segunda-feira, 31 de março de 2008
Estilo Europeu
Antigamente na Rua Pedro Nolasco da Silva, perto do Capitol, estava uma senhora que vendia maçarocas de milho cozidas. Um dia comprei-lhe duas, mas uma estava em más condições e amassada, e pedi-lhe para trocar. Ela respondeu-me “no, vely good, USA”. Insisti e fiz-lhe ver que estava nas tintas para de onde era a porcaria do milho e só queria uma maçaroca em condições. Levei a minha avante, mas não foi esse o primeiro contacto com o americanismo latente de que Macau sofria nos anos 90. Era comum encontrar jovens com estampas da bandeira Americana, da bandeira sulista ou mesmo da bald eagle nos casacos ou nas t-shirts. Existia também uma marca de sanitários American Standard.
Eram os reflexos do modo de vida Americano, trazido por Hollywood e pelos Dallas e a Dynasty. Califórnia, Miami, Hawaii ou Las Vegas eram o destino de eleição do turista mais endinheirado. Bastava uma tarde de compras em Manhattan e ficava-se completamente esclarecido sobre o modo de vida capitalista. Era uma honra e até uma festa se o jovem era selecionado para uma universidade norte-americana (daquelas no name tipo Smallsville ou Nowheretown) ou canadiana (o fascínio dos hongkongenses pelo Canadá é algo que nunca entendi). O McDonald’s rompia por Hong Kong, Macau e ilhas adjacentes, imparável e triunfante. Não admira portanto que tivesse tido tanta chatice por causa da porcaria do milho.
Entretanto hoje a minha colega L. voltou de férias com o namorado (são daqueles que namoram há vinte anos), e não da América ou do Canadá, mas do leste Europeu. Vejo as fotografias da República Checa, Hungria e Roménia, vejo-a em frente aos monumentos e igrejas diversos, pergunto-lhe como é que aquilo se chama e ela não sabe responder. Interessa é que esteve lá e tem as provas. Para L. o leste europeu tem imensa piada porque tem muito de “antigo”, aquilo que eles chamam o “estilo europeu”. O estilo europeu está por todo o lado. Veja-se a Doca dos Pescadores por exemplo. O cópia do circo de Roma (cuidado para não lhe darem um pontapé senão fazem lá um buraco) é o arquétipo do bom gosto turístico em Macau.
A tendência tem-se acentuado desde finais da década de 90. E já não é só Paris ou Londres ou a mítica Suíça (que adoro!) ou o “sol e touros” de Madrid ou as vinhas imensas de Itália (onde se come e bebe realmente bem). A tendência é também para descobrir o leste da Europa, os castelos da Transilvânia ou os palácios e igrejas da Boémia e Morávia. E escusado será dizer que estas economias emergentes são cada vez mais receptivas à divisa estrangeira, e em conquistar esse importantíssimo segmento do mercado que é o turista chinês. Contribuiram também muito para esta descoberta aqueles ridiculos programas da TV de Hong Kong em que grupos de jovens chineses passeiam-se pelas principais cidades europeias e comportam-se como autênticos selvagens, urrando cada vez que se deparam com qualquer coisa de diferente, e falam com a boca cheia de Goulash e depois ainda fazem comentários patéticos a propósito da
lingua e da cultura dos povos que os recebem.
Mesmo as agências de viagens oferecem pacotes mais variados que antigamente, com destinos exóticos e chiques que passam por safaris no Quénia, a descoberta do Egipto dos faraós (uma aldrabice, diga-se de passagem) ou o Natal na Lapónia. Mas sempre com a Europa à cabeça. Os pacotes turísticos para a América, e vou ser sincero, deviam estar no fundo da gaveta da última agência onde estive. Não me lembro de ver algum. Mas afinal quem precisa da Califórnia quando tem o sul de França? E o Hawaii quando tem as ilhas gregas? E Nova Iorque quando tem Amesterdão ou Berlim, muito mais sumarentos? E para quê Las Vegas quando pode simplesmente ficar em Macau (esta foi uma piada).
Para nós isto é lana caprina, favas com chouriço. Sabemos bem que a Europa vai da Feira de Carcavelos ao baile de Primavera da ópera de Viena, das largadas do Barrete Verde de Alcochete ao Carnaval de Veneza, dos tremoços com cerveja aos cabazes de frutos secos da Floresta Negra. Tratou-se simplesmente de uma súbita constatação que fazer e gastar dinheiro – a American way of life - tem piada, mas a cultura e a história estão na Europa, longe dos rodeo lounges ou do aborrecido Grand Canyon americanos. Mas digam lá se também não nos pelamos todos com os templos tailandeses, pagodes chineses e afins? É uma questão de querer aprender mais qualquer coisinha. E no fundo faz-me sentir orgulhoso que a malta daqui tenha trocado a Estátua da Liberdade pela Torre Eiffel. Ah sim, e do milho Americano nunca mais ouvi falar.
São rosas senhor, são rosas
Um caso de polícia com os ingredientes de um filme de Fellini ou Almodovar. Na madrugada do último Sábado a PJ deteve dez jovens com idades compreendidas entre os 19 e os 25 anos numa discoteca da Av. Rodrigo Rodrigues. Nove dos jovens, cinco homens e quatro mulheres, são croupiers ou relações públicas de casinos do território, o décimo é um desempregado.
Os agentes chegaram na sala onde os jovens consumiam um pó branco com uma nota de dez patacas enrolada (coitados), e nem a presença dos agentes inibiu a malta, que continuou a inalar o pó, até à sua eventual detenção. Foram encontradas duas gramas de ketamina, além dos vestígios na nota e no chão da sala. O mais engraçado foi quando metade dos detidos afirmou desconhecer que o pó branco era droga.
O arroz e o pânico
Verificou-se ontem uma corrida aos supermercados em Hong Kong e em Macau. Mais um pânico causado pela forte possibilidade do aumento dos preços e escassez de arroz. Macau importa o seu arroz da Tailândia, e este ano as colheitas foram, segundo os entendidos, "desastrosas". Não foram no entanto verificados movimentos no Saludães, Cigala, arroz Basmati e outras que a comunidade portuguesa expatriada consume exclusivamente.
Esta não é a primeira vez que a população ocorre em massa à mania ou pânico do mês. Já quando o nível da salinidade da água da rede aumenta, dá-se a corrida aos supermercados para comprar água destilada engarrafada. Não que em Macau se consuma água da rede, a não ser para tomar banho, lavar os pratos ou fazer a sopa, e nesse caso a água estar demasiado salgada até nem é grande problema. Além disso existem dúzias de marcas de água engarrafada destilada ou mineral, ao alcance de qualquer bolsa.
Aliás tivessem estes cidadãos bunkers no caso de um ataque nuclear ou do início da III Guerra Mundial, estes estariam impecavelmente equipados. Quando se afirmou durante a crise da SRAS que o vinagre não deixava o vírus entrar em casa, não ficou nas prateleiras uma gota do produto, o que apanhou desprevenidos os amantes das saladas de alface e tomate, ou como eu, aficionados da sopa de massa com feijão encarnado. Escusado será dizer que não há nada de cientificamente comprovado na afirmação "o vinagre combate o SRAS".
É que isto é mesmo assim; o mundo está sempre cheio de armadilhas e anda sempre aí um gajo qualquer que nos quer tramar. O melhor mesmo é encher as prateleiras do que quer que seja que vai faltar, de forma a não viver sem isso durante os próximos cem anos.
Festa do Sevens
Realizou-se durante o fim de semana a etapa de Hong Kong do torneio mundial de Sevens. A super-favorita Nova Zelândia foi a grande vencedora, ao bater a Africa do Sul na final por 26-12. Os "Lobos", como é conhecida a selecção portuguesa, não foi além dos quartos de final da Challenge, a Taça dos segundos classificados, depois de perder com Tonga. Na fase de grupos os portugueses perderam com a Escócia, bateram a China e perderam com o Quénia, o grande vencedor do grupo, e beneficiaram da derrota surpreendente dos escoceses ante os chineses. O torneio ficou marcado por um incidente com a segurança, que terá sido demasiado zelosa quando neutralizou um adolescente que estava simplesmete...a beber cerveja. Vá lá, uma cervejinha não faz mal, até ajuda a crescer. E os Sevens são uma festa.
Mercado de S. Domingos
Octávio Pato à presidência
domingo, 30 de março de 2008
A minha mulher da China
Para se perceber o amor em chinês é preciso ter um conhecimento profundo da mulher chinesa. Não querendo aqui meter a colher na sopa da Ana Cristina Alves, que a propósito lançou há duas semanas um livro, “A mulher na China” que me deixou sublimado, gostava de partilhar algumas opiniões e experiências em forma de divagação.
