terça-feira, 31 de julho de 2012
Sobre a educação patriótica
Estava eu ontem a voltar para casa perto da uma da madrugada, e passei por um restaurante ainda aberto aqui perto de casa para matar a larica. Levei um mei fan frito à moda de Singapura, e enquanto esperava reparei na forma fascinada e absorta como os oumunian ali presentes assistiam à transmissão das provas de ginástica dos Jogos Olímpicos de Londres. Não perdiam pitada do desempenho da equipa da RP China, que como se sabe colecionam medalhas na modalidade. Extraordinária a forma como a gente naquele restaurante - incluíndo um jovem com uma camisola da equipa de basquete da China - observavam maravilhados, quanse hipnotizados, os ginastas do regime.
Isto tudo para falar da tal da educação patriótica, de que tanto se fala agora. Em Hong Kong os encarregados de educação estão furiosos com aquilo que chamam uma interferência na autonomia daquela RAE. É interessante como isto da "educação patriótica" nem se discute em Macau; como se recordam a legislação do tal artº 23 da Lei Básica passou aqui na RAEM como uma brisa, poucos se lembram disso e ainda ninguém foi preso por "actos de secessão". Os chineses de Macau orgulham-se em ser chineses, apessar de alguma falta de tolerância que evidenciam com os pangyaos do continente, e não só vibram com as medalhas olímpicas dos atletas da China, como demonstram o seu apoio a tudo o que seja uma mostra de patriotismo. A RAE de Macau é a boa aluna, os meninos daqui do lado é que são um bocado malandrecos, e toma lá um pouco de "educação" para ver se aprendem.
Mas não se pense que concordo com esta iniciativa pouco feliz do Governo Central. Isto de "educações patrióticas" cheira a nacionalismo exacerbado, e isto no século das pessoas não fica nada bem. Ficava, lá nos idos tempos da Revolução Cultural ou no tempo das ideologias. Hoje em dia a malta que saber mais do bem estar e da economia, e isso dos hinos e das bandeiras é muito giro, mas não enche a barriga a ninguém. Um pequeno inquérito de bolso que realizei entre colegas chineses demonstra que isto não é uma boa ideia. Todos torcem o nariz a esta súbita tentativa de integração de mentalidades dos jovens no pensamento do resto do continente. É uma integração que ainda não lhes interessa.
E no que consiste a tal disciplina de "educação patriótica"? Pelo pouco que me foi dado a saber (só existem versões em chinês do material didático), existe um livro e um "guia de ensino". Neste guia consta, por exemplo, uma directiva que diz que "caso o aluno não esteja interessado na matéria, o professor pode mandá-lo para casa e 'reflectir'". O programa tece loas ao PC chinês, o partido único, o que se pode considerar um sério investimento do regime, apostando na próxima geração para perpetuar o poder. Se isto em Hong Kong já é assim, imagine-se o que ensina no continente. Não surpreende que os democratizados honconguenses chamem a isto "lavagem cerebral". Quem os pode censurar? Os destinatários da "educação patriótica" são crianças do esnino primário. O programa é suposto entrar "à experiência" nos próximos três anos, e em trote total em 2015, mas os nossos vizinhos já demonstraram (e vão continuar a demonstrar) que não estão para aí virados. E não nos resta mais nada senão apoiá-los.
Eu amo o meu país, Portugal. Amo no sentido que sou português, gosto quando acontecem coisas boas com Portugal, sofro com as coisas más, mas não sou patrioteiro. Não penso que o meu país tem sempre razão, nem detesto os estrangeiros que ignoram ou desprezam o meu país. A China tem feito grandes esforços no sentido de mostrar abertura, tem-se esforçado no campo da diplomacia para que se torne num respeitável "player" no jogo da economia mundial. Não pode é pensar em enveredar pelo camnho da força, como tem "ameaçado" fazer nesta zona do Pacífico, com as questões relacionadas com a disputa das ilhas Spratly, por exemplo, uma disputa que preocupa a comunidade internacional. Quando se junta o "militarismo" ao "patriotismo", então temos aí uma mistura explosiva.
segunda-feira, 30 de julho de 2012
Iron Lady
Surpreendente e oportuna a entrevista da Dra. Manuela António ao JTM de hoje. Em duas páginas a causídica que reside no território há 30 anos fala sobretudo do actual estado do direito em Macau e dos seus operadores, e aproveita para criticar a DSSOPT (Obras Públicas). Pelo meio tece outras considerações sobre a sua vida profissional e afins. Manuela António é uma mulher de armas; uma verdadeira "iron lady" do direito no território, e uma daquelas pessoas que diz o que lhe vai na alma, talvez por não ter nada a provar.
