sábado, 20 de fevereiro de 2016

Chuchú bandêra maquista! Parte III: Qui ngao sôk astrevido!


Esta é a terceira parte do artigo que dedico a uma polémica recente e ainda actual, que além de prometer dar ainda muito pano para mangas, serve ainda de pretexto para FINALMENTE exprimir algumas ideias que andavam por aqui à espera da obra ficar concluída para poder ir para lá morar no apartamento novinho em folha, e pago a pronto desde o tempo em que no lugar do prédio não havia mais nada senão um pântano. Parece que tive sorte, atendendo ao actual estado de coisas, em que afinal nem "tudo o que parece, é" - ao contrário do que alguém dizia a propósito da política, alguém esse que não vou citar por motivos que se prendem com certas convicções, e...


Ora essa! Querem lá ver isto, ou recorrendo a uma expressão local muito pitoresca, "tem diabo"? Mas já que abri as hostilidades, vamos então directamente ao assunto. Este excerto de um artigo de opinião do Jornal Tribuna de Macau, datado da semana seguinte aos de Miguel Senna Fernandes e André Ritchie, é assinado pelo honorável António Marques da Silva, que é actualmente "apenas" meu colega, quando antes era meu colega "a dobrar". Eu explico: tanto eu como o sr. Marques da Silva estamos ligados à mesma direcção de serviços, desempenhando ele o cargo de jurista, e eu de oficial de registos, e até ao ano passado ambos "suávamos a camisola" do Hoje Macau, até o meu caro ainda meu colega, mas em "mono", ter mudado a tenda da argumentação para a Calçada do Tronco Velho. Explicado que está, confesso que precisei de reler a passagem mais que duas vezes, pois fiquei sem entender muito bem o seu sentido, e por instantes cheguei a pensar que o Hoje Macau estaria envolvido em alguma teoria da conspiração, ou algo desse tipo. Mas lá está, as coisas podem ser escritas e ditas com as mesmas palavras, mas entendidas de maneira diversa pelo receptor, conforme o caso. Aqui fica então bem claro, que a "coincidência" de que o sr. Marques da Silva fala prende-se com o facto dos artigos em questão terem sido publicados na mesma semana, e não no mesmo média. Se estiver enganado, podem depreender facilmente que não será por maldade da minha parte, e peço que me corrijam se estiver enganado. Adiante. 

O título do artigo assinado por Marques da Silva tem um título assaz curioso, e apesar de inicialmente não ser a minha intenção explicar as coisas tintim por tintim, já se percebe que nesta selva é melhor nenhum macaco deixar a cauda de fora: "Quem não sente não é filho de boa gente" é um provérbio popular, e que não implica necessariamente que fulano seja filho de outrano no contexto de qualquer discussão em que se traga a liça esta expressão. Tenho deparado com muita desonestidade neste particular, permitam-me o desabafo, e chegam a ficar coisas importantes por dizer, ou dúvidas por esclarecer, e tudo porque há sempre um ou outro ego mais inflamado a quem a conversa não agrada, e acha que é melhor "acabar com a festa" e mandar toda a gente para casa. E aqui, meus amigos, e lamento ter que me socorrer deste exemplo, mas como é fácil de perceber, é  aquele do qual tenho mais referências: os portugueses têm este defeito, entre outros, e mesmo que todos os povos, culturas e civilizações tenham os seus defeitos, assim como as suas virtudes, esta era uma daquelas coisas que traria mais vantagens se passasse para a segunda barricada desta  dialéctica. O consenso não é o nosso forte, e nem o evento da liberdade que nos trouxe o direito à opinião nos serviu de melhoras, antes do contrário: ainda se confunde "liberdade" com "rédea solta", "contraditório" com o "do contra", e tudo isto bem regado com uns tantos quartos de má vontade.

