domingo, 31 de março de 2013

Horizonte cor-de-rosa


A homossexualidade é um facto que nunca me foi estranho. Desde que me tenho consciência do meu próprio ser que sei que existem homens que preferem a companhia íntima de outros homens, e mulheres que só sentem atração física por outras mulheres. Não deparei com situações flagrantes nem tenho qualquer conhecimento de causa. Sei que é assim porque sim. Não sou baptizado, não fiz catequese nem tive uma educação remotamente religiosa. Nunca me foi imposto que uma relação amorosa teria de ser obrigatoriamente entre um homem e uma mulher. E porque teria que ser assim? Não tenho conhecimento de nenhum homosexual na minha família, pelo menos a mais próxima, mas desconheço por completo o historial de irmãos, tios, tias, primos e cunhadas no que toca às relações pessoais. Este não é propriamente um tema que se discuta à mesa durante a consoada. Sobretudo gosto de me reger por um princípio fundamental: cada um sabe de si.

Quem teve a curiosidade de saber, ler, ver e pesquisar a motivação dos homossexuais não tem motivos para ficar chocado. O sexo vai muito além da penetração do pénis na vagina, e mesmo entre os casais heterossexuais se verificam práticas que os mais conservadores (ou pseudo-conservadores) consideram “imorais”, ou “contra-natura”. Qualquer adulto saudável é livre de exercisar os mais variados tipos de delírios que o levem a disfrutar o sexo com mais prazer, desde que conte com o consentimento do seu parceiro. O que se faz em privado não cabe a ninguém julgar, e não carece de divulgação obrigatória. As Finanças não precisam de saber em que posição decorreu a cúpula na noite passada, ou quem dormiu com quem. As “taras” de cada um não estão escarrapachadas na testa. A orientação ou preferência sexual não consta dos dados do bilhete de identidade ou da carta de condução. Cada macaco no seu galho.

O movimento “gay”, que levou à formação de um poderosíssimo “lobby” com que muitos de nós não concorda na forma e no género (eu próprio incluído), surgiu na América nos anos 60, e teve no activista Harvard Milk, um politico “gay” de San Francisco, uma das vozes mais activas. Milk viria a pagar com a vida a forma como defendeu os seus princípios, mas a causa tem adeptos um pouco por todo o mundo. Em todos os países de todos os quatro cantos do mundo há homossexuais que lutam pelo direito de ver reconhecida a sua orientação, tantas vezes confrontados com a oposição de grupos que pelejam pelo conceito de “família tradicional”, ou seja, um homem e uma mulher que se juntem, tenham filhos de forma natural e “produzam” a geração seguinte. Os casais “gay” são uma ameaça a esta continuidade. Dois homens e duas mulheres não podem procriar, obviamente, uma vez que falta um esperma que encontre um óvulo. Isto faz imensa confusão a muito boa gente. Há quem alinhe na teoria do contágio, e que se toleramos a existência de casais do mesmo sexo, a continuidade da espécie estará de alguma forma ameaçada.

Não sei porquê, mas não encontro qualquer cabimento nesta teoria da extinção da espécie. Assisti ao evento dos cinco mil milhões de habitantes na Terra, menos de vinte anos depois chegámos aos seis mil milhões, e apesar de não estar a par do actual número, penso que caminhamos a passos largos para os sete mil milhões. E isto mesmo com o crescente número de gays e lésbicas. Quer dizer, em termos de ameaça, esta deixa muito a desejar. Preocupa-me muito mais a escassez de recursos que acompanhem o aumento da população, o fosso cada vez maior entre ricos e pobres, que leva a que hajam cada vez mais pobres e crianças em risco. Os homossexuais são o que menos me preocupa. Até penso que alguma contenção nesta “ordem natural” da continuação da espécie seria recomendável, e não condenável.

Em Macau os direitos “gay” têm estado na ordem do dia nos últimos tempos, muito por culpa do surgimento de um grupo que luta pelo reconhecimento das uniões civis de casais do mesmo sexo. O jovem Jason Chao, membro do Novo Macau Democrático, deu a cara pela causa, e para tal até se assumiu como homossexual. Não surpreende que a “revolução” tenha chegado ao território tantas décadas depois de outros pontos do globo (até muito depois de Hong Kong, que é mesmo aqui ao lado), pois vivemos numa sociedade que é composta por um misto de paroquialismo católico e “harmonia” confunciana, onde se privilegiam os valores da família tradicional: um homem e uma mulher, que produzam filhos e já agora que acatem os trâmites impostos pela ordem social sem levantar muitas ondas.

Num território tão exíguo como é Macau, é praticamente impossível ocultar a orientação sexual. Os homossexuais estão perfeitamente identificados, ou no limite têm dificuldade em manter a sua orientação em segredo. Basicamente qualquer homem que permaneça solteiro até aos 40 anos e não seja frequentemente visto com companhia do sexo oposto é “suspeito”. O aspecto positivo – que me deixa agradavelmente supreendido – prende-se com a tolerância que existe com os homossexuais. Não conheço casos de descriminação para com estes indivíduos, que não têm qualquer dificuldade de integração na sociedade. Mais uma vez, o que fazem em privado, ou que companhia preferem debaixo dos lençois, é completamente irrelevante. É salutar que não se façam julgamentos ou que se imponham condutas, nem que se faça a apologia da “normalidade” ou do “natural”.

Perante este clima saudável de tolerância e convivência, é mais que normal que um dia estes indivíduos queiram ver reconhecidas as suas uniões, e que sejam legitimados os seus relacionamentos, independente das convenções. Aqui é que a porca torce o rabo, pois a mesma sociedade que os tolera coloca obstáculos a que se afirmem – façam lá o que quiserem, mas não julgem que isto se coloque como “opção”. Os opositores às uniões civis entre casais do mesmo sexo, ou seja, que não podem procriar e por isso não gozam dos direitos à sucessão hereditária, testamentária e afins, socorrem-se de argumentos diversos, muitos deles baseados numa eventual corrupção dos valores e degradação do tecido social. A fundamentação que apresentam é muito pouco sólida, se me permitem a ousadia.

Em primeiro lugar, reconhecer a união civil de casais do mesmo sexo não leva a uma epidemia de homossexualidade, como alguns defendem. Equiparar os casais homossexuais e mistos em termos de direitos não é o mesmo que criar “mais uma opção” em termos de civilidade. Quem é homossexual não se vai sentir inibido por não usufruir de direitos sucessórios, e quem é heterossexual não vai reconsiderar a sua orientação simplesmente porque os casais “gay” gozam dos mesmos direitos. Cada um vai continuar a ser como é. Há ainda os que temem que exista uma agenda que leve mais tarde ao evento do casamento “gay” ou da adopção. Temer o quê? Cada coisa a seu tempo, e o simples reconhecimento de uma união civil entre duas pessoas que partilham as suas vidas, indiferente do seu género, não vai gerar nenhum efeito dominó. Se a sociedade estiver suficientemente amadurecida para que se tomem os passos seguintes, certamente que não será contra a vontade da maioria.

E quanto ao tema da adopção por casais homossexuais, tenho escutado muitas opiniões, a maioria contra ou “com muitas reservas”. Uma vez que não existe uma forma natural de gerar uma vida, é normal que se pense na adopção, e o que não falta são crianças que esperam por uma família que lhes providencie um lar, carinho e educação, infelizemente. Em primeiro lugar considero que uma criança em risco estará melhor entregue a um casal “gay” do que institucionalizada, mas ainda assim prefiro que os pais adoptivos sejam um homem e uma mulher. Essa é apenas a minha opinião. O que não posso concordar é com a ideia que uma criança que seja adoptada por homossexuais se venha a tornar ela própria homossexual. Por essa lógica não existiriam homossexuais, uma vez que todos tiveram um pai e uma mãe, e muitos deles cresceram no seio de famílias funcionais e perfeitamente heterossexuais. Quem defende que os casais homossexuais pretendem adoptar crianças com fins predatórios, bem, esses nem merecem qualquer espécie de comentário. Prefiro abster-me de validar argumentos deste tipo na forma de comentário.

Devido à natureza periférica do território e a gritante falta de poder decisório completamente independente, é de esperar que sejam outros países da região a tomar a iniciativa no que concerne a estes direitos tão progressistas, e mais uma vez se espera que seja o Japão a dar o primeiro passo – afinal é o país do sol nascente que mais se assemelha a uma democracia ocidental, apesar das diferenças que se detectam a olho nu. Em Macau não se pode esperar muito neste sentido, ou pelo menos antes que a China tome a iniciativa, o que pode levar ainda décadas. Não se sabe bem. Por enquanto vão continuar a existir homossexuais, e não vai ser o conservadorismo ou a tradição que os vai abater. Com ou sem leis que equiparem a sua união à dos casais heterossexuais, eles vão andar por aí, e é mais que certo que vão ser cada vez mais. Se isto é fruto da evolução ou da mudança de valores, cabe aos especialistas analisar. Mas que os há, há.

Liga de Elite - 9ª jornada


Regressou este fim-de-semana a Liga de Elite de Macau, depois de uma pausa de duas semanas para compromissos da selecção. A 9ª jornada, última da primeira volta, confirmou o desiquilíbrio entre as formações da primeira e segunda metade da tabela. A diferença entre quarto e quinto classificados é de seis pontos, e a disparidade no “goal-average” cifra-se em mais de quinze golos.

A jornada arrancou na sexta-feira com o Ka I-Kuan Tai, com a equipa de Josecler a chamar a si a vitória pela margem minima, mas com o golo decisivo a ser apontado apenas no terceiro minuto de compensação, autoria de Nicolas Torrão, o artilheiro-mor do campeonato. O Kuan Tai de João Rosa provou mais uma vez ser um osso difícil de roer, apesar de não ter o estofo necessário para se intrometer na discussão dos lugares da frente. É, por assim dizer, o “primeiro dos últimos’.

O Sábado o programa iniciou-se com a maior goleada da Liga até ao momento, com o Benfica a esmagar o Kei Lun por expressivos 11-0 – um resultado que já não se usa. Os encarnados, em nítida subida de forma, não deram qualquer hipótese ao seu adversário, e já vencia por cinco golos de diferença ao intervalo. Pio Júnior foi a figura do encontro, ao apontar quatro golos. Luís Martins e Luís Ferreira marcaram dois cada, Vinício Morais Alves, Fabrício Lima e Marcus Tavares marcaram os restantes. Seguiu-se o jogo grande desta ronda, o Monte Carlo-Lam Pak, que terminou com a vitória dos primeiros por cinco bolas a uma. Esperava-se mais equilíbrio, e o Lam Pak até começou bem, com Wilton a inaugurar o marcador logo aos dois minutos. O Monte Carlo empatou aos 23 por Tou Wai Keong, e o Lam Pak viu-se reduzido a dez unidades quando o defesa Lam Ka Pou foi expulso ainda antes do intervalo. Os “canarinhos” aproveitaram bem a vantagem numérica, e construíu um resultado volumoso no segundo tempo. Tou Wai Keong bisou, o brasileiro Filipe de Souza marcou também por duas vezes, e Chan Man fechou a contagem.

