da prisão abertas pelos ventos da democracia, regressou às lides monásticas e angariou uma respeitável legião de admiradores. Os seus discursos – muitos disponíveis no YouTube – são revestidos de uma radicalidade que lhe valeram a alcunha de “Bin Laden burmês”. Tudo isto apesar do próprio se considerar apenas um “monge pacifico”, que abomina a violância e se opõe ao terrorismo. No dia 20 a revista Time, sempre na linha da frente da reportagem global, fez capa com Wirathu, e não foi nada gentil com ele. Na capa lê-se “a face do terrorismo budista”, o que perante os factos pode não parecer assim tão exagerado. Um personagem que deixa confuso quem acredita que o Budismo é a “religião da paz”. E o que diz o Dalai Lama de tudo isto?
Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe, a junta decidiu em 2010 levar a cabo uma série de reformas democráticas progressivas. Não que realmente lhes apetecesse largar a chucha do poder, mas terão finalmente chegado à conclusão que seria melhor exercê-lo em democracia do que serem eventualmente obliterados e deitados ao tapete, não podendo depois encontrar sequer um trabalho a limpar latrinas. Assim em 2011 foi aprovada uma nova constituição, Aung San Suu-kyi foi finalmente libertada, e em 1 de Abril do ano seguinte as primeiras eleições livres. Foi no primeiro de Abril mas não era mentira: os birmaneses podiam finalmente eleger os seus representantes em liberdade. Mas se foram “livres”, estas eleições não foram de modo algum transparentes, com a Junta a vencer com uma margem confortável, acusada de coação e manipulação de resultados. Pelo menos o ar que se respirava era menos mau, Suu-kyi passou para a oposição, que agora pode fazer sem arriscar ser presa, e quem sabe se nas próximas eleições se consomam as reformas democráticas.
Se aparentemente a Birmânia encaminha-se para um sistema mais compatível com a modernidade, a liberdade adquirida começou a trazer outros problemas. Pouco depois das eleições deram-se os distúrbios do estado de Rakhine, no noroeste do país, onde a maioria budista do país atacou elementos da minoria Rohingya, uma etnia de origem Bengali muçulmana cuja população na Birmânia anda por volta dos 800 mil – birmaneses, como todos os outros, mas considerados indesejáveis pelos restantes. Os confrontos de Junho foram o culminar de semanas de mal-estar, e resultaram em 80 mortes e mais de um milhar de refugiados. O país estava agora a braços com um novo problema: o ódio religioso e étnico. Alguns politólogos reconhecem que uma das poucas vantagens de um regime totalitário é o de não tolerar divisões internas que coloquem em causa a segurança, mesmo que a autoridade seja exercida pela opressão. A Junta conseguia, apesar de tudo, manter uma certa unidade e paz civil, apesar da miséria e do descontentamento. Chegou a tão ambicionada democracia, e com ela a liberdade de poder partir a cabeça ao vizinho se não gostarmos dele. Os que avisam para os perigos de “demasiada liberdade” apontam para o exemplo. Ali ao lado, na China, um outro regime muito criticado pelos amantes da democracia aponta o dedo e reclama: “estão a ver como é?”.
O ódio que leva a que se semeie o terror no oeste da Birmânia tem um rosto, como não podia deixar de ser. Ashin Wirathu, um monge budista que através dos seus discursos inflama os seus seguidores, apelando à violência contra os muçulmanos no país. Wirathu era um preso politico, que depois de ver as portas da prisão abertas pelos ventos da democracia, regressou às lides monásticas e angariou uma respeitável legião de admiradores. Os seus discursos – muitos disponíveis no YouTube – são revestidos de uma radicalidade que lhe valeram a alcunha de “Bin Laden burmês”. Tudo isto apesar do próprio se considerar apenas um “monge pacifico”, que abomina a violância e se opõe ao terrorismo. No dia 20 a revista Time, sempre na linha da frente da reportagem global, fez capa com Wirathu, e não foi nada gentil com ele. Na capa lê-se “a face do terrorismo budista”, o que perante os factos pode não parecer assim tão exagerado. Um personagem que deixa confuso quem acredita que o Budismo é a “religião da paz”. E o que diz o Dalai Lama de tudo isto?
Apanhado na ratoeira
Um oficial do Partido Comunista foi condenado a 13 anos de prisão na sequência de um escândalo sexual, cujas imagens foram divulgadas na internet em Novembro último. Lei Zhengfu, secretário do PCC de Beibei, provincial de Chongqing, foi filmado em poses indecentes com uma prostituta de 18 anos, e o video de apenas 12 segundos foi visto por milhões de cibernautas na China. Apesar das notícias não se referirem à jovem em questão como "prostituta", penso que é senso comum que a participante do escândalo terá sido paga. A julgar pela imagem acima, Lei Zhengfu não será propriamente um Brad Pitt com talento para o engate. Lei foi ainda acusado de ter pago 3 milhões de renminbi de suborno para que o caso fosse abafado, e apesar da defesa ter tentado provar que se tratou apenas de "um empréstimo legítimo", não conseguiu convencer os juízes. Os ciberbautas chineses opinaram em forums online que Lei foi vítima de uma cilada, e ironizaram com o facto de ter sido condenado a 13 anos por 12 segundos na cama com a adolescente: "mais de um ano por segundo". A luxúria do oficial vem a má altura, pois o president Xi Jingpin deixou claro quando tomou posse como presidente da China no ano passado que uma das suas metas era combater a corrupção, especialmente entre a alta esfera do partido. Li Zhengfu pode ter sido "tramado", e o "bocadilho" que levou para a cama pode ter sido um "isco", mas serve muito bem de exemplo para outros que julgam que o poder resume-se ao dinheiro, ao luxo e ao deboche.
A cultura hip-hop
Um idoso foi humilhado num autocarro em Los Angeles na última quarta-feira por dois "brothers" depois de se ter tentado sentar ao lado de um deles. O afro-americano não terá gostado de um encostão do idoso, levantou-se a desatou a proferir uma série de insultos e outras inanidades. Quando o motorist (um hispânico, a julgar pelo sotaque) sugeriu que se comportassem caso contrário "chamava a polícia", o anafado "brother" afirmou que ele próprio "era a polícia". Cenas lamentáveis do convívio entre etnias nesse "melting pot" que é a América.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Pedruco talvez perduco, mas candiduco
Luiz Pedruco entregou ontem nos SAFP as assinaturas que lhe permitem agora candidatar-se às eleições à Assembleia Legislativa no próximo dia 15 de Setembro. Pedruco tinha anunciado há um par de anos a sua intenção de concorrer ao hemiciclo, e a ideia ganhou mais força há alguns meses, com a criação da associação “Macau século 21”, que serve agora de plataforma à sua candidatura. Está assim encontrado o segundo nome “português” na corrida à Praia Grande, depois de Rui Leão, que concorre com o Observatório Cívico de Agnes Lam.
Conheço Luiz Pedruco há vários anos, mas apenas de nome, e sinceramente não tenho opinião formada sobre que contributo poderia dar como deputado. Há algumas semanas deu-se a conhecer um pouco melhor através de uma entrevista na Rádio Macau. Ouvi a entrevista mas não me pareceu muito conclusiva quanto aos projetos que pretende realizar caso seja eleito. Respostas como “talvez”, “poder ser” ou “é possível” não deixam muito espaço à reflexão. Suspeito que a timidez se possa dever ao facto de não ter ainda confirmado a sua candidatura, e não tenha arriscado comprometer-se com um programa concrecto. Agora que se está assumidamente na corrida, pode ser que se dê a entender um pouco melhor.
O que sei é o que toda a gente sabe: as hipóteses de ser eleito são muito reduzidas, e uma votação na ordem dos 2 ou 3 mil votos seria já uma grande surpresa. Contudo é de salutar que se candidate, que tenha essa ambição, e que exerça um direito cívico. Saúda-se ainda que, mesmo sendo macaense e oriundo de uma das famílias mais conhecidas do território, não tenha precisado de se “encostar” ao lobby maquista composto pelos suspeitos do costume, que aparentemente se vai abster de concorrer ao sufrágio este ano. Boa sorte para Luiz Pedruco, portanto, e vou ficar atento ao seu programa e ao seu discurso.
