segunda-feira, 19 de maio de 2014
Assumir de uma vez, ou sumir de vez
Muitos dos leitores certamente não apreciam o estilo, as ideias ou até a aparêcia de Jason Chao Teng Hei, actual presiente da Associação do Novo Macau (ANM), fundador da recém-criada Open Macau Society, e porta-voz do "GBT Rights Concern Group", afiliado com a Associação Arco-Iris de Macau, cujo presidente é Anthony Lam, aquele rapaz simpático e delicado. Este fim-de-semana o grupo organizou o 2ª edição do Dia Internacional Contra a Homofobia e Transfobia, que se assinalou a 17 de Maio, um pouco por todo o mundo - ainda bem que houve alguém que se lembrou. Não sou partidário de manifestações de demonstração de orgulho por algo que só diz respeito a cada um, mas sou todo pela igualdade de tratamento, e sim, sem dúvida, existe preconceito. Preconceito é uma daquelas coisas más, como meter o dedo no nariz ou não dar o lugar aos idosos no autocarro. O Grupo aproveitou ainda a passagem de Cavaco Silva por Macau para entregar uma petição no sentido de apelar ao PR que intercedo junto do Governo da RAEM para que se adopte legislação que reconheça o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esta questão é um pouco mais sensível, mas não deixo de lhe reconhecer legimitidade. Se em Portugal é permitida a união civil entre pessoas do mesmo sexo, e se o Consulado Geral de Portugal é tecnicamente "território nacional", onde vigora a Lei Portuguesa - como tão bem os seus funcionários gostam de recordar aos utentes mais "agitados" de modo a fazer-lhes "baixar as orelhas" - porque não podem os cidadãos com nacionalidade portuguesa contrair lá matrimónio com alguém do mesmo sexo? Uma das passagens da petição faz todo o sentido, pelo menos em matéria de princípio: se um casal homossexual que reside em Portugal vier trabalhar para Macau, perde os direitos que lhe são garantidos no seu país de origem. Não, e isto não é o mesmo que o sultão do Alistão ou o rajá de Voltojá exigirem poder casar com 17 mulheres em Macau "porque no seu país é permitido". Não sei se o PR leu a petição, mas pelo menos é bastante cordial a forma como lhe é endereçada: "Dear President Cavaco Silva". Espero que pelo menos vá pensando no assunto.
E já que falamos em gente que entrega petições e assume coisas, nada como referir a outra iniciativa de Jason Chao, desta a vez juntamente com o seu colega do Open Macau Society, Sulo Sou (parece que "soluçou", ah, ah). Bem, e neste caso refiro-me, obviamente, a essa farsa que é impedir a realização da vigília em memória das vítimas do massacre de 4 de Junho de 1989 em Tiananmen com o pretexto de comemorar o Dia Mundial da Criança. Awww...as criancinhas, que doçura, que amor, quem vai ser tão malvado ao ponto de impedir a comemoração do dia das criancinhas? Eu não, e sou todo a favor que se comemore todos os dias (desde que isso não implique a oferta de presentes, claro), mas o Dia Mundial da Criança é no dia 1 de Junho, e não no dia 4. Mas vamos suspender a descrença por alguns instantes, e acreditar que é possível que exista alguém que não sabe disto, pronto. Agora que acreditamos no Pai Natal, na fada madrinha e nos esquimós, porquê comemorar no dia 4 todos os anos, quando o podiam fazer, sei lá, no dia 3? Ou no dia 5? Qualquer dia chateam-se com os portugueses e organizam as comemorações do dia 10 de Junho para o Jardim Camões, só para nos lixarem a festa. No entanto há um pequeno senão em toda esta momice que Jason Chao aproveitou para usar a seu favor: e quem disse que não são permitidas duas ou mais actividades no mesmo local, desde que uma não interfira com a outra? Se o Jason Chao for para a frente com a ideia, e a justiça der-lhe razão, vamos ter carrocéis, bancadas de rifas, algodão doce e pipocas no Largo do Senado todos os anos a 4 de Junho, enquanto do outro lado estão pessoas - muito mais pessoas, e a quem não é preciso pagar 200 paus para ficarem lá a fazer número - a recordar os mortos do massacre de 1989 em Pequim. Vergonha. E para mais usam crianças. E pagam as velhos para ficar a vê-las a dançar vestidas num tutu. Pedofilia, e da grossa. O ideal seria a malta assumir, como fez o Jason Chao noutro âmbito, e dizer que "é assim meus amigos: somos uns sabujos invertebrados, e fazemos isto para lamber as solas à China, porque temos medo que eles fechem a torneira, e assim acaba-se a mama para nós e as migalhas para vocês; mesmo que do outro lado não tenham chegado quaisquer instruções nesse sentido, apreciamos o sabor salgado e ácido do escroto a que puxamos o lustro com a língua". Não era mais fácil assim? Dia da Criança...pois, pois, 'tá bem abelha.
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