quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Provedor do leitor


Bem dizia a minha avózinha e com razão: cá se fazem, cá se pagam. No distante mês de Janeiro do ano de 2013, mais precisamente no dia 14 (ou seja, há exactamente 19 meses passados hoje) escrevi no blogue um artigo de análise da actualidade em três pontos a que dei o título Olho Vivo. O último desses pontos dizia respeito a um artigo publicado nesse dia no jornal Ponto Final, e da autoria de um tal Inácio Natividade, cidadão moçambicano de que muito pouco sabia e do qual continuo a saber o mesmo, a não ser que tem ligações à FRELIMO, o partido que governa Moçambique desde 1975, e que foi activo durante o período pós-independência, combatente na guerra civil contra a RENAMO, e fazendo uma busca na "net", aparenta ser uma pessoa com muitos esqueletos no armário. Não sei nem se interessa o passado do sr. Natividade, não tinho laços familiares ou de outro tipo com Moçambique, e não procuro saber qual o papel deste indivíduo no passado e no presente daquele país, e falei apenas daquilo que li. Não o disse na altura mas posso dizê-lo agora: o que o sr. Natavidade escreveu naquele artigo, que suponho ter sido para o jornal moçambicano "Domingo", onde aparentemente é ou foi colunista (e é pena que o "link" do Ponto Final não esteja disponível), é da mais vil e doentia das sabujices, roça a mendicidade, e sorte dele os chineses que tanto bajula não gostarem de rabinho zambeziano, caso contrário andava com as pernas "à canejo" - nada contra os chineses per si, mas estivesse eu no lugar deles, dizia entre dentes sobre este senhor "o que tu queres sei eu muito bem". Mas guardemos o grosso da argumentação para a altura apropriada.

Acontece que na edição do mesmo jornal "Domingo" de 6 de Julho passado - um ano e meio depois do meu artigo no blogue - o sr. Inácio Natividade responde-me, e é caso para dizer "mais vale tarde que nunca". No entanto pelo teor da resposta fico com a impressão de que o senhor Natividade me está a confundir com algum dos seus (muitos) inimigos, e mais uma vez para constatar este facto basta fazer uma busca, e desagrada-me a forma demasiado permissiva, diria mesmo debochada, quase pornográfica, como intepreta as minhas palavras, acrescentando outras às minhas afirmações e emitindo juízos de valor a meu respeito que só podem ser produto da sua diarreia mental. Deixei o "link" para o artigo de Janeiro em cima, no primeiro parágrafo, mas vou na mesma reproduzir ipsis verbis aquilo que escrevi sobre o texto de opinião de Inácio Natividade, com excepção da introdução, que não tem qualquer relevância. Só para que possamos fazer uma análise mais concisa da resposta do sr. Natividade, e para que quem tiver dois palmos de testa tire as suas conclusões:

(...) Depois de vários parágrafos de graxa ao regime chinês que chega para dar brilho aos sapatos dos membros do Politburo durante os próximos dez anos ou mais, e dissertações sobre a qualidade dos produtos chineses (sabiam que quem põe no espaço naves com 100 toneladas de peso só pode produzir tecnologia de qualidade? Eu também não...), passa depois ao ataque: "Chineses e indianos foram como os africanos muito explorados e humilhados na sua própria terra por potências coloniais estrangeiras, mas nem por isso são anti-ocidentais". Ora aí está, e ainda bem! Estava preocupado que os chineses e indianos fossem agora entrar pela Europa e "humilhar" os europeus. Eu não sei que visão do colonialismo este senhor Natividade tem, mas o facto de escrever na nossa língua, por exemplo, já é um reflexo de que nem tudo do colonialismo foi uma tragédia. Basta olhar para Macau, e o facto de estarmos aqui a discutir pontos de vista, para perceber que além da escravatura, da exploração das matérias-primas e restante "humilhação", foi feito algo de construtivo durante os últimos cinco séculos. Não quero especular como seria a África hoje sem a colonização de potências europeias como a Inglaterra, Portugal ou a França, mas não creio que fosse muito melhor, quando a totalidade daquelas ex-colónias são países livres ou independentes. Não penso que o Ocidente tenha responsabilidade directa no sistema imperial e feudal que vigorou na China durante milénios, ou no sistema de castas (que é referido) na Índia. Também não encontro no Ocidente paralelo com os eventos recentes naquele país, nomeadamente as violações e outras atitudes de selvajaria. Acho óptimo que faça "business" com os seus amigos chineses, mas abstenha-se de escrever tanto disaparate. Valeu? Kanimambo.

