quinta-feira, 17 de julho de 2014

Multiculturalismo (repita três vezes e depressa)


Multiculturalismo...ah, o multiculturalismo, nunca sete sílabas juntas se pronunciaram tanto como ultimamente. Os últimos anos - desde que me lembro, praticamente - têm sido marcados por discussões sobre imigração, naturalização de cidadãos estrangeiros, duplas penetrações, nacionalidades, fichas triplas, se os mosqueteiros eram quatro porque se chamavam "Três Mosqueteiros", enfim, temas que dão pano para mangas e ficávamos aqui a noite toda a discutir isto. Quando se fala de "multiculturalismo", os burros baixam as orelhas. O multiculturalismo veio para ficar. A multiculturalidade está aí. Como todas as palavras compridas que fazem lembrar marcas e cidades alemãs (Flex-Elektrowerkzeuge e Eisenhüttenstadt, para citar um exemplo de cada), multiculturalismo impõe respeito, e deixa todos em sentido. Todos os quê? Todos, ora. Querem lá ver...

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa diz-nos que "multiculturalismo" significa "prevalência do que é multicultural". Nãããooo...Bem, fiquei completamente esclarecido. Adiante. "Multicultural", diz-nos o mesmo medium, significa "relativo a ou que inclui várias culturas". Isto parece-me bem, pois ouvi dizer em alguns quartéis que a "cultura" é uma coisa boa. Bem, isso depende, pois se for "cultura do ódio", "cultura de bacilos" ou "cultura de ópio" é mau. Basicamente isto significa o seguinte: viver num local multicultural, onde existe "multiculturalismo", é bom; podemos comer caril sem ir à India, ficando sujeitos a violações, à cólera e tudo mais, comida mexicano sem ir ao México, etc. É bom ter o mundo aqui ao pé, e o uniformizado, o igual, a sempre-mesmice, são coisas que enjoam. Já repararam por exemplo que os ingleses invadem o Algarve no Verão? Se tivessem uma Praia da Rocha lá na Cornualha e um sol como o nosso por cima da tola, se calhar já não vinham. E como os finlandeses contratam massagistas brasileiras, outras latinas e africanas para massagistas nas suas saunas? Ah, bem.

Nós fomos um povo que deu novos mundos ao mundo. Ena. E inventámos os mulatos, imaginem! Somos uns tipos cheios de ponta. Enquanto andávamos no bem bom com as nativas debaixo dos coqueiros, os rabetas dos bifes andavam lá à procura de um tal "Dr. Livingstone". O que pensam que foi a primeira coisa que o Tio Pedr'Álvares fez quando deu à costa de Salvador da Bahia e viu aquelas índias sem roupa, moral ou preconceito na praia? Benzeu-se, implantou o padrão e balbuciou "por graça de Deos e El Rei blá blá blá"? Está bem, está, contem outra. Não fosse pelo Tio Vasco (o da Gama) andávamos a comer pastéis de Belém sem canela. Já pensaram o que seria? Não vos comove quando vêem aqueles tipos escuros como breu, com uma testa e rabos enormes, sem pescoço, como os saraculés da Guiné, ou aqueles índios da Amazónia com setas atravessadas de um lado ao outro da cabeça e rodas de triciclo no lábio inferior a falar português? Eu fico "como o vidro", e desato logo a dançar o "kuduro".

O multiculturalismo é um pau de dois bicos, e tema de debate nos países onde se verifica um maior número de imigrantes vindos principalmente de ex-colónias desses mesmos países. A França tem sido uma espécie de barómetro multicultural, e nas últimas décadas deu-se um recrudescimento da extrema-direita, que se vem alimentando da insatisfação dos franceses "de origem" (das marcas Peugeot, Renault e Citröen, suponho), que consideram que os estrangeiros "invadiram" o seu país, e que o descaracterizaram. Para entender bem o que era a França antes das massas migratórias vindas de países africanos, polinésios e caribenhos, basta ver a série cómica "'Alo 'Alo", que tinha como cenário a França ocupada pelos nazis (se calhar os franceses preferiam os nazis aos argelinos, enfim...). Tivessem lá os franceses uns senegaleses ou camaroneses corpulentos a "guardarem-lhes a loja", e assim talvez os nazis pensassem duas vezes antes de invadir. Em vez disso entraram ali à vontade, fizeram o que muito bem lhes apateceu, e os lingrinhas dos franceses andavam ali "mom dieu, mon formage, oui oui".

