segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Comédia sempre em pé
Devido ao fim-de-semana preenchido com a edição do filme que deixei aqui esta manhã, bem como a realização de outras tarefas para as quais o tempo fica curto durante a semana (dormir, por exemplo) não me tem sido possível actualizar o blogue com a frequência habitual e desejada - é um compromisso que assumi comigo mesmo e quando já não tiver a vontade ou o engenho para o fazer anuncio-o a tempo e horas, e em primeira mão, sem precisar que me leiam as intenções. Posto isto gostaria de dizer uma ou duas palavras a propósito da actuação do humorista João Seabra, que apresentou a sua rotina de "stand-up comedy" este Sábado no auditório Dr. Stanley Ho, do Consulado Geral de Portugal em Macau. Este conceito de "stand-up comedy" fica difícil traduzir para português, e "comédia de pé" soa a qualquer coisa como ter vinte minutos para almoçar e precisar de engolir à pressa uma bifana empurrada com um imperial no café da esquina da empresa. Trata-se basicamente de uma americanice a que estávamos pouco habituados, e só recentemente ganhou adeptos entre nós. Os portugueses têm um sentido de humor mais exigente - e isto pode ser interpretado de variadas formas - e requer uma produção mais elaborada do que ter um simples tipo a dizer disparates ou a fazer macacadas em cima de um palco. Contudo o público mais jovem ou a geração que cresceu a assistir a séries como "Friends", "Seinfeld" ou Frasier assimila com mais facilidade e torna-se mais receptivo a esta modalidade de humor.
Na quinta-feira deixei aqui um comentário um tanto enigmático sobre que tipo de espectáculo João Seabra traria aqui a Macau, se inspirado numa realidade com a sociedade portuguesa como pano de fundo, ou se adaptaria o seu material à realidade local - foi inteligente da sua parte não arriscar esta última. E nem é preciso explicar porquê; se aqueles que aqui chegam e passado um mês pensam que já sabem tudo e mais alguma coisa, e ainda querem ser levados a sério, imaginem o que faria um comediante. Seabra optou por um acto com que qualquer português em qualquer parte do mundo se identifica, com uma temática especialmente centrada no quotidiano, dando primasia à vida conjugal. O resultado ficou acima das expectativas, pelo menos para mim, que conhecia mal o seu trabalho; só o facto de fazer bem o número de ventriloquismo é meia-vitória. Uma das suas vantagens é o sotaque tripeiro, que nunca deixa de ser encantador na hora de encarnar alguns personagens, e nem é preciso terminar a primeira frase para nos deixar logo a sorrir. Nota-se que é um comediante com larga experiência, nunca deixou o ritmo cair ou que acontecessem momentos "mortos", e nota-se que é um tipo bem disposto por natureza Se quiser ser preciosista, posso apontar um ou dois detalhes menos conseguidos, mas fico por um que nem tem muita importância: o papel do futebol nas relações onjugais. Talvez alguém lhe pudesse ter dado um "toque" e explicado que aqui os jogos passam de madrugada, sete ou oito horas à frente de Portugal. Quanto à reacção tímida das poucas dezenas de espectadores, na maioria jovens, espero que ele não tenha interpretado isso como uma reacção negativa. É que aqui já se sabe como é: não há lugar a "extravagâncias" por aí além. E fique descansado que esteve muito bem, está em forma e com material daquela qualidade é sempre bem-vindo deste lado.
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