Finalmente esta tarde concluíu-se a ronda, com a Polícia a bater sem dificuldade os Sub-23 da AFM por três bolas a zero. O “agente” Cheong Loi mostrou serviço ao apontar dois golos, enquanto o suplente Cheon Chi Lon fechou a contagem nos descontos. O onze da PSP termina a primeira metade da época numa posição tranquila na tabela, enquanto a jovem equipa patrocinada pela AFM afunda-se cada vez mais, sem um único ponto conquistado até ao momento. Numa partida terminada há poucos minutos o Chao Pak Kei confirmou o bom momento de forma e venceu o Lam Ieng por 3-1, recuperando de uma desvantagem ao intervalo. Lin Lei Yi bisou, depois de Eduardo Tong igualar a partida para o CPK. A classificação é liderada pelo Monte Carlo com 27 pontos, com vitórias em todos os nove jogos da primeira volta. O Ka I tem 24, Benfica 21, Lam Pak 18, Kuan Tai 12, Polícia e Lam Ieng 10, Chao Pak Kei 9, Kei Lun 3 e Sub-23 zero pontos.

É Domingo (de Páscoa) no mundo


Hoje é Domingo de Páscoa, data que assinala o fim da Quaresma, e em que se celebra no mundo cristão a ressurreição de Cristo. Das imagens relativas à quadra que nos chegam todos os anos, as mais impressionantes são talvez as de San Fernando, em Pampanga, nas Filipinas, onde um grupo de fiéis recria a paixão de Cristo, uns auto-flagelando-se, e outros ainda que se deixam crucificar. Uma forma de assinalar a Páscoa de que a Igreja Católica se demarca, mas que atrai sempre um grande número de turistas vindos dos quatro cantos do planeta. As Filipinas são o terceiro maior país católico do mundo, depois do Brasil e do México, e o maior da Ásia. A propósito, gostava de partilhar esta interessante infografia relativa à forma com que se comemora a Páscoa um pouco por todo o mundo. Cortesia do jornal Expresso.

Belenenses regressa ao convívio dos grandes


Foi dia de festa no Restelo. O Belenenses, um dos históricos do futebol português, está de regresso ao escalão principal depois de três anos na Liga de Honra. Os azuis de Belém perderam por 0-2 em Penafiel, mas beneficiaram da derrota do Santa Clara na Tapadinha frente ao Atlético - um "empurrãozinho" de um "irmão" de Lisboa. O Belenenses tem 28 pontos de vantagem sobre os açorianos quando estão apenas 27 pontos em disputa. O Arouca é 2º a 19 pontos dos lisboetas, enquanto Leixões e Aves estão respectivamente a 24 e 25 pontos, mas têm mais uma partida realizada. As contas levam portanto o Belenenses à subida já garantida. O clube que foi campeão nacional no distante ano de 1947 e conta ainda com três taças de Portugal no seu historial é actualmente treinado pelo holandês radicado no nosso país, Mitchell Van der Gaag, que operou uma autêntica revolução. Numa equipa composta por um misto de juventude e experiência, destacam-se alguns jovens valores portugueses, como Tiago Silva, Tiago Caeiro, Fernando Ferreira e Arsénio. Além da brilhante temporada na segunda liga, o Belenenses disputa ainda as meias-finais da Taça, tendo comprometido uma eventual ida ao Jamor depois de perder em casa 0-2 frente ao primodivisionário V. Guimarães, afigurando-se uma missão quase impossível no jogo da segunda mão na cidade-berço. Parabéns portanto ao Belenenses, que volta a ocupar assim um lugar que lhe pertence.

Porto mata, Benfica esfola



A Liga Sagres retomoua acção este fim-de-semana, com a maioria dos jogos a realizarem-se ontem , Sábado, devido ao feriado da Páscoa. No topo nada mudou, com Benfica e Porto a vencerem e convencerem, e a continuarem separados por quarto pontos, com vantagem para os encarnados. Os dragões entraram em campo primeiro, e venceram em Coimbra a Académica por três golos sem resposta. A desinspiração dos avançados portistas foi compensada por jogadores do sector mais recuado, com os defesas Mangala e Danilo a fazerem o gosto ao pé, aos 15 e 52 minutos, respectivamente. O suplente André Castro fechou as contas a um minuto do fim, numa partida em que a aflita Académica muito pouco fez para evitar a derrota. A seguir na Luz o Benfica não acusou a aproximação temporária do seu adversário directo, e goleou o Rio Ave por seis bolas a uma, com o avançadoo brasileiro Lima a apontar um "hat-trick". A equipa de Jorge Jesus já vencia ao intervalo por 3-0, e o Rio Ave viu-se reduzido a nove elementos durante os últimos quinze minutos do encontro. O critério disciplinar do árbitro Rui Costa foi estranhamente rigoroso, e do lado do Benfica também o paraguaio Melgarejo foi tomar banho mais cedo, depois de ver o segundo cartão amarelo. Do lado dos vilacondenses destaque para Bebé, jogador emprestados pelo Manchester United, que realizou uma exibição espectacular. Foi ele quem menos merece a derrota por numeros tão expressivos. A jornada 24 da Liga Sagres termina na 2ª feira com as partidas V. Guimarães-Nacional e Sp. Braga-Sporting, este com o aliciante de ser o primeiro jogo dos leões sob a presidência de Bruno Carvalho, eleito há uma semana.

Volta à Europa da bola


Celta de Vigo 2-2 Barcelona 发布人 goalsarena2012

Os dois “grandes” de Espanha perderam pontos na 29ª jornada da Liga, em vésperas de compromissos europeus para a Liga dos Campeões. O Barcelona foi à Galiza empatar a duas bolas frente ao aflito Celta, que ocupa o penúltimo lugar. Os catalães estiveram a perder, deram a volta ao resultado (mais um golo de Messi), e permitiram o empate a dois minutos dos noventa. O Real Madrid não fez melhor, e empatou a uma bola em Saragoça, com o português C. Ronaldo a assinar o golo dos merengues. O Barcelona mantém os 13 pontos de vantagem sobre o Real, que pode perder o 2º lugar, caso o Atlético de Madrid vença hoje o Valência no Vicente Calderón.

S0-1M 发布人 ourmatch
Na Inglaterra o Manchester United parece caminhar imparável para mais um título, e hoje foi a Sunderland somar mais três pontos. Um autogolo de Titus bramble aos 27 minutos foi o suficiente para os “red devils” manterem os quinze pontos de vantagem sobre os rivais do City, que golearam o Newcastle por 4-0, quando faltam realizar apenas oito jornadas. O Tottenham de André Villas-Boas foi ao País de Gales vencer o Swansea por 2-1 e aproveitou a derrota do Chelsea em Southampton pelos mesmos números para subir ao terceiro posto com mais dois pontos que os “blues”, se bem que com mais um jogo realizado. O Arsenal goleou o Reading por 4-1 e mantém o quinto posto com menos quatro pontos que o Tottenham, e também menos um jogo.

szólj hozzá: Bayern Munich 9-2 Hamburger SV Na Alemanha houve um fartote de golos em Munique, no Allianz Arena, com o líder Bayern a esmagar o Hamburgo por 9-2! É mesmo assim, onze golos, nove para os bávaros. O avançado peruano Claudio Pizarro esteve especialmente inspirado, ao contribui com quatro golos neste verdadeiro massacre. O Bayern lidera com mais vinte (!) pontos que o Dortmund, que venceu em Estugarda por 2-1. O título pode ficar já decidido na próxima semana, e basta aos líderes um empate em Frankfurt para comemorar. Uma Bundesliga sem grande história este ano, com um domínio evidente do Bayern .
Inter vs JUVENTUS 1 - 2 发布人 f538375144 Em Itália a Juventus foi ao Giuseppe Meazza bater o Inter por 2-1 e deu mais um passo importante na revalidação do título. Os juventinos mantêm uma vantagem de nove pontos sobre o Nápoles e onze sobre o AC Milão. O Inter está a fazer uma época para esquecer, ocupando actualmente um modesto sétimo lugar, remetido à discussão por um lugar na Liga Europa.

sábado, 30 de março de 2013

Gethsemane


Quando chega a época da Páscoa é comum rever alguns dos clássicos que se debruçam sobre a vida ou a morte de Cristo. Certamente que muitos se lembram dos filmes que costumavam passer na TV por esta altura: "Jesus da Nazaré" ou "Quo Vadis", ou mais recentemente "A Paixão de Cristo". Há um filme que costume rever nesta quadra, muito menos convencional mas também mais ligeiro: "Jesus Cristo Superstar". O musical dos anos 70 da autoria de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice é provavelmente a interpretação mais ácida da vida de Cristo, e foram feitas várias versões do original da Broadway. O filme de 1973, realizado por Norman Jewison, não faz justice ao material, apresentando um Cristo magro, pálido, com um aspecto daqueles famélicos que encontramos na rua a pedir esmola. O video que vos apresento é de uma versão de 2000 do musical, interpretado por uma companhia australiana, muito mais fiel ao que gostaríamos de encontrar no nosso (ou vosso, se quiserem) Salvador. "Gethsemane", o tema onde Jesus questiona a decisão do seu pai (Deus, entenda-se) o fazer sacrificar-se pela humanidade é um momento alto. Divirtam-se, e uma Santa Páscoa para todos.

Boa viagem (e já agora boa sorte)


Chegámos à Páscoa, avizinha-se o 1º de Maio, e falta pouco para o Verão. As férias convidam à mudança de ares, e muitos residentes optam por desopilar de Macau e gozar as férias noutros países e regiões. Os nossos co-expatriados planeam já o regresso a Portugal para matar saudades, e quem ainda não comprou as passagens arrisca-se a apanhar os preços da “high-season”, e ser mais uma vez enrabado e mal pago pelas companhias aéreas. O que se afigura como inevitável para que se deixe a RAEM a muitas milhas é mesmo viajar de avião. E isso, e vocês sabem muito bem do que falo, tem sempre muito que se lhe diga.

Não conheço ninguém que goste de andar de avião, especialmente se as viagens são longas e feitas em classe económica – o que é frequente, com excepção de diplomatas e alguns empresários. O medo de voar está sempre presente, apesar de alguns aceitarem o desafio melhor que outros. Os “voadores frequentes”, já mais habituados, não sentem tanto a pressão, mas para quem só viaja de avião uma ou duas vezes por ano, sentei sempre aquele desconforto de uma criança que vai ao dentista. Durante grande parte da existência da humanidade voar foi um privilégio apenas ao alcançe dos pássaros, e uma eventual tragédia pode ser entendida como o preço a pagar pela ousadia.

Mas porque é que as pessoas têm medo de voar? Estatisticamente é a forma mais segura de viajar, dividindo as horas de vôo pelo número de casualidades. Morrem muito mais pessoas por ano em acidentes de viação, e mesmo de comboio, autocarro ou barco. Só que enquanto estes meios de transporte primam pelo contacto com o superficial da terra e do mar, o avião “anda lá em cima”. É complicado aceitar que deslocarmo-nos a dez mil pés de altitude é mais seguro que fazê-lo com os pés bem assentes no chão. Ninguém entra num automóvel com o mesmo medo de morrer com que entra num avião. Fazem-se seguros de viagem quando se viaja de avião, mas não para quando se viaja de autocarro. Porquê, expliquem-me, se é mais seguro?

O problema é a publicidade. Um acidente de avião é sempre notícia, e nem dez horas de telejonal chegavam para dar conta de todos os acidentes de automóvel que colhem vidas diariamente um pouco por todo o mundo. Um avião que se despenha significa normalmente a morte de todos os passageiros. Existe 99,9% de possibilidade de morrer numa acidente de avião (os restantes 0,1% foram negociados pelos crentes, que acreditam em milagres). Um acidente de viação ainda goza do factor “sorte” – existe uma percentagem maior de sobreviver. Não há cinto de segurança que nos valha quando um avião se despenha a milhares de metros de altitude a centenas de quilómetros por hora. É inevitável: um avião que cai é uma perspectiva mais fatalista que um carro que se despista.