Um detalhe que tenho observado é a forma com que se encara uma candidatura à Assembleia Legislativa. Parece existir uma certa timidez, aliada ao receio da exposição pública. Acredito que existe muita gente com ideias novas e boas e com capacidade para recolher os apoios necessários que só não se candidata por comodismo. Fica ainda no ar uma certa sensação que concorrer por uma lista pode ferir sensibilidades de próximos, ora porque podem não simpatizar com algum dos nomes da lista, ora porque isto pode trazer desconforto a nível profissional ou familiar, não sei. O recente episódio que levou Carlos Morais José a desistir dá a entender que querer e poder não é tudo, e aplica-se muito a velha máxima da mulher de César, a quem não basta sê-lo. Pode ser que esteja enganado, mas se existem realmente pressões que empurram para baixo pessoas que desejam de alguma forma contribuir para o debate politico em Macau, isso é mau. É muito pouco democrático.
Dôci distinçan
O Instituto Internacional de Macau atribuíu este ano o Prémio Identidade ao grupo “Dóçi Papiaçam de Macau”, que se dedica há vinte anos a preservar o dialecto maquista, nomeadamente através de peças de teatro inspiradas nas récitas dos anos 50 e 60. Qualquer notícia que inclua o nome dos “Doçi” e a palavra “prémio” deixa-me feliz, pois eles merecem tudo o que seja uma forma de reconhecimento pelo trabalho árduo que realizam, e pela abnegação que demonstram à causa do patuá. Só nos resta dar-lhes os parabéns e esperar que esta distinção seja mais um factor de motivação para que continuem a fazer-nos sorrir. Com a devida vénia, reproduzo aqui o agradecimento do presidente do grupo, Miguel Senna Fernandes, publicado ontem no Facebook.
PRÉMIO IDENTIDADE 2013 - DÓCI PAPIAÇÁM DI MACAU
Com muita alegria recebemos formalmente a notícia deste prémio atribuído pelo Instituto Internacional de Macau, ao qual endereçamos os nossos mais calorosos agradecimentos.
O honroso prémio, vem acima de tudo reconhecer o trabalho de equipa, o espírito de sacrifício e de entrega total a uma apaixonante e nobre causa, que é a preservação do que é nosso.
Vem reconhecer que afinal não foi em vão termos perdidos noites de trabalho e angústia. Vem a reconhecer que na diferença de cada um de nós, podemos todos juntos construír algo verdadeiramente grandioso, que nos orgulha e que nos comove
Mas o sucesso do grupo, não é o prémio em si. Ele deve-se ao público que acorre às nossas récitas, que nos confere legitimidade e que por isso mesmo exige de nós o melhor que possamos dar. O aplauso e a gargalhada é a recompensa que todos ansiamos.
AO PUBLICO DO DOCI PAPIACAM, DEDICAMOS O PRÉMIO DE identidade, com humilde vénia de profundo agradecimento.
Miguel Senna Fernandes
Torrão alemão
Die sprechen deutsche, mein junge?
O jogador do Ka I Ricardo Torrão vai representar na próxima época os alemães do BSV Schwarz-Weiß Rehden, da Reggionaliga Nord da Alemanha, a quarta divisão do futebol alemão. O facto de um jogador do futebol de Macau, um dos mais pobres do mundo, ser contratado por uma equipa de um país mais fortes é sempre notícia, mesmo que seja a este nível. Ricardo Torrão nasceu na Africa do Sul, e veio para Macau com os pais. Os irmãos Alexandre, Nicholas e Henrique são igualmente atletas; uma família de desportistas. Alexandre é internacional da equipa de Macau de hóquei em patins e teve como ponto alto da carreira o golo contra Portugal no mundial da modalidades realizado em San Jose, California, em 2005, uma partida que os portugueses venceram por 21-1. Nicholas é também futebolista, e foi o melhor marcador da Liga de Elite este ano. Ricardo é defesa, tem 22 anos, passou por clubes em Portugal e na China, e é ainda internacional pela selecção de Macau. No campeonato da bolinha do ultimo ano representou o FC Porto de Macau, tendo perdido na final com os sub-23 no desempate nos pontapés da marca de grande penalidade. Na Alemanha vai encontrar uma equipa ambiciosa, recém-promovida da Oberliga, o quinto escalão, e onde alinham outros estrangeiros, inclusive um português, Rui Pereira, que tal como Ricardo Torrão alinhou pelo Mafra, em Portugal. Um dos aliciantes desta experiência prende-se com a primeira eliminatória da Taça da Alemanha, que determinou que o BSV Schwarz-Weiß Rehden encontrasse o Bayern de Munique, actualmente a melhor equipa do mundo. Boa sorte para Ricardo Torrão, e se não se conseguir impôr no exigente futebol alemão, pelo menos que aprenda qualquer coisa, e já agora que se divirta.
Vídeo da semana
Assinalou-se na última quarta-feira o Dia Mundial do Combate à Droga, um dia que é uma oportunidade para revelar os números da toxicodependência um pouco por todo o mundo, tornando-se mais complicado falar no entanto dos lucros astronómicos que são gerados pelo tráfico, e sobretudo quem mais beneficia com o comércio de substâncias ilegais. Quem mais fica a perder, todos sabemos: os viciados, tantos deles jovens, e as suas famílias. Um problema que continua a ser um cancro na sociedade, mas que – e isto nunca é demais repetir – gera receitas em quantidades tais que não convém tentar resolver de forma definitiva. Mandam-se uns pequenos traficantes e outros espertalhões para a cadeia juntamente com as suas vítimas, os consumidores, e assobia-se para o lado. Na Tailândia, um dos maiores produtores de narcóticos do planeta, o evento foi celebrado com a incineração de três toneladas de estupefacientes, na maioria cocaína, heroína, cristais de anfetaminas ecomprimidos de ecstasy. O valor de mercado (leia-se “rua”) é incalculável, e muito boa gente terá ficado com o coração nas mãos ao ver ali uma pequena fortuna destruída, Há quem veja ali drogas, e há quem veja ali notas. Algumas daquelas autoridades estariam a pensar como seria bom deitar a mãozinha a algum daquele “produto” e depois revendê-lo de forma a balançar o orçamento familiar. Uma acção simbólica que é apenas uma gota no oceano, mas que em termos práticas tem algum significado. Sempre são menos três toneladas de sarilhos.
Não se brinca com quem trabalha
"Preso" aos compromissos
Foi uma semana dramática para um homem de negócios norte-americano em Pequim, que esteve vários dias detido na sua fábrica pelos seus próprios funcionários. Chip Starnes ficou refém de um grupo de trabalhadores que exigiam uma indemnização depois de uma das secções da fábrica onde laboraram ter sido fechada. Nem todos os “raptores” do empresário tinham sido despedidos, mas aqueles que temiam ser também dispensados sem compensação juntaram-se ao grupo. Outros ainda alegaram que “não recebiam há dois meses”, e temiam que a unidade fosse encerrada em breve, e corriam rumores que o negócio ia ser deslocado para a India. Um exemplo de unidade laboral difícil de encontrar nos tempos que correm. Starned conseguiu finalmente um acordo com os trabalhadores revoltados na noite de quarta para quinta-feira, com a mediação do sindicato de trabalhadores da capital chinesa e pode finalmente dormir em casa. Podia ter acabado mal, e quem sabe se Sterns tenha aprendido a lição. Investir na China, com a sua mão-de-obra barata, pode ser convidativo, mas mesmo que os investidores paguem pouco, é bom que paguem mesmo.
No speaku engrisu!
Um canal pouco "samurai"
Quantas vezes não desesperamos com programas de televisão tão maus que nos dão vontade de processar o canal que os transmite? Foi o que fez um telespectador japonês. Ou mais ou menos isso. Hoji Rakashi, um reformado de 71 anos, queixa-se que o seu canal de eleição, a NHK, "utiliza demasiados estrangeirismos", ao ponto de muitas vezes "não entender os conteúdos", e isto causa-lhe "angústia emocional". Começou por se queixar directamente à NHK, mas depois de não ter obtido resposta, avança agora para um processo judicial e quer uma indemnização de 1,41 milhões de yen (cerca de 100 mil patacas) - quem sabe se para comprar a filmografia completa de Akira Kurosawa em DVD e rejubilar-se com o japonês escorreito e vernáculo. O idoso, como bom nacionalista nipónico que é, queixa-se de o Japão "está a ficar demasiado americanizado!" De facto é assim, pois apesar da língua japonesa ter um vocabulário riquíssimo, muitos termos são importados, especialmente alguns neologismos relacionados com tecnologia. O inglês é a fonte principal dos estrangeirismos, muito por culpa da ocupação norte-americana depois da II Guerra Mundial, mas algumas palavras são adaptadas ao sotaque japonês e passam a constar do léxico. Será que o sr. Rakashi sabe que a palavra "Arigato" deriva do nosso português "obrigado"? Se não sabe e depois descobre, nunca mais agradece a ninguém.