A questão dos operadores do direito em Macau é quiçá a mais polémica e interessante. Dos cursos de direito ministrados em língua chinesa, MA diz que são "maus", e do famoso curso em português, "não é suficiente". Conclusão: os licenciados em Direito de Macau não têm qualidade suficiente. Pelo menos para a Dra. Manuela António, que como se sabe conta nas suas fileiras com uma equipa de causídicos toda ela (ou quase) formada em Portugal. Ou ainda por outras palavras: para a Dra. Manuela António, os cursos de direito em Macau não lhe enchem as medidas.
Existe talvez um problema de mentalidades a este respeito. Há quem se preocupe com a salvaguarda do Direito e com o impacto que isso pode ter na própria salvaguarda dos direitos dos cidadãos, e do seu acesso à justiça. Outros preocupam-se em fazer dinheiro. Isso, porque ao contrário de Portugal, por exemplo, o Direito em Macau ainda tem bastante saída. Fica muito bem tirar o curso, assinar umas escrituras ou representar uma ou outra sociedade, e lá se vai fazendo a vidinha. É assim em Macau, o dinheiro fala sempre mais alto. Isso de onde se obteve o curso e com que qualidade, é apenas um "fait-divers".
Quanto à questão as Obras Públicas, concordo com a sra. advogada. É praticamente impossível obter o que quer que seja daquele departamento, que desde a prisão do secretário Ao Man Leong em 2006 passou a funcionar completamente em "tilt". Só não percebo essa da "transparência opaca". Será isso a mesma coisa que a "chuva seca"? A "escuridão clara"? Ou a "goiabada de banana"? Um mistério que fica no ar...
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Doca dos perdedores
A Doca dos Pescadores volta a estar nas bocas do mundo. O mega-projecto de entretenimento inaugurado em 2006 junto ao casino Sands Macau, da responsabilidade do empresário David Chow, parece uma daquelas cidades-fantasma dos filmes western, ideal para duelos ao pôr-do-sol - houvesse assim tanto sol em Macau. Os que estão lembrados da inauguração daquele verdadeiro elefante-branco sabem a tusa de mijo que aquilo foi: na passagem de ano de 2006 para 2007 não cabia lá uma agulha, depois disso foram os reality bites; aquilo é muita fruta para o que a malta daqui está habituada. Com que então não têm umas lojas de sopas de fitas daquelas que custam 20 patacas? Não há char-siu? Chu-pa-pao? Denied!.
Era uma novidade, e bem gira! Edifícios em estilo europeu - muito na voga por estes lados agora - e até um circo romano feito e plástico, que até dá para fazer lá um buraquinho se lhe dermos um pontapé. O empresário português Rui Nabeiro chegou a investir lá, com um café cujo nome agora nem me lembro que servia pastéis de nata vindos direitinhos de Belém (congelados), e os restos de leitão da Bairrada (também congelados...). Faliu em pouco mais de um ano. Existia lá um vulcão que de vez em quando entrava em erupção, para gaúdio dos indígenas que soltavam os habituais "uaaahhh". Penso que agora se encontra extinto. Existem lá umas lojas de roupa, de recuerdos, uns restaurantes...coisas caríssimas! Aquilo só no Natal, aniversários, casamentos ou convenções. Custa mais de 100 patacas por cabeça? Foge!