A ficção e mesmo alguma realidade transposta para o cinema não ajuda muito a ultrapassar o medo. Os malucos dos americanos divertiram-se durante os anos 70 a fazer filmes sobre tragédias aéreas, sendo “Airport ‘77” o maior exemplo de sucesso – escusado será dizer que este filme e outros do género não são exibidos durante vôos comerciais, por razões óbvias. Há cerca de vinte anos tivemos a película “Alive”, a história verídica dos sobreviventes de um vôo que resistiram nas montanhas dos Andes alimentando-se dos cadáveres dos passageiros mortos. Ocasionalmente aparece um filme qualquer de acção que decorre a bordo de um avião, com terroristas que assassinam os pilotos e outros enredos de dar a volta ao estômago, e no conforto do sofá ou da cadeira do cinema até serve de “diversão”. Agora imaginem-se a bordo do avião condenado, e não tem assim tanta piada. Já sabemos que um acidente aéreo é um caso sério, e não precisamos de ser lembrados disso em terra.

Mas não há que o negar, voar é cada vez mais seguro, apesar das tais companhias aéreas cobrarem uma pequena fortuna por um serviço mediocre – mas isso é outra história. Passam-se meses sem que haja uma notícia de um acidente de aviação, os tais que terminam quase sempre um frio e seco “não há sobrevivientes”. Brrrr. As pessoas que não conseguem esconder o nervoso miudinho quando voam recorrem a tranquilizantes ou ansiolíticos, ou bebem desenfreadamente, antes ou durante a viagem. Os fumadores podiam puxar incessantemente do cigarro durante a viagem para reduzir a ansiedade, antes que os ditames higienistas proibirem o fumo em todos os vôos comerciais. Muitos concordarão comigo quando digo que o pior da experiência é a turbulência – quando aquilo tudo abana. O pior é que não há forma de constatar a seriedade da situação. O pessoal de bordo mantém sempre aquele calma irritante que não deixa revelar qualquer sinal de preocupação, mesmo que o pior esteja em vias de acontecer. Isto é gente que está preparada para morrer. São uns sádicos, enfim.

Não faço ideia como se comportam os passageiros de um vôo que esteja condenado à tragédia, ou da sua reacção quando tomam consciência disso. Essa é uma das coisas que não sabemos nem queremos saber. O mais frustrante deve ser a sensação de que se pagou para ser levado da forma mais rápida de um sítio ao outro, e não só não chega lá vivo, como não se recebe o dinheiro de volta. Não há nada mais injusto. Perante a notícia de um desastre aéreo, poucos imaginam a tarefa dos profissionais que vão ao local do impacto e se deparam com um cenário de destroços, corpos carbonizados, um cheiro abominável, a mais humilhante forma de partir deste mundo – dos ares e pelos ares. E depois há as agências de seguros que levam as mãos à cabeça, mas não por razões unicamente humanitárias. Os sacanas.

Como diz um amigo meu, “o destino está traçado” quando embarcamos num avião. De facto é mesmo assim, e nos tempos que correm ainda nos podemos abstraír de pensamentos negatives com a gama de filmes, músicas e outras formas de entretenimento à nossa disposição durante as horas que passamos a bordo daquele pássaro de metal que cruza o infinito. Dizem que a decolagem a aterrizagem são os momentos mais sensíveis, mas a mim não há sensação mais refrescante quando um avião aterra, quando o trem de aterragem toma contacto com o asfalto da pista. Termina o pesadelo, e estamos prontos para outra.

Quero o meu dinheiro de volta


Uma canção do grande Jorge Palma, que já tem uns bons 30 anos, mas é actual como nunca. Se os "grandoleiros" deitam as mãos nesta...

Sporting eliminado na NextGen series


O Sporting foi ontem afastado das meias-finais da NextGen Series, uma espécie de Liga dos Campeões do futebol junior. Os sub-19 do clube de Alvalade, onde alinham alguns jogadores da equipa principal, como Diego Rubio, Fabrice Fokondo ou Ricardo Esgaio, perdeu em Birmingham frente ao Aston Villa por 3-1, após prolongamento. Os leões fizeram uma campanha, tendo vencido o seu grupo, e eliminado o Liverpool e o Tottenham na segunda fase. A final sera disputada entre dois clubes ingleses, o Villa e o Chelsea.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Um cozido a mais, turistas a menos


Como é habitual às sextas-feiras, aqui fica o artigo da edição de ontem do Hoje Macau. Bom fim-de-semana e Feliz Páscoa!

Fui aqui há uns tempos jantar num conhecido restaurante português do território, um dos poucos que confio para me aliviar as saudades da nossa deliciosa gastronomia. Deparei com uma situação que pouco dignifica a restauração de Macau em particular, e que encontra paralelo em muitos aspectos do turismo deste território que pretende ser um “centro internacional de turismo e lazer”, como tantos apregoam.

Na mesa ao lado da minha estava um jovem casal de turistas de Hong Kong, e que juntos não pesariam cem quilos escorridos. Começaram pelas Ameijôas à Bulhão Pato, um desjejum que sempre se recomenda e que só por si já aconchega parcialmente o estômago, para quem gosta de baptizar o pão no molho dos bivalves. Seguiu-se um prato de camarões cozidos, outro pitéu não despiciendo, e o bacalhau assado como “prato principal”, assim pensei eu. Ainda estava o bacalhau meio comido e eis que entra em cena uma travessa de Cozido à Portuguesa, uma das especialidades da casa, e cuja quantidade seria mais que suficiente para saciar o apetite do jovem casal. Isto é, se estivessem mesmo esfomeados. Não resisti e meti conversa: “Estão mesmo com fome, uh?”. Ainda meio atrapalhados e sem saber muito bem o que fazer perante este autêntico banquete que chegaria para o Obélix, responderam-me que “apenas queriam provar…”. Não sei se estou enganado, mas talvez enquanto faziam o pedido a empregada que os atendeu deveria ter avisado que as porções eram bem guarnecidas, e que se calhar deviam ficar pelo bacalhau. Mas não, prevaleceu a indiferença, trouxe o que os senhores pediram, e se não têm bucho para aquilo tudo, “paciência”. No fim desconfio que acabaram no lixo uns toucinhos e umas morcelas. É pena.

Não se espera que uma empregada de mesa ame a sua profissão, mas que pelo menos tenha um pouco de respeito, ou pelo menos empatia com o cliente. É verdade que “o cliente tem sempre razão”, mas nem sempre este sabe muito bem o que faz, e por vezes precisa de um empurrão na direcção certa. Dá gosto ser atendido num restaurante onde o “garçon” recomenda este ou aquele prato que nesse dia estão especialmente “au point”, ou que tenha a honestidade de avisar que o peixe ou a carne que se pediu “não estão muito frescos” e apresente uma alternativa. Mesmo um “barman” que se preze aconselha a um cliente já meio embriagado que pare de beber – é uma função que muitos comparam à de um psicólogo. Em Macau vão-se virando os copos até ao ponto do coma alcoólico, e lá vai o desgraçado levado até ao táxi pelos amigos ou pelo porteiro do bar. É uma situação a que assistimos frequentemente em alguns bares de karaoke e afins. O mais importante é que alguém esteja suficiente sóbrio para pagar a conta.

É lamentável quando alguns operadores do sector do turismo e outros serviços não se saibam comportar com o profissionalismo que lhes é exigido. Impera a regra do “pagar e calar”, complementada com o respectivo “receber e não fazer perguntas”. Algumas vezes (mais do que o recomendável) assistimos a desaguisados entre turistas e guias. O mais curioso é que estes guias até não se importam de atender às reclamações dos turistas a seu cargo e levá-los lá onde eles querem e que não está incluído no roteiro, “desde que paguem a mais”. Ou seja, qualquer situação, por mais que gere conflito, nunca é de todo irresolúvel. Basta sacar da carteira. Se é esta a qualidade do serviço, que legitimidade temos para nos queixar da qualidade de alguns turistas?

Em Macau temos uma escola de hotelaria de qualidade reconhecida, e alguns dos nossos operadores obtiveram as suas qualificações no exterior. Tenho a certeza que não faltará por aí gente que sabe o que faz, que sabe como providenciar um tratamento VIP, de como operar um hotel de cinco ou seis estrelas. Tudo bem, que bom para nós. O que falta fazer é “arrumar a casa” e garantir ao turista médio ou ao visitante casual um serviço que o faça ter vontade de regressar, e já agora que nos recomende. É da responsabilidade dos empresários da restauração, da hotelaria e do turismo em geral garantir que as pessoas sejam bem tratadas, mesmo que não venham com centenas de milhar ou milhões para gastar. Senão do que nos vale o património histórico, a fusão das culturas oriental e occidental e tudo isso que torna Macau único no mundo? O casal de Hong Kong terá saído do restaurante de barriga cheia. Duvido é que tenha saído satisfeito.

Quando a cabeça não tem juízo


Estava a ver um programa dedicado à moda, nomeadamente à criadora portuguesa Fátima Lopes, uma referência nacional vinda da Madeira para o mundo, qual Cristiano Ronaldo. Nem sei quando é que a Ana Salazar, a (única?) criadora de moda nacional da minha infância se deixou ultrapassar por esta espécie de Cleópatra das passereles. O que é feito da Ana Salazar? Será menos comercial devido ao apelido que nos lembra o ditador? Terá pendurado o dedal, a agulha e a linha? Mistério.

Voltando à tal Fátima Lopes, a moça move-se pelo mundo da “haute couture” parisiense, e tem uma relação bestial com as câmaras. Fala pelos cotovelos, gesticula, explica os comos, os ondes e os porquês do seu ofício, enfim, está como um peixe na água. Lá no fundo até gosto da lata da magana. É despachada. Tem carisma. Deve ter aprendido com o tio Alberto João, o cacique da sua Madeira natal. Se é um exemplo de compatriota de sucesso que devemos todos admirar, não vou por aí. Isto da moda tem que se lhe diga.

Às vezes quando estou a fazer o almoço gosto de mudar de canal para a Fashion TV e aumentar o som do aparelho. Tenho que admitir que a escolha da música de fundo deste canal dedicado à moda foi bem conseguida. Muito actualizada, consequente, e até um pouco dançável, se me permitem a ousadia. Alguns colegas e amigos dizem maravilhas desta Fashion TV, nomeadamente no que toca à qualidade das modelos. Ouço opiniões no sentido de que se vê ali “material de primeira”. Aí não me resta senão discordar. Na forma e no feitio.

As modelos que desfilam nessas tais “catwalks” (passadeiras de gato, numa tradução literal) são das criaturas mais deprimentes que existem à face da Terra. Congratulo-me que se tenha (finalmente) tomado consciência que a excessiva magreza destas modelos é uma má influência para jovens que sonhem com uma carreira no mundo da moda. Além do mais, estas tais roupas com que desfilam são destinadas a quem? Outras múmias anoxéricas como elas? Isto para não falar de alguns “designs”, com que ninguém no seu perfeito juízo sairia à rua. Enfim, acho que percebo muito pouco de moda, para ser sincero.

Já que a tendência actual é para escolher modelos que tenham pelo menos um pouco de chicha, agradecia já agora que lhes exigissem também um pouco de massa cerebral. Modelos que tivessem pelo menos um dos hemisférios do cérebro a funcionar já não seria mau de todo. Cada vez que estas criaturas têm um minuto de tempo de antena batem um recorde mundial de disparates e profanidades debitadas durante esse período. Até parece que competem para o manequim mais burro. Aliás um manequim de plástico desses que decoram as montras das lojas de roupa não lhes ficam a dever muito no que toca à inteligência. Pelo menos esses não abrem a boca.

