sábado, 17 de outubro de 2015

Dartacão e o CÃOrdeal



Calma, calma, ó geração que hoje tem entre 37/45 anos, não comecem ainda os actos de auto-gratificação sexual, eu sei, é o "Dartacão", o xarope televisivo da criançada nos anos 80. Eu recordo-me do aparecimento deste verdadeiro fenómeno, que adaptava o romance "Os Três Mosqueteiros", de Alexandre Dumas, ao...canil? Mandava Dumas "ir dar banho ao cão"? Tratava-a abaixo de cão? E o que se estava para ali a ladrar, exactamente? Fiquei deveras desapontado por nem uma vez um dos personagens ter snifado o ânus de outro, ou coçado os testículos com os dentes, ou ainda, e porque não, executado uma canzana espontânea em plena via pública, a sangue frio, por entre transeuntes indiferentes, que consideram isso "normal", ou "da natureza". E por falar em canzana, existia uma, bem, uma cadela que dava pelo nome de "Julieta", que era tratada por "milady" - nem uma única vez por "cadela": "Sois uma bela cadela, Julieta, sua...cadela". Quer dizer, éramos crianças mas não éramos estúpidos. A canção do genérico na versão portuguesa era uma tremenda bosta, cantada por putos mijões e com uma letra que continha o infame verso "O amor da Julieta é o Dartacão/E ela é a predilecta do seu coração". Milhões de euros em pedopsiquiatria foram gastos em debelar este trauma juvenil, minha gente. Eram CÃES, e não pessoas que ali estavam, seus crentes ignóbeis!


Apreciava contudo a nota social, comum aliás à obra de Dumas, um grande observador, que colocava a Igreja no papel de "maus da fita". Foi uma geração inteira a acreditar que o Cardeal Richelieu era "dos maus" - e quem não era na Igreja até à segunda metade do século XX? Hoje há apenas os que não são horríveis, sádicos, pederastas, censores, inquisidores, malvados, obesos, bêbados, larápios, ociosos, lambujeiros, inúteis, canalhas e abusadores. Os que ainda se vão safando, pronto. E por falar em Cardeal Richilieu...