A vizinhança também não ajuda muito. A Doca fica localizada lá para os lados do Jetfoil, do Centro Internacional de Macau, que está em ruínas, e desde que o New Yaohan mudou para os lados da Praia Grande, não há mais aquela malta que aproveita para lá dar um pulinho depois de fazer umas compras. É certo que estão ali os casinos Golden Dragon e Oceanus, e a própria Doca tem lá o Babylon, mas a malta que vem jogar quer lá saber da decoração? Está lá também o D3, uma discoteca da moda, mas quem vai para o D3 vai a seguir para casa, e normalmente bem acompanhado. Ninguém no seu perfeito juízo vai à Doca dos Pescadores passear depois do jantar para dar uma voltinha. E quem vai lá ao fim-de-semana e feriados? Fazer o quê? Que pasa prla Doca dos Pescadores? Tinha piada se fizessem lá uns concertos, umas actividades culturais, qualquer coisa para a malta jovem ou para os filipinos. Uns cinemas, talvez. Agora estar ali só por estar, no thanks.
Mas David Chow diz que agora a Doca vai ficar de cara lavada. Sim senhor. E promete novidades "para meados de Agosto". Se calhar combinou qualquer coisa com aquele rapaz muito simpático e muito democrático que é presidente do Benim e esteve por cá estes dias. O que fazer para reavivar a Doca dos Pescadores, então? E o que se pode fazer para convencer a população a dar lá um pulinho mais amiúde? Dar-lhes dinheiro, talvez. Ou caixas de arroz? Ou notas comemorativas. Como implementar o conceito de parque temático na cabecinha dura dos oumunian? Ai, a Doca dos Pescadores...uma coisa muito à frente do seu tempo.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Patas na poça
1) Como tem chovido muito estes dias, é normal que há por aí quem ande a meter a pata na poça. Começo pela deputada Melinda Chan, de quem até gosto, que "quer penas mais pesadas para traficantes de droga", segundo a edição de hoje do Hoje Macau. A sra. deputada acha que a actual moldura penal "não é suficientemente dissuasora", e que existem países na região onde o tráfico "dá pena de morte". Em primeiro lugar não concordo que valha a pena traficar droga em Macau. Não é lucrativo. Existem outras formas de fazer dinheiro, e até a subsídio-dependência é uma forma mais catita de cravar umas messas do que propriamente a dependência de substâncias. Mas o pior é mesmo essa maldita mania de comparar Macau com outras regiões e estados. Pena de morte? A senhora deve estar a brincar, concerteza. Só pode. E que tal cortar a cabeça a esses malditos traficantes, como se faz na Arábia Sodomita, por exemplo? Se há coisa que me faz um bocado de confusão nessa lei é aquilo que se considera "tráfico". Quer dizer, quem está na posse de substâncias ilícitas para mais de um dia, é considerado "traficante". Ou seja, os toxicodependentes, que são doentes, coitados, têm que ir buscar produto todos os dias para alimentar o vício? Mas pronto, para a próxima pense melhor, sra. deputada.
2) Ainda no Hoje, mas na edição de ontem, Hélder Fernando faz uma comparação completamente descabida. Então as barbatanas de tubarão, e a forma como são obtidas, podem alguma vez ser comparadas à carne de porco, aos pipis ou até à coxas de rã? A forma como as tais barbatanas são obtidas é cruel e desumana: são cortadas e o tubarão é mandado ainda vivo de volta ao mar, onde sangra até morrer. Não nutro nenhuma simpatia especial por tubarões, baleias e crocodilos, mas também não posso concordar com actos de tortura contra qualquer ser vivo. O que se faz aos tubarões para obter as barbatanas para a tal sopa que o Hélder tanto aprecia, tanto quanto pipis ou kalulu de peixe seco (?) é tão reprovável como a forma que se tratam os cães, ou os macacos que são comidos ainda vivos na China. Eu recuso-me a comer barbatanas de tubarão. Sei que sou uma gota no oceano, mas pelo menos não pactuo com a tortura e o sadismo.