Se me tivessem dito há 20 ou mais anos que hoje estaria casado e com filhos de uma moça chinesa eu dizia: “estão mas é todos malucos”. Eu gostava era de suecas loiras, ruivas sardentas e mulatas de Angola. Uma vez namorei com uma tipa tão parecida comigo que ainda hoje penso que foi por algum narcisismo ou alguma coisa assim. O pior é que ela pensava o mesmo! Mas chinesa? Qual, aquelas que vendiam Casios na Praça do Comércio? Cabeça redonda e olhos em bico?
Mas uma vez em Macau, existe uma possibilidade de 70% de casar com uma moça de cá. Os restantes 30% consistem na convicção que 1) não vamos ficar por cá portanto o melhor é encontrar uma moça tuga com que possamos fazer planos futuros ou 2) tenho mais de 50 anos e é melhor contentar-me com uma filipina/tailandesa/vietnamita que me ajude a mudar as fraldas daqui a vinte anos. No caso dos primeiros, já vi muita confusão. Ele era moços do Porto com gaiatas de Setúbal, ou alentejanos com minhotas. Um caso sério. Outras vezes demoram a voltar, ou nunca voltam, fartam-se um do outro e divorciam-se.
É espantosa a forma como os jovens chineses fazem a corte. Tenho um colega que namora outra colega minha. Lembro-me quando ela lá chegou. Ele gostou imediatamente dela, mas demoraram meses até chegar a trocar umas palavras. Ele conseguiu suportar a humilhação de ver outros menos bem intencionados a mandarem piropos à menina. Não sei se isto é a tal paciência de chinês ou se estou demasiado habituado à nossa aproximação latino-mediterrânica que por vezes acaba em tragédia, como em “Romeu e Julieta”.
A vertente romântica também não é propriamente o que estava habituado . Lembro-me quando comecei a sair com as meninas daqui que demorei a adaptar-me a certas e determinadas coisas. A linguagem para começar. Quando dizia a uma menina que ela era bonita ela dizia “oh por favor não, quero vomitar”, ou ainda “quero morrer”. São idiossincrasias que custam um pouco a aceitar no início. Claro que a doçura varia de acordo com a menina, mas as relações estão longe de ser hoje um dia um “Madame Butterfly” ou aquele anúncio da sopa chinesa da Maggi.
Mas estão muito mais audazes os jovens chineses nos tempos que correm. Pode-se dizer que começaram nos últimos anos a descobrir as virtudes do sexo pré-marital, das amizades coloridas, dos contraceptivos como opção, enfim, tudo aspectos a ter em conta numa sociedade que, pasme-se, é ainda mais conservadora que a nossa. Para eles ainda somos muitas vezes vistos como os “bárbaros” que em tempos tomavam à força o que havia onde chegavam.
E depois vem o casamento. Só o dia do casamento propriamente dito tem muito que se lhe diga. Aquilo começa de manhãzinha e acaba na madrugada seguinte. Obedece a um cerimonial imenso em que é praticamente requerido que se ponha um pé à frente do outro correctamente. Aquilo parece caríssimo, dezenas de mesas, sem olhar a despesas com vestidos e jóias para a noiva. Mas acaba por ser lucrativo, pois ao contrário dos casamentos ocidentais em que se oferecem pratos, lençois e porcarias que não fazem falta nenhuma, aqui é dinheiro. Dinheirinho vivo.
Tem-se por vezes o terrível hábito de fazer a nubente adoptar o apelido do noivo, e às vezes com consequências trágicas: acontecem as Chang Mui Mui da Fonseca ou as Wong Pui Man Vasconcelos. E depois há a família, absolutamente impenetrável que funciona quase como uma seita. São unidos, vivem perto uns dos outros, juntam-se ao jantar e não sei bem como, são quase todos ricos. Mesmo os que ganham vencimentos de operários ou outras actividades normalmente mal remuneradas. Ah sim, nunca se chega a perceber muito bem se gostam ou não de nós.
Há quem defenda que as relações inter-culturais são as mais difíceis, que acabam sempre mal, e inevitavelmente os mal-entendidos e os choques de culturas vão-se sucedendo. Mas perdoem-me a filosofia de taberna, qualquer relação é difícil, é só preciso saber temperá-la.
Dois anos
Mamma Mia
Do outro mundo
Um golo do outro mundo, de calcanhar depois de uma recepção, e ainda assistências para outros dois golos do Manchester United. Os 'reds' venceram o Aston Villa por 4-0.
sábado, 29 de março de 2008
Libertem a internet que há em nós
A deputada Ieong Weng Ian, vice-presidente da Associação das Senhoras Democráticas e deputada à AL, pretende que o Governo emane legislação que regule os conteúdos de certos sites na internet. Na causa da preocupação estão os recentes casos das fotografias dos artistas de Hong Kong e dos registos em vídeo da violência em algumas escolas de Macau. A preocupação parece ser o carácter obsceno e imitativo dos comportamentos observados nestes casos. O melhor será portanto proibir, varrendo o problema para debaixo do tapete.
O conteúdo de certos materiais que circulam na internet é agora mais que nunca uma preocupação de pais, professores, encarregados de educação, padres, freiras, gente de bem, e por aí fora. Certo? Errado. Agora sim, que a internet está praticamente ao acesso de toda a gente. Ninguém se preocupava há 10 anos ou mais quando era impensável que os jovens – na altura criancinhas – se tornassem mais inteligentes que os adultos e se tornassem nas “feras” das novas tecnologias, assim ultrapassando-nos, limitados que estamos devido a décadas de estupifidicação causados pela televisão.
Os jovens são muito mais espertos hoje em dia. Podem não ter cultura geral, podem falar por monossílabos, começam a dizer asneiras cada vez mais cedo e não medem as consequências dos seus actos (também fomos assim nesse departamento), mas pelo menos não conhecem mais nada sem ser a internet, o YouTube, o Hi5, e mesmo quando precisam de saber qualquer coisa vão à Wikipedia. Não precisam de ler um jornal, ir a uma biblioteca ou sequer levantar o rabo de uma cadeira para atender o telefone: existem os telemóveis. Duh!
E nem vale o argumento de que “pavimentámos” esta auto-estrada da informação para eles, e de que se tornararam acomodados e preguiçosos. Não cola. Isto desde o tempo em que King C. Gillette terá dito ao seu neto enquanto este se barbeava: “se não fosse por mim tinhas a cara cheia de sangue!” ou “ se não fosse eu tinhas uma barba até ao chão”. E os nossos pais ainda nos diziam o mesmo, afinal fizeram tudo por nós: o Maio de 68, o 25 de Abril...nós somos uns preguiçosos “que não dão valor à liberdade”. Diziam-nos que “só sabiamos fumar”, enquanto eles faziam jogging, e que a nossa música era “barulho”, enquanto eles ouviam Bossanova, Herb Alpert e Carlos Puebla. Os que sabiam inglês ouviam os Beatles.
Mesmo o que está in hoje não era o que estava in há vinte ou há trinta anos. A geração antes da minha teve o disco, o punk e o new wave, eu tive o italo-disco, o goth, o heavy metal e o grunge, os miúdos agora têm o house, o trance e sei lá mais o quê. E até parece que foi ontem quando achávamos “bué da fixe” (expressão que foi cool durante uns dez minutos nos anos 80 e hoje alguns de nós ainda usa numa patética tentativa de estabelecer contacto com os mais jovens) escandalizar os “cotas” com as nossas roupas ou as nossas atitudes, e hoje custa estar do outro lado da barricada. Pois é.
Já algum dos leitores que tem filhos adolescentes tentou conversar com os colegas ou amigos dele ou dela? Parece que existe ali uma barreira jovem/cota praticamente impossível de ultrapassar. O que será que os gajos vêem em nós para fazer aquela cara de nojo quando lhes dizemos alguma coisa? O pai deles? O professor? O Carlos Cruz? Outro “cota” qualquer? E mesmo que venha dizer “oh oh eu mantenho um diálogo saudável com os meus filhos e os amigos dele”. Se por acaso já conseguiu conversar com os miúdos por mais de cinco minutos, parabéns. É o principal candidato ao título de “cota mais fixe do ano”.
E dos perigos nem se fala. Tudo o que é novo é perigoso. No nosso tempo eram os skates, o heavy-metal, as rádio-piratas (a mãe de um amigo meu não o deixava ouvir porque era “ilegal”), o haxixe, as boleias de estranhos. O meu tio-avô levava tareias de cinto por ir jogar futebol, nos tempos em que isso era ainda considerado um acto de rebeldia. Muito daquilo que a juventude consome hoje parece-nos estranho, não faz sentido. Marilyn Manson? Tokyo Hotel? Mikael Carreira?
Agora vir pedir que se venha legislar, vejam só o alance disto, LE-GIS-LAR sobre os conteúdos na internet é de loucos. A sra. Deputada diz que legislação deste tipo já está em vigor em “outras jurisdições”. Pois claro, de lugares como a Arábia Saudita ou Paquistão. É realmente isso que queremos para Macau? E para satisfazer a vontade de quem? Das senhoras democráticas, que com isso estão a tentar proteger os filhos dos “pobres e ignorantes”? E quem vão requisitar para censor-mor? O Ayatollah Khomeini? Torquemada?