Pronto, ali está ele. Em cima à direita está um fresco do sec. XVII representando o próprio Cardeal, em pessoa (devia ter tanto que fazer que até dava para ficar de pé a posar para um pinceleiro qualquer; que paneleirice. Olha, tivessem mandado vir os irmãos Lumiére mais cedo, paciência). Ao seu lado temos o seu personagem canídeo da série animada, e em baixo, pela mesma ordem, temos os actores que o encarnaram no grande ecrã, nomeadamente Peter Capaldi e Tim Curry. Portanto, o homem não enganava ninguém, sendo imediatamente anunciado e denunciado pelo seu ar de facínora, sádico tresloucado e aficionado da pilhagem e violação de menores. Penso que estes não eram atributos despiciendos à Santa Sé para escolher os seus mais altos dignatários - eram exigências "sine qua non" para exercer o cargo! Vou passar a transcrever uma entrevista para a posição de "Bispo Emérito e/ou equiparados", que teve lugar no próprio Vaticano, no ano de...prrr....1616, pode ser? Garanto ser tão verídica quanto aqueles vídeos e imagens editadas e manipuladas que passaram o Verão inteiro a ver como "prova da iminente islamização da Europa":
Secretário do Papa: - Então o meu amigo começou como cura lá na sua aldeia...mais tarde tirou Teoria do Satanismo e Técnicas de Tortura Medieval no seminário...foi para padre...tem filhos bastardos gerados entre os crentes do género feminino, suponho... 
Candidato: - Nem fazia mais nada o dia todo. 
S: - Ah, um sagaz praticante, um perfeccionista. Gosto disso. Ao domicílio, ou... 
C: - Na sacristia, mas mais no confessionário. Sodomia no primeiro encontro. 
S: - Oh, como mandam as escrituras. Sim senhor, gosto do seu entusiasmo e dedicação à causa da Igreja. E vejo aqui na nota curricular que era exímio na disciplina do incesto, mãezinha, claro, irmãs... 
C: - Todas as cinco. Tias, primas e vizinhas também, mas dessas não consegui a assinatura no diploma, e... 
S: - Perfeito, perfeito, não tem importância que essas só decidem em caso de empate. Mas espere lá, vejo que se antecipou degolando o pai e pegando fogo à quinta, que como sabe fazemos questão de mencionar nas condições de acesso, mas a mãe do cavalheiro... 
C: - Pois, veja lá você que dois anos antes teve uma pneumonia e guinou, antes que eu lhe pudesse fazer a folha. Azar... 
S: - Pode crer. É que não sei se sabe, mas Sua Santidade está à procura de candidatos que tenham cometido Patricídio E Matricídio. Tenho muita pena, mas esta pequena falta pode pesar na decisão final... 
C: - Oh...não imagina como estou desiludido. Apetece-me decapitá-lo, retirar-lhe as entranhas e de seguida gratificar-me sexualmente através dos orifícios mais apertados e viscosos das mesmas... 
S: - Imagino o que sente. Não passa meia-hora que não me dê vontade de fazer o mesmo. Até que faço, mesmo. Mas olhe, em todo o caso damos-lhe resposta pessoalmente e sem falta, mesmo no caso de ficar reprovado.  
C: - Não tem importância. Se precisarem de alguém para o lugar de um dos vossos pares que decidam envenenar no âmbito de alguma sinistra intriga eclesiástica decorrida num mosteiro situado num recôndito bosque do interior da Lombardia... 
S: - Pode ter a certeza que o teremos sempre em conta. Adeus e um santo Heil Hitler Ave Satã Allah Akbar para si. 
C: - Vai tu. Adeus.


Para quem não sabia, este personagem que se pode equiparar em termos de atributos morais ao Xerife de Nottingham, ou ao Sgto. Garcia da série "Zorro" (uma figura da autoridade, apesar de tudo, mas que toda a gente despreza, optando por ficar a torcer pelo "herói", a todos os títulos um marginal, criminoso ou foragido da justiça) existiu mesmo, e foi ministro da corte do rei Luis vinte e não sei quantos. O facto de ser o único personagem recorrente de "Os Três Mosqueteiros" que não era ficcional leva-me a pensar que Dumas não nutria pelo Cardeal uma simpatia assim por além, podendo isto estar relacionado com o facto de Richelieu ter sido um impiedoso intriguista, ditador, traidor, etc. - era o "tutti-fruti" dos vilões dos romances de capa e espada. Um gajo que queria fazer mal à malta por gozo, e era capaz de pagar do próprio bolso para ver a desgraça alheia. Um "Super-Jackpot", não dos singles mais vendidos do ano, mas das maldades mais cruéis que se podem imaginar sem o recurso a substâncias alucinogénicas. Imaginem que até foi apurar toda aquela maldade nas Universidades de Navarra e de Paris. O homem dedicava-se de corpo e alma a f...-nos bem f...dos.


Mas tal como eu, o caro leitor e a restante espécie humana, Richilieu não nasceu Cardeal, e o seu nome humano era Armand Jean du Plassis. Ulá-lá, trés joli. Sem dúvida que "Richilieu" fica-lhe melhor do que Armand Jean, que parece o nome de uma marca de gabardinas. Era como se Adolf Hitler se chamasse "Natalino Rosário dos Anjos Amoroso" - simplesmente não batia certo. Música sinistra...alguns segundos de suspense, vem o narrador com voz cavernosa e grave anunciar: "tudo estava bem até que, surgindo do nada, qual sombra maquiavélica da morte...tchan tchan tchan...ARMAND JEAN DU PLASSIS!". Não pode ser. No sell. You go home, american! Go now!


