Esses bastardos do "contenente" (uma "pérola" vinda da nossa pérola)

Estava ontem a ver o programa "Atlântida", uma produção dos estúdios da RTP da Madeira, e fiquei boquiaberto com o que vi (e ouvi) vindo dos madeirenses. A certo ponto, e durante uma rubrica que penso ser habitual naquele programa, falava-se da História da localidade de Santa Cruz, ali assinalada no mapa e ilustrada com uma bonita imagem, ambas cortesia da "Google Maps"  - a melhor maneira de fazer turismo sem tirar o cu da cadeira em frente ao computador - e os "historiadores" de serviço iam explicando a origem do local referindo vastas vezes a contribuição de uns tais "colonizadores". Era "quando os colonizadores chegaram" para aqui, "quando foi feita a colonização" para acolá, e isto dito assim, de boca cheia, como se fosse uma coisa normalíssima, por demais escarrapachada nos anais e vaginais da História.

Não sei se na Madeira o conceito de "colonização" e "colonizador" não tem a mesma conotação algo negativa que tem nas outras paragens onde se fala o português como língua oficial, mas das duas uma: ou não tem, de facto, ou eu despertei recentemente de um coma profundo do qual não me recordo de nada, e entretanto deu-se a independência da Madeira. Vamos perder a cabeça e fazer de conta que sim, que existe uma vontade de fazer da Madeira um país independente. Nesse caso, quem seriam os tais "colonizadores"? Aquilo estava desabitado quando o Zarco e o Tristão Vaz lá chegaram, não estava? Desculpem a ignorância, mas no meu currículo escolar não existia nenhuma disciplina de História da Madeira, talvez por ser tão pertinente como uma para cada província da República, uma "História do Alentejo", ou "História do Minho". A não ser que se tenha dado a descoberta dos nativos da Madeira, um "homo madeirensis" qualquer, durante o tal período de coma que referi, e do qual não me recordo. E quem são os nativos? O Alberto João Jardim é um deles? Isso explicava muita coisa.

Sempre pensei que a Madeira está para Portugal como as Canárias estão para a Espanha, mas com a particularidade dos madeirenses terem mais a ver com os portugueses do continente do que os "canarinhos" com os espanhóis (e no fundo, ninguém quer ser espanhol). É um facto que na Madeira e Porto Santo habitam indivíduos com apelidos como "Jardim", "Ladeira" ou "Pita" (ui, esses...), que nos levam imediatamente a identificar como madeirenses, ao que eles respondem de imediato, sobressaltados: "cu mé que vossemecê sabuuia"? Mas mesmo os "patriarcas" desses clãs da Poncha vieram em tempos do "cuntenente", foi ou não foi? Será que estamos na presença de madeirenses arraçados de catalães? Será que vamos ver um dia o nosso C. Ronaldo ostentar uma braçadeira onde se lê "Independêêência pá Maduuira"? Para adensar a confusão, um dos elevados contadores da História do concelho de Santa Cruz (onde fica o aeroporto internacional do Funchal e vivem praí meia dúzia de milhar de alminhas) falou de como ali se cultiva "o ananás, as bananas, as batatas...". As BATATAS? Sempre pensei que ali diziam "Semelhas", que se comiam "Puré de Semelhas", e de vez em quando anda-se à "Semelhada" (à "batatada", ou à porrada...pois, deixem lá). Afinal parece que não. Ou o tal senhor não é ele próprio um nativo, quem sabe? A Madeira é um "mustéire".

Eu começo a ter receio de ir à Madeira, sinceramente. Receio do que podem fazer comigo assim que detectarem que sou "um bastarde do contenente", descendente dos tais "colonizadores". E eles também, acho. Quem são os "colonizadores", afinal? Sei lá, sei que ligam para aquele programa alguns madeirenses a residir no estrangeiro (99% das vezes é na Venezuela), a dizer que "têm muitas saudades", e tal, "vão lá este ano, como costume", porreiro, mas "viver outra vez na Madeira é que não", deixando claro que "a Madeira é munto benite", mas agora "a nossa vida éi uqui". Normalmente na "Vunuzueila". Um mistério, estes tais "nacionalistas madeirenses". Serão perigosos? Alguém sabe se é verdade, ou se são apenas...como é que se diz "peanuts", em madeirense?