quinta-feira, 26 de julho de 2012
Patas na poça
1) Como tem chovido muito estes dias, é normal que há por aí quem ande a meter a pata na poça. Começo pela deputada Melinda Chan, de quem até gosto, que "quer penas mais pesadas para traficantes de droga", segundo a edição de hoje do Hoje Macau. A sra. deputada acha que a actual moldura penal "não é suficientemente dissuasora", e que existem países na região onde o tráfico "dá pena de morte". Em primeiro lugar não concordo que valha a pena traficar droga em Macau. Não é lucrativo. Existem outras formas de fazer dinheiro, e até a subsídio-dependência é uma forma mais catita de cravar umas messas do que propriamente a dependência de substâncias. Mas o pior é mesmo essa maldita mania de comparar Macau com outras regiões e estados. Pena de morte? A senhora deve estar a brincar, concerteza. Só pode. E que tal cortar a cabeça a esses malditos traficantes, como se faz na Arábia Sodomita, por exemplo? Se há coisa que me faz um bocado de confusão nessa lei é aquilo que se considera "tráfico". Quer dizer, quem está na posse de substâncias ilícitas para mais de um dia, é considerado "traficante". Ou seja, os toxicodependentes, que são doentes, coitados, têm que ir buscar produto todos os dias para alimentar o vício? Mas pronto, para a próxima pense melhor, sra. deputada.
2) Ainda no Hoje, mas na edição de ontem, Hélder Fernando faz uma comparação completamente descabida. Então as barbatanas de tubarão, e a forma como são obtidas, podem alguma vez ser comparadas à carne de porco, aos pipis ou até à coxas de rã? A forma como as tais barbatanas são obtidas é cruel e desumana: são cortadas e o tubarão é mandado ainda vivo de volta ao mar, onde sangra até morrer. Não nutro nenhuma simpatia especial por tubarões, baleias e crocodilos, mas também não posso concordar com actos de tortura contra qualquer ser vivo. O que se faz aos tubarões para obter as barbatanas para a tal sopa que o Hélder tanto aprecia, tanto quanto pipis ou kalulu de peixe seco (?) é tão reprovável como a forma que se tratam os cães, ou os macacos que são comidos ainda vivos na China. Eu recuso-me a comer barbatanas de tubarão. Sei que sou uma gota no oceano, mas pelo menos não pactuo com a tortura e o sadismo.
3) Agora fora de Macau, e a respeito das Olimpíadas. Os jogos estão aí de novo, e mais interessante que a competição propriamente dita, aí estão algumas "estórias" que dão outro colorido ao evento. E por falar em colorido, a atleta grega do triplo-salto Voula Papahristou fez comentários racistas no Twitter e foi afastada dos jogos. A Voula (que é lindíssima!) escreveu naquela rede social que os "mosquitos do Nilo alimentam-se de comida caseira", referindo-se à recente epidemia na Grécia e ao número de imigrantes africanos naquele país. Deve ter imensa graça em grego, mas nem um pedido de desculpas valeu à atleta, que vai ver os jogos em casa pela televisão. Ontem arrancou o torneio de futebol feminino, e com uma gaffe da organização: no jogo entre a Colômbia e a Coreia do Norte a bandeira coreana foi trocada com a rival do sul na apresentação das jogadoras. Como a rivalidade entre as duas Coreias é ainda o último resquício da Guerra Fria, as norte-coreanas voltaram as costas, fizeram birra e queriam ir embora. Lá as convenceram a voltar, e ainda ganharam a partida por 2-0. E vivam os jogos!
Gente ignara é o que não falta nesta terra.
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