3) Agora fora de Macau, e a respeito das Olimpíadas. Os jogos estão aí de novo, e mais interessante que a competição propriamente dita, aí estão algumas "estórias" que dão outro colorido ao evento. E por falar em colorido, a atleta grega do triplo-salto Voula Papahristou fez comentários racistas no Twitter e foi afastada dos jogos. A Voula (que é lindíssima!) escreveu naquela rede social que os "mosquitos do Nilo alimentam-se de comida caseira", referindo-se à recente epidemia na Grécia e ao número de imigrantes africanos naquele país. Deve ter imensa graça em grego, mas nem um pedido de desculpas valeu à atleta, que vai ver os jogos em casa pela televisão. Ontem arrancou o torneio de futebol feminino, e com uma gaffe da organização: no jogo entre a Colômbia e a Coreia do Norte a bandeira coreana foi trocada com a rival do sul na apresentação das jogadoras. Como a rivalidade entre as duas Coreias é ainda o último resquício da Guerra Fria, as norte-coreanas voltaram as costas, fizeram birra e queriam ir embora. Lá as convenceram a voltar, e ainda ganharam a partida por 2-0. E vivam os jogos!
terça-feira, 24 de julho de 2012
Vicente valente
Macau foi na noite e madrugada de ontem assolada pelo tufão "Vicente" - um nome bem simpático para uma tempestade tropical - o pior dos últimos 13 anos, o mais violento desde a criação da RAEM. As imagens documentam bem o rasto de destruição (e prejuízo) que o Vicente deixou, com a queda de árvores, tapumes e placars publicitários, bem como inundações nas zonas baixas da cidade. O sinal nº 8 foi içado às 19 horas de ontem, passando para um raro nº 9 às duas da manhã, tendo baixado novamente para nº 3 às 9:30 da manhã, o que vale por dizer que os funcionários da administração ficaram mais umas horinhas na cama, e apresentaram-se ao serviço às 14:30.
O balanço é de 16 feridos e prejuízos incalculáveis. Foram cancelados dois vôos do aeroporto internacional de Macau, os passageiros dos terminais de jetfoil ficaram a dormir nos bancos, e os taxistas voltaram a aproveitar para fazer "negócio", extorquindo os passageiros que precisavm urgentemente de se deslocar da Taipa para Macau, ou vice-versa. Isto já é tão normal em Macau como respirar, e o Governo está-se a cagar (olha, rimou).
Pela manhã as "vítimas" recolhiam os cacos, o lixo estava todo espalhado pelas ruas (não houve a habitual recolha nocturna), e os habitante do Flower ity, na Taipa, não ganharam para o susto; uma grua (!) existente perto do local inclinou-se 45º, o que levou as Forças de Segurança a evacuar 60 residentes daquele complexo habitacional. Todos os sinais de tempestade tropical foram baixados, mas espera-se que a chuva continue até ao fim-de-semana. Em Hong Kong - onde chegou a estar içado o sinal nº 10 - a situação foi ainda mais grave: 100 feridos, 200 vôos cancelados e a Bolsa de Valores esteve encerrada toda a manhã. O Vicente passou pela região e deixou as suas marcas.
domingo, 22 de julho de 2012
Quem quer 'ma mala?
Tenho visto imenso por aí homens de mala. Sim, de mala, e não me refiro às distintas valises que os médicos, professores ou advogados usam, nem às sempre estéticas e convenientes mochilas, que ainda por cima dão um aspecto atlético e saudável ao seu portador. Falo daquelas malas à tira-colo, normalmente de cor escura, que se usam penduradas ao ombro. É uma versão masculina da mala de senhora. Só que pergunto eu: para quê?
Homem que é homem leva tudo o que precisa nos bolsos: carteira, telemóvel, chaves, tabaco, corta-unhas, recibos da conta da electricidade, preservativos, pastilha elástica, pensos rápidos, tudo. Adoro calças com imensos bolsos, daquelas de carpinteiro, que dão para levar quase tudo o que se precisa. Agora...uma mala? Ui, a malinha. Ai onde compraste essa mala tão gira? Ai que horror perdi a mala. Roubaram-me a mala. Esqueci-me da mala. Isto fica mal, meus meninos.