É que legislar sobre o que se pode ver ou não na internet é abrir a porta para uma epidemia de leis malucas. E que tal proibir as provocadoras mini-saias? E que tal abater os cães que fornicam na rua? Será que não entendem que proibir não vai melhorar as pessoas? Vai simplesmente reprimi-las e fazer com que as procurem ou façam de forma ilegal e menos segura. Será possível convencer as pessoas que param para olhar um acidente de trânsito que é feio ficar à espera de ver o sangue, ossos partidos e tripas de fora dos pobres acidentados?
O que os jovens vêem e fazem pode não estar ao alcance da nossa percepção, mas não é nada de outro mundo (a não ser que o seu filho esteja numa de necrofilia ou canibalismo, mas isso são contas de outro rosário), e cabe aos pais e aos encarregados de educação saber o que os nossos filhos menores estão a ver. E que tal tentar conversar com eles de vez em quando em vez de criar leis para ter as autoridades a fazer todo o trabalho que devia ser feito por nós?
E reparem que digo “filhos menores”, pois a partir dos 18 anos são maiores e responsáveis pelos seus actos, assim como sou eu e a esmagadora maioria dos prezados leitores. A última coisa que queremos é que venha alguém proibir-nos de assistir à mais vil pornografia ou adquirir os últimos instrumentos da imensa parafernália do sexo sado-masoquista ou qualquer outro direito que nos é inerente por sermos maiores e vacinados. E que tal proibir a venda de preservativos? Afinal quem os compra “vai cometer indecências”.
Colagem medíocre
FITNA (2008)
*
Argumento (?), Realização e Produção: Geert Wilders
Duração: 16.48
Fitna é um filme de apenas 16 minutos escrito, produzido e realizado por Geert Wilders, um gajo da extrema-direita holandesa que se opõe ao Islão ao ponto de querer que o Corão fosse considerado “ilegal” por ir contra as leis em vigor nos Países Baixos. Depois de mais ou menos um mês a enfurecer os radicais ameaçando-os com um filme “ainda pior” que os tais cartoons de Maomé publicados naquele jornal dinamarquês, Wilders concretizou a ameaça e provou que não estava a fazer bluff e o movie foi exibido através da LiveLeak.
O filme começa com um aviso de que contém imagens chocantes. A colagem que Wilders faz de versos do Corão com imagens reais de violência (atentados do 11 de Setembro, atentado na estação de Atocha, Madrid ou assassinato de Theo Van Gogh), afirmações de líderes religiosos islâmicos, imagens de manifestações ou recortes de jornais é algo insonsa e despropositada, salpicada com algumas estatísticas que levam à principal mensagem do filme: existem cada vez mais muçulmanos na Europa e a imigração tem que parar.
Se o filme ofende? Garanto que muitos islâmicos vão ficar furiosos, mesmo que não o vejam. A ideia inicial de Wilders era provocá-los, fazer-lhes saber que podia mexer com eles. Não se vê uma única imagem de Maomé (a não ser uma dos tais cartoons), nem um insulto, nem uma boca racista. Nada. Wilders ameaça sempre ir mais além mas não se atreve. Quem for minimamente inteligente não se ofende, não há substância, não há polémica, não há sequer humor. O pior é que nem toda a gente percebe as coisas deste modo. Para o registo, fica aqui mais uma “provocação” horrenda e sem nome.
Não sei se Wilders fez este filme por despeito ou se por acaso é um gajos com eles no sítio. Duvido no entanto que seja esta última a razão, pois afinal Wilders já é objecto de uma segurança apertadíssima desde 2004 devido a múltiplas ameaças à sua vida. Mais um filme, menos um filme, não faz diferença. Não vale a pena perder tempo a procurar o filme nos media onde se publicam vídeos, mas quem quiser mesmo ver o filme, pode vê-lo aqui na íntegra e sem cortes.
Obama e Hillary
Ainda bem que conseguimos encontrar algum humor nas (bocejo) primárias do Partido Democrata.
Bailare
Os Houdini Blues com Adolfo Luxúria Canibal. Uma maneira...diferente, de começar o fim de semana.
sexta-feira, 28 de março de 2008
O senhor que se segue
Leonel Alves disse à Rádio Macau, em entrevista que vai passar no canal português amanhã na sua íntegra que "Susana Chao devia candidatar-se ao cargo de Chefe do Executivo". Segundo o membro do Conselho Executivo, a actual presidente da AL tem o perfil indicado para suceder a Edmund Ho no cargo mais importante do Executivo da RAEM. Leonel Alves considera que Susana Chao "conhece bem" os mecanismos de funcionamento da RAEM e de Pequim.
Ao indicar Susana Chao, Leonel Alves está a dar a entender que esta é de facto uma alternativa à sucessão de Edmund Ho, tema que tem sido tabu entre as esferas do poder e a que muitos encolhem ainda os ombros de incerteza. Susana Chao vem assim a juntar-se a uma lista de possíveis nomes para o cargo de CE pós-2009, depois de se ter falado também de Ho Iat Seng, empresário, Francis Tam e Chui Sai On, secretários do actual Executivo, e Ho Chio Meng, procurador geral.
Seria interessante auscultar os pouco mais de cem "eleitores" fixos deste blogue sobre qual o candidato, dos que o nome foi falado, que melhor substituiria o actual CE. Os candidatos são portanto cinco, e podem votar à direita, até à próxima Sexta-Feira. Gostava já agora de chamar a atenção para o facto desta pesquisa não ter qualquer vínculo oficial, nem é a eleição para o CE ou sequer as primárias. Portanto um pouco de civismo e moderação se por acaso o "vosso candidato" não vencer. Obrigado.
Leituras
- Saiba como Macau já tem mais croupiers que funcionários públicos! Uma reportagem de Emanuel Graça para o JTM.
- Um artigo super-interessante assinado pelo "tio do Patuá" (sendo que o pai era Adé), Miguel Senna Fernandes, na edição de Segunda-Feira so JTM. É o Vôs qui nómi?
- Leia aqui uma entrevista ao representante cessante para os assuntos laborais das Filipinas em Macau, Carlos Sta. Ana, hoje n'O Clarim, onde denuncia a retenção de passaportes e algumas promessas não cumpridas pela Venetian.
- José Miguel Encarnação fala da eleição para o Conselho das Comunidades (isto já não há "conselhos" a mais por aqui?) e de Stanley Ho, na sua habitual crónica semanal para O Clarim.
- Leia no Ponto Final como o mestre Kasparov vem ao MGM Macau em Novembro, numa iniciativa de uma empresa de Hong Kong, que não está ao alcance de todas as bolsas.
- Veja por sua conta e risco o filme Fitna, de Geert Wilders. Um filme anti-islâmico que está a preocupar as autoridades holandesas.
Bom fim de semana!
Baby killers
O que é o Ponto G?
Uma senhora no concurso "Quem quer ser milionário?" em Espanha nunca ouviu falar no "ponto G". É só rir.
quinta-feira, 27 de março de 2008
Eu profeta me confesso
Fiquei meio atordoado com uma carta de um leitor do Ponto Final ao director daquele jornal, e hoje publicada, em que se congratula por um artigo de opinião assinado na edição do Ponto Final da última terça-feira pelo jornalista João Paulo Meneses. No tal artigo, repito, de opinião, JPM tenta demonstrar por A mais B que afinal Macau não está esquecido pelas autoridades em Portugal, e de como cada vez mais se quer saber de Macau, como existem cada vez mais Institutos ligados à China e ao Oriente, e de que o Mandarim (vejam só) se vai aprender nas escolas, e por aí fora.
A interpretação do artigo fica ao critério de cada um, mas para este leitor trata-se de prova irrefutável de que afinal Macau não foi esquecido, não senhor. E o distanciamento de que se fala é apenas produto de algum nervoso-miudinho que por aí anda de alguns senhores com alguma sede de protagonismo. Há que agora sorrir triunfante sobre as carcaças do cruel inimigo fulminado pelo tal artigo, que não me canso de repetir, é de opinião.
É que cada vez que a malta pensa que o Governo da República se esqueceu de nós, isto quer dizer que somos profetas da desgraça. Profeta alto lá, pois o bom dicionário do Lello & Irmãos diz-me que um profeta é “aquele que prediz por inspiração divina”. Ora isto não se trata de qualquer previsão, mas sim de uma constatação do óbvio, que de si nada tem de divino.
O prezado leitor do PF (que tem direito à sua opinião, e como dizia um professor meu, “se é uma opinião, está certo”) vaticina que na verdade estes indivíduos andam aborrecidos porque Portugal não se lembra DELES, que “tão prestimosos serviços aqui poderia prestar”. Que diabos egoístas. Até pode ser que tenha razão, mas o contrário também é verdade: Portugal está-se nas tintas para quem cá ficou e não está minimamente interessado em nada com o nome de Macau lá estampado.
