quarta-feira, 26 de junho de 2013
Insectos: o lado podre do reino animal
Já imaginou ser pisado...por isto?
Insectos, todos os dias vemos insectos. Criaturas voadoras, rastejantes, minúsculas, invertrebadas, insensíveis e perecíveis, eis os insectos. Não pensar que são a ordem mais numerosa do mundo animal ajuda-nos a dormir melhor. Existem mais moscas, abelhas, formigas, aranhas, mosquitos, gafanhotos, pulgas e toda essa merda em maior quantidade do que todos os seres humanos que habitaram a face da Terra – incluíndo abortos e nados mortos. Fossem os insectos inteligentes, e dominariam o planeta. Sim, meus amigos, seriamos escravos das baratas, aquela criatura imunda com aspecto metalóide que habita nos esgotos e ocasionalmente invade o nosso lar, arrastando as patas sobre a nossa alcalina existência sem ter sido convidada. Num mundo dominado pelos insectos, fizessem eles uso da sua vantagem numérica, eram as baratas que nos pisavam, e não o contrário.
Os olhos de um mosquito vistos ao microscópio.
Para quem acredita plenamente na existência de um Deus criador, deve pensar às vezes o que raio estava Ele a pensar quando populou a Terra de insectos. Esteticamente são um desastre, e a tendência da maioria deles em habitar nos dejectos que os humanos a natureza produzem desafia os limites da lógica. Uma mosca, por exemplo. Que explicação se pode encontrar para que se delicie nas fezes ou em cadaveres pútridos? Será esta uma piada de mau gosto por parte do criador? É castigo? “Ah, queriam o Paraíso, meninos? Tomem lá com os insectos e assim não se ficam a rir!”. Se já nos incomoda ter uma mosca a zunir nos ouvidos, um mosquito a sugar-nos o sangue ou aranhas nos cantos esquecidos durante as lides domésticas, incomoda muito mais se observarmos a aparência dos bichos ampliada à milésima potência. Não há que o negar, são feios que dão dó. Até as poéticas borboletas ou as enternecedoras joaninhas adquirem um aspecto pavoroso vistas ao microscópio.
A cabeça de uma vespa ampliada. Sim, é deste mundo.
O mais curioso é que esta bicharada que nos provoca asco devido à sua aparência atroz desempenha um papel fundamental nos ecossistemas. Não toleramos os insectos, e o nosso instinto é esmagá-los se os encontramos em casa, mas a vida seria impossível sem eles. A abelha é o exemplo acabado desta dependência que temos dos insectos, e a ameaça de extinção que paira sobre a espécie é preocupante. Não vamos ser nós a substitui-las no processo de polinização, certamente. Pelo menos a mim não me apetece fazer amor com as flores e andar por aí a espalhar pólen. Apesar de não simpatizar com as abelhas, que à minima oportunidade nos espetam com um ferrão venenoso sem que possamos negociar com elas ou apelar ao seu bom senso, reconheço o seu direito à existência e a sua utilidade. Quero distância delas, e prefiro não pensar de onde vem o delicioso mel que nos gélidos dias invernis adoçam o meu chá quente com limão, ou que substitui o açucar na aveia que tomo ao pequeno-almoço, mas sim, dou-lhes o benefício da dúvida. Mas como não há bela sem senão, com as abelhas coexistem as vespas, uma espécie de abelha inferior, careca, demoníaca e inútil, e cuja única função é poluir e envenenar. Não podiamos ter ficado apenas pelas abelhas?
Os famosos "chatos".
Não temo os insectos, e não há sola de sapato ou jornal enrolado a que resistam. Mas apenas, insisto, porque são minúsculos e irracionais, caso contrário venceriam uma eventual guerra contra a humanidade. Mesmo pequenos e estúpidos, estão na origem de episódios lamentáveis da História. A peste negra, discutivelmente a maior calamidade de sempre, foi provocada por um insecto, mais precisamente uma espécie de pulga. Outros são portadores de virus letais, como o mosquito da malária e do dengue, a mosca do sono ou a febre da carraça. Um gafanhoto pode parecer uma reles criatura sem importância que nos convida a esmagá-lo, mas milhares de gafanhotos juntos formam uma praga que pode arruinar colheitas inteiras, originando fome e miséria. Mesmo a doença das vacas loucas, que deixou em sobressalto os amantes de um bom bife há alguns anos, poderá ter tido origem num aracnídeo que habitava na palha de que se alimentavam os bovinos. Numa perspectiva mais brejeira mas nem assim menos nojenta, temos um outro aracnídeo que origina o que na medicina é designado por “pediculose púbica”, provocada por uma espécie de piolho que habita nos pêlos púbicos humanos, e que popularmente chamamos de “chatos”. Mas que raio de criatura é esta qye se lembrou de proliferar num sítio daqueles? Além de feios, chatos e sujos, alguns insectos adquirem características parasitárias que os transformam em inimigo mortal. Que um grande raio os parta.