Quando vejo um desses indivíduos com mala dá-me vontade de lhes perguntar se levam lá dentro o baton e os panty shields. Ou quem sabe um cremezinho para as mãos e unhas, ui ui. Ou talvez a última edição da Vogue, nunca se sabe. Se como já referi em cima, estas são as versões masculinas da mala de senhora, o que temos a seguir? Sapatos de salto alto para homem? Sutimamas para o cavalheiro mais avantajado? Meias de vidro "for men"?
Já me tinha insurgido aqui contra as crocs, aquelas sandálias abomináveis usadas por homens de meia-idade baixos e carecas, os famosos "pés-de-pântano". Agora completa-se a caricatura do completo burgesso: sapatos crocs, calções, t-shirt com qualquer coisa do tipo "California State University" lá escrito, e malinha à tira-colo. Mas isto sou eu que "não estou na moda", ou se calhar "sou parvo". Avisem-me quando for "masculino" usar saia, que eu adiro logo. "Espero que tenha bolsos...para esconder essas unhas, Guida".
Queres o quê???
Um vídeo hilariante de uma aula de inglês na Coreia, onde a professora - bem gira, por sinal - tem dificuldades em pronunciar "Coke". A melhor parte é quando a jeitosa diz "Please give me 'cock'; I want 'cock'". E quem se atreve a recusar um pedido assim?
sexta-feira, 20 de julho de 2012
José Hermano Saraiva (1919-2012)
O dia que tanto temíamos finalmente chegou. Desapareceu um dos personagens mais queridos da televisão portuguesa, um dos nossos heróis: o professor José Hermano Saraiva. O historiador tem preenchido as nossas imaginações e despertado o nosso interesse pela História nos últimos 30 anos, e passou já várias gerações; tanto o meu pai, como eu, como o meu filho conheciam o professor tão famoso pelo seu donoro "Foi aqui!". Uma interjeição muito própria que já deixa saudades. A forma como realtou os factos - muitas vezes questionada por académicos - é irrelevante. Era das poucas pessoas que conseguia incutir o interesse na História de Portugal desde o doutor ao pobre ardina. Ninguém é eterno, e 92 anos é tempo suficiente para nos deixar um legado invejável, a que poucos portugueses poderão algum dia aspirar. Que descanse em paz, senhor professor.
Sim, é melhor falar do Benfica (e de coiratos).
Gostei do artigo publicado ontem por Carlos Morais José no Hoje Macau, especialmente no que toca à parte em que se fala so multi-facetado advogado Leonel Alves, que tem sido notícia pelos mais diversos motivos. Contudo sinto que a habitual frontalidade a que CMJ já nos habituou podia ter ido um pouco mais longe desta vez. Fica muito para dizer, mas não o censuro. Se calhar o melhor mesmo é falar no Benfica, que os outros assuntos são como o estrume fresquinho: quanto mais se remexe, mais fede.
Leonel Alves é uma figura que respeito e admiro. Quando cheguei ao território era já deputado na AL, apesar de ter na altura pouco mais (ou nem ainda, desconheço a idade do senhor) trinta anos. Era então o delfim do saudoso Dr. Carlos D'Assumpção. Nunca tive dúvidas que continuaria a ter um papel importante na Macau pós-transição, e de que nunca viraria as costas ao território. Mas desiludiu-me, para ser franco. Tornou-se assim uma espécie de lacaio do executivo, um apaga-fogos. Enfim, optou por ficar do lado da equipa que inevitavelmente ganha - ao contrário do seu Benfica, por exemplo.
Houve quem tivesse depositado esperanças em Leonel Alves, conhecido carinhosamente na comunidade macaense por "Neco". Só que o nosso amigo "Neco" está mais inclinado para juntar-se aos seus pangyaos do que á malta da terra, e quem o pode censurar? Money talks, bullshit walks. O que mais seria de esperar de alguém que é empresário, advogado, político e ainda por cima benfiquista? Muito pouco. É curioso no entanto a atitude passiva do causídico; perante resmas de notícias pouco abonatórias a seu respeito nas últimas semanas, e ainda por cima de fontes normalmente credíveis, diz apenas que "lhe dão vontade de rir". Ora como se dizia lá na minha terra, "ri-te, ri-te, que quando...", bem, não vale a pena ser ordinário. Eu cá prefiro torcer o nariz.
