terça-feira, 25 de junho de 2013

Manhã submersa (é o arrebatamento!)


Como alguns leitores sabem, estou neste momento a gozar um periodo de férias durante o qual vou proceder à mudança de casa. Felizmente a nova morada é praticamente ao lado desta, o que sendo uma vantagem não me isenta da habitual trabalheira que é fazer caixotes e carregar com as tralhas, mesmo que apenas o essencial. (Mudar de casa é uma boa oportunidade para deitar fora porcarias que de outro jeito vamos acumulando por preguiça). Depois de uma cansativa tarde de limpezas ontem, ainda para mais com o incómodo que foi o mau tempo que limitou os movimentos, fui dormir era já madrugada, sem hora para acordar e prosseguir a tarefa. Afinal estou de férias, 'cum camano.

Dormia eu o sono dos justos quando pelas 11 da manhã sou acordado bruscamente com um tumulto que, imaginando ao que soaria o início da III Guerra Mundial, seria mais ou menos desse tipo. Era uma daquelas associações de dança do leão que à memória não-sei-do-quê-ou-de-quem rufava tambores, batia pratos, rebentava panchões, tudo acompanhado por berros e apitos. Não terá sido uma mera inauguração de qualquer loja, pois nesse caso até são mais ou menos despachados. Foi uma boa meia-hora rua acima e abaixo fazendo um estardalhaço tal que se os meus membros respondessem às ordens do cérebro, tinha-me levantado da cama e atirado com um balde de água pela janela. Podia ser que refreassem os ânimos.

Já sei que isto é uma tradição, sim senhor, muito bem e nada contra, e não espero nenhum tipo de tratamento especial, ou que o mundo páre só porque estou a dormir. Nada disso. Mas não somos uma cidade internacional, centro de negócios e etcetera e tal? Há milhares de pessoas que trabalham por turnos, por exemplo, e dormem durante o dia. Ninguém é obrigado a viver no vigésimo andar para ficar a cobro dos ruídos das cornetas do apocalipse em plena via pública. Não se pede que ande tudo bicos de pés, mas já agora podia-se evitar este tipo de poluição sonora de charanga de metais acompanhada de explosivos.

E voltando a isso das tradições e do respeito pelas mesmas. Vejam a notícia aí em baixo, é tradição. E a "tradição" de queimar as viúvas juntamente com os maridos na India, ainda vivas, numa pira funerária? Tourada também é uma tradição, e nem todos a respeitam. E é disso mesmo que se trata: respeito. Já agora respeito por essa "tradição" tão antiga como o tempo e que nasce com cada um: o sono. E acho que com tudo isto apanhei desinteria. Bem, vou voltar ao meu merecido repouso, e tentar compôr-me do assalto de que os meus pobres ouvidos foram vítimas há ainda menos de uma hora. Continuação de bom trabalho, se for esse o caso.

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