O pior é mesmo quando são inquiridas sobre hábitos de leitura ou qualquer coisa remotamente relacionada com a cultura que não têm. Neste aspecto são como as misses dos concursos de beleza. Deviam alegar alguma espécie de direito à reserva e evitar pronunciar-se sobre conceitos que lhes são perfeitamente alienígenas. Não lhes falta à vontade para falar, é certo, mesmo do que não sabem, e o YouTube está cheio de exemplos de belezocas que cometem calinadas épicas com a naturalidade de quem não tem capacidade para elaborar uma frase coerente, quanto mais para dar opiniões concisas sobre assuntos concretos.

Quando lhes perguntam que livros lêem, a maioria responde “revistas de moda”, que como se sabe têm muito pouco que se “leia”. As mais ousadas alegam que estão a ler um livro qualquer, e se por acaso se lembram do título, espalham-se ao comprido ao descrever o enredo. Sobre filmes é a mesma coisa: “Gosto daquele, uhh…com aquele tipo…é brilhante, é fantástico, uhhh…”. Chega a dar pena. Mas e depois? Isto é gente com uma conta bancária bem recheada, pouco importa o que nós, pessoas cultas mas que tem que dar duro para pagar as contas pensa. Se são tão boas a gerir os rendimentos como são a construír uma frase, é recomendável que tenham um bom contabilista.

Não passam de gente bonita, um conjunto de moléculas bem formadas, que normalmente acabam casadas com atletas ou actores de cinema ou TV igualmente néscios, e com quem têm filhos “lindos” a quem dão nomes exóticos que não lembram a ninguém, e que são motivos de chacota. Gostava de saber o que vai acontecer aos Brooklyns e às Lyonces Viiktórias desta vida se não herdarem o talento (?) de pelo menos um dos pais. Pois é, chamem-me invejoso se quiserem. Talvez tenha a minha vida menos facilitada que estas criaturas maravilhosas, mas pelo menos sou consciente. E no fim morremos todos, afinal, portanto dá empate. Ora toma. Comam esta posta de pescada e depois vão meter os dedos na boca e regorgitá-la.

Vídeo da semana


Se acham que as arbitragens em Portugal andam pelas ruas da amargura, este é um bom exemplo de que se calhar não estamos tão mal assim, e chega mesmo dali ao lado, de Espanha. Foi no jogo entre o Quintana del Rey e o Toledo, a contar para a Terceira liga espanhola. Uma jogada de ataque da equipa da casa leva a bola ao poste da baliza do Toledo, e na recarga um avançado do Quintana cabeceia fraco para a defesa fácil do guardião forasteiro. O árbitro aponta para o círculo do meio-campo e valida um golo que nunca existiu. Os próprios jogadores do Quintana estavam incrédulos, mas agradeceram a bonomia do homem do apito. Estranhamente os jogadores do Toledo não protestaram muito, quando até se justificaria dar um bom par de tabefes no juíz da partida. O resultado acabou em 3-3. Só resta saber a quem foi atribuído o golo "fantasma".

Pequena heroína regressa às aulas


Malala Yousufzai é uma menina paquistanesa de 15 anos que foi notícia em Outubro do ano passado quando foi alvejada na cabeça pelos talibã quando voltava das aulas em Mingora, no estado de Swat. Os talibã opõem-se à educação das mulheres, e têm destruído várias escolas no Paquistão que aceitam alunos do sexo feminino. Malala ousou ser uma voz dissonante, reclamando o direito das mulheres a receber uma educação, e quase pagou a ousadia com a vida. O atentado contra a jovem adolescente causou uma onda de indignação que levou milhares às ruas de Karachi, a maior cidade do Paquistão, protestando contra os radicais islâmicos que aterrorizam o país, impondo uma versão rígida do Islão, negando às mulheres alguns dos direitos mais básicos. Malala esteve entre a vida e a morte, e foi tratada na Inglaterra, onde fixou residência com o estatuto de refugiada. A jovem regressou agora às aulas na Edgbaston High School, em Birmingham, curiosamente uma escola unicamente de meninas, e que custa mais de 15 mil dólares (120 mil patacas) por ano. Certamente que não faltarão beneméritos que suportem os custos. A pequena heroína foi acompanhada até à escola no primeiro dia pelo pai, e diz ter saudades dos colegas e amigos no Paquistão, mas quer apenas viver uma vida normal, e espera adaptar-se o mais rapidamente possível à nova realidade, e fazer novos amigos na escola que agora frequenta. Malala está nomeada para o Prémio Nobel da Paz, e cajo seja escolhida pela Academia Sueca, tornar-se-á a mais jovem receptora do prémio.

Andavam a pedi-las


Uma viagem de sonho transformou-se em pesadelo para um casal suíço que viajava de bicicleta pela Índia há duas semanas. O casal viajava da cidade sagrada de Occhra até Agra, onde fica situado o Taj Mahal, e resolveu acampar a meio do caminho para descansar, algures no estado de Madhya Pradesh. Durante a noite foram atacados por seis homens, que imobilizaram o homem suíço, de 29 anos, e violaram repetidamente a mulher, de 39. Depois de roubarem os bens do casal, puseram-se em fuga, sendo mais tardes detidos pela polícia. Os suspeitos, com idades compreendidas entre os 20 e os 25 anos, tinham na sua posse 5,500 rupias indianas (cerca de 900 patacas), um computador portátil e um telemóvel, pertencentes às vítimas, além de uma arma de fogo. As autoridades declararam que os suspeitos operam ainda uma destilaria ilegal perto da zona onde ocorreu o ataque. Agora o mais surpreendente: o chefe da polícia local, o inspector Avnesh Kumar Budholiya, culpa os turistas pelo sucedido, alegando que "nunca deviam ter acampado ao relento num local tão ermo", e que deveriam ter passado pela esquadra de polícia e inquirido sobre locais onde podiam passar a noite. Ninguém garante que não seriam violados na esquadra, enfim. Se calhar as autoridades foram negligentes ao não afixar um aviso onde se lesse "Cuidado: violadores à solta" no local onde os turistas acamparam. A Índia tem sido notícia pelos inúmeros crimes sexuais que têm assolado o país desde Dezembro, altura em que uma jovem foi violada em grupo num autocarro em Nova Deli, vindo mais tarde a falecer devido à violência do acto. Neerja Ahlawat, socióloga e professora da Universidade Maharshi Dayanand, em Haryana, onde dirige um centro de estudos femininos, diz que existe uma forte tendência para a polícia não assumer a responsabilidade por este tipo de crimes: "As mulheres não estão seguras em muitas vilas e aldeias na Índia, em parte porque a polícia não quer assumir a responsabilidade pela sua segurança. Culpam a escuridão, as roupas provocantes que as mulheres usam, tudo menos a sua própria inércia". Índia: um local pouco recomendável para a condição feminina.

Engenheiro e engenhocas


O ex-primeiro-ministro José Socrates regressou do seu exílio dourado em Paris, onde estudava Filosofia (terá terminado o curso, para variar?), ao país que deixou em ruínas há dois anos. O engenheiro das "gaffes" que fariam Gaston Lagaffe corar de inveja foi quarta-feira à noite entrevistado na RTP, onde explicou que a culpa do estado em que Portugal se encontra não é sua, que não negociou com a "troika" as sacanices que têm sido impostas aos portugueses, enfim, a culpa é sempre do outro menino. A entrevista em questão bateu um recorde de audiências, o que prova que apesar da austeridade, o povo gosta de uma boa comédia.

Mas o melhor está para vir. Sócrates foi convidado pela mesma RTP para um programa seminal de comentário sobre a actualidade política, onde vai certamente apontar mil e um defeitos ao Governo de Pedro Passos Coelho. Oh, a ironia. Não sei onde vai o engenheiro buscar os dotes oratórios para que os seus comentários sejam intelegíveis, mas apetrechado com os conhecimentos de Filosofia que adquiriu lá na França vai ser muito mais fácil. Ah, ah! Não liguem, estou a brincar, pá!

Parece-me uma atitude muito rasteirinha da RTP ir buscar agora o "criador" do caos, numa altura em que a constestação à alternativa que o derrubou sobe de tom, e os portugueses começam a a perder a pouca paciência que lhes restava. Não sei se a ideia é ir buscar o menor dos males, ou imitar a Coca-Cola quando introduziu a "New Coke" e depois trouxe de volta a "old Coke", para regozijo dos que achavam que a nova versão da cola era uma merda. Se calhar é isso: revivalismo, só que neste caso nivelada por baixo.

Não sei qual vai ser a solução para os problemas do país, e já sabemos que não existe uma formula mágica. Só que a alternativa na forma de António José Seguro não me convence. Seguro parece-me um pantomimeiro fingido ansioso por levar de volta os "bois" (sim, fiz de propósito) do PS ao poleiro. Só espero que os portugueses não caiam no engodo. Já agora quando Socrates aparecer na RTP com o seu comentário seminal, vejam. Vejam a riam, porque rir é o melhor remédio. Os que não estão virados para a comédia podem sempre mudar de canal. E siga a tropa!

Chávez chega ao Céu


Cuidando que se preserva o culto da personalidade, o canal “Vive”, afiliado com a estação estadual venezuelana, tem exibido um filme sobre a chegada de Hugo Chávez ao Céu. Enquanto é discutível se os socialistas acreditam realmente na existência de Deus ou do Paraíso, neste pequeno filme vemos o ex-presidente da Venezuela a ser recebido numa espécie de “casa na pradaria” por outros heróis latino-americanos que lutaram pela autonomia dos seus países. Entre eles reconhecem-se Che Guevara, Eva Perón ou o próprio Simon Bolívar, o grande mentor de Chávez. “El Comandante” é já pelo menos um figurino deste grande imaginário.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Assim não se fazem bebés


O deputado José Pereira Coutinho levou a plenário uma proposta com vista ao reconhecimento da união de facto entre pessoas do mesmo sexo. Debalde, como seria de esperar. O conservadorismo dos restantes deputados em forma de sermão não encomendado - não existe uma consulta pública que confirme que a população está realmente contra esta iniciativa - abortou as intenções dos casais "gay" no sentido de usufruír dos mesmos direitos dos "casais normais", chamemos-lhes assim. Os argumentos utilizados por alguns dos elementos que compõem o orgão legislativo da RAEM é que me deixaram estupefacto, de tão risíveis e surrealistas que se apresentaram.

Um deputado que desconheço por completo (será nomeado?) apresentou razões de ordem "natural", e foi mesmo ao ponto de dizer que aprovar uma proposta nesta sentido é "uma ameaça para a humanidade", uma vez que os casais do mesmo sexo "não se podem reproduzir". Interessante, este ponto de vista, que certamente levará a que os casais "gay" reconsiderem a sua conduta "contra-natura", mudem de orientação sexual e contribuam para a continuidade da espécie humana. Aliás em tempos de crise como este que vivemos, é importante que venham mais crianças ao mundo, e neste particular os homossexuais são uma autêntica pedra no sapato. É ainda reconfortante saber que os nossos representantes têm noção de como se processa a reprodução. É sinal que não estamos assim tão mal em termos de educação sexual como alguns dizem.