Vejamos agora a resposta do sr. Inácio Natividade, e também aqui elimino tudo o que não está relacionado com esta nossa troca de galhardetes, mas quem quiser ler (e duvido que alguém queira) a versão integral do seu texto pode fazê-lo aqui. Entretanto vamos ao essencial:

(...) há vezes que uma ponderação radical pode responder convenientemente a um grau de provocação elevada. Digo isto porque alguém saudosista do colonial fascismo com simpatias políticas à oposição política lançou-me farpas inedecorosas num desses blogs à deriva, e na qual diz que fiz uma apologia ao sistema de desenvolvimento chinês. O infeliz blogista com falta de inteligência ética queria tentativamente alinhar-me à ideologia oficial do Pcchinês. Um desespero de causa motivado de factores ideológicos, e que acha e julga que como negro e africano não tenho direito de opinião. No artigo de minha autoria não faço apologia do regime chinês, mas ao sistema de desenvolvimento económico chinês. Faço uma análise ao capitalismo chinês, na forma como este guindou a Nação chinesa a um alto padrão de vida, e invejável qualidade de vida que não tinha há 20 ou 30 anos. Falo de uma China que todo o mundo admira pelo trabalho e obra desenvolvida; um país que foi colonizado, que se tornou na segunda economia mundial, que lhe permite ser credor de mais de metade do tesouro da dívida estadunidense 1.44 triliões nas mãos dos chineses, assim como credor da dívida de vários países europeus ex- potências coloniais. Falo numa China em relação à robustez económica, industrial e tecnológica daquele país asiático, contribuindo dessa forma para se dissipar a percepção que se tem de que aquele país só produz pirataria. Para esse senhor Leocardo do Olho vivo ou sei lá quem é, o colonialismo não foi tão mau pois me deu o nome e foi-me ensinado a ler e a escrever. Esqueceu-se de mencionar que a taxa de analfabetismo antes da independência atingia 93 por cento. Éramos um país a viver sob ocupação miserável e infame, sob tutela do colonial fascismo e racista que para além da exploração económica, obrigava-nos a viver na desonra de uma vida sem dignidade, nem auto estima, que a independência de Moçambique liderado pelo partido Frelimo se encarregou de restaurar. No que respeita a nomes, muitos nomes da elite portuguesa e europeia de hoje estão directamente associados a escravatura dos negros africanos e ao colonialismo. Quanto a nomes africanos, detemos valores culturais que se expressam nas variantes línguas nacionais, tradições, dança, cantares, música e teatro. Apesar de acreditar na lusofonia como um espaço a explorar dentro da diversidade que caracteriza a indentidade, Moçambique independente tem apenas 39 anos, os valores culturais estrangeiros vão-se dissipando, e os de afirmação africana gradualmente vão-se impondo à medida que fomos crescendo como Nação, e povo identificado com a sua matriz civilizacional e cultural africana libertada de espartilhos da dominação estrangeira. (...)

Ora aqui está, o móbil do crime, por assim dizer. Portanto aqui o "je", que o sr. Natividade nem se deu ao trabalho de pesquisar a identidade, é "saudosista do colonial fascismo", apesar de na altura da independência de Moçambique ter apenas 10 meses de idade. E mais: tenho "simpatias políticas à oposição política", e deixando de parte a cacofonia, significa que tenho alguma ligação ou simpatia com a RENAMO ou algo assim (juro que precisei de pesquisar qual era qual para fazer algum sentido disto, mesmo que fique patente na missiva que o senhor gosta do sabor dos mackensis da FRELIMO). Paranóia típica de quem passou toda a vida a tirar dividendos de um conflito que reduziu a esmagadora maioria de um país rico em recursos à mais lamentável das misérias, e soube-se posicionar do lado do poder, de uma daquelas ditaduras que se promove através do ideal de "hoje vocês estão na merda, mas sem nós ficavam na merda duas vezes". Á guerra da independência, e quando todos pensaram que se tinham livrado da opressão colonialista, que os obrigava a "viver na desonra de uma vida sem dignidade, nem auto estima", seguiu-se a Guerra Civil, em 1977, que em 15 anos deixou mais de 100 mil moçambicanos mortos em combate e outro milhão a perecer às mãos da fome - obrigado, FRELIMO, por "restaurar" a "dignidade e a auto-estima" ao povo de Moçambique.

