quarta-feira, 2 de outubro de 2013
A China de A a Z - parte II: De O a Z
OLIMPÍADAS - A China organizou pela primeira vez em 2008 os Jogos Olímpicos de Verão. Pequim foi o palco de uma ambição antiga, que marcou ainda a afirmação da China como grande potência mundial económica e desportiva. A organização dos jogos ficou marcada por protestos contra o regime chinês, e a forma como insiste em desrespeitar os direitos humanos, mais acentuados durante 2007, aquando da passagem da tocha olímpica por várias cidades mundiais.
PANDA - O Panda é um marsupial da família do urso, existente exclusivamente na China, mais precisamente na provincial de Sichuan. As manchas largas e arrendodas pretas e brancas dão aos pandas um aspecto exótico, e nos zoos onde existem em cativeiro são sempre uma grande atração. Os pandas foram durante décadas alvo preferencial de caçadores furtivos, chegando ao risco de extinção, até à intervenção do Governo, que lhe atribuíu o estatuto de espécie protegida. A oferta de um casal de pandas por parte de Pequim é considerado um sinal de grande amizade. Em Macau temos os pandas Hoi Hoi e Sam Sam, que se podem traduzir para "feliz" e "contente". São o sr. Feliz e o sr. Contente cá do sítio.
QUANTIDADE - A população chinesa, a mais numerosa do mundo, situa-se actualmente nos 1353 milhões. Diz-se que se toda a população da China desfilar à nossa frente em fila indiana, nunca mais acaba, pois durante os anos que demoram os actuais chineses a passar, vão-se aparecendo novas gerações (é melhor não arriscar, portanto). Durante grande parte do século XX o país foi um exemplo de crescimento demográfico desenfreado, passando dos 546 milhões em 1950, a 946 milhões em 1978, data da implementação da política do filho único. O ano de 1963 foi especialmente alarmante, com um aumento populacional de 22 milhões (!). Três anos antes, em 1960, deu-se o único decréscimo populacional, resultando da Grande Fome, que causou 25 milhões de mortes em dois anos.
RAE - A sigla "RAE" designa em português "Região Administrativa Especial", uma forma idealizada por Deng Xiaoping para integrar os territórios de Hong Kong e Macau sem alterar o modo de vida das populações, garantindo-lhe os mesmos direitos e liberdades de que sempre gozaram. Nascia assim o princípio de "um país, dois sistemas", com as RAE a regerem-se por uma mini-constituição, a Lei Básica, que lhes garante um elevado grau de autonomia, podendo decidir em todos os aspectos menos a defesa e a política internacional. Hong Kong regressou à soberania chinesa em 1997, e Macau dois anos depois.
SUPERSTIÇÃO - Os chineses são um povo supersticioso por natureza, e obedecem a alguns preceitos que evitem trazer-lhes má sorte. Apesar das tentativas de Mao de banir a religião, adivinhos e mestres de "fong-soi", que considerava "decadentes", ao povo chinês aplica-se a velha máxima "Não acredito em bruxas, mas que as há, há". O ano novo chinês, que marca a passagem do novo Ano Lunar, é identificado como um período em que os chineses, mesmo os mais literados, evitam atritos com o divino, cuidando que cumprem as tradições próprias da data.
TIANANMEN - A Praça Tiananmen, palavra que significa "porta celestial", é um dos maiores pontos de interesse turístico para quem visita Pequim, e um exemplo acabado do estilo arquitetónico imperial. Foi também neste local que se deram os incidents de 4 de Junho de 1989, que puseram fim a um ajuntamento de estudantes universitários que exigiam reformas democráticas e mais liberdades. Os protestos surgiam numa altura sensível, num ano que culminaria com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Temendo a sua queda, o regime dispersou os manifestantes pela força, mandando o exército evacuar a praça durante a madrugada. Ainda não se sabe ao certo quantos estudantes morreram, ou o que se passou com exactidão, e o tema continua a ser tabu para o Partido Comunista no poder.