Um braço é quanto basta
Uma mulher com apenas um braço salvou uma criança de quatro anos de idade de morrer afogada. A pequena Cayleen Brumlow foi com os pais e irmãos ao lago Allatoona em Atlanta, no estado norte-americano da Geórgia na véspera do seu aniversário, e não fosse a bravura da mulher amputada, não teria vivido para completar o quarto aniversário. A família estava na praia quando o pai de Cayleen a perdeu de vista, e quando se apercebeu que a filha se tinha aventurado na parte funda do lago, começou a temer o pior. Foi aí que surgiu a misteriosa mulher maneta, que com o único braço que dispõe, resgatou Cayleen a trouxe-a de volta à margem. O pai correu na direcção das duas, a mulher abraçou-o (outra vez, com o único braço que lhe resta), e quando Cayleen começou a vomitar água foi levada rapidamente ao hospital, de onde já teve alta. A misteriosa mulher maneta desapareceu sem deixar rasto, e os Brumlow querem encontrá-la de forma a demonstrar-lhe a imensa gratidão, agora com mais calma. Um dia de sorte para uma criança que não encontrou o mesmo destino que tantas outras que todos os anos transformam as férias da família num pesadelo, e ironia das ironias, foi salva por quem menos se esperava.
Deixem a Monica em paz!
Roupa suja vai a leilão
Monica Lewinsky, lembram-se dela? Um dos nomes mais badalados dos anos 90, mas por razões que levam a pobrezinha preferir nunca ter saído do anonimato. A ex-estagiária da Casa Branca que teve um alegado envolvimento amoroso com o então presidente Bill Clinton vive actualmente no Reino Unido, longe da exposição mediática que a humilhou durante o segundo mandato de Clinton. O processo kafkiano que levou o ex-presidente – um dos mais competentes dos que vi passarem pela Casa Branca, na minha opinião – a ser julgado por perjúrio e visavam a sua destituição foi um episódio lamentável. Detalhes íntimos com o uso indevido de um charuto ou um vestido manchado com os fluídos do presidente são próprios de quem tem uma fixação doentia por destruir a reputação de alguém ao ponto de perder a noção do ridículo. Depois disto, tornou-se difícil a Lewinsky sair de casa, quanto mais arranjar um emprego ou andar na rua sem se submeter à chacota do cidadão comum. A notícia é que agora alguns dos objectos pessoais de Lewinsky vão ser leiloados, e entre eles encontra-se uma peça de lingerie preta que teria usado num dos seus encontros com Clinton. O mais curioso, e que não abona nada a favor de Lewinsky, é que os objectos estão na posse da ex-mulher de um antigo amante seu, e quem foram oferecidos como “recordação”. Não se sabe se por despeito, ou se porque precisa realmente de dinheiro, Kate Bleiler vai agora vender as tralhas que Lewinsky ofereceu ao seu ex-marido Andy. Entre os items levados agora a hasta pública não se encontra o infame vestido azul, que certamente seria o mais apetecível para quem seja lá quem for que se interesse em licitar pela roupa suja alheia. Do outro lado do Atlântico, não foi possível contactar Monica para comentar. O pesadelo parece nunca mais ter fim…
Dona Bumbum e os seus 17 maridos
Diz o povo e com razão: "Não há 16 sem 17"...
Gretchen é uma cantora, dançarina e actriz brasileira de grande sucesso na América Latina, onde vendeu milhares de cópias dos seus discos. Nascida Maria Odete Brito de Miranda em 1959 (completou 54 anos o mês passado), e é uma artista versátil, tendo sucesso em áreas musicais tão diversas como o pop-disco, o forró e o gospel, cantando em português, espanhol, inglês, francês, italiano e até em hebraico! Posou nua para várias revistas masculinas e na sua carreira no cinema conta com a participação em alguns filmes pornográficos, sendo o mais recente de 2008, intitulado "A Rainha do Bumbum", nome pelo qual é também conhecida. A maior curiosidade prende-se com a sua vida privada, que é romanticamente atribulada, no mínimo. Gretchen foi notícia esta semana ao divulgar esta fotografia com o seu novo marido, o empresário português Carlos Marques, com que namorou seis meses antes de decidir dar o nó. Contudo o nosso simpático compatriota passa a fazer agora de uma vasta contabilidade, pois passa a ter a honra de ser o 17º (décimo-sétimo) marido de Gretchen. Isso mesmo, a veia casamenteira da cantora já produziu dezasseis casamentos, apesar de alguns não terem sido legalmente oficializados, e o oitavo marido ter sido também o nono (se calhar esqueceu-se que já tinha casado com aquele...). Gretchen é não só a mulher de sono para os múltiplos maridos que lhe foram surgindo, mas também para os advogados de divórcios, e a prova viva da importância do regime de bens do casamento. Não dá para entender muito bem porque raio insiste em casar com qualquer um que lhe aparece pela frente, em vez de se limitar a "curtir" os seus namorados, como fazem outras colegas suas do mundo do espectáculo. Será que coleciona vestidos de noiva? Gosta do bolo? Quer entrar para o Guiness? E porque é que a WillHill ou a BetClic ainda não pensaram nesta modalidade de aposta: "Quanto tempo vai durar o casamento da Gretchen"? Espero que os recém-casados sejam felizes, e que desta seja de vez, mas sem querer desprezar o sr. Marques, sinto que isto não vai ficar por aqui...
Michelle, my belle
Então a Michelle disse: "Maria...Shut-up-ova"
O ténis português está de parabéns! Pasme-se, pois este é um desporto em que Portugal tem poucas tradições, e qualquer atleta que chegue ao top-100 do ranking ATP é notícia. Mas anteontem em Wimbledon fez-se história no ténis nacional, com a “nossa” Michelle Brito a bater a conceituada russa Maria Sharapova, terceira do mundo e uma das melhores tenistas dos últimos anos. Michelle Brito é já alguns anos uma promessa, e apesar de ser apenas nº 135 mundial, tem apenas 20 anos, e a vitória de quarta-feira pode dar o alento que faltava para se tornar uma candidata de respeito às vitórias em torneios do Grand Slam. A jovem nasceu em Lisboa e emigrou com os pais para os Estados Unidos aos 9 anos, onde encontrou condições de treino que os tenistas portugueses podem apenas sonhar. Despontou o talento, teve início o trabalho intensivo, e Michelle teve então a sorte de treinar com Nick Bollettieri, o técnico que deu a conhecer nomes como Jim Courier, Andre Agassi, Monica Seles ou as irmãs Williams, entre outros gigantes do ténis. Curiosamente já a conhecia, se bem que até há dois dias andava afastada das luzes da ribalta, mas confesso que pensava que era uma espécie de Nelly Furtado, filha de pais portugueses nascida no estrangeiro. Sendo uma alfacinha fico mais feliz, encho de orgulho o peito lusitano e dou-lhe os parabéns. Muito sucesso, é o que lhe desejo.
Portugal "atropela" Cuba
Portugal garantiu esta noite o primeiro lugar do Grupo B do mundial de sub-20, e em grande estilo, goleando Cuba por cinco golos sem resposta. O discurso cauteloso dos últimos dias antes do jogo parece ter sido apenas um exercício de humildade, pois a diferença entre as duas equipas é notória. Os jovens cubanos alinham num campeonato semi-amador num país onde o futebol não é sequer o desporto mais popular, e onde os talentos não têm autorização de sair do país a não ser que desertem. Bruma voltou a estar em destaque, fazendo dois golos e assistindo Ricardo, Alidje e Tozé para os restantes. O jogador de ascendência guineense leva já cinco golos em três partidas, e capturado a atenção de vários clubes. Será difícil ao Sporting manter este verdadeiro diamante em bruto no seu plantel. Na outra partida do grupo a Nigéria bateu a Coreia do Sul e garantiu o 2º lugar um ponto atrás dos lusos. Os coreanos terminam em terceiro com quatro pontos, e têm boas perspectivas de ser repescados para os oitavos-de-final como um dos quatro melhores terceiros.
