quinta-feira, 2 de abril de 2015

Pum, pum, rasta man! - La venganza (I's a-muggin'!)


Whaddya sayin' cabrones? E eis que tal como prometi neste artigo, estou com as últimas da "mui picante" primeira eliminatória da zona CONCACAF de qualificação para o mundial de 2018 na Rússia. Disputados os encontros das duas mãos, o sonho de chegar à maior festa do futebol terminou para alguns, e...vai terminar em breve para os restantes. Assim já são as sete selecções que vão a prolongar a angústia esperança de obter uma das três, possivelmente quatro vagas a que tem direito a confederação dos países da América do Norte, Central e Caraíbas, ou noutros termos mais acessíveis, "yankees", guerrilheiros, rastafari e paraísos fiscais - estes últimos servidos sempre como aperitivo aos restantes.



Vamos começar pelos piores, e quando digo "piores" refiro-me mesmo ao fundo do barril, às selecções que estando a disputar uma fase muito, mas mesmo muito prematura da qualificação são corridas com goleadas, sem apelo nem agravo. Foi o caso das Baamas, que tinham sido goleadas em casa pela sua congénere "offshore" das Bermudas por cinco "secos", e que agora foram a Hamilton, capital desta última acrescentar mais três à conta que mantêm em segredo por motivos fiscais. Os golos apareceram todos nos últimos dez minutos, o que dá a entender que ou os baameses (baamenses? baaminos? baamaneses?) ficaram sem pernas, ou até estavam a beneficiar da complacência dos bermudinos (bermudenhos? bermudeses? bermudanos?) só que armaram-se em parvos e mandaram-lhes umas bocas em "jive", e de seguida levaram na tromba. O avançado Nahki Wells, que alinha no Championship inglês ao serviço do Huddersfield Town, foi o homem do jogo ao apontar dois dos golos das Bermudas, elevando o seu total para três, tornando-se a par de outro de que já vamos falar a seguir o melhor marcador de todas as zonas de qualificação para o mundial - recorde-se que a procissão ainda vai no adro. Eis um jogador que tem mais que qualidade para jogar no mundial, mas nunca pelas Bermudas, é lógico, e já nos próximos dias 8 e 16 de Junho a Guatemala pode já silenciar a festa, que como se pode ver no vídeo, foi bastante animada. Não consta que no regresso das Bermudas até casa a selecção das Baamas tenha ficado perdida em algum triângulo imaginário onde acontecem...coisas.



A selecção de S. Cristóvão e Nevis tinha deixado a selecção de Turcos e Caicos feita em "caicos" na primeira mão, com uma vitória por 6-2 em Basseterre, a sua capital. Agora em Providenciales, capital de Turcos e Caicos, repetiu-se o mesmo resultado. Como assim, "o mesmo resultado?" Isso mesmo, 6-2 para S. Cristóvão e Nevis, que deixam bem vincado que a diferença entre as duas selecções é essa: seis golos para uma, e dois para a outra, nem mais um golo, nem menos um golo. Desta feita o inglês-cipriota Harry Panayiotou, jogador do Leicester City da Premier League inglesa que se naturalizou S. Cristovense em virtude de uns grãos de areia que lhe vieram daquelas ilhas dentro de uns calções de banho que emprestou a um amigo, marcou um "hat-trick", igualando Nahki Wells na lista dos artilheiros da qualificação para o mundial. Convido-vos a verem este vídeo, que é em todos os apectos a-do-rá-vel. Desde o estádio onde a partida de disputou, onde se vê o parque de estacionamento por detrás de uma das balizas, até às grandes penalidades, assinaladas com um rigor, ahem, deixam lá, que também não conta para nada de especial.