Serviu pois. A árvore das patacas que financiou campanhas eleitorais (e as notícias a esse respeito sucedem-se em catadupa) já secou, e nem foram precisos dez anos – e isto depois de uma presença de mais de quarto séculos sempre decorada com juras de amor eterno – para que se deixasse de mandar um representante do Estado Português ao 10 de Junho.
Mas esperem lá, o tal leitor não quer o dinheirinho dos seus impostos gastos em viagens de avião para que os senhores venham cá reafirmar os compromissos que dizem ter feito com Macau e as suas gentes e dizer presente (vulgo “apertar o bacalhau”). Tenho a certeza que esse dinheiro vai ser, como sempre, gasto em obras de grandeza indiscutível que vão tirar o país do fosso em que se encontra.
E isso até nem é o que me aborrece. Não venham cá se não quiserem, é para o lado que me deito melhor. Se calhar é porque estamos bem e não precisamos que nos estendam a sua mão caridosa. Preocupem-se antes com Timor Leste, em esbanjar dinheiro e meios para manter a ilusão de que ali no outro lado do mundo estão todos super-interessados em preservar a lingua e cultura portuguesa, quando na realidade se caminha cada vez mais para um protectorado australiano. Se calhar o complexo de culpa é tão grande que deturpa a visão. Já a Escola Portuguesa de Macau só dá chatices, e é preciso ver se se arranja uma forma daquele elefante branco dar lucro. Senão…
É que quando afirmo a alto e bom som que “Portugal esqueceu Macau”, digo-o sem o coração partido, sem qualquer tipo de mágoa. Digo-o da mesma forma que podia dizer “os britânicos esqueceram Bangalore” (e se calhar não é verdade). Aliás congratulo-me de fazer aqui a minha vidinha, ter aqui a minha família e ter a minha ligação a Portugal reduzida a meia dúzia de tios e primos, e os amigos que, coitados, têm mais que fazer. E congratulo-me de poder dizer “Portugal esqueceu Macau” sem levar um correctivo que sempre foi do nosso apanágio de meninos que ainda pensam que o respeitinho é muito bonito e “veja lá como é que fala”.
O mais trágico no meio disso tudo foi ver a forma clínica e imediata como a comunidade macaense se afirma hoje chinesa, e parte da multi-cultural RP China. Não vou aqui argumentar se têm ou não razão e legitimidade para o afirmar, mas não sendo Macau uma nação, e estando Portugal completamente nas tintas para os portugueses daqui, é natural que se afirmem como cidadãos chineses, ou caso contrário, apátridas. É um caso triste de abandono, e é pena.
É que a língua e cultura portuguesa são o que torna Macau uma cidade especial em relação ao resto da RPC. Não é uma estância balnear nem de esqui, e depende fortemente do seu património para que se destaque no panorama do resto da Asia. Com o gradual afastamento da fonte dessa cultura, um dia só nos restam os casinos e uma imitação rasca de culinária lusitana que passa por "Portuguese Chicken" e "Bacalao Rice".
Mas oportunidades não faltaram, não senhor. Não foi por falta de convite ou por má vontade do Governo da RAEM que a ausência de Portugal nos mais variados certames é a mais notada. Mas os empresários portugueses batem na testa quando se apercebem que Portugal está atrasado no que toca ao investimento na China, atrás de países que, ao contrário de Portugal, não têm relações de amizade seculares com o país do meio, ou uma porta de entrada tão favorável como Macau. Há quem lhe chame falta de visão. Eu chamo-lhe burrice.
O leitor remata com um “os que se queixam de que Portugal esqueceu Macau são aqueles que apenas se perguntam o que é que Portugal pode fazer por eles”. É interessante que pegue nestas palavras de JFK e já agora devolvo-lhe a pergunta: “e o que Portugal fez por mim?”. Nada. Quem não se lembra das palavras do último Governador de Macau, o General Rocha Vieira, quando lhe foi perguntado que conselho dava aos portugueses que quisessem ficar em Macau? “Que aprendam Mandarim”. Ora aí está um exemplo de sensatez e discernimento. Então já não falamos todos Mandarim? Só lhe faltava ter dito: “Acabou o saque! Regressemos à Pátria!”. Levo-te comigo, ó cana verde.
Sexo e a cidade
A série americana da HBO, Sex and the City, é repetida todas as quartas-feiras no canal 1 da TDM. Apesar da série ter acabado em 2003, penso que é bom que a TDM a passe, ao contrário das suas contrapartes de Hong Kong, que acometidos de excesso de pudor, ignoraram a série que conta as aventuras da escritora Carrie Bradshaw, interpretada por Sarah Jessica Parker e as suas amigas.
O que se percebe menos bem é o título que o departamento de tratamento de programas da estação da Xavier Pereira deu à série. Intimidades? E que tal “Sexo e a cidade”. Sexo, sim, porque a série é sobretudo sobre as escapadelas sexuais de quatro amigas solteiras, e a cidade a quem os autores da série prestam homenagem, Nova Iorque. “Intimidades” porquê? Será uma referência à sexualidade das personagens que, de uma forma muito pouco realista, dormem com três ou quatro gajos por episódio? Talvez seja a palavra “sexo” que faz com que se arrepiem os cabelos da nuca.
Já no departamento das legendas há menos pudor. Vê-se com frequência a palavra “pila”, “tomates” e pérolas do tipo “quero ser fodida”, “fomos para a minha casa foder” ou “uma boa foda”. Já a palavra cunt, que designa o orgão sexual feminino, considerada uma das mais feias da língua inglesa, é traduzida em português para “rata”. É de facto pouco estético o tratamento que se dá à vagina em português. Os americanos chamam-lhe pussy (gatinha) ou beaver (castor), enquanto os brasileiros, por exemplo, se referem às impenetráveis (salvo seja) “boceta” ou “xereca”.
E por falar em brasileiros, a actriz Sónia Braga faz o papel de Maria na série, uma artista lésbica que se enamora por Samantha, a mais ninfomaníaca do grupo. Numa cena do episódio da última semana, as amigas discutem durante o brunch as maravilhas que a relação homossexual tem feito para a “boceta” de Samantha. E a palavra sai da boca das actrizes pelo menos duas vezes. Para nós que entendemos não faz mal. O que não se percebe é o porquê de “Intimidades”, e não Sexo e a Cidade. Mais difícil de entender se torna tendo em conta que a série passa sempre depois da meia-noite. Será para não ofender os anjinhos?
A ilusão do jogo
Não é o jogador que domina o jogo, mas sim o contrário. Nada mais é do que uma questão de sorte. Quando esta premissa deixa de ser uma realidade, e o indivíduo se deixa dominar por uma “ilusão”, então está dado o sinal de alarme. O caminho para a doença está a um passo. Conclusões do psicólogo e académico canadiano, Robert Ladouceur, presente ontem na Universidade de Macau para um seminário sobre o jogo.
Perante uma plateia cheia de académicos, curiosos, jornalistas e estudantes, Robert Ladouceur apresentou os resultados de estudos realizados, ao longo de vários anos, no que toca, principalmente, ao mundo de Las Vegas, aquele que conhece melhor, mas que poderão ser adaptados ao universo asiático. Com a legalização do jogo a ser uma realidade nos países ocidentais e asiáticos, Robert Ladouceur veio discutir o desenvolvimento de sérias patologias ligadas ao vício do jogo que levam à necessidade de recorrer a ajuda especializada.
Garantindo que as probabilidades não são favoráveis, e que apenas uma pequena percentagem, em raras ocasiões, consegue realmente ganhar, o académico lançou uma pergunta à audiência: “Se se joga apenas pela possibilidade de vir a ganhar e tão poucos realmente conseguem, porque é que as pessoas continuam a jogar?” Um aparente “paradoxo”, intimamente ligado ao verdadeiro motivo que leva as pessoas a continuar. A resposta, baseada em exemplos e casos práticos, foi rápida: “Enquanto jogamos a maioria esquece-se que o resultado é um mero produto do acaso.”
Dando inúmeros exemplos do que tem vindo a assistir em Las Vegas, Ladouceur afirma que frases como “vou vencer a máquina”, ou o facto de, quando estão a jogar à roleta, algumas pessoas analisarem os números que saíram anteriormente de forma a prever o resultado, mostram que uma grande percentagem se esquece de que se trata apenas de um fruto do acaso. Tendo inquirido vários indivíduos sobre o que comentam, manifestam ou expressam antes de lançar os dados ou indicar os números, apercebeu-se de que “75 a 80 por cento tem monólogos internos baseados em falsas percepções”. Por isso, se ouvem frases como “hoje é o meu dia para ganhar, perdi duas noites de seguida”, “estou numa maré de sorte” ou “a sorte tem de mudar”. Assim, salienta o académico, há um denominador comum a todos estes comportamentos: “todos estes indivíduos relacionam factores que são independentes por natureza”. Factores que podem ser “jogos anteriores, sensações ou outros”. Uma forma de tentar prever o imprevisível, remata.