Espanha e Brasil: finalmente juntos
Estão encontrados os dois finalistas da Taça das Confederações 2013, com a realização das meias-finais na quarta e quinta-feira. O Brasil garantiu primeiro o lugar no jogo decisivo de Domingo ao bater o Uruguai por 2-1 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Os uruguaios foram um osso duro de roer, e a vitória só chegou a cinco minutos do fim com um golo de Paulinho, depois de Edison Cavani ter respondido aos 48 minutos ao golo inaugural de Fred, aos 41. Ao “escrete” junta-se a Espanha, que bateu a Itália no desempate da marca de grande penalidade, em jogo terminado há pouco. Não se marcaram golos em Fortaleza durante os 120 minutos que durou o encontro, sendo notória a eficácia defensiva dos italianos, que perderam o ano passado na final do Euro para o seu adversário de hoje por esclarecedores 4-0, e já tinham consentido oito golos na primeira fase desta competição. Na lotaria dos penalties ninguém falhou os primeiros cinco remates, e passou-se ao sistema de “morte súbita”, onde é proibido errar. Montolivo e Busquets ainda mantiveram o suspense, convertendo o sexto remate para ambas as equipas, mas depois Leonardo Bonucci rematou por cima da baliza de Casillas, e Jesús Navas não perdoou, decidindo a partida para os campeões do mundo e da Europa. A final Brasil-Espanha era sem dúvida a mais aguardada, pois as duas equipas não se encontram em partidas oficiais desde 1950. Há quatro anos os espanhóis foram surpreendidos nas meias-finais pelos Estados Unidos, numa competição que o Brasil viria a vencer. Os brasileiros são teoricamente favoritos, pois jogam em casa e tiveram mais um dia de repouso, enquanto os europeus precisaram de horas extras. Um teste à capacidade dos homens de Del Bosque, que têm agora uma tarefa complicada pela frente.
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Mao: a história desconhecida
“Mao: a história desconhecida” é uma extensiva biografia do fundador da República Popular da China, Mao Zedong, e provavelmente o documento mais completo sobre um dos maiores líderes mundiais do século XX, aquele que ficou conhecido por “grande timoneiro”. A obra de 832 páginas, no seu título original “Mao: the unknown story”, é da autoria de Jung Cheng e do seu marido, o historiador irlandês Jon Halliday, e a primeira edição data de 2005. A versão portuguesa foi traduzida por Inês Castro e editada pela Quetzal.
Jung Cheng nasceu na China em 1952, em Yibin, província de Sichuan, e foi estudar para a Universidade de York em Londres no ano de 1978 com uma bolsa do governo chinês. Em 1982 recebeu um doutoramento em linguística, tendo-se tornado o primeiro cidadão chinês a receber esse reconhecimento de uma universidade britânica. A sua obra mais conhecida é “Cisnes Selvagens”, de 1991, uma auto-biografia histórica que versa sobre três gerações de mulheres na China pós-revolucionária. O livro vendeu mais de 10 milhões de cópias em todo o mundo e encontra-se banido na China. Tendo vivido quase até aos 30 anos na China, Jung Cheng foi testemunha privilegiada de alguns dos acontecimentos mais dramáticos do século XX, nomeadamente a Revolução Cultural, que atravessou toda a sua adolescência. Os acontecimentos da Revolução Cultural e os seus reflexos na sociedade chinesa dos dias de hoje continuam a ser um assunto tabu, e apesar do regime admitir timidamente que se tratou de um erro, está longe de ser um assunto encerrado, ou que reúna consenso.
“Mao: a história desconhecida” não é um livro simpático para o mentor da RPC, que dirigiu desde a fundação em 1949 até à sua morte em 1976. Os vinte e sete anos que Mao esteve à frente dos destinos da nação mais populosa do mundo são repletos de equívocos e erros estratégicos, marcados por um planeamento deficitário e um julgamento desajustado da realidade do país. Para os autores Mao terá sido o responsável pelo maior número de mortes em tempo de paz: calcula-se que cerca de 70 milhões terão sucumbido durante essas três décadas, um número que pode pecar por defeito. Há quem fale de mais de 100 milhões, a maioria vítima da fome. O regime não apresenta números oficiais, e não seria de esperar que o fizessem.
O periodo mais controverso, como já referi, é o da Revolução Cultural, e que certamente os leitores do livro terão mais curiosidade em saber os detalhes que o livro descreve, alguns deles até então desconhecidos (p. 561-677 e fotografias, algumas inéditas). A Revolução Cultural é um bom exemplo de “case study”, uma empreitada única na história da humanidade (imitada contudo pelos Khmer de Pol Pot no Cambodja, mas sem o mesmo impacto), que passou por uma subversão de valores que qualquer pessoa no seu perfeito juízo consideraria impraticável em qualquer sociedade. Foi um periodo de “anarquia de estado”, se me permitem a designação, que se contradiz em termos. O período que durou desde 1965 até à sua morte onze anos depois, serviu sobretudo a Mao para consolidar o seu poder, mas numa perspectiva macro, os excessos da Revolução Cultural são responsáveis pelo atraso estrutural e functional que ainda se verifica na China. Curiosamente a Revolução teve uma respeitável legião de adeptos no Ocidente, mesmo entre intelectuais e idealistas amantes dos valores da liberdade. O desconhecimento da realidade e do impacto que teve na sociedade chinesa podem-lhes servir de desculpa. Estão perdoados.
A ideia que fica da personalidade de Mao Zedong, que estará entre as dez maiores figuras da História do século XX ao lado de Winston Churchill, José Estaline, Adolfo Hitler ou Gandhi, é a de um idealista, um homem que se regia pelos princípios que considerava correctos. A sua vida até à chegada ao poder, aos 56 anos, é notável. Homem inteligente e educado, um reconhecido estratega militar e um pensador brilhante, um filósofo com uma veia artística evidenciada nos seus trabalhos de caligrafia, com uma respeitável obra literária, composta de poesia e ensaios políticos. Quem já leu o compêndio dos seus pensamentos fica rendido ao seu génio, mesmo que não se identifique com o conteúdo ideológico. Oriundo de famílias humildes e tendo passado a infância durante um período conturbado da História da China, é apenas natural que se tenha revisto na utopia do socialism como forma de atingir o equilíbrio social e corrigir as desigualdades. Não foi fácil para ele, nem seria para qualquer outro, liderar um país da dimensão da China, mas não se pode sentir a decepção de que o seu lugar na História teria sido outro caso fizesse a revolução e deixasse o poder noutras mãos. Seria mais condizente com o bom senso com que pautou a sua vida cumprir a sua missão como revolucionário e deixar a política para os politicos. O “poder” foi o ópio de Mao, e a sua maior obsessão.
A crítica de Mao e da forma como orientou a nação chinesa que finalmente unificou ainda não é vista com bons olhos no continente, apesar da actual geração de líderes do PC chinês reconhecer que nem tudo correu bem durante o Maoismo. O culto da personalidade está ainda bem vincado na sociedade chinesa, com o seu retrato a destacar-se no centro da Praça Tiananmen, o seu corpo mumificado depositado num mausoléu e a sua imagem nas notas de yuan, a denominação fiduciária do país. Para muitos chineses questionar o estatuto de herói nacional que Mao adquiriu é quase considerado um insulto, mesmo que a estima seja originada pela ignorância dos factos. Os mais informados abstêm-se de fazer comentários ou elaborar opiniões menos consensuais. A forma como a imagem do fundador da RPC é utilizada hoje pelo regime serve sobretudo para reforçar o exercício do poder pelo partido único, contando para tal com o patriotism e o espírito revolucionário do povo, nunca deixando de recordar as privações e humilhações a que foi submetido durante a ocupação por potências estrangeiras, ou das injustiças praticadas durante os tempos imperiais. O mais irónico é que o próprio Mao dificilmente aprovaria o rumo que os seus sucessores escolheram para o país que fundou. Demasiados chás dançantes para o seu gosto, e pouca revolução.
Recomendo a leitura do livro, que pode ser aleatória. A vida de Mao e a sua liderança do país são compostas de incidências tão díspares que dá a sensação que é obra de mais de um indivíduo. A obra tem um valor respeitável como documento histórico, como provam aliás as notas e as referências bibliográficas no final. Os críticos apontam o dedo à forma tendenciosa como os autores analisam Mao e o seu lugar na História, mas atendendo que Jung Chang é tida na China como uma dissidente, é natural que não glorificasse o maoismo. Como qualquer documento histórico, este é passível de análises diversas, e não há qualquer meio de assegurar que os factos descritos são rigorosos e definitivos. Diz-se que a História “é escrita pelos vencedores”, mas dificilmente encontramos um vencedor nesta história. Há quem considere que os excessos cometidos por Mao foram um mal necessário, uma forma de “limpar a casa”, garantir a unidade do país e sua soberania. Afinal não é fácil manter de pé em vinte anos o que demorou cinco milénios a levantar. Agora fica ao critério de cada um se os meios justificaram os fins, e se os sacrifícios não foram em vão. Leia “Mao: a história desconhecida”, e tire as suas conclusões.
WWE my ass!
A gravidade e a inteligência ficaram à porta.