O sr. Silva Marques, que se por acaso acompanha alguma da minha prosa (e pelo menos em termos de quantidade ninguém se pode queixar, modéstia à parte) entenderá certamente que não vou comentar alguns aspectos do seu texto com a finalidade de o destituir de credibilidade, ou ler nas entrelinhas algo que não está lá expresso, preto no branco, e tal com o meu amigo, "debato ideias, e não pessoas". Mas se por um lado, e voltando à citação do ditador do Vimieiro, se em política "o que parece é", das pessoas na política, ou "políticos", pode por vezes dar-nos vontade de dizer a alguém "isto nem parece seu". Não faço ideia de qual foi a intenção do Miguel Senna Fernandes, mas tal como eu, o meu caro Silva Marques tem em conta a pessoa. Fosse alguém de quem nunca ouvimos falar a produzir as mesmas declarações, e ficávamos com uma impressão completamente diferente. E não seria uma boa impressão, penso que estamos de acordo nesse aspecto. Mas voltemos então às ideias, e deixemos as pessoas de lado. Há um ou outro aspecto do seu artigo que gostaria de abordar, não com o intuito de refutar seja o que for, mas antes de deixar para memória futura uma hipótese alternativa que explique aquilo que se calhar muita gente não consegue entender. 


Aqui, por exemplo, o estimado colunista do JTM entra por um campo onde há muito mais para ver do que aquilo que está ao alcance da vista. Eu não entendo este aspecto muito "sui generis" da vivência lado a lado com as esta cultura, uma das muitas com que partilhamos este bocadinho, como sendo uma coisa "má". Fiquei a saber por si através deste seu artigo que reside em Macau há tanto tempo quanto eu, e se por um lado isto nos dota de uma maior sensibilidade para lidar com certos pormenores, do que alguém que tenha chegado mais recentemente, não fomos "programados" para gostar das mesmas coisas ou pensar da mesma maneira. Talvez por isso, e apenas no que a este caso particular diz respeito, é possível que eu tenha demorado mais tempo até chegar a uma conclusão definitiva. E assim, sem querer aprofundar o porquê de isto acontecer, qualquer pessoa com dois dedos de testa vai entender esta situação da mesma forma que o Silva Marques: se estavam a falar em Português, e mudaram para chinês quando eu me viram a aproximar, não querem que eu entenda a conversa. Certo, e não discuto este ponto de vista, apesar de mesmo assim não se aplicar sempre a todas as situações, deixe-me antes perspectivar as coisas de outro ângulo, e colocar-lhe duas questões: 1) o que lhe garante que estariam a falar de si, e 2) acha que a conversa poderia possivelmente ter algum interesse para si? Pois é, quando isto acontece com os portugueses em Portugal, por exemplo, calam-se quando percebem que chegou alguém de que estavam a falar, deixando no ar um manto de silêncio mais conclusivo do que mil palavras. Aqui temos esta particularidade de se poder mudar de língua, mas sabe o que é que eu acho que acontecia se estivessem MESMO a falar de si? Calavam-se, também. Talvez seja da própria natureza humana, sei lá, mas nesta situação o normal é accionar-se o mecanismo do "silêncio comprometedor", pois nem toda a gente tem o sangue frio para se comportar como se não fosse nada.

Este fenómeno tão peculiar, e que eu por brincadeira costumo designar por "Nicam" é uma daquelas especificidades de Macau, e nunca poderia deixar de ser assim. Se temos duas culturas e duas línguas distintas no mesmo espaço, é perfeitamente normal que alguns dos seus elementos fale ambas - ou nenhuma delas, e aqui o inglês serve também de denominador comum para quem não entende nenhuma das duas línguas oficiais. O Marques da  Silva conhecerá outras pessoas que eu não conheço, e vice-versa, mas quanto à primeira parte desta afirmação, posso quase com 100% de certeza garantir que é verídica: não conheço nenhum macaense que comunique em Português com outro macaense no seu dia-a-dia, em circunstâncias normais, e se a conversa for apenas entre eles. Quem diz dois, diz três ou quatro, pois mesmo que dominem ambas as línguas, com mais ou menos diferenças entre eles, é sempre pelo cantonense que optam para comunicar entre eles, e porquê? Ressentimento? Despeito? Submissão aos novos governantes? E porque terá que ser tudo assim tão mau, feito de má vontade e com um fundo mau com vista a atingir fins obscuros e pérfidos? Eu diria que isto acontece simplesmente porque...estamos na China. Touché. Não sei como é em casa de cada um, pois a única família macaense que tenho é o meu filho, que fala comigo na minha língua materna, e com a mãe dele na língua materna dela - é bilingue, portanto, e tem noção de qual das duas línguas que fala deve usar, com quem, e em que circunstâncias. 