Mas pronto, a Frente Nacional e os seus eleitores têm um ideal de França diferente, e para eles a imagem clássica é a da Chantal a beber um "café au lait" e a comer um "croissant" numa esplanada junto às margens do Sena, enquanto o Pierre passa de bicicleta com uma "baguette" debaixo do braço, ostentando um camisola às riscas azuis escuras e brancas. Este cenário tão idílico só se torna possível porque a Chantal tem uma haitiana em casa a lavar e passar-lhe a roupa a ferro, e o Pierre goza a vida todo "joli" porque as casas e as estradas onde ele e os outros Pierres todos moram e andam de bicicleta foram construídas por imigrantes desses países que lhes andam a estragar a paisagem. E do que estão eles tão admirados afinal? Argelinos, marroquinos, haitianos, senegaleses??? De onde é que vieram estes gajos todos, pá? Ah sim, vieram daqueles países onde estavam lá muito sossegadinhos antes de nós irmos lá escravizá-los e gamar-lhes os recursos naturais. No caso dos argelinos a paixão era tanta que os franceses nem queriam deixá-los ir, daí os "incidentes" de 1954-1962, que também explicam porque é que os argelinos se pelam de amores pelos franceses.

E isto leva-nos à questão da criminalidade, que segundo estes puristas da treta "é elevada devido ao número de imigrantes". Interessante isto, pois até me provarem que a maioria dos crimes na França, por exemplo, são da autoria de estrangeiros, continuo a pensar que essa teoria tresanda a cócó. E nem sei porque se devia tratar alguém que comete um crime de modo diferenciado conforme a sua origem ou etnia. Será que uma agressão vinda de um nacional dói menos do que se for um estrangeiro o agressor? Um homicídio cometido por um imigrante "mata mais" do que se for um local a fazê-lo? E já agora, se a solução proposta para os estrangeiros que cometam pequenos delitos como furto é a sua deportação, o que fazer com os nativos que cometam o mesmo crime? Como não têm mais nenhum sítio para ir, suponho que a única solução é limpar-lhes o sebo e enterrá-los numa vala comum. E foram estes gajos eleger um húngaro para presidente, e que ainda por cima também não simpatizava com imigrantes. Vá-se lá entender os franceses.


No último mundial de futebol que agora terminou tivemos vários exemplos de como funciona a multiculturalidade. Até nesse aspecto a França foi pioneira, pois até integrar na sua selecção em 1998 jogadores naturalizados ou oriundos das ex-colónias, nunca tinham vencido um mundial de futebol. Já tinham obtido bons resultados no passado, chegando às meias-finais em 1954, 1982 e 1986, mas fazia lá falta alguém que nos momentos decisivos não se distraísse a cheirar uma flor, escrever um poema ou cantarolar o "La Vie en Rose". E não me digam que esta selecção na imagem em acima não reflecte a demografia francesa. Pode-se mesmo dizer que se neste onze estivessem o Anelka e o Henry, ficava ainda mais próximo da realidade.