O deputado Leonel Alves, pragmático como sempre, manifestou a sua ignorância sobre a causa, e disse mesmo "não ter experiência nas relações com pessoas do mesmo sexo". Não sei quem duvidou da masculinidade do sr. deputado, mas agradecemos que se tenha deixado clara a sua orientação. Além disso chamou a atenção para o facto de mais nenhum país ou território da região (neste caso, Ásia-Pacífico) ter qualquer tipo de legislação análoga. De facto, porque deverá ser Macau pioneiro no que quer que seja? O melhor mesmo é deixar os outros fazer primeiro, e depois copiar, caso se justifique. Esta é a atitude correcta a adoptar: fazer nada e esperar, e velejar ao sabor dos ventos.

Não é urgente que se legisle neste sentido. Os homossexuais em Macau não estão à espera que os seus direitos sejam imediatamente validados, não vão exigir que se legisle no sentido de verem reconhecidas as suas uniões, e como já acontece há muitos anos vão continuar a viver a sua vida indeferentes ao que a sociedade pensa deles. Isto é uma malta que até não gosta de fazer muitas ondas. O problema é que perante esta argumentação, fico a pensar que estamos ainda muitos degraus abaixo na escala civilizacional. Quando estão em cima da mesa argumentos como a reprodução ou se faz questão de demarcar de comportamentos tidos como "anormais", é sinal que ainda temos muito que aprender. E quem nos vai orientar no bom caminho? Ficamos à espera.

Contas bem feitas


2012 é "o mesmo ano" que 2013.

A secretária para a Administração e Justiça Florinda Chan explicou finalmente porque razão os funcionários públicos vão ser aumentados este ano sem retro-activos. Segundo a sra. secretária, a atribuição de retro-activos significaria que os funcionários seriam aumentados "duas vezes no mesmo ano". Interessante. Os FP foram aumentados em Maio do ano passado, e em Maio deste ano será feita uma nova actualização. Caso fossem pagos retro-activos referentes a Janeiro de 2013, os FP seriam aumentados "duas vezes no mesmo ano". Isto vale por dizer que Maio de 2012 refere-se ao mesmo ano de Janeiro de 2013. Maio...2012....Janeiro 2013. Mesmo ano? Ajudem-me que estou perdido. O que nos vale são os nossos dirigentes, que garantem que as contas ficam bem feitas. Mesmo que isso signifique que 2012 "é o mesmo ano" que 2013.

A Naifa em Macau


O grupo português A Naifa vai actuar em Macau no Centro Cultural no próximo dia 13 de Abril, espactáculo único. O Grupo que incluí o ex-Peste & Sida e ex-Despe & Siga Luís Varatojo, a ex-Sitiados SAndra Baptista, além da vocalista Maria Antónia Mendes e o baterista Samuel Palitos. O grupo foi fundado em 2004 por Varatojo, Sandra Baptista e o já falecido João Aguardela, que foi durante anos o vocalista dos Sitiados. É a primeira vez que A Naifa se apresenta no território. Um "must" para os adeptos da fusão do fado com o "pop-rock".

quarta-feira, 27 de março de 2013

A caminho do Brasil


[www.online-soccer.ru] France 0-1 Spain 发布人 all-goals
A Espanha foi clinicamente eficaz no Stade de France.

Mais uma jornada de qualificação com vista ao mundial do próximo ano no Brasil, com jogos em cinco confederações continentais afiliadas pela FIFA.

Na Europa, Bélgica e Croácia estão cada vez mais destacadas no Grupo A, depois das vitórias de ontem. Os belgas bateram a Macedónia em casa pela margem minima, enquanto os croatas venceram em Cardiff o País de Gales por 2-1, recuperando de uma desvantagem. A Sérvia bateu a Escócia por 2-0, ascendendo ao terceiro posto, mas já a nove da dupla que lidera o grupo. Bélgica e Croácia têm 16 pontos, Sérvia 7, País de Gales 6, Macedónia 4 e Escócia 2.

No Grupo B a Itália continua na senda das vitórias, e foi a Malta vencer tranquilamente por 2-0. A "squadra azzurra" beneficiou ainda do empate da Bulgária na Dinamarca a um golo para reforçar a liderança, enquanto a Rep. Checa redimiu-se da derrota em casa por 0-3 frente aos nórdicos na sexta-feira, indo vencer pelo mesmo resultado na Arménia. Itália 13 pontos, Bulgária 10, Rep. Checa 8, Dinamarca 6, Arménia 3 e Malta 0.

No Grupo C a Alemanha soma e segue, e depois de ter ido vencer no Cazaquistão por 3-0 na sexta, recebeu os cazaques e voltou a golear, agora por 4-1. Os alemães ainda beneficiaram do empate dos seus perseguidores directos, a Rep. Irlanda e a Áustria, que empataram a duas bolas em Dublin. Alemanha tem 16 pontos, Áustria, Suécia e Rep. Irlanda 8, Cazaquistão 1 e Ilhas Faroé 0 pontos. A Suécia tem menos dois jogos que os alemães.

No Grupo D a Holanda continua 100% vitoriosa, e desta vez a vítima foi a Roménia, que saíu da ArenA de Amesterdão goleada por quarto golos sem resposta. A Hungria aproveitou para isolar-se em segundo depois de um empate a uma bola na Turquia, enquanto no fundo da tabela a Estónia derrotou Andorra por 2-0. Holanda tem 18 pontos, Hungria 11, Roménia 10, Turquia 7, Estónia 6 e Andorra zero pontos.

Saltando para o Grupo H, jogo grande em Pogdorica, com o líder Montenegro a receber a Inglaterra, uma partida que se saldou num empate a uma bola. Os montengrinos continuam a liderar surpreendentemente o grupo com mais dois pontos que os ingleses. Os perseguidores aproveitaram para recuperar terreno; a Polónia esmagou São Marino por 5-0, enquanto a Ucrânia bateu a Moldávia por 2-1. Montenegro tem 14 pontos, Inglaterra 12, Polónia e Ucrânia 8, Moldávia 4 e São Marino 0.

No Grupo I o jogo grande realizou-se em Paris entre a França e a Espanha, com os espanhóis a partirem com dois pontos de desvantagem para o Stade de France, sendo que uma derrota podia significar um eventual "play-off" para os actuais campeões do mundo. Pedro Rodríguez marcou o único golo do encontro, fazendo os espanhóis saltar para o primeiro posto, e com isso assumindo o favoritismo para a qualificação directa.

A Argentina conseguiu sobreviver à "falta de ar" em La Paz.

No grupo de qualificação sul-americano, a Argentina foi à Bolívia empatar a uma bola - um progresso, uma vez que os argentinos costumam dar-se mal na altitude de La Paz - e reforçou a liderança. Isto porque a Colômbia foi surpreendida em Caracas frente à Venezuela (0-1), e o Equador aproveitou para subir à vice-lidreança, depois de golear o Paraguai por 4-1. O Chile venceu o Uruguai por 2-0 e alcançou o quarto lugar, o ultimo que dá acesso directo ao mundial. Argentina tem 24 pontos, Equador 20, Colômbia 19, Chile e Venezuela 15, Uruguai 13, Peru 11, Bolívia 9 e Paraguai 8.

Costa Rica-Jamaica: a "guerrilha" bateu os "rastafari".

Na América Central os resultados de ontem "baralharam" as contas da qualificação. No jogo grande o México e Estados Unidos empatarem sem golos no mítico Estádio Azteca, enquanto o Panamá recebia as Honduras e venciam por 2-0, e pelo mesmo resultado a Costa Rica bateu a Jamaica em San José. Após três jornadas a classificação continua muito equilibrada, com o Panamá na frente com 5 pontos, seguidos de Honduras, Estados Unidos e Costa Rica com 4, México com 3 e Jamaica com 2.


Japão perdeu, mas a qualificação é apenas um detalhe.

Na zona asiática, o Uzbequistão voltou a vencer e lidera o Grupo A. Os uzbeques, que nunca participaram na fase final de um mundial, somaram a terceira vitória consecutive ao bater o Líbano por uma bola a zero. A Coreia do Sul continua logo atrás, depois de bater o Qatar por 2-1. Uzbequistão tem 11 pontos, Coreia do Sul 10, Irão e Qatar 7 e Líbano 4. No Grupo B o Japão podia ter garantido a qualificação, mas perdeu por 1-2 na Jordãnia. Mesmo assim os japoneses estão a um ponto do mundial do Brasil, e podem mesmo perder os jogos em falta, caso os seus perseguidores percam pontos entre eles. A Austrália ia sendo surpreendida em Sydney frente a Omã, mas recuperaram de uma desvantagem de 0-2 até ao empate a dois golos. Japão tem 13 pontos, Jordânia 7, Austrália e Omã 6, Iraque 5.


Portugal passa no Azerbeijão


Portugal bateu ontem em Baku o Azerbeijão por duas bolas a zero, em jogo de qualificação para o mundial de 2014 no Brasil. Uma vitória sofrida, com os golos a chegarem apenas na última meia hora, quando os locais estavam reduzidos a dez unidades, depois da expulsão de Aliyev. Bruno Alves e Hugo Almeida facturaram para a selecção das quinas, que continua a partilhar o Segundo posto com Israel, que foi a Belfast bater a Irlanda do Norte pelo mesmo resultado.

terça-feira, 26 de março de 2013

Sete anos de Leocardo


Passam hoje exactamente sete anos desde o nascimento virtual do Leocardo. O dia 26 de Março de 2006 marca o aparecimento do blogue “Leocardo em Macau”, antecessor do Bairro do Oriente, e extinto em Dezembro de 2007. Fazendo agora o balanço, foram um ano e oito meses de “Leocardo em Macau”, mais cinco anos e quatro meses de Bairro do Oriente. Com excepção do meu “lost weekend”, entre Agosto de 2011 e Maio de 2012, os blogues foram actualizados com uma frequência bem acima do que seria de esperar de apenas um autor. A minha amiga Xata (Leocardina) fez uma curta aparição no início deste ano, mas os seus afazeres profissionais e sociais de “tia” não lhe permitem uma participação mais frequente. Também nunca lhe estabeleci quaisquer limites ou quotas, e fica ao critério dela, desde que não “abandalhe” o blogue, claro.

Já me perguntaram numa das simpáticas entrevistas que me foram feitas para a imprensa local o porquê de criar um blogue de Macau e sobre Macau. Boa pergunta. E porquê o dia 26 de Março, já agora? Por ser dia da independência do Bangladesh? Dia dos mártires no Mali? Aniversário de Zoroastro? Podia ser, mas não é. Na verdade estava de férias nesse dia e não tinha nada que fazer. Já vinha pensando num blogue há um bom par de anos, e cheguei mesmo a esboçar um ou outro, mas sem que lhes desse continuidade. O “Leocardo” foi um pseudónimo que criei das iniciais do meu primeiro e último nomes (Luis Crespo – LC – Leo Cardo – Leocardo). De nada valeu tentarem descobrir a minha verdadeira identidade, que permaneceu secreta até eu próprio a revelar voluntariamente. Se o senhor Leonel Cardoso me estiver a ler, endereço desde já as mais sinceras desculpas por algum qualquer dissabor. Desculpe qualquer coisinha.