Penso que aqui quem terá mais razões de queixa serão os chineses que falam apenas cantonense. Sim, e não vale a pena começar com rodeios, porque já assisti a situações destas vezes sem conta: as únicas vezes em que esta vantagem é usada como "arma" (salvo seja), a "vítima" são os chineses que não entendem português. Mas atenção, que isto vai acontecendo cada vez menos, e também vai sendo menos frequente ouvir os chineses queixarem-se deste "problema". Por outro lado, ainda existe da parte destes o preconceito de que isto pode mesmo acontecer, bem como a tendência para  fazerem  a mesma interpretação do autor do artigo, caso isto aconteça na sua presença. Eu sinto-me confortável com tudo isto, e porquê? Não devo, portanto não temo, e eu próprio não me vejo a falar noutra língua com uma pessoa que domina a mesma, só porque na mesa do lado há um badameco qualquer que pode ou não desconfiar que estamos a falar dele. Se por acaso isto incomoda muito, sempre se podem adquirir algumas noções da OUTRA língua, e nem sequer é estar a pedir muito, pois também é OFICIAL. Estranho para mim seria chegar perto de dois portugueses, e estes desatassem a falar húngaro um com ou outro ao se aperceberem da minha presença. Os meus colegas bilingues, por exemplo, chegam a exagerar com os cuidados que exercem comigo neste aspecto, chegando a traduzir-me coisas que falam entre eles, e que sinceramente não me dizem nada - e nem eu lhes pedi que me actualizassem, deixo isso bem claro. Se eu estiver a participar da conversa, não me importo mesmo nada que em durante a mesma falem em cantonense uns com os outros, e a única razão que me ocorre quando o fazem é meramente prática, e  apesar do meus conhecimentos em relação ao seu idioma serem parcos, eles têm plena consciência de que não sou nenhum cego ali perdido num tiroteio, e que é muito provável que entenda muitas partes da conversa, ou pelo menos o tópico que discutem.

Mas pronto, para efeitos de argumentação, e para que ninguém se queixe que ficou de fora desta caldeirada, digamos que isto aconteceu, ainda acontece, e pode ser que ainda haja quem pense que esta conduta se justifica nesta ou naquela situação, tudo bem, e porque é que esta tromba de água se levanta? Talvez porque tenham mesmo existido fricções no passado, em número e grau muito maior, e para citar um exemplo flagrante temos o caso de Manuel Coelho da Silva, antigo presidente do ICM, que teria afirmado qualquer coisa como "os macaenses são eunucos culturais". Palavras fortes  que, e nem é preciso explicar porquê, prejudicaram a quem elas ficou associado, e apesar do processo judicial que se seguiu a uma queixa por difamação, o mal estava feito, as feridas ficavam abertas, e do outro lado da barricada é possível que haja quem nunca tenha esquecido e perdoado, e pior do que isso, generalizado. Não devemos generalizar, e quer para mim, que cheguei durante a Administração Portuguesa, quer para os que chegaram depois de 1999, há gente boa e má em toda a parte, de todas as cores, formas e feitios, e se calhar até é possível que não exista assim tanta gente tão má quanto se pensa, e talvez se nos "atrevermos" a derrubar as barreiras do preconceito, e primarmos pela sã partilha de ideias, vivências e pontos de vista, em vez de andarmos de costas viradas com o argumento de "evitar conflitos", ficássemos com essa percepção, também. E é a conversar que a gente se entende, no fundo.