Mas chega de nota histórica, que a malta estava mesmo era a falar do Dartacão e dos MosCÃOteiros, que há que admitir, é um trocadilho bem giro, ao nível do seu homólogo inglês, o "Dogtanian" - quem sabe se até mais bem conseguido e tudo que "the Three Muskehounds" (yuck). Podia ser muito pior, e não seria de admirar. Podiam traduzir o nome do personagem para "Bolinhas, o rafeiro traquinas", ou "Tim-Tim o espadachim" - e quantas vezes não se arruinaram nomes magníficos de personagens do nosso imaginário infantil com traduções portuguesas ATROZES: o "Kermit the frog" ficou "Cocas, o Sapo" (que merda é essa, um ou uma "coca"? e "cocas" são mais que uma? "quecas" eu conheço, agora "cocas"???), e o pior de todos:



Devem-se lembrar desta série, que eu evitava mais que a casa-de-banho de uma daquelas estações de serviço entre Gongbei e Cantão. A série original tinha o nome de "Ox Tales", e a produção era japonesa, com parceria da Telecable Benelux, e os personagens inspirados numa banda-desenhada holandesa intitulada "Boes" - é por isso que no meio da canção do genérico se escuta "Boes, Boes", em neerlandês (nem se deram ao trabalho de fazer uma versão em português para esta. se calhar o Tozé Brito e a Ágata estavam indisponíveis para o efeito). O personagem, um boi com nariz de hipopótamo e com um par de socas calçadas nos cascos (?!) dava pelo nome de "Ollie", só que em português o "Ox Tales", o "Boes" e o "Ollie" foram dar uma volta ao bilhar grande, e ficou "As Aventuras do Bocas". Do "Bocas", imaginem, foi assim que chamaram ao boi, que ainda por cima tinha a voz inconfundível do malogrado actor Henrique de Canto e Castro, que apesar de ter falecido há mais de dez anos, ainda aparece em praticamente toda a produção nacional a que assistimos na TDM/RTPi. Quando ouvia aquela voz imaginava o boi a ter um ataque de catarro, e depois a escarrar num penico. Livra!


Mas no que toca às séries, aos genéricos, traduções e todos esses ingredientes do nosso longínquo tempo dos mais novos, e voltando ao Dartacão, o nome foi bem escolhido. Para os outros personagens é que não sobrou assim tanta imaginação, e se calhar até foi melhor assim. Ainda tínhamos os mosqueteiros rebaptizados de Ãotos, Senta, Portos, Senta! e Cãorramiz, mais a Julieta Au-Au, enquanto o Cardeal Richilieu ficava simplesmente..."Bóbi". "Ai ai, Cardeal Bóbi, já lhe ensinei que instaurar o absolutismo na Europa faz-se lá na rua, não é na sala do dono. Mau menino, Cardeal Bóbi"! Mas vejam como ficou a canção da versão britânica da série:



Ah! Conseguem ouvir os latidinhos por detrás da voz do puto bife? Aqueles latidinhos, que parecem saídos de uma cuíca que late em vez de ganir? Agora experimentem isolar só essa parte dos latidos, e depois escutem enquanto visionam um filme pornográfico, daqueles "hardcore" e "hard pissa". Diversão para uma tarde inteira. Pronto, é tudo, e uma vez que não ficaram mais cultos com esta peça, espero que pelo menos tenha ocupado o tempo que se calhar gastariam a ver mais reportagens adulteradas sobre a crise dos refugiados, que...OLHA UM REFUGIADO SÍRIO/TERRORISTA DO ISIS MESMO ALI NA JANELA, A LEILOAR UMA MENINA CRISTÃ SEM CABEÇA! Estão a ver como vos fiz olhar mesmo para a janela, e com um cagaço que já ia na fase dos peidinhos iniciais? Ai, ai. As melhoras.


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