Como é possíível coabitar com isto?
Sim, temos insectos perigosos, incómodos, insalúbres e outros que apesar de inofensivos não deixam de ser feios. Não existirá um único a que se possa atribuír algum sentido estético. Mas de todos há um que me causa um pânico especial: a louva-a-deus. Só de escrever o nome desta abominável monstruosidade causa-me calafrios. Esta espécie de besouro ou lá o que é, que mais parece um extra-terrestre de um filme de terror, é o pináculo do horrível no reino dos insectos. Verde, esguio, olhos triangulares pontuados com uma pupila preta, patas serradas, asas compridas, um sem número de atributos pavorosos. Incluír o nome de Deus neste ser repelente e associar a postura ameaçadora com que dispõe as suas mandíbulas ao acto da oração é um insult a qualquer crente que se preze. Deviam mudar o seu nome para “vade-retro satanás”. O facto da fêmea devorar o macho durante o acasalamento, começando por lhe arrancar a cabeça, é uma curiosidade que fascina os entomólogos, os cromos com tendências sádicas que se ocupam a estudar os insectos. Para mim é doentio. Quando me deparo com uma louva-a-deus, sinto o mesmo olhar cortante que ostenta quando canibaliza o seu macho, Está a desejar-me a morte enquanto pensa: “ah…se fossemos os dois do mesmo tamanho”. Não sei se existe algum passaroco ou roedor que faça das louva-a-deus a sua dieta predilecta, mas se existe, merece o meu respeito. Que se reproduza à enésima potência e nos livre desta nódoa.
Tenham medo...tenham muito medo
O nosso imaginário infantil está repleto de insectos que alguns autores – loucos, assumo – atribuiram características humanas, incluíndo uma aparência menos repulsiva. Todos conhecemos a Abelha Maia, que inocentemente chegámos a amar e acomodar nas prateleira das memórias da nossa infância, o grilo falante, a voz da consciência do Pinóquio, a carochinha da fábula do João Ratão, a cigarra e a sua amiga formiga daquele conto que nos coagiu a pensar que o trabalho é uma virtude, todos insectos celebres. Mas meus caros, isto são insectos, apesar do romantismo e até algum encanto dos personagens acima referidos. Viscosos, demoníacos, maquiavélicos e maldosos, que nos desprezam a não se inibiriam de nos aniquilar caso tivessem capacidade para tal. Um filme que toda a gente devia ver era “A Mosca”, ou “The Fly” no seu título original, que ilustra bem quão degradante é a existência de um insecto. Não é a toa que os químicos utilizados para aliviar os insectos da sua patética existência se chamam “repelentes”. Os insectos são criaturas repelentes. Os antigos egípcios tinham o escaravelho, um dos insectos com a aparência mais assustadora entre os milhares de tipos existentes. Os egípcios que me perdoem, mas são umas bestas. Alguns povos, especialmente na Asia, alimentam-se de algumas espécies de insectos, reconhecendo-lhes mesmo elevado valor proteico. Por mim tudo bem, qualquer pretexto para matar insectos recebe a minha aprovação. Um insecto bom é um insecto morto. Além disso, desconfio que os insectos nos devorariam também se tivessem a oportunidade. Estejam sempre atentos aos insectos, pois nunca se sabe a que ponto a evolução os leva a produzir espécies mais ameaçadoras e mortíferas de pestes aladas e rastejantes. Não dispensem a lata de insecticida, e se virem um deles em casa, esmaguem-no, por muito inofensivo que aparente ser. Como dizia o tal filme “The Fly”: tenham medo…tenham muito medo.
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