Esta é outra parte onde talvez o "líquido" das ideias se mistura com o das pessoas, mesmo que não tenha sido essa a intenção do autor do artigo. Começando pelo fim, ao contrário do meu caro Silva Marques, achei a situação descrita no artigo do André hilariante - diferenças que se prendem com gostos no que toca ao sentido de humor, certamente. Mas deixando isso de lado, e fazendo fé na autenticidade e rigor do episódio que o colunista do Hoje Macau descreve, não entendo bem esta distribuição nada salomónica da indignação. Pessoas à parte, como convém, eu coloco-me no lugar do André, e considero antes de muito mau gosto que se utilize este tipo de linguagem com uma criança de cinco anos, e como pai é possível que a minha reacção fosse mais brusca do que adoptada pelo relatador do incidente - digamos que pelo menos de um "hora e local pouco apropriado para a prática da prostituição, não acha?" a tipa não se livrava. E reitero mais uma vez: a fazer fé na autenticidade dos factos, pois caso contrário vira-se o feitiço contra o feiticeiro. Mas nesse caso tudo aquilo que se está aqui a debater passa a constituir elemento de prova, não é mesmo? Finalmente:


Antes de concluir esta análise, e para que não fiquem dúvidas, sei que o sr. Marques da Silva é uma pessoa de bem, e nem estaria aqui a discutir fosse o que fosse do que ele deixa bem claro como sendo opinião se disso tivesse qualquer dúvida. Mais à frente, quando for oportuno, falarei daquele interessante termo que usa no seu texto, "reinol", bem como no próximo artigo abordarei este tema da identidade, e assim evito repetir-me. No entanto, e quanto à Escola Portuguesa, lamento não poder concordar ou partilhar do optimismo de Marques da Silva, especialmente quando nos chegam mais uma vez sinais de Lisboa sobre a "inviabilidade" do projecto. Como a memória não é curta, recordo-me do entusiasmo inicial, da importância de manter a presença da língua e cultura portuguesas na nova realidade que é a RAEM, tudo juras de amor eterno que não vinham com "mas" nem "ses", ou que ficassem reféns das vontades aleatórias dos sucessivos governos de Lisboa. Se calhar não lemos as letras miudinhas em baixo no contrato. Agora, tanto eu como o Marques da Silva sentimos por Macau o mesmo, ele faz-me crer que sim, e assim sendo, somos todos membros integrantes da mesma comunidade: Macau. Pode não estar completamente errado quando fala da "vossa própria comunidade" quando se refere aos dignitários macaenses em causa, e certamente que não fez por mal, mas não foi mesmo por aí que começou toda esta hostilidade? Não é preciso pensar duas vezes antes de dizer ou pensar seja o que for. É só não se importar tanto com quem é o quê, ou quem manda.


Pensei duas vezes antes de incluir a contribuição deste cavalheiro para esta animada sardinhada, mas nem foi preciso meditar demoradamente para concluir que nem isto fazia sentido sem os elos todos da corrente, e ao contrário de outras pessoas não me intimido, e muito menos deixo a falar sozinho quem tiver qualquer problema com o que eu penso, digo ou faço. Pouco me importa se não vale a pena "perder tempo comigo", se ainda por cima "estou errado", ou não obtive o direito a ter voz obedecendo às regras não escritas que só são lei na cabeça de certas pessoas - melhor para mim, que assim não aturo ranzinzas a quem só falta um cajado para agitar no ar enquanto resmungam para que a caricatura fique completa. Mas passemos ao que me traz aqui, que a vida é curta e antes que demos por isso, já estamos nós na "gaveta", e outros no nosso lugar, sem que isso lhes incomode de todo. Não entendo qual é o propósito de vir dizer que "fica registado" tudo o que Miguel Senna Fernandes diz na entrevista de 4/1. Sim, e depois? Não me parece que esse registo seja exclusivo de um qualquer guardião do templo, ou encerrado na torre do tombo e acessível apenas a elementos da Opus Dei para cima, e o próprio Miguel veio duas semanas depois reiterar tudo o que disse. Ele lá dever saber porque disse, e se está tranquilo, é porque deve saber o que faz. Depois estamos todos cá para ver, e não é preciso avisá-lo, pois caso existam mesmo motivações marginais de alguma espécie, há mais do que um alfabetizado ciente e sóbrio para retirar as devidas ilações, só não sei é se entre esses se encontra a referida pessoa, até porque...


