segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Fantasias, fantoches e fantasmas, parte I: refúgio


Na ressaca de uma semana pouco habitual em termos de actualidade, é tempo de contarmos as espingardas, não para nos prepararmos para uma nova batalha, mas para ver quantas ficaram da última, agora finda. Todas? E nem chegaram a sair do quartel, mas...foram disparadas? Tiros no próprio pé? Ah, que pena que não foi nos dedos, e aqui "os dedos" são no sentido figurativo, e longe de mim desejar que acontecesse tal coisa a alguém, dedos decepados, carne moída como num passador, ossinhos partidos, blergh. Muito bem, então já com o pó dos ataques terroristas que nunca tiveram lugar assente, vamos agora com mais calma abordar alguns temas cuja "febre arábica" não deixou tratar à luz do bom senso, e sem que se entrasse por extremismos, fanatismos e fundamentalismos - palavras aliás associadas a um certo grupo ou grupos que em comum tem a mesma religião. E depois? Foi essa diferença que causou tanta animosidade entre as pessoas, e que à boleia dessa aproveitaram para manifestar outras mais recalcadas, e com resultados desastrosos para a dignidade de quem se apressou a correr para um dos lados da guerra, como se "guerra" fosse aquilo que queriam. No fim ficou bem claro que não era, ou pelo menos não participariam na eventualidade deste "pissing contest" escalar num conflito. Tive sempre confiança de que não ia sair nada desta "peixeirada", mas não digo que este não possa ter sido um sinal de alarme, e ao contrário dos pobres belgas que ficaram pálidos de medo - uns mais do que os outros, mas todos igualmente apreensivos - aqui foi apenas alarme de grau um, o mínimo.

Optei por ficar do lado do observador, mesmo que intervindo algumas vezes, pois já sabia o móbil desta desavença entre pessoas era a religião: o concreto e o abstracto, o sólido e o gasoso, os esquimós e o Pai Natal. Não vou afirmar que "já sabia" da razão desta onda de terror, para depois deixar no ar a dúvida de "o que é que sabia", e no caso de me perguntarem sai mais uma dissertação em jeito de teoria da conspiração com a minha interpretação (ena, 3 "ão") do quadro geopolítico que explica...não explica nada! A verdade é que não sabemos a verdade, e mente quem garante que menos mente. Podemos pôr 100 pessoas a dar a sua própria versão do que acha que aconteceu, podemos acreditar em quase todas, e pelo meio até pode estar a verdade verdadinha e até a podemos ignorar. Tudo é possível, e a julgar pelo que se tem dito a este respeito nas redes sociais, a verdade podia ter efeitos devastadores...ou ser desmentida nessas mesmas redes sociais, e lá começava tudo de novo, com mais inúmeras teorias debitadas diariamente, entre brincadeiras parvas ou provocações escusadas, até porque nem produzem nenhum efeito cómico, mas há uma coisa importante que eu gostava de vos mostrar.


Eu nem quero tomar nenhum partido nesta questão, mas principalmente porque aqui ninguém é santo, só que neste artigo colocado no Facebook o mês passado há um batoteiro que se fosse meu melhor amigo eu recusava ajudar, e nem era pela causa em si - mas pelo vídeo completamente estúpido que só engana alguém que não o viu, ou é muito crente. Eu acredito que a maioria não viu, passou por ali à pressa, achou a "preview" chocante, fez "like" e bora lá, "next". Mais uma vez, sem tomar partidos, aquela é sem dúvida uma Igreja em França, e aqueles são sem dúvida muçulmanos, até mais do que isso, e estão a atirar pedras, mas  NÃO ESTÃO A ATIRÁ-LAS À IGREJA, pois não? Ah, desculpem, eu não quero influenciar a resposta, mas não dá para resistir - eu fazia melhor que o telemóvel. O tipo que apresenta aquele noticiário diz-nos que realmente são crianças a atirar pedras a uma igreja no sul de França, demoniza as criancinhas, diz que o sul de França é o paraíso, e mais: estavam pessoas a sair de uma missa num feriado religioso, e as crianças atiraram-lhes pedras. Horrível, concordo, mas é preciso imaginar que aquelas crianças numa intifada na Palestina iam conseguir acertar na cabeça dos crentes da Igreja do Sul de França (nem sei bem se ele diz que cidade), mas pronto, imaginemos, e o tipo berra-nos feito um animal "ESSA É QUE É A RELIGIÃO DA PAZ???". E ISTO É PARA GENTE BURRA???


Parece-me que aqui o cerne da questão é a crise dos refugiados, que tem deixado os portugueses em pânico, ou melhor "indignados", sim, porque estes "refugiados" com as aspas a indicar que são na verdade terroristas, vêm fingindo-se de necessitados, e depois pedem luxos como "roupa", e "comida". Ah? Não é só? Eu sei mas vem discriminado como sendo algo que eles não deviam pedir. São camelos ou refugiados? E vejam como lá em baixo deixo o estatuto do refugiado, e..."ah tá bem, isso é muito bonito...". PODE DEIXAR-ME ACABAR, POR FAVOR? Bem, dizia eu, no estatuto podem ver que não é necessário haver guerra, nem a guerra é sequer requisito. Basta não gostarem da cara de alguém para torná-lo refugiado, e quem decide isto são os Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), ao abrigo de um plano do Ministério da Administração Interna (MAI), e no âmbito do Programa de Apoio aos Refugiados da União Europeia, que "guess what"? Tem um fundo para cobrir os custos do programa. Pimba. Isto quer dizer que...


Eu entendo a raiva nas palavras, mas não as palavras (Shakespeare), só que podiam mudar o discurso para outro, se não se importam? Para algo mais perto da verdade, como "odeio-vos, morram", ou "vocês deviam morrer todos", ou "Heil Hitler", algo desse género? É que se estão a dizer que os portugueses "estão a pagar isto", e à "custa dos impostos", e "renegando os sem-abrigo", essa é uma dívida de que eu não quero ser credor. O Carlos Ferreira Bófia, do último comentário, explica mais ou menos o que se passa, pois não são exactamente "ricos", mas também não estão em Portugal, que ainda não é o único país da Europa. São pessoas normais, porque como já demonstrei, não é necessário fugir de uma guerra para se ser refugiado. "Ah é, ah dizes tu, e a lei? Ah, bem". Já acabaste de ser parvo? Toma:


Tens ali tantas leis para ler, e podes começar por dizer aquele teu amigo que está sempre a gosmitar que "queria ser refugiado, para ter tudo de borla", que tem que ser apátrida ou estrangeiro, e nem pensar que lhe põem na lista negra: faz pela vida. E já agora obrigado por confiar em mim, e agora que sabe que não sou ladrão, ainda quer mandar os refugiados embora? Eu não sei se eu devia ir com eles, também, porque não tendo um único motivo para estar contra estas pessoas, significa automaticamente que sou "cúmplice", certo? Porque se eu for a favor da deportação desta gente, vou estar antes a colaborar com aquilo que pode muito bem ser uma tragédia grotesca; vocês recordam-se, ou melhor "viram imagens" (agora no próximo nível é preciso ser bom actor).


Mas, mas...mortos em França?!?! Mas eu paguei, não paguei? Ah, não é nada comigo? Próximo capítulo? Isla...ohhh. 


TO BE CONTINUED




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