Se gostaram do estádio nacional de Turcos e Caicos, vão adorar este James Ronald Webster Park, em The Valley, capital da Anguilla. Se estão recordados, a Anguilla é aquele pequeno país a que os exploradores espanhóis deram o nome de "enguia", e assim (não) se explica os golfinhos no seu brasão de armas. A selecção da Anguilla tinha perdido por cinco bolas a zero na Nicarágua, e tinha uma missão quase impossível perante os Sandinistas, e nem o campo que faz lembrar o do Beira-Mar de Almada ajudou. Os visitantes não se sentiram intimidados (pudera, para quem vive debaixo de fogo cruzado...) e acrescentaram mais três golos aos cinco que levavam de vantagem. Na próxima eliminatória vamos ter um puro duelo "guerrilha-rasta", com a Nicarágua a defrontar o Suriname. Promete.



A eliminatória entre as Ilhas Caimão e o Belize tinha registado um empate a zero na primeira mão, na casa dos últimos. Depois de ninguém ter dado com a "belize" nesse encontro (piada reciclada) a decisão passou para o estádio Truman Bodden, em George Town, capital das Ilhas Caimão, onde ambas as equipas voltaram a empatar, mas desta vez a uma bola, o que qualifica o Belize no desempate pelo factor dos golos fora. Depois de muita cerimónia que deu em nada no primeiro desafio, aqui o resultado ficou logo feito aos 20 minutos, quando Elroy Kuylen fez o golo do empate do Belize, depois de Mark Ebanks ter adiantado a equipa da casa no marcador logo aos 5. Assim as Ilhas Caimão podem-se orgulhar de dizer que foram afastadas da fase final do mundial "sem perder qualquer jogo" - e tecnicamente é mesmo assim, enquanto o Belize perdeu uma boa oportunidade para vencer o seu primeiro desafio oficial desde Janeiro de 2013, altura em que bateu a Nicarágua por 2-1 numa partida realizada na Costa Rica, a contar para a Copa Centro-americana. Se dois anos sem provar o sabor da vitória já é preocupante, o que dizer das Ilhas Caimão, cuja última vez que venceram foi em...2010. Exactamente, mais precisamente a 5 de Outubro em Bayamón, Porto Rico, em partida a contar para a Taça Caribenha, com 4-1 sobre Anguilla. Como se pode verificar, estes tipos já se conhecem todos de ginjeira.



Uma das surpresas da primeira mão desta eliminatória foi a vitória fora das Ilhas Virgens Americanas sobre os Barbados por 1-0, e digo isto agora, depois do jogo da segunda mão, onde os visitantes corrigiram esse resultado e com juros, o que não é muito habitual ver numa "offshore": 4-0, resultado que não deixa dúvidas quanto a qual é a menos má das duas selecções. O jogo realizou-se naquele que eu consideraria o estádio mais catita de todos os sete que apresento nestes resumos, caso fosse mesmo um estádio. O Cancryn Field em Charlotte Amalie, St. Thomas, é como o nome indica um "campo", e eu diria mais, um terreno baldio onde cresceu alguma relva e foram colocadas duas balizas. Não sei onde anda o tão apregoado rigor da FIFA no que toca aos requisitos mínimos para um estádio poder acolher um desafio que, e em rigor, é a contar para as eliminatórias do mundial de futebol. Fica também a ideia de que o apoio dado às pequenas nações ao nível de infra-estruturas no sentido de desenvolver a modalidade não passa pelas Ilhas Virgens Americanas - quem sabe pensam que se tratando de um paraíso fiscal, têm lá dinheiro que chegue, e não querem mais. Quanto ao desafio propriamente dito, e se isso realmente diz alguma coisa a alguém, o onze dos Barbados fez dois golos em cada metade e aos 25 minutos já tinha dado a volta à eliminatória. Parece que pelo menos fizeram bem em apostar num treinador brasileiro, neste caso um tal Marcos Falopa, que acumula o cargo com o de director-técnico da CONCACAF. Já as Ilhas Virgens Americanas nomearam em Fevereiro o somali (?!) Ahmed Mohamed Ahmed (nome tão original quanto encantador), que tem 35 anos e está radicado na Suíça desde a sua juventude. Tive curiosidade em ir pesquisar estes factos, pois julguei tratar-se de alguma pirata do golfo de Aden que tinha ido depositar um tesouro numa "offshore" daquelas ilhas, e aproveitou para ficar a orientar a selecção.