Portanto acho óptimo - e recorrendo desde já à linguagem futebolística - que se mande a coisa para canto, e que se fale antes do Benfica. Então quando é que vamos ter cá os vermelhuscos? E para quando a sede onde se podem comer uns coiratos (que saudades!) ou lamber uma bisca? Aí até eu ia, mesmo sendo assim mais azulado. E que jogadores do campeonatos distritais lá da tuga vão reforçar o Benfica de Macau este ano? Tudo coisas que a malta quer saber, em vez das negociatas com americanos e afins, que aquilo até é gente que não gosta de futebol, nem de coiratos.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Vai tu!
Este vídeo foi recolhido da sessão da última segunda-feira da AL, e apesar de ter 13 minutos de duração, o mais curioso acontece logo nos primeiros segundos. Durante a chamada dos deputados, Fong Chi Keong deixa escapar um bem perceptível tio nei, o equivalente ao nosso bem português "fodasse". Isto enquanto os restantes srs. deputados riam todos bem dispostos, antes da ordem do dia. Fong já nos tinha habituado a outras pérolas bem demonstrativas da sua (pouca) inteligência e (nenhuma) graça, mas esta...bem esta até dá vontade de rir. Ah, ah, ah. O vídeo foi divulgado no YouTube no dia seguinte e partilhado no fóruma Conversas entre a malta, no Facebook, a quem desde já agradeço.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
As brigadas de S. Paulo
Durante um pequeno período de férias que gozei recentemente para descansar, aproveitei para frequentar as Ruínas de S. Paulo à noite com alguns amigos filipinos. Fiquei assim a conhecer de perto esse grande "problema" de que se queixam os moradores da zona daquele património histórico: os "imigrantes do sudeste asiático que tudo sujavam e faziam barulho". É verdade que por ali, e todas as noites (mais ao Sábado) se juntam vários trabalhadores não-residentes originários das Filipinas - e não só, mas já lá vamos. Mas que façam baulho ou sujem a zona do património da UNESCO está muito longe de ser verdade.
Os filipinos juntam-se ali, comem, bebem umas cervejas, conversam, ouvem música nos iPhone, mas não fazem nenhum tipo de barulho ensurdecedor que não permita aos residentes da zona de S. Paulo dormir. Bebem, comem, depois arrumam tudo e vão embora. Se deixam lá algum lixo, este é recolhido pelos simpaticíssimos varredores do IACM qu tão gentilmente se disponibilizam para trabalhar naquela zona a altas horas da noite. Alguns dos tais moradores acusam os filipinos de "urinar na rua". Duvido que o cheiro lhes entre pela casa adentro, mas fico sem perceber porque é que a única casa-de-banho pública ali existente fecha por volta da uma da manhã, enquanto as do Mercado de S. Domingos e a anexa à estação central dos Correios, perto do Largo do Senado, estão abertas 24 horas por dia. De difícil explicação isto. Querem que as pessoas mijem onde? Nas calças?
Que eu saiba ainda não existe uma lei que proíba as pessoas de frequentar a rua a qualquer hora do dia, mas talvez quando isso acontecer os residentes de S. Paulo possam dormir descansados. Mas não se pense que são só os filipinos que ocupam as ruínas à noite; no topo das escadarias, vários resdidentes locais levam os cães a passear. Canídeos de todas as raças e tamanhos, de fazer corar de inveja um festival de adopção da ANIMA, a ladrar, urinar e defecar por toda a parte, e tentar fazer amor uns com os outros (isto para ser simpático), sem que no entanto isto pareça preocupar os residentes da zona. Quem sabe se os canitos valem mais que os filipinos?