O que acontece é que “a maioria pensará que tem uma estratégia qualquer”, quando, na realidade, se esquecem que “o resultado do jogo é fruto do acaso”. Porque é que tal sucede? A resposta certa não se sabe. “Talvez porque toda a nossa vida temos ouvido dos nossos pais e professores que temos de pensar nos eventos passados para aprender”, diz. Mas, adverte, “o jogo é a única actividade humana em que é inteligente não ter em conta eventos ou factores anteriores”.
Baseando-se em modelos de estudo determinados por investigadores dos EUA, Custer e Milt, o académico salienta que “ganhar logo no início uma grande quantia aumenta as expectativas, no sentido de encorajar a jogar cada vez mais – e tal deverá persistir mesmo depois de sofrer perdas”. Por isso, é que surgem comentários, no desenrolar de um jogo, como: “Não sabes jogar, não segues o padrão certo”. Sinais de alarme. Sintomas do desenvolvimento de uma patologia.
Dados teóricos que foram comprovados na prática por Ladouceur. Aliás, revela, a “maioria afirma no tratamento que teve grandes vitórias no início”. Em jeito de prevenção, o especialista alerta: “Atenção à forma como interpretam as vitórias.”
O académico divide os jogadores em quatro tipos: os que jogam raramente (baixo risco), os que o fazem por diversão (risco moderado), os que jogam esporadicamente (alto risco) e os que têm uma patologia (jogadores problemáticos). Pertencendo a maioria ao grupo de risco moderado, o académico não deixa de salientar que é preocupante que “cinco por cento da população total que joga tenha problemas”.
Como se identifica uma patologia? Quando se ouvem expressões como “jogo porque adoro baccarat” ou “não estou viciado, apenas adoro sentar-me numa mesa redonda”. São indícios de que aquela pessoa já “perdeu o controlo sob o jogo”, com as inerentes consequências para “a família e o emprego”, podendo, inclusivamente, “roubar dinheiro” e repetir, continuadamente, o jogo para “recuperar as perdas”. Quando se usa dinheiro que não se tem “significa que se está a tentar ganhar o que se perdeu”.
Coloca-se então a questão do tratamento. Citando Custer, um psiquiatra famoso na área, Ladouceur afirma que “só quando se reconhece que o dinheiro está perdido para sempre” é que se está “curado”. E quando se supera a “ilusão” de que “dinheiro ganho atrai mais dinheiro”. Mas, afirma, declarar a derrota face ao jogo é “muito difícil para o jogador”.
Assim, as componentes do tratamento psiquiátrico passam por “perceber o conceito de acaso, admitir e ter consciência das percepções erradas que levam a relacionar factores independentes por natureza, corrigir cognitivamente essas falsas percepções”. Os resultados poderão não tardar a surgir e, “daí a seis meses, pode estar curado”.
Luciana Leitão, in Tai Chung Pou
Activismo em Hong Kong
Segundo a edição de hoje do The Standard, os activistas que estiveram presentes na cerimónia da entrega da tocha olímpica na última Segunda-feira em Olímpia afirmaram que se manifestarão em Hong Kong caso a China não cesse as violações aos direitos humanos, afirmou uma fonte dos Repórteres sem Fronteiras (RSF). O grupo, sediado em Paris, pensa vir à RAEHK protestar contra Pequim, mas não confirmou qualquer data. O director da RSF para a Ásia, Vincent Brossel afirmou que “os recentes acontecimentos no Tibete estiveram na origem das acções levadas a cabo na Grécia” e que espera não ser obrigado a manifestar-se em Hong Kong, mas o fará caso seja necessário. A RSF está confiante que os cidadãos de Hong Kong os apoiarão, uma vez que “se preocupam com a situação dos direitos humanos na China Continental”. Brossel diz ainda que a RSF tem planos de entrar no continente através de Hong Kong, depois de lhes terem sido negados vistos de entrada em Dezembro último.
A vingança dos professores
Enquanto em Portugal se discute o castigo a aplicar à aluna da escola Carolina Michaelis acusada de agredir a professora de Francês, eis que em Hong Kong acontece um episódio em tudo diferente:
Um professor de um centro de explicações em Hong Kong foi condenado a três meses de prisão efectiva depois de ter agredido um aluno em plena sala de aula. Tong Chi-keung, 28 anos, professor de Matemática, “beliscou a face e bateu repetidamente na testa” de um aluno de 10 anos, por este ter feito vários erros num exercício. O juíz Garry Tallentire, do Eastern Court, considerou as acções de Tong muito graves, uma forma condenável de educar e um acto irreflectido. A agressão terá acontecido no último dia 13 de Fevereiro. O jovem ter-se-á queixado à mãe, que chamou imediatamente a polícia. A defesa alegou que o jovem discutiu com Tong e terá recusado obedecer às suas instruções.
Viram-se gregos
Portugal voltou a perder com a Grécia, desta vez num jogo amigável disputado em Dusseldorf, na Alemanha. A selecção, que jogou sem Cristiano Ronaldo, Nani, Maniche e Makukula chegou a estar a perder por 0-2, com golos do ex-benfiquista Karagounis, mas Nuno Gomes reduziu a dez minutos do fim. Esta é a terceira derrota consecutiva contra os gregos, depois do jogo de abertura e da final do Euro 2004.
Noutros jogos amigáveis, destaque para a reviravolta da Holanda, que depois de ter estado a perder 0-3 na Austria, venceu por 4-3. A França venceu a Inglaterra por 1-0 com golo de Ribery, de penalty, no jogo que marcou a 100ª internacionalização de David Beckham. A Espanha venceu a campeã do mundo Itália também por uma bola sem resposta, com golo de David Villa. O mesmo resultado obteve o Brasil contra a Suécia, com golo de Alexandre Pato.
Na Asia decorreu mais uma jornada da qualificação para o mundial de 2010 que terá lugar na Africa do Sul. A China empatou em Kunming com a Austrália por 0-0. O jogo ficou marcado por uma grande penalidade a quatro minutos do fim que o jogador chinês Shao Jiayi não conseguiu converter. Shao pediu desculpa aos colegas e adeptos, e assumiu que se a China não conseguir a qualificação, a culpa é sua. No outro jogo do grupo o Qatar venceu o Iraque por duas bolas sem resposta.
Noutros jogos destaque para a derrota do Japão (0-1) no Bahrein, da pesada derrota da Arábia Saudita no Uzbequistão (0-3) e do empate sem golos entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, jogo realizado em Xangai. Confira aqui os resultados e classificações da zona Asiática de qualificação para o mundial.
Nem Papa, nem juízes, nem polícia
quarta-feira, 26 de março de 2008
E eu que protesto por tudo e por nada
Dizem que foi a demoção da estátua de Ferreira do Amaral da rotunda com o mesmo nome, em frente ao Hotel Lisboa, que marcou o fim da influência portuguesa neste enclave do Oriente. Mas foi no dia 20/12 do ano de 1999, que a bandeira lusa deu lugar às duas que podemos hoje encontrar na grande maioria dos orgãos governamentais do território: a bandeira da RAEM (um amigo meu croata disse-me que era a bandeira da Adidas) e a da RPC. A nova RAEM era como um bloco de folhas brancas novinhas, prontas a estrear. O problema, passados todos estes anos, foram os cotovelos a esbarrar no tinteiro (sim, tirei esta piada da Mafalda, de Quino, e depois?).
Isto até não começou mal, vivia-se um ambiente de confiança pós-natal, um futuro que se queria brilhante. Depois veio o pânico do SRAS, e finalmente as novas concessionárias do jogo vieram trazer empregos para todos. Agora temos a inflação, o maldito dólar que nunca mais se endireita, a pataca debilitada, tudo com efeitos visíveis no qualidade de vida dos cidadãos. Só o preço do metro quadrado para habitação continua a ser apenas para “gente grande”. No fundo todas estas oscilações não são mais que o resultado de viver aqui encaixado entre um ou dois barris de pólvora e outras economias que viajam à velocidade da luz.
As manifestações sucedem-se, pois, e quem somos nós para dizer que os cidadãos da RAEM não podem exercer os seus direitos de associação e manifestação consagrados na Lei Básica? E olhando por exemplo aos cartazes que seguram durante as polémicas manifestações do 1º de Maio (e já só falta um mês!), pedem mais transparência, menos corrupção, insurgem-se contra o tal artigo 23, pedem mais emprego, fazem um escarcéu que deixam muitas cabecinhas pensadoras a discutir a legitimidade que a malta tem em passar pela Av. Almeida Ribeiro, ou perturbar a ordem pública, o comércio, o turismo e tudo mais. Há mesmo quem defenda que o feriado é para passear, fazer compras, ficar em casa de papo para o ar, ou ir à piscina com os filhos. Ora para esse efeito existem anualmente 21 outros feriados e tolerâncias. Nós que fomos abençoados com uma RAEM de inspiração budista e cristã, que nos permite usufruir de todos esses feriados. Disso não nos podemos queixar, sem dúvida.