E de facto o colonialismo português foi só desgraças. Sim, nisto estamos os dois de acordo, mesmo que em pólos diferentes: para mim o último período do Império português foi uma pouca vergonha, onde vigorava a exploração e o deboche colonialista, e os brancos das províncias ultramarinas tinham a profissão de "latifundiário", com os negros a trabalhar para eles. Só que ao contrário do que o senhor Natividade sugere, não eram escravos, e se tirasse da frente dos olhinhos a pala dessa sua verve marxista apaneleirada que já não convence ninguém saberia que Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura. Mas ya, cocuana, o tuga era satanhoco e só fazia machimba. Depois de correr com ele do xilunguine acabou-se a canganhiça, e veio a FRELIMO que era maningue nice e fez os uenas regressar às "tradições": a "dança" das minas, os "cantares" de dor e angústia, a "música" das explosões no "teatro" de guerra. De facto é muito melhor assim do que ter de suportar essa horrível humilhação de ter 93% de analfabetos - número certamente desmentível por quem não se estiver nas tintas para isso, como eu. Antes a morte que tal sorte, não é mesmo, mesungo?

Eu nem sei por onde começar a descrever o que sinto por criaturas como este Natividade, que até dá um mau nome à época natalícia. Que fantoche sem graça este que se apresta a ser lacaio de uma das facções que dividiu um país e o sujeitou a uma guerra estúpida e demasiado longa quando a ideia era "expulsar o opressor e caminhar juntos em unidade para um futuro próspero". Ah! Ah! Ah! Um acomodado ao conflito, pois é evidente que alinha por uma postura destrutiva, que dá menos trabalho que a construtiva, e é um sabujo de primeira água, que perante a emergência da China como grande potência económica, mesmo sem a sustentabilidade de outras como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Alemanha, agrada a parasitas como ele, que se alimentam do entulho da guerra, da divisão e da precariedade. Saiba que eu vivo na China, e mesmo que seja em Macau estive na RPC tão recentemente como há menos de 15 dias. Tem razão, a China não produz só pirataria - há ainda o fabrico original e de marca local, medíocre e mau. Sim, a China interessa (e já interessou mais) às multi-nacionais estrangeiras graças ao trabalho precário e semi-escravo, que para si são sinónimo de "robustez económica, industrial e tecnológica", e por "alto padrão e invejável qualidade de vida" deve-se referir aos trabalhadores chineses da fábrica da taiwanesa Foxconn, que faz os telemóveis da Nokia e os "laptop" da Lenovo e onde os operários são obrigados a trabalhar mais de 12 horas por dia por menos de 200 euros mensais, sem intervalos para descanso ou idas à casa-de-banho. Mas isso deve-lhe agradar a si, que se encosta à elite que explora a mão-de-obra alheia, e pisca os olhinhos - o de cima e o de baixo - ao regime chinês, que "é credor de mais de metade do tesouro da dívida estadunidense". Pudera!

E não me venha co essa retórica que lhe sai pelo inhafe, tentando colocar palavras na minha boca, e acusando-me de racismo, "como racistas eram os colonialistas portugueses". Eram mesmo, ó regulo, e quando os primeiros mulungos deram à costa do Zambeze a primeira coisa que disseram foi: "epá isto é só pretalhada, até parece a Musgueira". Mas tem razão, ó madala, eu sou maningue de racista, especialmente no que toca à raça da gente burra, a qual você representa na perfeição. Por isso se mete alguma inteligência nessa sua cabecinha de coco, e enfia duas rolhas nessas narinas de turbina para ver se a massa encefálica não lhe escorre e continua a apregoar essas alarvidades de que se orgulha. E deixe-se de merdas, andando aí de mão estendida a mendigar à China, revirando o estrume da "exploração e humilhação pelas potências estrangeiras" que essa não cola. E é só pelo respeito que tenho pelo povo moçambicano em geral que não lhe digo que se fossem todos como você, os chineses não queriam o seu país nem para despejar os penicos. E passe bem. Famba, uena!



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