sábado, 24 de maio de 2014
Morrer da cura
Este é o pequeno Jamie Cartwright, que apesar de ter o mesmo nome do personagem da série "Bonanza", era um rapazinho de Birmingham, falecido o ano passado depois de ter vencido duas vezes o cancro, um linfoma que lhe foi diagnosticado quando tinha um ano e meio. Os pais de Jamie têm lutado para chamar a atenção para o mal que custou a vida ao seu filho, bem como a milhares de outros doentes ambulatórios um pouco por todo o mundo: as infecções hospitalares. Em 2006 os pais do pequeno Jamie, na altura ainda um bebé de colo, ficaram devastados ao ter conhecimento de que o seu filho sofria de um tipo de leucemia rara, e por muita coragem que um casal que é pai tenha nestes momentos, uma notícia deste tipo é quase sempre um prenúncio de tragédia - a "coragem" que normalmente se pede é na maior parte dos casos uma forma de tolerar o inevitável sem que se dê uma quebra anímica grave. Mas dessa vez a história teria um final feliz, e depois dos tratamentos, Jamie recuperou, e começou a viver como uma criança normal, apesar de continuar monitorizada para a eventualidade de uma recaída.
E infelizmente a recaída aconteceu, e em Dezembro de 2012 Jamie voltou a passar pelo calvário do tratamento para erradicar a doença que, para mal dos seus pecados, parece ter nascido com ele. A pequeno voltou a demonstrar ser um osso duro de roer, mas durante o longo período de internamento a que foi sujeito contraíu uma infecção pulmonar, derivada das obras de restauração que se realizavam na ala anexa aquela onde se encontrava acamado, no Children's Hospital de Birmingham. Já de regresso a casa com a garantia de que o linfoma tinha novamente sido debelado, começaram a surgir outras complicações: um edema pulmonar provocado pela aspiração de partículas tóxicas presentes no ar do local onde recuperava da sua doença. A infecção pulmonar foi contraída oportunisticamente, enquanto as defesas de Jamie estavam reduzidas devido à quimioterapia a que vinha sendo sujeito, e permitiram que uma espécie de fungo - o asperllingus - lhe atacassem os pulmões. Vickie Cartwright, a mãe da criança, tinha revelado preocupação quando visitava o filho e notava a presença de poeira nos corredores do hospital. Ontem, sexta-feira, numa audiência no tribunal de Birmingham, o hospital admitiu a culpa, e responsabiliza a administração, que por sua vez acusa a empresa responsável pelas obras de não ter cumprido as regras sanitárias básicas durante as obras, que, insistem, "eram necessárias e inadiáveis. Jim Grey, microbiologista nesse mesmo hospital, providenciou um testemunho decisivo, ao dizer que este tipo de negligência era "na escala de 1 a 10, 10". Os pais de Jamie querem agora dedicar-se à sensibilização para este tipo de situações, um tipo de perigo que muita gente ignora. Para tal criaram um fundo com o nome do filho falecido, para o qual reverterá o montante de qualquer indemnização que venham a receber pelo infeliz incidente.
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