Mas é só de transparência que vive o homem? E serão apenas os trabalhadores da construção civil que foram deixados de fora desta economia de sucesso? E que tal, sei lá, um punhado de cartazes que exigam mais qualidade nos cuidados de saúde, passando por mais um hospital público? E que tal exigir mais segurança nas escolas, ou que se apliquem, sem mais rodeios, as leis anti-tabágicas como já acontece na maioria dos territórios desenvolvidos na região? E que se tomem medidas reais para combater a inflação e o problema da habitação? E a poluição, e a situação caótica do trânsito e a falta de lugares de estacionamento? E o aumento da criminalidade violenta? Isto são problemas que não sairam da cabeça de meia dúzia de malucos. São problemas reais que afectam um segmento importante da população, mesmo que alguns prefiram sofrer em silêncio.
É que ao contrário de algumas opiniões congratulo-me que existam em Macau mecanismos, funcionem eles ou não, que permitam aos cidadãos expressar o seu desagrado e descontentamento por situações diversas. Se nos habituamos a comer calados, ficamos expostos às maiores atrocidades. E não é que esses mecanismos resultem sempre. Basta olhar para o caso do edifício na Calçada do Gaio que vai eventualmente tapar a visão do Farol da Guia. Apesar do bater de pé que chegou inclusive às autoridades da RPC, as obras não pararam um segundo. Mas negar aos cidadãos – por muito pouca razão que possam ter – o direito a expressar o seu desacordo com esta ou aquela política, esta ou aquela decisão, é das coisas mais anti-democráticas de que me consigo lembrar neste momento.
Acho bem que haja quem esteja satisfeito, e a vida não é só desgraças. Eu por exemplo até nem me queixo muito, só que aprendi a olhar para além da minha janela e não sei se é por inclinação ou dever moral que penso no sofrimento dos agregados familiares que vivem com menos de dez mil patacas por mês, ou dos jovens que querem casar e não têm meios de adquirir habitação própria. Se por acaso não fazer barulho ou não levantar ondas é alguma forma de demonstrar “amor à patria” (tão em voga nos últimos tempos), penso que deve ter havido aí algum engano. É que antes de criticar e acusar convem saber porque fazem barulho, e se já esgotaram a via do diálogo. E nem todos têm a oportunidade de conviver de perto com a cúpula do poder, ou trocar opiniões, às vezes à mesma mesa, com quem está no centro das esferas de decisão. Já dizia o povo e com razão: em casa onde não há pão…
Parece-me bem que o Chefe do Executivo venha agora apelar às associações locais que profissionalizem a sua vertente política e que passem a intervir mais na vida política de Macau. Não chega só apontar os problemas, há que pensar também nas soluções. Assim sim, que pelos vistos andar a depender dos “tai-lous” foi chão que nunca deu uvas. Dá para acreditar em politicos de “part-time” que utilizam um sistema eleitoral que se quer democrático para serem eleitos, e irem para a Assembleia tratar da sua vidinha e dos seus negócios? Que têm os filhos a estudar (e em muitos casos a residir) no estrangeiro? Será que eles próprios acreditam no futuro da RAEM ou é esta apenas vista como uma oportunidade de negócio, uma máquina de fazer dinheiro?
É bom que os que acreditam na RAEM e querem permanecer nesta terra e que querem um futuro para os seus filhos que não passe pela emigração ou o regresso ao “país de origem” se comecem a mexer, por assim dizer. E era bom ver a nossa comunidade expatriada começar também a intervir mais na vida deste território onde, no fim de contas, já passaram ou vão passar uma grande parte das suas vidas, em vez de se preocuparem tanto com as venturas e desventuras do nosso longínquo país em bolandas, e que já só serve praticamente para ir de férias. Já fui acusado aqui de pintar um retrato negro do que passa em Macau, mas com o que é bom posso eu muito bem. Não faz sentido tocar o sino de hora em hora durante a madrugada berrando “all is well”.
Hoje Macau é vencedor
O Hoje Macau reuniu quase a maioria da preferência dos leitores do Bairro do Oriente, vencendo a votação "qual o melhor jornal em português de Macau", com 52 dos 115 votos expressos. O segundo lugar foi para o Ponto Final com 32 votos, e o terceiro com foi o Jornal Tribuna de Macau com 25 votos. O Clarim, o semanário da igreja católica de Macau reuniu a preferência de apenas seis leitores. Mais uma vez obrigado pela participação e fiquem atentos no futuro para novos polls.
Quinas cá, Tuna lá
A selecção portuguesa de Portugal pode voltar a Macau já em Junho do próximo ano. A selecção das Quinas vai defrontar a China em jogo amigável no território, que assinala o décimo aniversário do regresso de Macau à mãe pátria. A selecção jogou no território pela última vez em em 25 de Maio de 2002, durante um estágio para o mundial da Coreia e do Japão, de má memória para as cores lusitanas. Na altura Portugal venceu a equipa da RPC por duas bolas a zero, com golos de Nuno Gomes e Pauleta.
Entretanto a Tuna Macaense vai actuar nos Jogos Olímpicos de Pequim, noticiava o JTM na sua edição de hoje. Segundo Jorge Manhão, a Tuna deverá actuar na cerimónia de encerramento dos jogos. O agrupamento macaense está entretanto a preparar o seu novo álbum, intitulado "Macau Património Mundial".
Dez anos de Viagra
Passam amanhã dez anos desde que a Pfizer lançou no mercado o Viagra. Depois dos anti-depressivos, soporíferos e outros pequenos milagres, estava encontrada um solução para um tema que era quase tabu: a disfunção eréctil. Deixou de ser uma vergonha e um problema sem solução, o Viagra fez a alegria dos lares onde, erm, a bandeira andava há muito tempo baixa.
Foi uma alegria para novos e velhos. Imediatamente choveu um rol de innuendo e foi criada uma secção praticamente nova do anedotário nacional. Os velhinhos e as velhinhas ganharam um novo alento e, apesar das contra-indicações médicas, os jovens tiveram também curiosidade em experimentar.
Trata-se no fundo de Citrato de sildenafila. Parte do processo fisiológico da erecção envolve o sistema nervoso parassimpático causando a libertação de óxido nítrico (NO) no corpo cavernoso do pénis. O NO liga aos receptores da enzima guanilato ciclase o que resulta em níveis aumentados de guanosina monofosfato cíclico (GMPc), induzindo a musculatura lisa do corpo cavernoso ao relaxamento (causando vasodilatação), resultando num influxo maior de sangue, que é a causa da erecção. O sildenafila é um potente inibidor selectivo da fosfodiesterase tipo 5 específica do GMPc (PDE5), que é responsável pela degradação do GMPc no corpo cavernoso do pénis. Simples, não é?
Já agora, será que alguém ainda se lembra do embaixador da disfunção eréctil? Era Edson Arantes do Nascimento, vulgo Pelé. O "rei" decidiu dar a cara por um problema que atinge a maioria dos homens na terceira idade (sim, é verdade), mas fazia sempre questão de mencionar que não sofria da maleita. "Eu não tenho, mas se tivesse, procurava um médico" ou "se eu sofresse de disfunção eréctil procurava ajuda!". Não fosse alguém pensar que o Pelé, que marcou mais de mil golos nos relvados, não conseguia marcar em casa. Parabéns, Viagra!
Comunistas suecos
Мумий Тролль - Дельфины
Os russos Mumiy Troll (Мумий Тролль), de Vladivostock, são provavelmente o grupo rock mais popular do leste europeu, mesmo antes da queda da cortina de ferro. Fica aqui o single de 1997, que fez um imenso sucesso, Dolphinya (Дельфины), do álbum Ikra (Икра). Dedicado à comunidade russa em Macau.
terça-feira, 25 de março de 2008
Há batota
É com apreensão que leio hoje nos jornais que são cada vez mais os cidadãos que recorrem a meios ilícitos de modo a obter certificados académicos falsos para concorrer a postos de trabalho em Macau. Poupem-me aos detalhes de se a Universidade onde os diplomas foram obtidos funciona desta ou daquela forma. Se os alunos não 1) assistiram às aulas e 2) fizeram os repectivos exames então não vale, e cabe às autoridades de Macau verificar, antes de mais nada, se a tal Universidade existe (por vezes nem existe…). Se a questão passa pela competência/inteligência do aluno ou alunos em causa, este não terá dificuldade em submeter-se a um par de anitos de aulas e a respectiva avaliação.
