quinta-feira, 28 de março de 2013
Assim não se fazem bebés
O deputado José Pereira Coutinho levou a plenário uma proposta com vista ao reconhecimento da união de facto entre pessoas do mesmo sexo. Debalde, como seria de esperar. O conservadorismo dos restantes deputados em forma de sermão não encomendado - não existe uma consulta pública que confirme que a população está realmente contra esta iniciativa - abortou as intenções dos casais "gay" no sentido de usufruír dos mesmos direitos dos "casais normais", chamemos-lhes assim. Os argumentos utilizados por alguns dos elementos que compõem o orgão legislativo da RAEM é que me deixaram estupefacto, de tão risíveis e surrealistas que se apresentaram.
Um deputado que desconheço por completo (será nomeado?) apresentou razões de ordem "natural", e foi mesmo ao ponto de dizer que aprovar uma proposta nesta sentido é "uma ameaça para a humanidade", uma vez que os casais do mesmo sexo "não se podem reproduzir". Interessante, este ponto de vista, que certamente levará a que os casais "gay" reconsiderem a sua conduta "contra-natura", mudem de orientação sexual e contribuam para a continuidade da espécie humana. Aliás em tempos de crise como este que vivemos, é importante que venham mais crianças ao mundo, e neste particular os homossexuais são uma autêntica pedra no sapato. É ainda reconfortante saber que os nossos representantes têm noção de como se processa a reprodução. É sinal que não estamos assim tão mal em termos de educação sexual como alguns dizem.
O deputado Leonel Alves, pragmático como sempre, manifestou a sua ignorância sobre a causa, e disse mesmo "não ter experiência nas relações com pessoas do mesmo sexo". Não sei quem duvidou da masculinidade do sr. deputado, mas agradecemos que se tenha deixado clara a sua orientação. Além disso chamou a atenção para o facto de mais nenhum país ou território da região (neste caso, Ásia-Pacífico) ter qualquer tipo de legislação análoga. De facto, porque deverá ser Macau pioneiro no que quer que seja? O melhor mesmo é deixar os outros fazer primeiro, e depois copiar, caso se justifique. Esta é a atitude correcta a adoptar: fazer nada e esperar, e velejar ao sabor dos ventos.
Não é urgente que se legisle neste sentido. Os homossexuais em Macau não estão à espera que os seus direitos sejam imediatamente validados, não vão exigir que se legisle no sentido de verem reconhecidas as suas uniões, e como já acontece há muitos anos vão continuar a viver a sua vida indeferentes ao que a sociedade pensa deles. Isto é uma malta que até não gosta de fazer muitas ondas. O problema é que perante esta argumentação, fico a pensar que estamos ainda muitos degraus abaixo na escala civilizacional. Quando estão em cima da mesa argumentos como a reprodução ou se faz questão de demarcar de comportamentos tidos como "anormais", é sinal que ainda temos muito que aprender. E quem nos vai orientar no bom caminho? Ficamos à espera.
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