O primeiro post foi uma pequena introdução, seguido de um artigo de opinião (o primeiro, e tenho pena de não o ter guardado) sobre a Casa de Portugal. Nesses primeiros tempos a actualização era feita na ordem dos 3/4 posts semanais, mas depois do Verão começou a ser mais frequente. O blogue foi ganhando alguma notoriedade, apesar de nunca o ter publicitado, e a jornalista Patrícia Lemos, então no Ponto Final, começou a publicar algumas passagens, artigos e fotografias da minha autoria na edição de sexta-feira daquele jornal. Com mais visibilidade e um crescente número de visitas, apareceram as primeiras controvérsias. O “Leocardo em Macau” servia muitas vezes para o autor tomar posições menos ortodoxas ou descarregar males de fígado – afinal tratava-se apenas de uma blogue pessoal – e certas atitudes não cairam bem entre alguns leitores, que não se inibiam de deixar bem patente a sua discordância na secção de comentários, que nunca foi moderada até ao ano passado. Começaram também a surgir as primeiras ameaças, e aí pensei: “f…-se, sou um gajo mesmo importante”. A sério, quem é que se incomoda com ameaças a alguém sem importância? Obrigado por me adubarem o ego.

A forma amadora e descomprometida com que fazia o “Leocardo em Macau” e a quantidade crescente de ataques a terceiros e de ameaças (que nunca se chegaram a concretizar, apesar de tal como previ, algumas pessoas virarem-me a cara na rua) levaram-me a repensar o formato do blogue, e assim em finais de Novembro de 2007 decidi terminar o “Leocardo em Macau”. Não o fiz sem antes produzir o “esqueleto” do blogue actual, e ainda antes de anunciar à blogosfera macaense que o blogue anterior ia terminar, já existia um novo, que viria a ser anunciado poucos dias depois. A 1 de Dezembro desse ano de 2007 deu-se a restauração do Leocardo, e nasceu o Bairro do Oriente, uma versão mais cuidada e generalista do seu antecessor.O Bairro do Oriente foi um sucesso, e chegou a ter uma média de mais de 600 visitas diárias. O blogue foi frequentemente referido na imprensa escrita em português de Macau (menos no JTM, mas isso não importa, adoro-os na mesma), e muitos artigos foram traduzidos para várias línguas na página do “Global Voices” – desde inglês, chinês e até japonês. A polémica, nomeadamente quanto à identidade do autor, persistiu, e foi apenas há pouco mais de um ano que resolvi dar a cara, e com isso terminar com todas as dúvidas. Só tenho pena que as mesmas pessoas que me confrontavam tão energicamente na secção de comentários do blogue não o façam pessoalmente, agora que sabem quem sou. Tenho o maior prazer em discutir qualquer tema ou esclarecer qualquer dúvida.

O Bairro do Oriente produziu mais de 7000 artigos desde a sua criação até Agosto de 2011, altura em que motivos de ordem pessoal me levaram a interromper o blogue. O regresso foi-se dando em Maio de 2012 de forma menos assídua que o habitual, e com a secção de comentários moderada. Foi uma decisão difícil de tomar, e que custou mesmo uma redução drástica no número de comentários, mas se já não faço o blogue debaixo da capa do anonimato, é apenas normal que me reserve ao direito de estabelecer certos limites. Nunca me importei com ataques dirigidos à minha pessoa, mesmo os mais grosseiros, mas não admito que se insultem terceiros ou pessoas que não têm nada a ver com o que escrevo ou com o que faço na minha vida privada.

Apesar de tudo, o Leocardo tem uma conta no Facebook onde divulga o Bairro do Oriente, e a recepção tem sido bastante positiva. Em Dezembro último foi restabelecida a normalidade anterior, e actualmente são publicados mais de uma centena de artigos mensais, como nos bons velhos tempos. Tenho pena que o blogue não tenha o mesmo impacto que antes, muito provavelmente devido à falta do “factor mistério” quanto ao seu autor, mas mesmo assim mantém uma popularidade q.b. que me deixa orgulhoso. Volto a afirmar: se estivesse a escrever para apenas uma pessoa, continuava a fazê-lo. E assim se passaram sete anos, ainda parece que foi ontem. Um brinde à blogosfera. Um brinde a mim. Chim-chim!

Uma colher na sopa alheia


O "lobby gay" de Macau entregou ontem na Assembleia Legislativa uma petição no sentido de ver reconhecida a União Civil entre pessoas do mesmo sexo. O paladino do reconhecimento dos direitos dos casais homossexuais tem como rosto Jason Chao, membro da Associação Novo Macau Democrático, que organizou no passado dia 20 de Dezembro uma primeira forma de manifestação "gay" no território - uma ideia pioneira, que contudo se saúda. Não passaram a existir homossexuais no território há apenas três meses quando Jason e os seus amigos e amigas saíram a rua para fazer ouvir a sua voz. A homossexualidade foi e é ainda um tema tabú, se bem que os indivíduos com este estilo de vida alternativo nunca tenham sofrido qualquer forma de descriminação ou represálias ao longo dos anos anteriores a esta nova vaga contestatária. Estiveram sempre bem identificados, nunca precisaram de enverdar pela clandestinidade, e não é algo que se "identifique" sequer, pois só os problemas se identificam, e este não é um problema de todo.

Os homossexuais, entendendo-os como um grupo que contribui para o desenvolvimento de Macau, trabalha, paga impostos e vota, tem por inerência os mesmo direitos de qualquer cidadão da RAEM. Não é preciso criar leis que façam deles "espécie protegida", ou sequer em vias de extinção - antes pelo contrário. Numa cidade ainda muito conservadora, a que se juntou o epíteto de "do Santo nome de Deus", temos homossexuais, bissexuais, e ainda "bi-curiosos", indivíduos heterossexuais, casados e pais de filhos que "provaram" (ou querem provar) esse "prato". Querem fazer parte da brincadeira, para saber como é. Acho que me faço entender muito bem. Há ainda os homossexuais reprimidos, homens e mulheres homossexuais que casaram por pressão familiar, tudo em nome da "harmonia". Existe ainda um conceito que um indivíduo homossexual "está apenas confuso", e que se pode "endireitar".

Não sou adepto do casamento entre pessoas do mesmo sexo, já deixei isto bem claro, mas não faço disso um cavalo de batalha. A adopção por casais "gay" é também um tema muito sensível, mas pessoalmente acho que uma criança está melhor com dois "pais" ou duas "mães" que lhe providenciem um lar, conforto, educação e carinho, do que institucionalizada, tantas vezes ao deus-dará, entregue a orfanatos e outras instituições de qualidade e intenções duvidosas, Se os homossexuais acham que os seus direitos não estão a ser devidamente observados, têm toda a legitimidade de os reivindicar, como qualquer outro cidadão. Se pensam que a vida lhes pode corer melhor se virem reconhecidas as uniões civis, com os mesmos direitos dos casais heterossexuais, isso é algo que apenas a eles lhes diz respeito.

Como contraponto foi hoje realizada uma outra petição, junto da Igreja de S. Lourenço, no sentido de recolher assinaturas contra a intenção de reconhecer a União Civil entre pessoas do mesmo sexo. Esta iniciativa foi fomentada por "alguns católicos", se bem que apenas uma senhora tenha dado a cara, publicitando-a no Facebook. A pessoa em questão, aparentemente uma católica devota, alega que a iniciativa de Jason Chao e seus pares pode magoar os sentimentos da comunidade religiosa de Macau” e “pode influenciar negativamente a sociedade”. Permita-me a ousadia, mas quem sois vós para falar em nome da sociedade? Que autoridade tem a autora desta iniciativa? E já que fala em nome da "sociedade", onde eu próprio me incluo, em que pode o reconhecimento das uniões civis homossexuais "influenciar negativamente"? Vai provocar uma epidemia de homossexualidade? Explique lá isso bem, e é favor não trazer Deus ou os santinhos para a conversa porque estes não lhe terão passado uma procuração para falar em Seu nome. Não sei se a Diocese de Macau apoiou esta palermice, mas espero que se tenha demarcado, em nome do bom senso. Seja como for, hoje choveu a potes todo o dia. A recolha de assinaturas não terá corrido assim tão bem, espero. Deus escreve direito por linhas tortas.

Arábia infeliz


Quando era miúdo e a imaginação ainda me orientava em parte, tinha uma curiosidade especial sobre a “Arábia”. A palavra lembrava desertos a perder de vista, histórias das mil e uma noites, Ali Babá, grutas cheias de tesouros, lamparinas mágicas, tapetes voadores, tudo coisas fascinantes aos olhos de uma criança. No início dos anos 80 as Doce cantavam “Homem das Arábias”, o que dava ainda mais charme a esta misteriosa região, e o cantor austríaco Falco (uma das minhas referências na juventude) tinha no seu disco “Falco 3” o tema “There’s nothing sweeter than Arabia”. Do pouco que sabia do mundo árabe o menos encantador era provavelmente o petróleo e os camelos. Nunca me passou pela cabeça que afinal esta “Arábia” que tanto me fascinava era um lugar pouco recomendável. Pelo menos para qualquer espírito livre ou amante da liberdade.

Quando da primeira Guerra do Golfo, em 1991, o nome “Baguedade” deixou de estar associado com a encantadora Sherazade, que seria substituída pelo grotesco Saddam Hussein. Depois disso foi sempre a descer, e a tal “Arábia”, ou o mundo árabe, era sinónimo de fanatismo, terrorismo, desrespeito pelos valores humanistas mais básicos, uma civilização parada no tempo. Com o fim da Guerra Fria, e quando pensávamos que podiamos talvez almejar à tão ambicionada “paz no mundo”, eis que das arábias surge o terrorismo islâmico, uma ameaça à escala global.Muitos dos países árabes são ora ninhos de terroristas, barris de pólvora instáveis, ditaduras horrendas ou tudo isso junto. Mesmo os países árabes mais prósperos e menos problemáticos são reinos que oprimem as mulheres, aplicam leis medievais e cometem atropelos atrozes aos direitos humanos. Há muito pouco que redima esta “Arábia” que em criança julgava ser uma espécie de paraíso.

Quanto mais aprendo sobre os árabes e sobre os países da “Arábia” menos vontade tenho de os visitar. Não considero sequer fazer lá uma escala de duas ou três horas em trânsito para outro sítio qualquer, e preocupa-me sobrevoar a peninsula arábica – e se é necessário fazer uma aterragem de emergência? Que o Diabo seja surdo. A Arábia Saudita, o maior e mais rico país do maranhal é talvez a “Arábia” por excelência. É um país onde as leis islâmicas são aplicadas com um rigor assustador e as infracções punidas de forma bíblica. Mãos e cabeças cortadas, apedrejamentos, chicotadas, uma loja dos horrores em pleno século XXI. A liberdade de imprensa é inexistente e mesmo a maior parte das páginas da internet são escrutinadas e censuradas. Basta que apareça uma mulher de bikini para que uma página fique inacessível. O álcool é proibido, o que significa que perante tudo isto não é possível sequer afogar as mágoas.