Um dolescente de treze anos matou acidentalmente uma menina de cinco ao aplicar-lhe golpes de "wrestling", imitando os lutadores que viu na televisão. Devalon Armstrong, do Louisiana, nos Estados Unidos (onde mais?) tomava conta da irmã Viloude Louis, e como forma de passar o tempo entreteve-se a atirá-la ao chão e saltar-lhe para o estômago, como viu os seus heróis da WWE (World Wrestling Entertainment, Inc.) fazer. Como os matulões da WWE saem intactos e prontos para outra, Devalon pensou que não faria mal praticar com uma criança muito mais pequena, e ainda por cima uma menina, sem qualquer possibilidade de resistir à sua idiotice e presenteá-lo com um pontapé nos tomates. Depois do arraial de porrada, a pequena queixou-se de dores de barriga, e Devalon chamou os paramédicos, que já não chegaram a tempo de a encontrar com vida. A autópsia revelou várias costelas partidas e hemorragias internas. Uma brincadeira parva que acabou mal, e tinha que acontecer na América rural, onde existe muita gente crente e burra.
Se há um exemplo acabado do que é lixo televisivo, são as transmissões dos combates de "wrestling" norte-americanos. Aquilo que conhecemos por luta livre, e que em rigor consiste em dois homens de maiô a rebolar agarrados um ao outro em posições suspeitas com o objective de ganhar pontos (é um desporto olímpico...), foi elevado ao estatuto de espectáculo de circo em terras do Tio Sam. Os "wrestlers", muitos deles mundialmente conhecidos, recorrem a adereços ridículos e adoptam nomes artísticos surrealistas com o objectivo de criar um personagem com o potencial de se transformar em marca registada e possa vender camisolas, lancheiras e miniaturas de plástico. Recordo-me de quando a moda chegou a Portugal, e os maiores nomes incluíam Hulk Hogan, uma celebridade-mor da modalidade, Big Boss Man, um indivíduo robusto que trajava uma farda azul da polícia, e um tal de Undertaker, literalmente "o coveiro", um indivíduo com uma aparência demoníaca que gozou uma extensiva carreira no "wrestling".
Os combates deste circuito são mais coreografados que o ballet, e só as mentes mais ingénuas e impressionáveis acreditam que os tipos andam mesmo ali à porrada. Alguns dos golpes seriam o suficiente para sair do ringue directamente para o hospital ou para a morgue, mas os receptores da elaborada e supostamente agressiva violência saem dali sem um arranhão. Ainda ninguém se apercebeu que quando um daqueles gajos salta em cima de outro e desfere um soco, cotovelada ou cabeçada quase nem lhe toca? Muitas vezes nem lhe toca de todo. Fosse aquilo futebol e a vítima seria admolestada com cartão amarelo por simulação. Ultimamente os combates são acompanhados de preliminares na forma de um enredo de telenovela mexicana, onde X confessa a Y que a mulher - também ela uma das lutadoras, normalmente uma tipa inchada depois de anos de ingestão de hormonas - o encornou com ele, e vinte minutos depois de muito falatório fingem que andam à porrada para "ajustar as contas".
O pior é que há mesmo quem leve isto a sério, e acompanhe as incidências do "wrestling" quase como se fosse uma religião. O "circo" atrai milhares de Americanos rústicos às cidades por onde passam, e a minha inabalável fé na raça humana e na sua inteligência superior às amoebas levam-me a pensar que aqueles tipos que estão ali aos berros apoiando o seu gajo de tanga favorito têm consciência que aquilo é tudo uma aldrabice, e vão ali para descarregar a adrenalina acumulada. Nas sociedades civilizadas apenas uma criança em idade pré-escolar acredita que o "wrestling" é porrada a valer. O meu filho ainda se deixava impressionar até aos seis ou sete anos, mas depois o desenvolvimento cerebral e a alabetização encarregaram-se do resto. Pena que para o jovem Devalon tenha sido um pouco mais tarde, e que tenha aprendido da pior forma que é tudo em fingir. Se os tipos da WWE insistem em insultar a nossa inteligência fazendo crer que as lutas são realistas, podiam pelo menos iniciar as transmissões televisivas com um "não tentem isto em casa". Pelo menos era mais seguro.
Salva!
Entre as imagens que nos chegam da China há algumas que nos deixam incredulos, outras que nos chocam e ainda outras que nos fazem rir, mas felizmente são cada vez mais as que testemunham actos de heroísmo. É o caso deste video, captado por um circuito interno de CCTV, e que mostra um grupo de homens a salvar uma criança de dois anos e meio que caíu de um quarto andar. Foi na provincia de Zhejiang, e enquanto um grupo de operários faziam uma pausa do trabalho, o choro de uma criança chamou-lhes a atenção. A pequena, uma menina, estava pendurada na varanda do seu apartamento, prestes a cair, e os homens juntaram-se para aparar a sua queda, o que fizeram com sucesso. Dois deles ficaram ligeiramente feridos, mas é um mal menor perante a tragédia que podia ter sucedido. Qiqi, assim se chama a menina, escapou apenas com alguns arranhões. Foi deixada em casa sozinha pelos pais, que se ausentaram durante alguns minutos para comprar medicamentos, e garantem terem deixado o filho a dormir. Mas aparentemente Qiqi acordou, e a sua curiosidade típica de criança daquela idade levou-o até à varanda, onde apenas graças a uma enorme dose de sorte não teve um encontro prematuro com a morte. Os pais poderão ter que responder por negligência, mas o que mais importa é que este conto urbano da vasta China, mais um, teve um final feliz. Era bom que fosse sempre assim.
Com o Vladimir não fazem farinha
Vladimir Putin é, como já todos sabem, danado para a brincadeira. Principalmente quando se trata de chatear o Ocidente e especialmente os Estados Unidos, o seu passatempo favorito. Não que se considere “oriente” ou outra denominação qualquer, mas a Rússia é a Rússia, e o resto é paisagem. Desta vez o presidente russo deixou bem claro aos seus amigos americanos que não entrega Edward Snowden, que passou por Moscovo depois de uma temporada em Hong Kong, apesar da justiça estado-unidense estar desejosa de deitar as mãos no ex-agente da CIA, que traíu o país ao divulgar segredos da agência. Putin nem precisou de fazer birra desta vez, e bastou simplesmente dizer que estava a cumprir a lei: Snowden não cometeu qualquer crime na Rússia, encontra-se em trânsito no aeroporto e não pisou solo russo, e não existem acordos bilaterais de extradição entre os dois países. "Snowden é um homem livre. Mas quanto mais depressa escolher o seu destino final, melhor para nós e para ele", declarou Vladimir Putin numa conferência de imprensa durante uma visita oficial à Finlândia. Pim-pam-pum, e assim lava as mãos, e desculpem lá ó “yankees” que aqui o Vladimir não vos vai fazer um frete. Mesmo assim Putin "deu um doce" a Washington, sublinhando que espera "que incidente inesperado não venha a afectar a natureza cordial das nossas relações com os EUA". Mas se afectar também não faz mal. É para o lado onde ele dorme melhor.
O homem forte do Kremlin continua a demonstrar aos russos, que o adoram, que tem um par deles no sítio, e que com a Rússia ninguém brinca. Há uns meses deu uma bofetada de luva branca na França, ao conceder a cidadania russa ao actor Gerard Depardieu, descontente com a carga fiscal a que estava sujeito no seu país de origem. “Aqui na velha Rússia tudo bem, são bem-vindos, meus caros”, diz Putin com a soberba de quem olha para uma Europa falida e para os europeus deprimidos, enquanto em Moscovo há vodka e caviar que chegue para todos. Quanto a Snowden, o seu paradeiro foi incerto durante alguns dias, mas depois da paragem na estação russa, estará a caminho do Equador, onde procurará asilo politico.
Insectos: o lado podre do reino animal
Já imaginou ser pisado...por isto?
Insectos, todos os dias vemos insectos. Criaturas voadoras, rastejantes, minúsculas, invertrebadas, insensíveis e perecíveis, eis os insectos. Não pensar que são a ordem mais numerosa do mundo animal ajuda-nos a dormir melhor. Existem mais moscas, abelhas, formigas, aranhas, mosquitos, gafanhotos, pulgas e toda essa merda em maior quantidade do que todos os seres humanos que habitaram a face da Terra – incluíndo abortos e nados mortos. Fossem os insectos inteligentes, e dominariam o planeta. Sim, meus amigos, seriamos escravos das baratas, aquela criatura imunda com aspecto metalóide que habita nos esgotos e ocasionalmente invade o nosso lar, arrastando as patas sobre a nossa alcalina existência sem ter sido convidada. Num mundo dominado pelos insectos, fizessem eles uso da sua vantagem numérica, eram as baratas que nos pisavam, e não o contrário.
Os olhos de um mosquito vistos ao microscópio.