UNIDADE - Mao Zedong, fundador da RPC e presidente até à sua morte em 1976 pode ser um personagem que não reúne consenso, mas teve um mérito que o povo chinês lhe reconhece e pelo qual está eternamente agradecido: conseguiu unificar a China. A unidade do país e a sua integridade territorial são considerados elementos essenciais à paz e à estabilidade, algo que foi sempre muito raro. O PC, que mantém a liderança do governo do país há 64 anos, apela ocasionalmente ao patriotism da população, acenando com os perigos do separatismo e da divisão, por vezes como parte de uma conspiração engendrada por "uma potência estrangeira" (normalmente os Estados Unidos e os seus aliados). Uma estratégia que vai produzindo resultados, a prova disso é o poder continua nas mãos do partido único.
VINGANÇA - Há muitos anos, ainda em Portugal, ouvi falar de uma tal "vingança do chinês", e apesar de não saber exactamente do que consistia, pensei de imediato tartar-se de algo terrível. De facto esta "vingança" de que se fala descreve uma das maiores virtudes dos chineses: a paciência. Enquanto que os ocidentais têm a tendência para reagir prontamente a certas situações que requerem alguma ponderação, os chineses têm a paciência para esperar pelo momento certo para actuar. À "cabeça quente" dos ocidentais, respondem os chineses com o seu "sangue frio".
WANG - O apelido Wang (王), ou "Wong" em cantonense (não confundir com o outro "Wong" [黃], que é "Huang" em Mandarim) é o mais comum na China continental, Macau e Hong Kong. O segundo é Li (李), ou "Lei" em cantonense, que curiosamente é o mais comum entre os chineses radicados na América, onde ficou com a romanização "Lee". Em terceiro vem Zhang (張), ou "Cheung" em cantonense, depois vem Liu (劉), que é "Lau" em cantonense, e em quinto vem Chen (陳), ou "Chan" por estas bandas, que é o apelido que vence entre os chineses de Singapura e Malásia. Existem centenas de apelidos, e alguns deles muito raros. Uma vez abordei o assunto mais detalhadamente neste post.
XADREZ - Os persas inventaram o jogo de tabuleiro que conhecemos por xadrez, e os chineses têm a sua própria versão, o xadrez chinês. Este não deve ser confundido com o mah-jong (麻將), uma palavra que se traduz literalmente para "pardal" - é o jogo do pardal. Os chineses adoram este jogo, onde participam quase pessoas, e alguns chegam a jogar com uma frequência quase diária, durante horas a fio. Em casos mais extremos, há quem perca bastante dinheiro apostando no mah-jong, ao ponto de ficar na ruína.
YINYANG - O Yinyang (陰陽) é um conceito da filosofia chinesa que descreve a forma como das forças aparentemente opostas se complementam, interrelacionam, e não fazem sentido uma sem a outra. São os opostos como o masculino e o feminino, o calor e o frio, a vida e a morte, o dia e a noite, entre outros. Aliás esta dualidade entre a luz e as trevas entra na etimologia de yinyang e explica o símbolo na imagem. O "yin", a metade preta, representa a escuridão e o frio, o norte, o lado lunar, enquanto o "yang", a parte clara, representa a claridade e o calor, o sul, o lado solar. Aliás o character chinês de sol é exactamente "陽" antecedido de "dá" (太), ou "grande". O astro-rei é, portanto, o "grande yang". Para entender melhor tudo isto, é necessário ler mais e tentar entender a filosofia taoísta.
ZHONG - O país a que dediquei esta rubrica é conhecido em quase todo o mundo por "China", mais coisa menos coisa, menos na própria China, onde é chamado de Zhongguo (中国), literalmente "país do meio". O nome "China" deriva do persa "Cin", que por sua vez teve origem no sânscrito "Cina", onde é mencionado na literatura Indiana do início do primeiro milénio para descrever "o povo dos Qin", que foi a primeira dinastia do império chinês. O nome "China" é mencionado pela primeira vez em 1516 no diário de viagem do explorador português Duarte Barbosa, que introduziu este nome no continente europeu - mais um contributo português, orgulhem-se! O nome Zhongguo surge em textos do século VI DC, e é cunhado pela tribo dos Huaxia, que habitavam o planalto central, e designavam-se por "povo do centro" para se demarcar dos bárbaros que habitavam as regiões circundantes, que os ameaçavam com a guerra.
E assim conclui-se esta viagem pela China de A até Z. Espero que tenham gostado, e no fim tenham aprendido qualquer coisinha. Aproveitem agora que eu não duro sempre.
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