Neste mundial que terminou no Domingo, apenas seis selecções eram formadas por jogadores nascidos nesse país: Coreia do Sul, Rússia, Equador, Honduras, Colômbia e a equipa da casa, o Brasil. Ninguém no seu perfeito juízo quer ser coreano, e já se sabe que os russos são malucos. Equador, Colômbia e Honduras devem ter lá gente que chega e sobra para fazer uma selecção, sem bem que estes últimos ficariam a ganhar com alguma "multiculturalidade". O Brasil é um caso à parte, pois é muito mais provável outras selecções terem jogadores brasileiros do que o contrário, e de facto Portugal tinha nas suas fileiras Pepe, a Itália tinha Thiago Motta e a Croácia tinha, pasme-se, dois brasileiros naturalizados: Eduardo da Silva e Sammi. A Espanha, que no passado já tinha naturalizado Donato e Marcos Senna, trouxe desta feita o avançado Diego Costa, uma decisão rodeada de polémica, devido à hesitação do jogador em optar pelo seu Brasil de origem e o país de acolhimento. Aceita-se que um ou outro brasileiro naturalizado alinhe pela selecção portuguesa, pois afinal partilhamos traços idênticos de índole histórica, linguística e cultural, mas fica mais difícil de entender que outro país o faça. Quando olhamos para a selecção de voleibol de praia da Geórgia, composta inteiramente por brasileiras naturalizadas "à pressa", ou muitas selecções de Futsal como a Itália ou o Uzebequistão, que idem idem, aspas aspas, passamos do âmbito do multiculturalismo para o da mera batota.

Outros exemplos acabados de integração de imigrantes e seus descendentes que tivemos no mundial do Brasil, além da já referida França, são o da Bélgica, Holanda (que tinha um guineense nascido no Barreiro) e o mais flagrante de todos, a Suíça - Xerdan Shaqiri, Granit Xhaka, Gökhan Inler, Admir Mehmedi, Valon Behrami, Josip Drmić, Haris Seferović ou Blerim Džemaili parecem tudo menos nomes suíços. Mas se queremos um caso de sucesso pleno, temos os campeões mundiais, a Alemanha. Os alemães contaram com atletas de ascendência ganesa (Jerome Boateng), tunisina (Samir Khedira), turca (Mesut Özil), albanesa (Shkodran Mustafi), e dois nascidos na Polónia (Miroslav Klose e Lucas Podolski). Mas esperem lá, a Suíça não tinha colónias, e a Alemanha limitou-se a uma pequena parcela dos Camarões e do Congo. O caso dos suíços parece óbvio: não sabem jogar à bola e precisam dos imigrantes, mas e os orgulhosos e arianos alemães?

É tudo uma questão de política; os alemães são uns tipos que trabalham que se desunham, mas mais no departamento criativo e de planeamento, do que propriamente "no duro". Enquanto estão sentados a idealizar um chassis mais resistente, um motor mais rápido ou o equipamento desportivo mais ergonómico, precisam de mãos que lhes construam as casas, as estradas, as pontes, etc. Como também não lhes resta muito tempo para fazer filhos, têm falta de mão-de-obra, e então mandaram vil-la de outros países, com predominância da Turquia - vá-se lá saber porquê. A certo ponto, cansados de bancas de "kebab" onde almoçavam à pressa e rodeados de mesquitas, acharam que se calhar o melhor era "alemanizá-los", antes que fossem eles "turquizados" (desculpem estes neologismos desenrascados). E pode-se dizer que fizeram bem, até porque...


Este é Raphael Hozdeppe, e sim, é alemão, pois nasceu em Kaiserslautern. Adolf Hitler desprezava os negros, considerava-os "próximos dos símios", e considerava "injusto" que os atletas africanos competissem com os caucasianos em modalidades como o atletismo, pois "estavam geneticamente predispostos a correr à frente dos animais selvagens, na selva" - e isto vem escrito no "Mein Kampf". Olhando agora para este exemplar que trouxe para a Alemanha a medalha de ouro no salto à vara nos Jogos Olímpicos de Londres de há dois anos, Hitler certamente teorizava que "ele é talentoso nesse desporto porque está habituado a usar varas para saltar muros quando é perseguido pela polícia". Ah, ah, ah, ah! Que giro. E o que Hitler e os seus loirinhos fariam com a vara, se estivessem no lugar de Hozdeppe? Enfiavam-na todinha pelo cu acima, lógico. É a lei da selecção natural, e não há como fugir dela.

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