E se por acaso alguns destes pseudo-diplomados obtiveram colocação ou progrediram nas suas carreiras, isso terá sido devido a algum laxismo dos responsáveis das empresas que permitiram que isto acontecesse, e é natural que os restantes candidatos a esses mesmos postos/promoções se sintam prejudicados e venham dar um murro na mesa. No fundo trata-se de obter “um papel”, partindo do princípio que todos têm mais ou menos a mesma capacidade para desempenhar funções que não exigam abrir caixas toráxicas ou operar reatores nucleares. A triste realidade é que em Macau ainda se promove o nepotismo e a preguiça. Ainda se “vai lá” com um empurrão de mão amiga, ou amiga da amiga.
Ainda me lembro dos gloriosos tempos em que as cartas de condução podiam ser obtidas nas Filipinas a troco de uma mão cheia de patacas. Isto apesar de não estar certo, até não tinha assim tanta importância, desde que o fulano soubesse pelo menos conduzir. Além disso era necessário proceder ao exame de condução em Macau para que a carta fosse reconhecida. A “carta Filipina” servia apenas para escapar ao enfado das aulas e dos meses que todo o processo demorava. Diz-se também que naquele arquipélago os piratas da falsificação eram capazes de decalcar qualquer diploma que fosse, de qualquer universidade. Não existia papel, selo, assinatura ou lacre que não fossem capazes de reproduzir de forma quase imaculada.
Para um território com meio milhão de habitantes e pouco mais de 20 km2 Macau está bem servido de instituições de ensino diurno e nocturno. Senão vejamos, temos a UMAC, o Instituto Politécnico, a Univ. de Ciência e Tecnologia, a escola das FSM para as policias, o Instituto de Formação Turística de onde sai o contigente que preenche os lugares da cada vez mais exigente indústria hoteleira, e até a Universidade Aberta que promove o ensino à distância para os alunos que por alguma razão não possam frequenter as aulas. Com a honrosa excepção de médicos, dentistas, veterinários, farmacêuticos e outros químicos, nem há necessidade de ir estudar lá fora.
Se por acaso alguns pais acham bem que os seus educandos adquiram alguma experiência de vida e conheçam o mundo, sempre os podem inscrever numa Universidade estrangeira, cuja maioria não emite diplomas por toma lá aquela palha. Respeito, mas contudo não compreendo esta decisão. À excepção dos exemplos que referi anteriormente, qual o propósito de frequentar uma universidade estrangeira, que em muitos casos nunca se ouviu falar (não é Harvard, Yale ou Oxford) para mais tarde se integrar no Mercado de trabalho de Macau? Se o propósito não é emigrar, deve-se tratar de algum tipo de preconceito quanto à qualidade do ensino em Macau, que é até na maioria dos casos ministrado por docentes não-residentes de elevadíssimo calibre. Entre alguém que estudou Gestão na UMAC ou na Universidade de Somewheresville (nome fictício), prefiro o primeiro, sempre tem o inside track tão necessário.
São as exigências do mundo moderno e globalizado. Antigamente tinhamos doutores de dois tipos: os médicos, e aqueles que, tendo frequentado uma Universidade (o que estava ao alcance de poucos), sabiam de tudo! Assim, dizem, se iniciou esta mania de chamar a toda a gente “sôtor”. Hoje em dia em é tudo mais fácil e a frequência de um estabelecimento de ensino superior depende na maioria dos casos da vontade do aluno nem se percebe porque se continua a recorrer a estes subterfúgios. É o vil metal que fala mais alto. E não fosse Macau a meca do jogo, há batota.
Considerações feitas ao sabor de uma chávena de chá (numa tarde cinzenta)
São quatro da tarde quando escrevo estas linhas. Está uma tarde cinzenta, com um tempo que nos habituámos a descrever como “de chuva”. Quando era miúdo ouvia sempre os mais velhos dizer “está de chuva”, estado do tempo que podia durar uma semana sem que caísse uma gota. E é escrevendo estas linhas, contemplando esta cidade, também ela cinzenta, e tomando o chá Massala que trouxe da minha última viagem à Índia, enquanto aproveito para desfolhar as páginas da imprensa de hoje.
No PF fala-se da lei da paridade, que obrigou neste caso José Pereira Coutinho a incluir um terço de elementos do sexo feminino na lista para o Conselho das Comunidades. Eu até sou contra qualquer forma de discriminação, mesmo a positiva, mas isto só quem sente na pele é que sabe exactamente do que se trata. O mesmo se aplica para os figurões que acham que a emancipação das mulheres “acontece naturalmente”. Aconteceu para elas, sim. Podem falar.
Leio que os vinte jovens envolvidos nos confrontos em Hac-Sá na noite do dia 13, dos quais resultaram três feridos, agrediram-se mutualmente porque os elementos de um grupo fizeram “olhares antipáticos” a outros. Mas que diabo. Ninguém ensina aos jovens que este tipo de comportamentos é digno dos ursos, dos cães ou de outro tipo de quadrúpede? Aceita-se que sejam comportamentos típicos da juventude, mas entrar numa autêntica batalha campal por causa de uma cara feia, haja dó.
As concessionárias de transportes públicos começam a ver a vida a andar para trás, à medida que se vão repensando o papel dessas mesmas companhias, passando sempre por eventuais cortes, claro. Não me surpreende que se exaltem agora com conceitos do tipo “avaliação da qualidade dos serviços prestados” ou com qualquer outra ideia que inclua a palavra “qualidade”. Eles que – especialmente nos últimos dois ou três anos – prestaram um serviço medíocre, em que chegam a tratar os utentes como gado.
Parei esta manhã no THS Honolulu da Rua do Campo para beber o habitual café das dez, e quase que me caía a alma aos pés quando descobri que em menos de duas semanas a “bica” aumentou de dez para treze (!) patacas? Um aumento de 30%, que atinge o bolso como um raio, dúvidas houvessem sobre os efeitos da inflação no dia a dia de um expatriado. Que o digam os compatriotas que ainda têm que pagar as contas em Portugal e vêem a Euro a subir vertiginosamente em relação à pataca.
Encontrei-me hoje à hora de almoço com o meu amigo L. no Centro Hospitalar Conde S. Januário, onde nos dirigimos ambos para uma consulta. Fazia anos que não entrava no CHCSJ, juro (a consulta não era urgente…) e já me tinha esquecido da elevadíssima qualidade das instalações e do equipamento, e porque não dize-lo, dos profissionais de saúde que coitados, fazem o que podem. O pior é o resto. E que resto!
Disney de Hong Kong bate no fundo
O parque de diversões da Disney em Hong Kong, inaugurado em 2005, está a bater no fundo da lista dos 25 parques de diversões mais visitados do mundo, cinco lugares atrás do seu maior rival da RAEHK, o Ocean Park, segundo a Themed Entertainment Association and Economics Research Associates. O parque da Disney desceu de 18º para 21º, enquanto o Ocean Park subiu de 21º para 16º
Os cinco parques mais visitados do mundo são o Magic Kingdom in Florida (17 milhões de visitas por ano), seguido da Disneyland da California (14.8 milhões), a Tokyo Disneyland (13.9 milhões), Tokyo DisneySea (12.4 milhões), e Disneyland Paris (12 milhões). A Disney de Hong Kong recebeu apenas quatro milhões de visitantes entre Agosto de 2006 e Setembro do ano passado, um decréscimo de 23% em relação ao primeiro ano de operações.
O parque foi inaugurado em Setembro de 2005, como uma tentativa de reavivar a indústria do turismo, bastante fragilizada pelo surto da SRAS em 2003. O prejuízo que o parque tem tido causou sérias dúvidas ao investidores da Disney em Hong Kong, enquanto o director-geral da Conselho do Turismo de Hong Kong, Joseph Tung Yao-chung, acusa os responsáveis de "primativismo", e de não conseguirem trazer ao parque as últimas atracções, ao contrário dos seus homólogos japoneses, americanos e europeus.
...E deu merda
New Yaohan em Maio
É para aqui que se vai mudar o New Yaohan em meados do mês do Maio, na Av. da Praia Grande, junto ao edifício AIA e ao casino Grand Emperor. Bastante mais conveniente para a população que trabalha e vive perto do centro, sem dúvida. As instalações actuais, perto do terminal de Jetfoil, darão lugar a um novo projecto de hotel-casino do magnata do jogo Stanley Ho.
Estejam alerta!
Hoje regressamos a Cuba. Este poster refere-se à invasão da Baía de Porcos em Abril de 1961, quando 1300 exilados cubanos, treinados pela CIA, desembarcam em Cuba numa tentativa de derrubar o regime de Fidel Castro. O resultado foi desastroso, pois não conseguiram o apoio da população da ilha, e foram derrotados em poucos dias.
segunda-feira, 24 de março de 2008
O que não mata...
Certo dia estava um senhor num restaurante, quando lhe chega o empregado trazendo o polegar dentro da sopa. Ao que lhe pergunta o senhor, com um ar revoltado:
- Então é assim que me traz a sopa? Com o seu dedo lá dentro?