Outra coisa que me surpreendeu foi o excesso de policiamento na zona àquela hora. Dois agentes em cima, dois em baixo, carros patrulha a passar constantemente, sem que isso realmente se justifique. Não vi lá nenhuma rixa, nenhuma altercação, ninguém a gritar, passar mal ou falar alto. A zona das ruínas de S. Paulo à noite é provavelmente a zona mais policiada e Macau. Tudo isto para quê? Não se percebe. Querem que os filipinos façam o quê nas suas horas de lazer? Que vão para o casino? Para a piscina do Hard Rock Hotel? Para o D2, como "toda a gente"? Fazem muito bem em frequentar aquela área, tão bonita e arejada. É que nem toda a gente vai para a caminha às dez da noite depois de ver a novela chinesa, sempre com a ideia de acordar cedo e fazer dinheiro, que é só o que vai por aquelas cabecinhas.
Casos de polícia
1) Uma notícia na edição de ontem do JTM chamou-me a atenção. O TJB julgou um caso de agressão levada a cabo no exterior de um estabelecimento de karaoke, tudo porque os intervenientes "não se conseguiam entender sobre a escolha de músicas", e então começaram a "disputar o microfone". É claro que nestes estabelecimentos de diversão nocturna há muito álcool e droga à mistura, e quem os frequenta com regularidade não é propriamente um anjinho - quem viu um estabelecimento de karaoke viu praticamente todos. Mas pronto, é esta a diversão que existe na RAEM, resume-se praticamnente a isto. Gostava de ter visto a cara do juíz quando as testemunhas relataram a causa da rixa, e se o magistrado terá noção dos mais recentes êxitos da pop chinesa. Quem sabe se assim era mais fácil decidir quem tem razão. Ai os estabelecimentos de karaoke, esses antros de vício...pior que as redes sociais! À atenção da Associação das Senhoras Democráticas.
2) Outra notícia que diverte mas não surpreende á a atitude de mais um taxista FDP que se recusou a apanhar três senhoras que se queriam deslocar ao Terminal marítimo da Taipa, mas que acabou por o fazer devido à insistência destas. Achando a viagem pouco rentável, o camelo do carro preto resolveu armar-se em parvo, reduzir a marcha, e finalmente abandonar as senhoras trancadas no interior do veículo com o capô aberto. Quando lá chegaram as autoridades o taxista alegou que "precisava de arejar o capô", e que - atente-se a isto - "não se apercebeu que tinha deixado pessoas dentro do táxi". Ohohoh. O espertalhão vai ser agora acusado da prática de sequestro.
3) A Reolian já faz parte do anedotário local. A terceira concesionária dos autocarros está praticamente todos os dias envolvida em algum tipo de happening, seja um acidente ou algum outro episódio mais caricato. Os motoristas da concessionária, ou "Reolianos", como alguém muito comicamente os chamou, já inspiram medo na população, e não há quem se atreva a desafiá-los nas apertadas estradas no território. Ouvi de certo opinador no outro dia que antes de começar a operar, a Reolian "avisou" para a falta de formação dos motoristas. Ora bem, se não tem condições, e ainda por cima sabe disso, porque começou a operar? Faz algum sentido? Num episódio recente completamente surrealista, que correu nas redes sociais, um motorista parou o autocarro com passageiros lá dentro para comprar o pequeno-almoço num restaurante da McDonald's. É preciso algum tipo de formação especial para saber que isto não se faz? Como alguém disse e muito bem, Macau é um território demasiado exíguo para que existam duas concessionárias de transportes públicos, quanto mais três. Isto da Reolian cheira a mais um daqueles negócios em que meia-dúzia mete o patacame ao bolso, e quem se lixa é o Zé-Povinho.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Na rede social
Enquanto a inspiração para novos posts não aparece - e já tenho alguns alinhados, a seu tempo - o Leocardo tem-se entretido a granjear aliados, o que é como quem diz, amigos no Facebook. Enquanto no anonimato os amigos naquela rede social eram pouco mais de 100, e agora são mais de 400. Resta-me agradeceer aos que aceitaram: obrigado e bem-hajam. Agora outros há que "não conhecem" o blogue mais famoso de Macau, e rejeitam o pedido de amizade com um seco "não conheço o indivíduo". Ora meus amigos, é uma vergonha ter uma ligação com Macau e não conhecer Bairro do Oriente. Em todo o caso agradecia que caso não queiram fazer amizade com o Leocardo, que não o abafem com queixinhas. Valeu? Até breve e um abraço!