Para quem acredita plenamente na existência de um Deus criador, deve pensar às vezes o que raio estava Ele a pensar quando populou a Terra de insectos. Esteticamente são um desastre, e a tendência da maioria deles em habitar nos dejectos que os humanos a natureza produzem desafia os limites da lógica. Uma mosca, por exemplo. Que explicação se pode encontrar para que se delicie nas fezes ou em cadaveres pútridos? Será esta uma piada de mau gosto por parte do criador? É castigo? “Ah, queriam o Paraíso, meninos? Tomem lá com os insectos e assim não se ficam a rir!”. Se já nos incomoda ter uma mosca a zunir nos ouvidos, um mosquito a sugar-nos o sangue ou aranhas nos cantos esquecidos durante as lides domésticas, incomoda muito mais se observarmos a aparência dos bichos ampliada à milésima potência. Não há que o negar, são feios que dão dó. Até as poéticas borboletas ou as enternecedoras joaninhas adquirem um aspecto pavoroso vistas ao microscópio.
A cabeça de uma vespa ampliada. Sim, é deste mundo.
O mais curioso é que esta bicharada que nos provoca asco devido à sua aparência atroz desempenha um papel fundamental nos ecossistemas. Não toleramos os insectos, e o nosso instinto é esmagá-los se os encontramos em casa, mas a vida seria impossível sem eles. A abelha é o exemplo acabado desta dependência que temos dos insectos, e a ameaça de extinção que paira sobre a espécie é preocupante. Não vamos ser nós a substitui-las no processo de polinização, certamente. Pelo menos a mim não me apetece fazer amor com as flores e andar por aí a espalhar pólen. Apesar de não simpatizar com as abelhas, que à minima oportunidade nos espetam com um ferrão venenoso sem que possamos negociar com elas ou apelar ao seu bom senso, reconheço o seu direito à existência e a sua utilidade. Quero distância delas, e prefiro não pensar de onde vem o delicioso mel que nos gélidos dias invernis adoçam o meu chá quente com limão, ou que substitui o açucar na aveia que tomo ao pequeno-almoço, mas sim, dou-lhes o benefício da dúvida. Mas como não há bela sem senão, com as abelhas coexistem as vespas, uma espécie de abelha inferior, careca, demoníaca e inútil, e cuja única função é poluir e envenenar. Não podiamos ter ficado apenas pelas abelhas?
Os famosos "chatos".
Não temo os insectos, e não há sola de sapato ou jornal enrolado a que resistam. Mas apenas, insisto, porque são minúsculos e irracionais, caso contrário venceriam uma eventual guerra contra a humanidade. Mesmo pequenos e estúpidos, estão na origem de episódios lamentáveis da História. A peste negra, discutivelmente a maior calamidade de sempre, foi provocada por um insecto, mais precisamente uma espécie de pulga. Outros são portadores de virus letais, como o mosquito da malária e do dengue, a mosca do sono ou a febre da carraça. Um gafanhoto pode parecer uma reles criatura sem importância que nos convida a esmagá-lo, mas milhares de gafanhotos juntos formam uma praga que pode arruinar colheitas inteiras, originando fome e miséria. Mesmo a doença das vacas loucas, que deixou em sobressalto os amantes de um bom bife há alguns anos, poderá ter tido origem num aracnídeo que habitava na palha de que se alimentavam os bovinos. Numa perspectiva mais brejeira mas nem assim menos nojenta, temos um outro aracnídeo que origina o que na medicina é designado por “pediculose púbica”, provocada por uma espécie de piolho que habita nos pêlos púbicos humanos, e que popularmente chamamos de “chatos”. Mas que raio de criatura é esta qye se lembrou de proliferar num sítio daqueles? Além de feios, chatos e sujos, alguns insectos adquirem características parasitárias que os transformam em inimigo mortal. Que um grande raio os parta.
Como é possíível coabitar com isto?
Sim, temos insectos perigosos, incómodos, insalúbres e outros que apesar de inofensivos não deixam de ser feios. Não existirá um único a que se possa atribuír algum sentido estético. Mas de todos há um que me causa um pânico especial: a louva-a-deus. Só de escrever o nome desta abominável monstruosidade causa-me calafrios. Esta espécie de besouro ou lá o que é, que mais parece um extra-terrestre de um filme de terror, é o pináculo do horrível no reino dos insectos. Verde, esguio, olhos triangulares pontuados com uma pupila preta, patas serradas, asas compridas, um sem número de atributos pavorosos. Incluír o nome de Deus neste ser repelente e associar a postura ameaçadora com que dispõe as suas mandíbulas ao acto da oração é um insult a qualquer crente que se preze. Deviam mudar o seu nome para “vade-retro satanás”. O facto da fêmea devorar o macho durante o acasalamento, começando por lhe arrancar a cabeça, é uma curiosidade que fascina os entomólogos, os cromos com tendências sádicas que se ocupam a estudar os insectos. Para mim é doentio. Quando me deparo com uma louva-a-deus, sinto o mesmo olhar cortante que ostenta quando canibaliza o seu macho, Está a desejar-me a morte enquanto pensa: “ah…se fossemos os dois do mesmo tamanho”. Não sei se existe algum passaroco ou roedor que faça das louva-a-deus a sua dieta predilecta, mas se existe, merece o meu respeito. Que se reproduza à enésima potência e nos livre desta nódoa.
Tenham medo...tenham muito medo
O nosso imaginário infantil está repleto de insectos que alguns autores – loucos, assumo – atribuiram características humanas, incluíndo uma aparência menos repulsiva. Todos conhecemos a Abelha Maia, que inocentemente chegámos a amar e acomodar nas prateleira das memórias da nossa infância, o grilo falante, a voz da consciência do Pinóquio, a carochinha da fábula do João Ratão, a cigarra e a sua amiga formiga daquele conto que nos coagiu a pensar que o trabalho é uma virtude, todos insectos celebres. Mas meus caros, isto são insectos, apesar do romantismo e até algum encanto dos personagens acima referidos. Viscosos, demoníacos, maquiavélicos e maldosos, que nos desprezam a não se inibiriam de nos aniquilar caso tivessem capacidade para tal. Um filme que toda a gente devia ver era “A Mosca”, ou “The Fly” no seu título original, que ilustra bem quão degradante é a existência de um insecto. Não é a toa que os químicos utilizados para aliviar os insectos da sua patética existência se chamam “repelentes”. Os insectos são criaturas repelentes. Os antigos egípcios tinham o escaravelho, um dos insectos com a aparência mais assustadora entre os milhares de tipos existentes. Os egípcios que me perdoem, mas são umas bestas. Alguns povos, especialmente na Asia, alimentam-se de algumas espécies de insectos, reconhecendo-lhes mesmo elevado valor proteico. Por mim tudo bem, qualquer pretexto para matar insectos recebe a minha aprovação. Um insecto bom é um insecto morto. Além disso, desconfio que os insectos nos devorariam também se tivessem a oportunidade. Estejam sempre atentos aos insectos, pois nunca se sabe a que ponto a evolução os leva a produzir espécies mais ameaçadoras e mortíferas de pestes aladas e rastejantes. Não dispensem a lata de insecticida, e se virem um deles em casa, esmaguem-no, por muito inofensivo que aparente ser. Como dizia o tal filme “The Fly”: tenham medo…tenham muito medo.
20 anos de "bobite"
John Wayne Bobbit, versão integral
Ainda a propósito de membros sexuais masculinos decepados, lembram-se de Lorena Bobbit, a mulher que cansada dos abusos do marido cortou-lhe o pénis e atirou-o pela janela? Na altura o escritor Miguel Esteves Cardoso comentou o episódio e cunhou a deliciosa expressão “bobite”, uma nova espécie de síndrome que leva as mulheres a decepar o calhau do parceiro. Honra seja feita, depois do primeiro caso de “bobite” foram reportados mais 121 um pouco por todo o mundo, com um “modus operandi” semelhante ao da pioneira Lorena. A agressora evitou uma pena de prisão pela ousadia, depois de conseguir provar em julgamento que o marido chegou a casa embriagado, espancou-a e tentou violá-la. Fica por explicar porque não chamou a polícia em vez de esperar que o marido adormecesse e depois tomar uma atitude tão radical, mas Lorena tornou-se uma espécie de símbolo para as mulheres oprimidas deste mundo, e muitos maridos passaram a dormir menos descansados.