Agora o momento pelo qual todos os adeptos dos paraísos fiscais em Macau aguardavam: as Ilhas Virgens Britânicas, local onde há mais dinheiro de Macau do que em Macau (por motivos legais, reservo-me ao direito de esclarecer que isto se trata de uma sátira, e desconheço o grau de veracidade desta afirmação, que poderá mesmo ser completamente falsa). Más notícias, pois as Ilhas onde fica situado o célebre Offshore Incorporations Centre em Road Town, Tortola, foi eliminado pela Dominica, com 3-2 e 0-0 nas duas mãos. Ambos os encontros foram disputados em Roseau, capital da Dominica, que tem como mascote um primo do Zé Carioca:


Como podem ver, o parente caribenho do famoso caloteiro carioca tem um ar que intimida, e aparentemente reage mal à medicina alternativa que se pratica por aquelas bandas, a julgar pela carregada rubescência evidente ao nível das vistas. Mesmo assim foi uma vitória suada, e este loiro muito "dread" vai ter pela frente na eliminatória seguinte a selecção do Canadá, que não se intimida por bicharocos de poleiro.



Finalmente o outro jogo que ainda não tinha sido disputado aquando do primeiro "post", e que pôs frente a frente duas formações com uma inclinação marcadamente "rasta": Curação e Montserrat. Na primeira mão no estádio Ergilio Hato em Willemstad, capital do Curação, a equipa da casa obteve uma vitória por magros 2-1, com o golo inaugural a ser apontado por Pepito Merancia. Este fulano com nome de tocador de congas num conjunto mexicano é na verdade uma das estrelas da selecção de Curação, alinhando como outros colegas numa equipa do campeonato holandês, neste caso o ADO Den Haag. No campeonato holandês, mas no NAC Breda, alinha também Felitciano Zschusschen, autor do segundo golo dos Curaçenses (curaçãoenses? curaçados? curações?), na transformação de uma grande penalidade. Pelo meio Montserrat marcou o seu golo por intermédio de Lyle Taylor, que joga pelos escoceses do Partick Thistle, de Glasgow, destoando assim dos seus colegas de equipa, quase todos a alinharem por equipas dos escalões secundários do futebol inglês. Esta foi provavelmente a eliminatória da CONCACAF com mais jogadores profissionais em campo.



O jogo da segunda mão foi disputado em Montserrat na cidade de, e atenção a isto, "Look Out". Parece um aviso ou uma ameaça velada à equipa de Curação, que trazia um resultado frágil da primeira mão, mas aparentemente esta cidade foi baptizada com o nome do vigia que costumava ficar num posto junto dos mastros dos navios antigos. Montserrat esteve para se afundar em 1995 devido à erupção do vulcão Soufrière Hills, ainda em actividade, e para quem pensa que foi apenas "exagero", atente a estas imagens:



E já agora ao documentário:



Isso mesmo, e chegou-se a proceder mesmo à evacuação dos residentes de Montserrat, que hoje vivem com aquela "bomba-relógio" à sua porta, e mais erupções tiveram lugar depois de 1995. Isto não chegou para intimidar a selecção de Curação, talvez conscientes do ponto do planeta onde vieram cair (coitados), e depois de um empate a duas bolas vão defrontar Cuba na eliminatória seguinte. Charlie Vicento, que joga na...Holanda, exacto, na equipa do Willem II, marcou a 3 minutos do fim o golo que deu o empate e evitou o prolongamento.

Posto isto, a segunda eliminatória realiza-se em meados de Junho, e inclui as sete equipas qualificadas nesta ronda e mais 13, num total de 10 encontros, novamente a duas mãos. A saber:

S. Vicente e Granadinas - Guiana
Antígua e Barbuda - Santa Lúcia
Rep. Dominicana - Belize
Guatemala - Bermudas
Aruba - Barbados
S. Cristóvão e Nevis - El Salvador
Curação - Cuba
Nicarágua - Suriname
Dominica - Canadá
Porto Rico - Granada

Isto promete, e eu também prometo trazer-vos todas as incidências deste futebol muito, muito louco.

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