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Euro 2012: um balanço
Terminou no último Domingo o Euro 2012, a competição maior de futebol de seleções europeias, com mais uma vitória da aborrecida Espanha. Os "nuestros hermanos" (designação que me causa repulsa) venceram todas as equipas contra quem jogaram...menos Portugal. A selecção portuguesa, a que os velhos do Restelo prognosticavam uma saída prematura, chegou às meias-finais, batendo três seleções campeãs europeias, perdendo com a Alemanha no jogo inicial, e com a Espanha nas meias-finais, apenas na lotaria das grandes penalidades. Na falta de um Ricardo na baliza para realizar actos de heroísmo, Portugal ficou-se pelo top-4, um sabor amargo que fica na boca, pois Portugal nunca realizou uma exibição em que merecesse perder. Mais uma vez ficou comprovado que o grande busilis da nossa selecção é o ataque. Falta um ponta de lança, um concretizador, e Cristiano Ronaldo - o melhor jogador do Euro - não chega para as encomendas. Está de parabéns Paulo Bento, o treinador ideal para levar Portugal ao mundial de 2014 no Brasil. Quanto à final propriamente dita, foi um circo; a Espanha goleou a Itália no jogo provavelmente menos competitivo do torneio. A Espanha tinha goleado a Irlanda pelo mesmo resultado, mas pelo menos os adeptos irlandeses tiveram uma enorme demonstração de "fair-play". Os italianos choraram.
O melhor: Portugal, considerado por muitos o "dark-horse" do tal "grupo da morte", conseguiu fazer melhor que muitas seleções à partida mais cotadas, como a França, a Inglaterra ou a Holanda.
O pior: A Polónia e a Rússia. Polacos e russos degladiaram-se em campo e fora dele, demonstrando um ódio histórico que não fica nada bem na tribo do futebol. Felizmente froam os dois mais cedo para casa.
A desilusão: A Holanda. Os holandeses contaram com alguns dos melhores jogadores do ano, como Robben, Sneijder ou Van Persie, mas terminaram os Grupo B apenas com derrotas, a pior prestação de sempre dos holandeses em campeonatos europeus.
A surpresa: Além de Portugal, a Grécia. A selecção grega, sem o mesmo elan de 2004, cnseguiu a segunda melhor prestação de sempre, os quartos-de-final, perdendo com a Alemanha por 4-2. O treiandor português Fernando Santos confirma a preferência dos gregos, e deverá manter-se à frente da seleção helénica para a campanha do próximo mundial.
O melhor: Portugal, considerado por muitos o "dark-horse" do tal "grupo da morte", conseguiu fazer melhor que muitas seleções à partida mais cotadas, como a França, a Inglaterra ou a Holanda.
O pior: A Polónia e a Rússia. Polacos e russos degladiaram-se em campo e fora dele, demonstrando um ódio histórico que não fica nada bem na tribo do futebol. Felizmente froam os dois mais cedo para casa.
A desilusão: A Holanda. Os holandeses contaram com alguns dos melhores jogadores do ano, como Robben, Sneijder ou Van Persie, mas terminaram os Grupo B apenas com derrotas, a pior prestação de sempre dos holandeses em campeonatos europeus.
A surpresa: Além de Portugal, a Grécia. A selecção grega, sem o mesmo elan de 2004, cnseguiu a segunda melhor prestação de sempre, os quartos-de-final, perdendo com a Alemanha por 4-2. O treiandor português Fernando Santos confirma a preferência dos gregos, e deverá manter-se à frente da seleção helénica para a campanha do próximo mundial.
Revelação
Para quem ainda não sabia, ficou bem claro quem é afinal o Leocardo, na edição da
última sexta-feira d'O Clarim, o jornal da Igreja Católica de Macau. O Luís Crespo, esse grande cão, é o sujeito que tem atazanado os queridos leitores já vai para seis anos. Queria agradecer ao Pedro Daniel Oliveira pela entrevista e à Ana Marques pelas fotos (que não ficaram assim tão bem, foi durante a hora de almoço e estava bastante sol). A todos muito obrigado, e desculpem qualquer coisinha.