...o que interessa são os cãezinhos, coitadinhos. Com que então, o menino gosta de corridas de galgos, agora vai ficar sem o seu brinquedo, nha nha nha, toma toma toma, bem feita! Patético.


Uma das coisas que me fazem espécie é a mania que alguns "sabões" de levar à letra a expressão "a antiguidade é um posto". De facto pode ser que seja assim mesmo, se tivermos falar do posto de segurança de um edifício ou de um jardim público, que quando não são desempenhados por TNR, recorre-se a locais com "experiência", e aqui leia-se "que são velhos demais para o corpo de polícia". E assim sendo, penso que não será um disparate assim tão grande afirmar que alguém com 30 ou 40 anos de Macau que se mantenha hermeticamente selado na redoma do estatuto com que aqui chega, sabe tanto ou menos do território como outro que tendo chegado à dois ou três anos, ande por aí a ver como isto é, acima e abaixo, e não há nada que "não interesse saber". São opções, é verdade, mas quem tem mesmo a intenção de fazer de Macau a sua morada - e caso nada mude radicalmente, será também a sua última - tenta pelo menos perceber o que pensam e sentem as pessoas de todas as valências, mesmo que não partilhemos da sua ideia de "entretenimento", ou achemos que não têm perfil para isto ou para aquilo. Dos crimes trata a polícia, e quem decide quem tem ou não perfil é o voto democrático, caso seja esse o caso, senão e caso as coisas corram mal, certamente que haverá alguém a quem imputar responsabilidades. 

Aqui temos o exemplo acabado do paternalismo e da indignação por tudo e por nada, que por vezes chega a ter o seu quê de irónico, e vou passar a explicar o que quero dizer com isto. Falando de responsabilidades, há aquelas que assumimos a título pessoal, e outras que somos obrigados a acatar como um colectivo, se dele fizermos parte. É aqui que eu queria chegar quando me referi à indignação como tendo muitas vezes uma certa carga irónica, especialmente se a "carapuça" servir na perfeição a quem a resolver enfiar na tola. Recordo-me (mais uma vez) do incidente aqui há  alguns uns anos na AL, quando o deputado Au Kam San proferiu declarações que viriam a fazer ricochete, e acertar num alvo que não era bem aquele a que apontava, quando disse "esta administração conseguiu roubar em dez anos mais do que a anterior em 500". Forte, muito forte, mas   quem saltou da cadeira, propulsionado pela mola da indignação, condenando de dedo em riste o desplante do deputado no Novo Macau? Dois deputados: Leonel Alves e Pereira Coutinho (mais este), representantes dos "ladrões" do passado. E aqueles a quem Au chamou "50 vezes mais ladrões que os outros"? Népias. Até se riram daquele espectáculo improvisado, que nem constava do programa. Penso que é isto que a expressão "falta de chá" quer dizer. Pessoalmente, e nunca tendo roubado nada a ninguém, não me indigno por coisas que fizeram OUTROS portugueses, e para defender essa cidadania há os representantes que o povo elegeu. Não, não considero meu dever nem um acto de patriotismo insurgir-me contra quem critica os que fizeram m... da grossa, apenas porque incidentalmente temos em comum a mesma nacionalidade. Não critico quem o faça, claro, mas não esperem uma salva de palmas da minha parte, e muito menos um "obrigado".


Finalmente, e concluindo o "tour" das reacções à entrevista de Miguel Senna Fernandes temos este artigo, cuja mensagem é tão "profunda", que sinceramente não a entendo. Podia ficar até mais ou menos contente por haver quem trate esta discussão com o condão de provocar mal-estar e invocar velhos fantasmas com alguma ligeireza, mas não consigo. Antes pelo contrário. Se dos tais "fantasmas" há alguns de que nos recordamos e preferíamos esquecer de vez, outros há que nunca nos chegaram a assombrar de todo, e que muita gente nem chegou a tomar conhecimento da sua existência. É por isso que pergunto: para quê esta do "macaio"? E que m... é essa?