Ora passados 20 anos, eis que John Wayne Bobbit, a vítima deste infeliz, ahem, distúrbio doméstico vem dizer que o incidente melhorou a sua vida! Devido à exposição mediática que tornou o apelido Bobbit familiar aos ouvidos dos norte-americanos, John dormiu com 70 mulheres e até protagonizou filmes pornográficos – a indústria dos filmes para adultos adora um herói de guerra. O ex-marine, agora com 46 anos, diz que o período após o desvario da esposa foi “de grande dor e angústia” – acredito. Depois de uma cirurgia que demorou dez horas até que o seu pénis fosse devolvido à procedência, John pensou que nunca mais ia poder ter relações, mas foi com grande alegria que ao fim de 3 semanas voltou a ter sensação no membro, e menos de três meses depois voltou a fazer uso do apêndice, “com uma rapariga que conheceu num bar”. Já totalmente recuperado, veio a fama, com entrevistas na rádio e na TV, onde contou a sua dolorosa experiência. Foi convidado para participar em filmes pornográficos e o entusiasmo levou-o a fazer “upgrade” do instrumento, voltando à mesa das operações para lhe acrescentar mais três centimetros, desafiado por um programa de rádio que patrocinou o procedimento. Pelo menos desta vez foi de forma voluntária.
Mesmo com a vida a correr-lhe de feição, John Bobbit não deixou de ser uma besta, e logo em 1994 esteve detido duas semanas após ter molestado uma namorada. Pelos vistos o susto do ano anterior não lhe serviu de aviso. Em 2001 voltou a casar, mas o matrimónio só durou 23 dias. Em 2002 casou uma terceira vez com uma mulher que também o acusou de agressão. Divorciaram-se dois anos depois. Foi aí que John Bobbit encontrou Deus e mudou de vida. Converteu-se à igreja evangélica, e vive actualmente com a actual companheira, uma amiga de infância, numa casa perto das cataratas do Niagara. Uma má ideia, pois caso o episódio da “bobite” se repita, é mais difícil procurar o membro se for atirado às cataratas.
John Bobbit foi entrevistado há três anos no programa televisivo “The View”, e perante um painel completamente feminino confessou que “ainda é difícil confiar nas mulheres”. Não as agredir era um bom começo para lhes conquistar a confiança, talvez? E ir para a cama mais tranquilo? Da ex-mulher Lorena, que certamente nunca esquecerá por muitos anos que viva, diz só ter pena de nunca lhe ter ouvido um pedido de desculpas. Pudera. Queria o quê? “Desculpa ter-te cortado o coiso depois de me teres enchido de porrada e tentado violar”? Fica para a próxima, sr. Bobbit. E cuidado com a “bobite”. Não vá ter uma recaída…
Cogumelos loucos
Aqui está uma notícia que serve de aviso aos utilizadores de certas drogas recreativas. Um homem de 41 anos no Michigan, Estados Unidos, cortou os próprios genitais depois de ter ingerido “cogumelos mágicos”, uma droga alucinogénica. O homem foi encontrado perto de uma escola em estado crítico na madrugada de ontem, perto da uma da manhã. A polícia respondeu a um sinal de alarme vindo da escola depois do homem ter partido um vidro, e encontrou-o no chão a esvair-se em sangue, aos gritos e em estado de choque. Foi então levado ao hospital juntamente com o seu membro decepado, e devido à perda massiva de sangue e ao trauma da mutilação os seus sinais vitais eram reduzidos (suponho que foi necessário proceder a uma esmerada limpeza na viatura policial depois disto…) . Encontra-se internado nos cuidados intensivos, o diagnóstico é ainda reservado. A polícia suspeita que os cogumelos estariam contaminados com outra droga, e levaram uma amostra de sangue – que não foi difícil de obter – para analisar. O homem em questão tem uma história de perturbação mental anterior ao incidente, e está referenciado como consumidor habitual de estupefacientes.
Os cogumelos mágicos são um fungo cuja toxicidade é tolerada pelo organismo humano, mas os seus alcalóides de índole psicotrópica actuam sobre o sistema nervoso central, podendo provocar alucinações e até episódios de pânico ou tendências suicidas. As reacções variam de pessoa para pessoa, e os efeitos podem acentuar-se com uma maior frequência do seu uso. Dos três grupos de cogumelos psicotrópicos, são os que contêm psilocibina os mais usados para fins recreativos, e existem cerca de duzentas espécies, onze das quais mais comuns entre os aficionados das “tripes”. O seu uso foi popularizado nos anos 60 entre os “hippies”, e a cantora Janis Joplin era uma ávida consumidora – um mau exemplo, em todo em caso. É uma substância ilegal, mesmo na Holanda, onde a posse e o consumo foram criminalizados em 2008, mas o facto de crescerem na natureza tornam o controlo complicado para as autoridades. A sua toxicidade aumenta quando são desidratados, e era possível adquirir legalmente cogumelos mágicos frescos no Reino Unido até 2005, altura em que foram incluídos na lista de substâncias ilegais como droga de classe A. Em pequenas doses e perante acompanhamento médico, têm propriedades que podem ser utilizadas no tratamento de algumas doenças do foro psiquiátrico, nomeadamente como anti-depressivos. Uma curiosidade interessante, mais ainda atendendo ao facto que esta droga psicodélica possivelmente perigosa se pode apanhar do chão, bastando para isso possuir alguns conhecimentos sobre fungos.
Homicidas em duas rodas (na China)
Um motociclista na China foi mandado parar pela polícia depois de ter cometido uma infracção, e teve uma reação violenta - para não dizer outra coisa. Depois de uma breve discussão com o agente, o "biker" puxou de uma faca com uma lâmina de 30 cm de comprimento (!), e tentou agredi-lo. A fúria com que maneja a arma branca dá a entender que não estava mesmo para brincadeiras, e não fosse o agente tão ágil a desviar-se dos golpes do agressor, e tinha sido cortado às postas. O motociclista ia acompanhado de uma jovem, supostamente a namorada, que não só se absteve de acalmar o parceiro como ainda a vemos no início do video com cara de quem não leva desaforo para casa, a tentar agredir o autor das imagens, que conseguiu segurar a câmera e proporcionar-nos este divertido filme. Depois da tentativa de homicídio, e numa altura que chegavam mais reforços policiais, o indivíduo montou-se na mota com a miúda e foi à sua vida, quais "Bonnie & Clyde" das duas rodas, em versão chinesa. Desconheço se foi posteriormente detido, mas se foi, o mínimo que se lhe recomenda é acompanhento psiquiátrico intensivo, não vá aquele temperamento de "samurai" fazer estragos no futuro.
terça-feira, 25 de junho de 2013
A parte de Leão
A lista do Observatório Cívico, encabeçada por Agnes Lam, protagonizou a semana passada o primeiro “happening” da corrida à Assembleia Legislativa, com a prova principal a realizar-se no dia 15 de Setembro, quando os eleitores foram às urnas decidir a atribuição de catorze vagas no hemiciclo pela via directa. O jornalista Carlos Morais José, inicialmente apontado como o “trunfo” da lista para atraír o eleitorado português, desistiu da candidatura, depois da traiçoeira “máquina” que envolve a opinião pública ter visto com maus olhos o facto do director do Hoje Macau não ter suspendido essas funções em nome da “isenção”. Este é só por si um incidente que daria mote para uma série de especulações sobre o que realmente se passou, e se a posição assumida por CMJ teria ou não sido a principal razão da censura dos forums online. Mas o que lá vai, lá vai, e águas passadas não movem moinhos. Agnes Lam persistiu na presença de um membro da comunidade portuguesa na sua lista, e assim escolheu o arquitecto Rui Leão para nº 3. Pode-se dizer que o Observatório Cívico fez uma escolha férica, apostando no…Leão.
Conheço bem o arquitecto Rui Leão, pai de uma colega de turma do meu filho desde há sete anos, pelo menos. Tive oportunidade de conversar com ele várias vezes e a impressão que me deixou é que se trata de uma pessoa educada, inteligente e sociável. O facto de ser oriundo de uma família tradicional do território não o distancia do seu semelhante, mesmo que no seu ramo de actividade tenha já sido premiado internacionalmente (e como eu respeito os arquitectos; não sei fazer um risco direito no papel). Rui Leão e a sua simpática esposa, uma senhora italiana que fala um português excelente com um ligeiro sotaque que a torna ainda mais adorável, são dois excelentes profissionais, pais de família e membros da comunidade a que dificilmente se pode apontar algum defeito – coisa rara. Agnes Lam escolheu bem, mesmo que desconfie que se tenha decidido um pouco à pressa.
Como terceiro da lista do Observatório Cívico, é seguro arriscar que Rui Leão não será eleito. Na melhor das hipóteses Agnes Lam chegará so hemiciclo, mas terá uma competição feroz, com várias listas a tentar aproveitar o alargamento do número de deputados de doze para catorze para eleger um deputado. Mesmo não sendo realista a sua eleição, Rui Leão pode contribuir para o debate politico, exprimir alguns pontos de vista válido, e com o aliciante de o fazer em português. Preferia ainda assim que fosse Carlos Morais José a concorrer, mas por motivos pessoais, e até um pouco egoístas. O director do Hoje traria certamente um discurso mais incisivo e crítico à campanha, e certamente que em debate confrontatório, a existir, seria um osso duro de roer. Seria mais divertido, também. Penso que a maioria concorda comigo.