- É que tenho uma infecção no dedo e o médico disse-me para mante-lo num lugar quente. – Respondeu o rapaz.
- E porque é que é que não o enfia no cú? – Pergunta o cliente furioso.
- E onde é que pensa que estava antes de o pôr na sopa? – Remata o empregado.
E “prontos”, deu-se a súbita constatação do óbvio: muitas, talvez a maioria das tasquinhas e casas de pasto de Macau funcionam sob condições de higiene duvidosas. Segundo o deputado Pereira Coutinho, e conforme noticiado na edição de hoje do HM, as condições sanitárias de muitos restaurantes deterioraram-se desde que a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) deixou de ter autoridade e competência criminal para fiscalizar e penalizar os estabelecimentos de comidas em infracção. Enquanto em Portugal toda a gente se queixa do “excesso de zelo” da ASAE, em Macau os ratos, baratas e outras pestes enchem a barriga à custa do pobre consumidor.
Já dizia a minha avózinha que “o que não mata engorda”. Mas a velhinha entrava por vezes em contradição quando dizia também “não mata mas mói”. É possível que não seja muito comum encontrar casos gritantes de intoxicações alimentares no território, mas a quantidade de micróbios e bactérias que entram para o bucho terão certamente as suas nefastas consequências no futuro. Aliás, muitos dos leitores já terão certamente experimentado esta ou aquela indisposição acompanhada por esta ou aquela diarreiazita, que normalmente uma Coca-Cola resolve, e que vai com um comentário do género “deve ter sido qualquer coisa que comi”. Qualquer coisa e em qualquer sítio, lógico.
Aliás basta olhar para as cozinhas destes ditos estabelecimentos para perceber que não se trata do Ritz Carlton. Indivíduos que cozinham de tronco nú (if you can’t stand the heat…como dizia o outro), de cigarro no canto da boca, que usam a mesma frigideira e o mesmo óleo (o tal que os chineses chamam “de mil anos”) para cozinhar todos os tipos de pratos, os fregueses descalços com os presuntos em cima das cadeiras, e se por acaso já tiveram a sorte (ou azar) de assistir ao almoço do pessoal da cozinha, que se dá lá pelas três da tarde, o cenário torna-se ainda mais aterrador. Não surpreende portanto que apareçam os habituais cabelos ou pestanas na comida, e em alguns casos mesmo uma barata morta no min, ou como já me chegou a acontecer, e juro que é verdade, uma unha no pão com costeleta, vulgo chu pa pao.
Talvez esta falta de fiscalização seja mais um dos efeitos colaterais do tal laisser faire de que tanto se fala por aí agora, que já fez até que a situação do mercado imobiliário batesse no fundo. Quem esfrega as mãos de contentes é a malta da restauração. Afinal porque teriam de ser penalizados se deixaram cair o pão no chão onde centenas pisam, se caiu um burrié no guisado, ou se por acaso a carne permaneceu no congelador muito além do prazo recomendável? E deitar comida fora, não é pecado? E os senhores lá em casa, nunca se esqueceram de lavar as mãos depois de trocar a fralda do puto enquanto faziam o jantar? E aquele nefasto hábito de levar a colher de pau à boca para saber se a sopa está boa de sal?
Como tudo aqui na Cidade do Santo Nome de Deus, parece que vamos ter que esperar uma tragédia ou algum caso grave de perigo para a saúde pública para que se tenha mão na situação. É sinal que somos felizes. Entretanto continuamos a depender da sorte para que não nos calhe um cozinheiro que tenha um dedo infectado como o rapaz da anedota, ou que não tenha um ataque de catarro enquanto faz a salada ou que não seja daqueles que “chove quando fala” enquanto nos frita as batatas. E não é que a minha avózinha talvez tivesse razão? O que não mata…
Lilau é fado
Uma colega com que trabalhei em tempos dizia-me bastas vezes que "o que faz falta em Macau é uma casa de fados". Sabemos que isto em termos de logística é bastante difícil, para não dizer impossível. Era preciso encontrar um grupo de amantes do fado que fizesse valer uma casa que precisaria de um(a) cantor(a) residente e dois guitarristas, pelo menos. Foram feitas algumas experiências no passado com resultados inconclusivos, mas olhando para o que aconteceu com o Clude de Jazz, por exemplo, ia ser difícil para a tal casa de fados sobreviver.
Já o meu pai, um amante da canção-destino nacional, dizia que a essência do fado era "uma viela, uma guitarra, uma rua escura" e outras parolices típicas dos amantes do fado de Lisboa (v. Canção de Lisboa, Jorge Palma). Mas é quando me sento de noite no Lilau que entendo isto como ninguém. A calçada à portuguesa, as lanternas amarelas, a rua estreita e ingreme, o quiosque no meio do largo. Nas noites mais frias dá quase para ouvir o som de uma guitarra.
Agora que se fala tanto de criar no Bairro de S. Lázaro um centro de indústrias criativas, resta-me pensar o que seria se alguém se lembrasse de aproveitar esta lindíssima zona do Lilau. Se calhar estragavam-na. Sendo assim prefiro levar para lá o meu iPod nas noites em que procuro alguma inspiração. Lilau é fado.
Suicídio na MUST
Uma rapariga do continente suicidou-se ao saltar do sexto andar do campus feminino da Universidade de Ciência e Tecnologia (em inglês MUST) na manhã do passado dia 21. As versões são divergentes; há quem diga que a jovem sofria de disturbios emocionais derivados de problemas de relacionamento com um "namorado estrangeiro" que terá conhecido durante um estágio nos Estados Unidos da América, outros alegam eventuais problemas financeiros. O presidente da Associação de estudantes da MUST, Tai Kai Pong, apelou a todos os estudantes do continente que tenham dificuldades de integração que procurem ajuda dentro da associaçãoou do Centro de Apoio Psicológico da Universidade.
Kevin Rudd acusado de aceitar presentes de Stanley Ho
As ligações a Stanley Ho voltam a dar que falar. Agora foi a vez do primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, ter sido acusado de ter recebido "presentes do magnata do jogo", como referiu o jornal britânico The Independent.
As acusações surgem quatro meses depois de Rudd ter sido eleito, e as alegações de que o agora governante, mais alguns ministros do seu governo, receberam presentes de Stanley Ho reportam-se aos tempos em que ainda estavam na oposição.
Na verdade, quem terá pago um total de 16 viagens a países estrangeiros a Rudd e outros políticos do Partido Trabalhista foi Ian Tang, empresário chinês que é sócio de Stanley Ho num projecto imobiliário em Pequim.
O problema, como o The Independent coloca, estará também relacionado com o facto de Kevin Rudd, conhecido como um "católico devoto", ter declarado já a intenção de abordar em termos políticos os crescentes problemas do jogo na Austrália. O primeiro-ministro disse mesmo detestar "máquinas de jogo" e o seu impacto nas famílias.
Ora, a revelação de que Rudd ajudou ao lançamento do centro comercial de Tang e Stanley Ho em meados de 2006 na capital chinesa valeu-lhe já epítetos como "hipócrita" e outros mimos por parte dos seus opositores.
Rudd admitiu que tanto ele como correligionários seus aceitaram viagens pagas pela empresa de Tang, Beijing AustChina Technology, entre 2005 e Novembro do ano passado, o mês das eleições legislativas. A empresa de Tang doou ainda centenas de milhares de dólares ao Partido Trabalhista, mas também aos conservadores.
Rudd defende-se das acusações de que estaria em dívida para com Tang por causa das viagens, argumentando que esse tipo de prática é comum e que vários políticos na oposição viajam para o estrangeiro em circunstâncias semelhantes. "É apenas a realidade", disse Rudd à Australian Broadcast Corporation. "Quando estamos na oposição e queremos fazer alguma coisa, por vezes temos que recorrer a financiamentos privados, para assegurar que algumas viagens são viáveis." Do mesmo modo, Rudd também afirmou que tanto as viagens como as doações foram declaradas no devido tempo. "A questão principal é a transparência", afirmou.
Nas viagens em causa, Kevin Rudd, que é fluente em mandarim, deslocou-se a Pequim para a inauguração do projecto de Tang e Ho, mas também visitou os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e o Sudão.
A empresa de Tang, que importa produtos de telecomunicações australianos, declarou, por seu turno, que não houve compromissos devido às viagens. Apenas serviram, argumentou-se, para fomentar interesse político na China.
Em todo o caso, como concluiu o próprio jornal inglês, este episódio acaba por se virar contra os próprios instigadores das acusações. Ou seja, Kevin Rudd já teve oportunidade de demonstrar, na sua defesa, que há diversas provas que ligam o anterior governo australiano à empresa de Tang. Como Rudd afirma, "acho que existe aqui um claro caso de duplicidade de critérios."
In Ponto Final