Perguntei à minha mulher se sabia o que significa "macaio", ou se tinha alguma vez visto esta palavra em algum sítio, ou ouvido alguém chamar de "macaio" a outra pessoa, ou se a ouviu de todo. Disse-me que "não, mas parece-me depreciativo". E de facto tem um potencial depreciativo, tal como "chinoca", termo cunhado como "tentativa de racismo", para se atirar na hora de querer diminuir a cidadania dos chineses quando apetecesse aos chico-espertos adeptos destes expedientes "agitar as águas" - há gente que não tem mesmo nada que fazer, suponho. Mas se "chinoca" não medrou, e nem tinha qualquer potencial, uma vez que não faz parte da nossa natureza esta modalidade de "inter-culturalidade", o termo "macaio" nem chegou a sair da fábrica, quanto mais, e é possível que das poucas pessoas que tinham conhecimento de mais esta parvoíce se tenham esquecido que existia. Será que alguém alguma vez usou a palavra para se referir a um macaense? E se este se apercebeu desse facto, terá reagido. Assumindo que sim, que terá acontecido algures em data incerta, a reacção  o visado poderá ter sido a mesma da minha mulher: parece mau, mas não sei o que é. A diferença é que aqui podia ser que ao contrário da minha "patroa", o macaense pedisse para "desenvolver o conceito". 

A razão porque "chinoca", por exemplo, nunca chegou a vingar na sua função de insulto de teor rácico (e ainda pode ser usado num contexto afectuoso, como aliás referiu Marques Silva) deve-se sobretudo ao pouco jeito que temos para molestar povos diferentes de nós. E calma, ó Historiadores de fim-de-semana, pois antes de me atirarem com factos que sucederam há 200 anos, deixem-me completar com "pelo menos em comparação com os ingleses e os americanos". Exacto, os inventores do "racismo" são também os mestres artesãos das ferramentas que usam nessa empreitada. Ninguém se sentirá humilhado, ou ferido no orgulho, se escutar da boca de outro algo que não remeta para um  dado momento em que o seu grupo étnico ou nacionalidade foi vítima de algum tipo de agressão, ou para uma época que preferiam esquecer. Seria tudo diferente se a palavra "chinoca" fosse recorrente durante momentos como a Guerra do Ópio, tratando os chineses  por esse nome ao mesmo tempo que os humilhavam. 

Os epítetos desta natureza são uma crueldade, uma tentativa de impedir o alvo a quem são dirigidas  de se adaptar e integrar, caso sejam imigrantes, ou de progredir, no caso de se tratar de uma comunidade integrante de um meio multi-cultural, ou "minoria", ou um povo subjugado a um outro, e que recorre a esta forma de agressão - felizmente esses vão sendo cada vez menos. A verdade é que no momento certo, uma palavra apenas pode ser devastadora, o que não é de longe nem de perto o caso de "macaio". Os próprios macaenses têm mais variedade de termos considerados depreciativos para se referirem aos chineses do continente, ou até aos de HK, e tudo com um "background" regional que todos identificam, mas isto é apenas normal, e prova que ninguém está inocente, ou que nunca em circunstância alguma seria capaz de diminuir a cidadania de seja quem for. 

O pior é que neste artigo não só se fica sem saber muito bem a intenção (pode ser uma "private joke", sei lá), como o próprio facto de se ir desenterrar essa do "macaio", e logo num momento considerado "sensível" e permeável a desaforos, com as sensibilidades em ebulição. O autor deste artigo já tinha demonstrado sintomas de dislexia, bem como uma certa sede de protagonismo, e na senda dessas aspirações, opta por "ser diferente", talvez porque lhe irrita o "unanismo" que tendencialmente aparece nestas ocasiões. Nada de novo, mas nem por isso menos lamentável.

 Sobre este tópico recomendo a leitura dos comentários publicados numa página (entretanto retirada) onde se encontrava um artigo controverso (que podem ler aqui), e onde o seu actor tecia considerações que considerei na altura absurdas, e a que dediquei este artigo aqui no blogue. O que mudou? Nada. Continuam a ser considerações absurdas, e agora começo também a interrogar-me sobre quem pode de alguma forma beneficiar com tudo isto. 

(Continua)

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