No outro dia almoçei com um amigo e discutíamos as fontes de energia alternativas, e o fim inevitável da dependência do petróleo. É exactamente o petróleo que torna países como a Arábia Saudita e alguns dos seus vizinhos países ricos, facto que aliás ostentam, vivendo em condições luxuosas. O meu amigo lembrou que estes países investem agora no turismo como alternativa a uma eventual falência da indústria do ouro negro, como é possível verificar pelas recentes infra-estruturas construídas no Dubai, nos Emirados, por exemplo. Se é essa a ideia, muito tem que mudar para que atraír o turismo. Quer dizer, um país onde as mulheres andam tapadas, a internet “tapada” está e não há um cervejinha que ajude a aguentar o calor tórrido do deserto não é a minha ideia de “férias”. Nem as minhas, nem as de ninguém no seu perfeito juízo. A ver vamos. Pode ser que o fim do petróleo traga ventos de mudança à “Arábia”, que poderá então ser mais parecida com as mil e uma noites e menos com os mil e um açoites.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Adé: 20 anos de saudade


Passaram ontem 20 anos desde o desaparecimento de José Inocêncio dos Santos Ferreira, vulgo "Adé", poeta do patuá, o linguajar "crioulo" local. Adé, que nos deixou em 24 de Março de 1993 aos 72 anos, deixou um sem número de poemas na língua maquista, bem como uma série de operetas e peças de teatro que eram assiduamente exibidas no Teatro D. Pedro V nos anos 60 e 70, normalmente no periodo do Carnaval. Adé, considerado um purista do patuá, é a principal inspiração do grupo "Doçi Papiaçam di Macau", formado poucos meses depois da sua morte, e que este ano comemora 20 anos de existência. Os Doçi vão assinalar o seu bi-decanário com a peça "Amochai Divoto", que subirá ao palco do Centro Cultural a 25 e 26 de Maio próximos. Como uma forma de homenagear Adé, deixo-vos com o poema "Macau pequinino". Em patuá, pois claro.

MACAU PEQUININO

Iou-sa tera,
Iou-sa bérço,
Amor vivo di iou-sa coraçám;
Macau pequinino,
Filo di unga Pátria grándi.

Macau pequinino,
Tera di um-cento glória,
Qui tamêm já churá
Lágri margo di tristéza;
Macau qui na mau tempo,
Na ora di calmaria,
Sempri têm na su coraçám
Acunga quirido di tudo nôs:
PORTUGAL!

Portugal,
Di más grándi na Estória di Mundo,
Di más cristám na Mundo Cristám...
Pátria di gente corajoso,
Qui cruzá mar medonho,
Já vai tera estranho,
Cavá, vêm estuhga vánda,
Assi lóngi,
Criá vôs,
Fazê vôs cristám,
Fazê vôs ganhá bénça di Céu.

Macau cristám,
Iou-sa único riquéza,
Minha tudo ancuza na vida.
Tera di Nómi Sánto
Qui Mai di Deus, co ternura,
Cubrí co Su quimám di séda.
Vôs já conservá atê hoze,
Livrado di sujidádi,
Tudo puréza di vôsso alma.

Macau, beléza di iou-sa ôlo,
Sol di iou-sa vida...
Qualunga di nôs dôs
Lôgo vai más aZinha, iou nom sabe: Si iou,
Di estunga váli di lágri,
Co tudo iou-sa pecado,
Si vôs,
Di grándi Família Lusitano,
Co vôsso obra meo-ramatado.

Intrestánto, Macau,
Bérço abençoado,
Farol alumiado di iou-sa fé;
Dessá iou vêm pedí co vôs:
Qui na chuva, qui na dia bonito,
Na alegria, Ó na tristéza,
Guardá sempri na vôsso coraçám,
Quente, respetado,
Nómi di nôsso quirido Portugal.
Prendido na vôsso alma,
Guardá co tudo cuidado
Riquéza di bénça sagrado,
Qui Dios já fazê cai di Céu Pa alumiá vôsso vida,
Sedo trás di sedo.

Sã tudo qui iou pedí co vôs,
Co fervor,
Co humildádi,
Co acunga humildádi qui sã vôsso image,
Qui já fazê vôs filo bêm quirido
Di Portugal,
Di Dios.


Mister Catra: o último dos hominídeos


Mister Catra, cantor basileiro de música "funk" de 43 anos de idade, é polígamo assumido, e tem 21 filhos de vários relacionamentos. O mais velho, da sua esposa "oficial", Sílvia (na imagem, ao lado do animal), tem 21 anos, e o mais novo, de uma gaja qualquer, tem dois anos de idade. Catra justifica a sua tremenda javardice com um misto de religião e de naturalismo: “Pelas leis de Deus, todo animal mamífero que vive em bando é um macho com várias fêmeas… É a ordem natural das coisas”. Ora claro, é mesmo assim que se comportam os primatas lá nas profundezas da selva. O cantor considera a instituição família a coisa mais importante: “Sempre tem uma nova. Mas minha família está completa, com minhas mulheres, meus filhos e irmãos. A única diferença entre eu e os outros maridos é que eu mostro a minha verdade e isso faz com que quem está do meu lado acredite no meu amor”. Pelo menos é sincero, mesmo que indiferente ao facto de que enfiar a pila em qualquer xereca que encontra pela frente ser um comportamento pouco coerente com os valores que defende - se a ideia é ser debochado ao máximo, podia pelo menos usar um preservativo, ou melhor ainda, fazer uma vasectomia. A tal Sílvia, uma das mulheres mais chifrudas do Brasil, é uma boa desportista: “O negão é o amor da minha vida, ele me completa! Tenho ciúme do que incomoda, e até agora, não encontrei nada que me incomodasse”. Ora aí está, o amor...a paixão...a parvoíce. A julgar pela pose do "bofe", Sílvia não deve ter mesmo razões de queixa. Ele chega para elas todas. Aê "negão"!

A senhora (en)canta


Xi Jingpin foi recentemente empossado no cargo de presidente da RP China, função que ocupará durante os próximos dez anos, se tudo correr bem. O futuro é uma incógnita, mas pelo menos Xi vai liderar a segunda maior economia do planeta em boa companhia. A sua esposa, Peng Liyuan (彭麗媛), tornou-se na primeira dama mais mediática da China depois de Jiang Qing, a "Madame Mao", mas neste caso por bons motivos. Peng é uma cantora muito popular na China, uma das maiores estrelas da música "patriótica". Natural da provincia de Shandong, entrou para o Exército de Libertação Popular em 1980, aos 18 anos. Os seus dotes de cantora foram revelados em 1982 durante a gala da CCTV, e pouco depois foi apresentada ao actual presidente chinês por amigos comuns. Casaram em 1985, e do seu relacionamento tiveram uma filha, Xi Mingze, nascida em 1992. Actualmente detém a patente de general-major no ELP. Deixo-vos aqui com "Nas planícies da esperança"(在希望的田野上), a canção que a levou ao estrelato.

domingo, 24 de março de 2013

O sonho aqui ao lado


Quando andava no ciclo preparatório tirava sempre boas notas a Música. Um pouco sem saber como, pois na realidade para mim a música é um verdadeiro mistério. Gosto de música, ouço música, mas não sei como se faz. Não sei ler música, não toco qualquer instrumento, nem sequer tenho unhas para tocar guitarra. A música para mim é como a água que sai da torneira: é bom tê-la, e pouco importa saber de onde vem. O meu pai olhava para as tais boas notas a Educação Musical com apreensão, e dizia meio a brincar que eu “lhe estava a dar música”.

Na realidade os tempos hoje são outros; antigamente era quase uma tragédia ter um músico na família. Os músicos eram potenciais pindéricos, condenados à esmola. No tempo dos nossos pais e avós era importante aprender um ofício, e a profissão de músico – bem como a de qualquer outro artista – era considerada “marginal’. Actualmente, e com o evento da indústria discográfica que gera milhões, os pais estimulam o talento musical dos filhos, se o têm, e até não se importam de lhe comprar instrumentos e deixá-los tocar na garagem com os amigos. Vistas as coisas, o mercado de trabalho é cada vez mais um mundo cão, e se há alguma coisa que aprendemos nesta vida é que nem sempre se chega longe estudando muito e trabalhando duro. Aliás, sem outros expedientes menos ortodoxos, chega a ser uma tarefa quase impossível.

Se antes era condenável um jovem ambicionar a uma carreira nas artes, fosse na representação, na música ou outra, hoje isto é visto como uma escapatória, um “sonho”. Da forma desenfreada como se sucedem os talentos “a la minuta”, gerados pelos “reality shows”, concursos de talentos e outra tralha televisiva, é fácil perceber que a mentalidade vigente é agora outra: isso de acordar cedo e trabalhar duro é para tansos. O que está a dar é a fama e o estrelato, custe o que custar. Isto sem falar do futebol, outra “indústria” apetecível. Se antes os miúdos levavam porrada quando chegavam a casa tarde depois de ter ficado a jogar à bola com os amigos, hoje são quase mandados a dar chutos na bola pelos pais. Se o jovem tem jeito para a bola, é quase colocado num pedestal, e pede-se que se aplique nos treinos. Um puto que não goste de futebol, seja qual for a razão, é considerado “afectado”. Já não faz tanto mal se tiver talento para outra arte qualquer, desde que seja lucrativa e lhe permita uma certa independência. Trabalhar num escritório e ser pau-mandado de alguém é que não. Engenheiro? Médico? Já há tantos. Advogado? Professor? Não queremos ver os nosso filhos na penúria, pois não?

Voltando à música e aos músicos. Conheci durante a minha juventude muitas das tais “bandas de garagem”, e por acaso nenhuma deles teve sucesso ou produziu algum músico que tenha singrado. A malta juntava-se depois das aulas, dava um ou dois concertos por ano, inscrevia-se nos (poucos) concursos que existiam, a coisa não dava e depois ia cada um à sua vida. Em cada cem bandas que aparecem haverá uma que sairá do anonimato ou gravará um disco. Não é fácil aparecer com material original, e os “hit singles” não aparecem do dia para a noite. Com o surgimento do fenómeno “pimba”, abriu-se uma porta a certos artistas que não eram conhecidos do grande público (ie: os que compram discos), mas para optar por esta via é necessário abdicar de certos princípios que um bom músico que se preze nunca abdicaria. A dignidade, por exemplo, é posta de lado, e o gosto musical passa a ser um conceito “relativo”. Em suma, é preciso ter uma grande lata.

Em Macau, como em qualquer outro sítio do mundo civilizado e fora da esfera dos talibã, existem bandas amadoras. Nos tempos da administração portuguesa existiam até bandas portuguesas, gente com gosto pela música que arranhava umas cordas como passatempo, mas exercia outra profissão durante a semana. Chegou mesmo a gravar-se uma colectânea em CD com essas bandas lusas, que se a memória não me atraiçoa, era intutulada “Macau mou-man-tai”. Mesmo os expatriados que ficaram por Macau e se assumem como músicos por vocação têm outro ganha-pão. Ser músico profissional é um privilégio reservado à Orquestra de Macau, sob a alçada do Instituto Cultural, e não consigo pensar noutro exemplo além deste. Pode-se fazer música de forma séria, e até vendê-la, trabalhar num projecto ou outro, um biscate que surja, mas para pagar as contas é melhor ter um emprego fixo.

E onde está o mercado para os músicos da região? Em Hong Kong, claro. Uma cidade com sete milhões de habitantes, estúdios de gravação dignos desse nome, salas de espectáculos com capacidade para milhares de pessoas, produtoras discográficas e empresários que se dedicam a tempo inteiro à indústria musical, Hong Kong é o sonho de qualquer músico de Macau que ambicione a uma carreira. Penso que a maioria dos leitores tem uma ideia do que se faz em Hong Kong em termos de música. É sobretudo “pop”, daquele muito previsível e chochinho, e sempre cantado em cantonês. Como o gosto é o que sabe, alguns destes artistas da RAEHK gozam de uma popularidade enorme, e têm uma legião de seguidores. Dão concertos que enchem estádios, fazem filmes e são presença assídua em “shows” da ATV e da TVB, os canais-empresa televisivos da região vizinha. A fama leva ainda a que vão para a cama com imensa gente, como ficou demonstrado no caso Edison Chan, há alguns anos.