Os portugueses e restante comunidade lusófona recenseada estará atenta ao contributo de Rui Leão, que tem ainda a vantagem de não concorrer ao lado de uma lista de matriz portuguesa. Já ficou provado, comprovado e recomprovado que uma lista que apele à comunidade portuguesa de Macau não resulta. Existem divisões e cismas que separam o eleitorado lusófono das listas desta natureza que têm sido apresentadas a sufrágio, e os candidatos raramente reúnem um consenso que leve à união e adesão do seu eleitorado base. O fiasco que representou a candidatura de Casimiro Pinto e da sua Voz Plural dificilmente levará a que mais alguém tome uma iniciativa semelhante, e o facto desta lista se ter assumido desde o início uma postura “dialogante” em vez de crítica e fiscalizadora da acção do Executivo também no ajudou. Para dizer “sim” já lá estão os outros. Uma lista composta apenas por portugueses de Portugal residentes em Macau dificilmente elegeria um deputado, mas teria certamente mais votos que os 905 da Voz Plural.
Mas o que vale então o eleitorado português? Pode não ser decisivo ao ponto de merecer a atenção de outras listas, digamos, mais tradicionais ou “caseiras”, mas começa a ter o seu peso. Isto ficou ainda mais evidente quando a própria Angela Leong “piscou o olho” a este eleitorado durante a apresentação da sua candidatura. São cada vez mais os portugueses recenseados em Macau, e Agnes Lam viu bem onde poderia ir buscar mais mil ou dois mil votos que poderão fazer toda a diferença num eventual sucesso eleitoral. O Observatório Cívico pode não assentar como uma luva no eleitorado português, que não verá nesta lista alguma resposta aos seus anseios politicos, mas é “o que se pode arranjar”. Não se pode esperar dos “kai-fong” ou dos operários que incluam especialmente a comunidade portuguesa no seu programa, até porque isso confundiria o seu eleitorado de base. Mesmo a ideia-feita que alguns têm que Pereira Coutinho é o candidato “dos portugueses” é falaciosa. Nem todos se revêm no pendor sindicalista puro, pouco abrangente e vazio de ideias que não vão acabar inevitavelmente nos direitos dos funcionários públicos. Nem todos os portugueses são funcionários públicos. Antes pelo contrário.
A campanha promete, e a dois meses e meio do sufrágio aguardam-nos certamente muitas surpresas. Vai ser uma montanha russa de emoções. Agnes Lam teve o seu baptismo de fogo com a decepção da semana passada, mas estará mais atenta no futuro, certamente. Seria benéfico para as suas ambições que fizesse também um pouco de “jogo sujo”, mas neste campo Observatório Cívico está a anos luz de alguma da concorrência. Se me perguntarem se acredito na eleição de Agnes Lam, respondo que “não”, mas ao contrário de 2009, não tenho tanta certeza. A sua eleição não seria uma surpresa. A aposta no apelo à comunidade portuguesa e a escolha de Rui Leão foram um trunfo bem jogado. Agora resta saber se produz resultados.
As quinas e o lótus
A última jornada da II divisão do futebol de Macau realizou-se na última semana, com a realização de dois jogos na quarta e na quinta-feira, em virtude da desistência do Chang Wai, que deixou o campeonato com apenas nove equipas. Com o Sporting consagrado campeão há algumas jornadas, a única dúvida persistia na sorte da outra formação de matriz portuguesa, a Casa de Portugal. Depois do empate frente aos sub-18 na quarta, a equipa de Pelé dependia de uma vitória ou pelo menos um empate dos leões frente ao Chuac Luen no dia seguinte. Os verdes-e-brancos foram camaradas e não fizeram a coisa por menos: vitória por 8-2, mais que suficiente para a Casa de Portugal garantir a manutenção.
O Sporting foi de longe a melhor equipa da prova, e a derrota na ronda inaugural provou ser uma anormalidade, pois seguiram-se quinze partidas (!) sempre a ganhar e um empate na penúltima jornada, já com o título mais que assegurado. A filial do Sporting Clube de Portugal junta-se assim ao Benfica de Macau na Liga de Elite, garantindo desde já dois “derbies” Sporting-Benfica ao mais alto nível na próxima temporada – é realmente pena que o FC Porto de Macau tenha abandonado a prova, ou teriamos os três grandes de Portugal na divisão principal em Macau. O Sporting, apesar de ter chamado a II divisão um figo, terá que se reforçar com vista ao novo desafio, pois as deficiências ficaram comprovadas no jogo da Taça contra o Benfica, que os encarnados venceram com relativa facilidade.
As “águias” fizeram uma época brilhante, terminando no segundo posto a um ponto do campeão Monte Carlo, e somando por vitórias os últimos 13 (!) jogos do campeonato. No segundo ano em que participa na divisão principal do futebol local, o Benfica assume-se como um candidato ao título, e pode ainda vencer a Taça, que irá discutir numa final com o Ka I.
Quanto ao núcleo da Casa de Portugal, desejo-lhes a melhor das sortes, e apesar do projecto não ser dado a grandes loucuras que façam aspirar a mais altos vôos que o escalão secundário, que consigam fazer para o ano um campeonato mais tranquilo.
Lágrimas de cão
Como hoje comprei um bilhete para o sorteio da ANIMA e tudo, sinto-me especialmente vulnerável ao sofrimento dos bicharocos. Este video deixa qualquer um comovido: um cão depara com um camarada seu morto numa vala, e enterra-o, como quem oferece ao seu próximo um pouco de dignidade "post-mortem". E depois dizem que os bichos não sentem...
Manhã submersa (é o arrebatamento!)
Como alguns leitores sabem, estou neste momento a gozar um periodo de férias durante o qual vou proceder à mudança de casa. Felizmente a nova morada é praticamente ao lado desta, o que sendo uma vantagem não me isenta da habitual trabalheira que é fazer caixotes e carregar com as tralhas, mesmo que apenas o essencial. (Mudar de casa é uma boa oportunidade para deitar fora porcarias que de outro jeito vamos acumulando por preguiça). Depois de uma cansativa tarde de limpezas ontem, ainda para mais com o incómodo que foi o mau tempo que limitou os movimentos, fui dormir era já madrugada, sem hora para acordar e prosseguir a tarefa. Afinal estou de férias, 'cum camano.
Dormia eu o sono dos justos quando pelas 11 da manhã sou acordado bruscamente com um tumulto que, imaginando ao que soaria o início da III Guerra Mundial, seria mais ou menos desse tipo. Era uma daquelas associações de dança do leão que à memória não-sei-do-quê-ou-de-quem rufava tambores, batia pratos, rebentava panchões, tudo acompanhado por berros e apitos. Não terá sido uma mera inauguração de qualquer loja, pois nesse caso até são mais ou menos despachados. Foi uma boa meia-hora rua acima e abaixo fazendo um estardalhaço tal que se os meus membros respondessem às ordens do cérebro, tinha-me levantado da cama e atirado com um balde de água pela janela. Podia ser que refreassem os ânimos.
Já sei que isto é uma tradição, sim senhor, muito bem e nada contra, e não espero nenhum tipo de tratamento especial, ou que o mundo páre só porque estou a dormir. Nada disso. Mas não somos uma cidade internacional, centro de negócios e etcetera e tal? Há milhares de pessoas que trabalham por turnos, por exemplo, e dormem durante o dia. Ninguém é obrigado a viver no vigésimo andar para ficar a cobro dos ruídos das cornetas do apocalipse em plena via pública. Não se pede que ande tudo bicos de pés, mas já agora podia-se evitar este tipo de poluição sonora de charanga de metais acompanhada de explosivos.
E voltando a isso das tradições e do respeito pelas mesmas. Vejam a notícia aí em baixo, é tradição. E a "tradição" de queimar as viúvas juntamente com os maridos na India, ainda vivas, numa pira funerária? Tourada também é uma tradição, e nem todos a respeitam. E é disso mesmo que se trata: respeito. Já agora respeito por essa "tradição" tão antiga como o tempo e que nasce com cada um: o sono. E acho que com tudo isto apanhei desinteria. Bem, vou voltar ao meu merecido repouso, e tentar compôr-me do assalto de que os meus pobres ouvidos foram vítimas há ainda menos de uma hora. Continuação de bom trabalho, se for esse o caso.