De Macau contam-se pelos dedos de uma mão os artistas que foram para Hong Kong tentar uma carreira de sucesso. O exemplo mais conhecido é o dos gémeos Acconci, Dino e Júlio, dois músicos talentosos que formam a dupla “Soler”, conhecida dos dois lados do Rio das Pérolas. Os irmãos Acconci são músicos talentosos que estudaram e levaram anos a aperfeiçoar o seu reportório. A música que fazem é mais inclinada para o “rock” puro, e não tanto para o “canto-pop” honconguês, e talvez por isso não sejam considerados artistas de topo na região. O público de Hong Kong tem também uma costela “pimba”, na sua versão chinesa. Outro exemplo, este mais recente, é o do cantor macaense Germano Guilherme, vulgo “Bibi”, que conhecemos das peças em patuá dos Doçi Papiaçam di Macau. Germano tem uma voz fantástica e uma presença forte – é um verdadeiro “animal de palco”. Em suma, tem “star quality”, um potencial enorme. Se ainda não mostrou o que realmente vale, é apenas porque a “indústria” pede aos artistas mais do que apenas talento. Existe, além do “timing”, sempre importante, um sistema do tipo “teia”, compost de padrinhos, concessões, decisões “políticas”, traições e outras intrigas palacianas. Quem não passa por esta “recruta” dificilmente chega longe.

É sempre interessante quando um natural de Macau chega longe no mundo artistico, e só é pena que os casos sejam muito raros. A exiguidade do território e o carácter pragmático e fechado da sua população não permite que brotem muitos talentos. Um jovem que tenha dentro dele uma pequena “semente” de jeito para o “show business” é oprimido e levado a deixar essa tendência para segundo plano. Alguns pais gostam de inscrever os filhos em escolas de música, teatro ou ballet, e mesmo em alguns casos contra a vontade dos miúdos, mas isto é sempre visto como um “extra” que dá para tirar umas fotografias giras durante as apresentações anuais que justificam a propina que gastam nas aulas semanais. O mais importante é que não se distraiam dos deveres escolares. Os pais mais “românticos” que sonham com o “estrelato” dos filhos também ficam um pouco sem saber o que fazer. Não lhes é dada qualquer outra referência além desses artistas pirosos de Hong Kong, e tal como na cultura geral, a cultura musical é também muito fraquinha. Mas fica tudo em casa, pronto, e são felizes assim…

Vettel e Red Bull voam em Sepang


Sebastian Vettel venceu o GP da Malásia, realizado esta tarde no circuito de Sepang. O alemão partiu da pole-position e dominou a corrida de princípio ao fim, e para que tudo fosse ainda mais fácil, Fernando Alonso desistiu logo na terceira volta, com a frente do seu Ferrari partida. O australiano Mark Webber foi segundo, levando assim a Red Bull à primeira dobradinha da época. Nas posições imediatas ficaram os dois carros da Mercedes; Lewis Hamilton ocupou o ultimo lugar do pódio, e Nico Rosberg foi quarto. Filipe Massa salvou a honra da Ferrari obtendo o quinto posto, à frente dos Lotus, com Romain Grosjean a terminar à frente de Kimi Raikonnen. Nico Hülkenberg em Sauber, Sergio Perez em McLarren, Jean-Éric Vergne em Toro-Rosso completaram os lugares pontuáveis. Após a etapa malaia, Vettel já lidera o campeonato de condutores com 40 pontos, seguido de Raikkonen com 31, Webber com 26, Hamilton com 25 e Massa com 22. Nos construtores a Red Bull já se destaca com 56 pontos, contra os 40 da Lotus e da Ferrari, 37 da Mercedes e 10 da Force-India. A próxima prova do mundial de F1 realiza-se a 14 de Abril no circutio de Xangai, na China.

Bruno Carvalho é o novo presidente do Sporting


Bruno Carvalho é o novo presidente do Sporting. Os resultados da eleição de ontem foram anunciados há poucos minutos, quando já passam das duas da manhã em Lisboa. A lista vencedora obteve 56% dos votos, e assim Bruno Carvalho sucede a Godinho Lopes, para quem tinha perdido há dois anos. Os resultados são apenas provisórios, mas é improvável que os votos por correspondência ponham em causa o vencedor. Foi mais um acto eleitoral marcado por alguns incidentes em Alvalade, incluíndo uma alegada duplicação de votos, o que mais tarde se veio a confirmar ser apenas um rumor. O Sporting atravessa a sua maior crise desportiva de sempre, e mesmo a liquidez da SAD é um incógnita, e os adeptos do clube leonine depositam agora as suas esperanças neste novo dirigente, depois de um mandato desastroso do seu antecessor. O treinador da equipa principal de futebol, Jesualdo Ferreira, colocou ontem o seu lugar à disposição do novo president, fosse qual fosse o resultado das eleições. Começa hoje um novo ciclo num dos maiores clubes portugueses.

A caminho do Brasil


S1-1F 发布人 omfgoals
A Espanha "escorregou" em casa frente à modesta Finlândia.

Realizaram-se este fim-de-semana um pouco por todo o mundo jogos de qualificação para o Campeonato de Mundo de Futebol que se realize no próximo ano no Brasil. Na Europa registaram-se algumas surpresas, bem como goleadas para todos os gostos.

No Grupo A da zona europeia, a Croácia e a Bélgica repartem a liderança, cada vez mais isoladas. Os croatas bateram a arqui-rival Sérvia por duas bolas a zero, enquanto os belgas foram à Macedónia vencer pelo mesmo resultado. Os dois países lideram com 13 pontos, mais sete que o País de Gales, terceiro classificado. Sérvia e Macedónia têm quatro pontos, enquanto a Escócia se mantem em último, com apenas dois pontos em cinco jogos.

No Grupo B a Itália descansou, e realizou um particular com o Brasil, que terminou empatado a duas bolas. A Bulgária goleou Malta por 6-0 e isolou-se no segundo posto com 9 pontos, menos um que os italianos. No jogo grande da ronda a Dinamarca foi a Praga bater a Rep. Checa por convincentes 3-0, partilhando o terceiro lugar com os checos com 5 pontos. Arménia com 3 pontos e Malta com zero parecem já não entrar na discussão por uma vaga no mundial.

No Grupo C a Alemanha confirmou o favoritismo e foi ao Cazaquistão vencer por 3-0, reforçando a liderança, agora com cinco pontos de vantagem para a Suécia. Os suecos empataram em casa com a Rep. Irlanda, e a Áustria aproveitou para se “colar” ao terceiro posto depois de uma goleada por 6-0 contra as Ilhas Faroe. Suécia tem oito pontos, Áustria e Rep. Irlanda têm sete, e as três selecções ambicionarão apenas um lugar no “play-off”, atrás dos alemães.

No Grupo D, a Holanda segue 100% vitoriosa, e desta vez a vítima foi a Estónia, que caíu em Amesterdão por esclarecedores 3-0. Hungria e Roménia encontraram-se em Budapeste e empataram a duas bolas, repartindo o segundo posto com 10 pontos, já a cinco dos holandeses. A Turquia, que tem sido uma desilusão, venceu por 2-0 em Andorra e permanece na quarta posição com seis pontos.

O Grupo E a Suíça mantém a liderança com 11 pontos em cinco jogos, apesar do empate a zero no Chipre. A Noruega não aproveitou para se aproximar dos helvéticos no topo, perdendo em casa para a modesta Albânia por 0-1. Os albaneses ocupam um surpreendente segundo lugar com 9 pontos, a par da igualmente sensacional Islândia, que foi à Eslovénia vencer por 2-1. Noruega tem 7 pontos, Chipre 4 e Eslovénia é última com 3 pontos.

No Grupo F, o grupo de Portugal, a Rússia continua firme no primeiro posto, apesar do jogo em Belfast frente à Irlanda do Norte ter sido adiado. Os russos têm mais quatro pontos que Portugal e Israel, que empataram 3-3 em Telavive, e ainda menos um jogo. Luxemburgo e Azerbeijão empataram a zero, e mantêm-se no fundo da tabela ainda sem qualquer vitória. Portugal visita o Azerbeijão na terça-feira, um jogo em que é obrigatório vencer.

No Grupo G a Bósnia isolou-se na liderança após bater a Grécia por 3-1, deixando os gregos do português Fernando Santos agora a três pontos. Os restantes encontros terminaram com empates a uma bola, o Eslováquia-Lituânia e o Lietchenstein-Letónia. Os eslovacos ocupam o terceiro lugar a dois pontos da Grécia, enquanto as restantes selecções estão longe de aspirar a uma vaga no mundial do Brasil.

No Grupo H a Inglaterra venceu em São Marino por 8-0, a maior goleada da jornada, mas continua a dois pontos do surpreendente Montenegro, que foi vencer à Moldávia pela margem minima. A Ucrânia foi vencer à Polónia por 3-1, e partilha o terceiro posto com os polacos, mas a seis pontos dos ingleses e oito dos montenegrinos. Dificilmente teremos polacos e ucranianos no próximo ano no Brasil.

Finalmente o Grupo I, onde a super-Espanha se deixou surpreender em casa frente à modesta Finlândia, com um empate a um golo. A escorregadela dos actuais campeões da Europa e do mundo permitiu que a França se isolasse no primeiro posto com dois pontos de vantagem. Os franceses cumpriram e bateram a Geórgia em Paris por 3-1. França tem 10 pontos, Espanha 8, Geórgia 4, Bielorrússia 3 e Finlândia 2.


A Colômbia confirmou as suas credenciais e esmagoua congénere boliviana.

Na zona sul-americana, e sem o Brasil, que se qualifica automaticamente como país anfitrião, Argentina e Colômbia continuam a mostrar credenciais. Os argentinos bateram a Venezuela em Buenos Aires por 3-0, com dois golos de Higuaín e um de Messi, e a Colômbia fez ainda melhor, esmagando a Bolívia em Barranquilla por 5-0. O Uruguai não foi além de um empate em casa a uma bola com o Paraguai, enquanto o Perú bateu o Chile por uma bola a zero. Argentina tem 23 pontos, Colômbia 19, Equador 17, Uruguai 13, Venezuela e Chile 12, Perú 11, Bolívia e Paraguai 8. Os quatro primeiros qualificam-se directamente para o mundial, enquanto o quinto classificado disputa um “play-off” com o quarto classificado da CONCACAF, a zona da América do Norte, Central e Caraíbas.


Um golo de Clint Dempsey aos 16' valeu uma vitória preciosa dos Estados Unidos frente à Costa Rica.

E por falar em CONCACAF, aí disputou-se a segunda jornada da fase final de apuramento, com os Estados Unidos a serem a única selecção vitoriosa, batendo a Costa Rica em Denver por uma bola a zero. O México, um favorito crónico, foi às Honduras empatar a dois golos, enquanto a Jamaica não foi além de um empate caseiro a uma bola contra o Panamá. Honduras lideram com 4 pontos, Estados Unidos 3, Panamá, México e Jamaica 2, Costa Rica 1.

Na zona asiática, os jogos da sexta jornada da fase final disputam-se esta terça-feira, com os jogos Uzbequistão-Líbano e Coreia do Sul-Qatar no Grupo A, e o Austrália-Omã e Jordânia-Japão no Grupo B. Os japoneses precisam apenas de um empate para garantir a qualificação para o mundial. Na zona Africana os jogos repartem-se entre sexta-feira a hoje, Domingo, enquanto na Oceânia a Nova Zelândia garantiu o primeiro lugar da fase final ao bater a Nova Caledónia por 2-1 na sexta-feira. Os neo-zelandeses vão discutir uma vaga no mundial do Brasil com o quinto classificado da zona asiática.