segunda-feira, 28 de abril de 2014
Graça Moura, Vasco
A cultura portuguesa ficou mais pobre ontem, com o desaperecimento de Vasco Graça Moura, escritor, poeta, advogado e político - por esta ordem de importância. Graça Moura é provavelmente o nosso maior nome das letras dos últimos 50 anos, e com o epíteto de escritor acumulava o de ensaísta, crítico literário, romancista, cronista, dramaturgo e antologiador - além de tradutor, interessando-se pela conversão para a língua portuguesa de textos estrangeiros demasiado complexos, como a Divina Comédia de Dante, Rimas e Triunfos de Petrarca, ou os Testamentos de François Villon, ou ainda a integral dos Sonetos de Shakespeare, entre muitas outras traduções de textos do inglês, do francês e do castelhano. Reconhecido pelos historiadores como um dos seus pares, um homem que se interessava pela História como complemento ao sentido que dava à Literatura e aos clássicos, é considerado um "homem do renascimento" em plena transição do século XX para o século XXI. Durante os anos 80 foi director da Imprensa Nacional/Casa da Moeda, e depois disso foi presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa (1988) e da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-1995), director da revista Oceanos (1988-1995), director da Fundação Casa de Mateus, comissário-geral de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha (1988-1992) e director do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian (1996-1999). Foi deputado ao Parlamento Europeu, integrando o Grupo do Partido Popular Europeu, de 1999 a 2009. A sua ligação aos governos de Cavaco Silva valeram-lhe algumas críticas dos seus pares, mas fiel aos seus princípios, Graça Moura nunca escondeu a admiração pelo actual Presidente da República, dizendo-se mesmo "cavaquista" na acepção do termo. Opositor firme do Acordo Ortográfico, que considerava um crime de lesa-língua, disse um dia a esse respeito "servir interesses geopolíticos e empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais falantes de português no mundo". Em Janeiro de 2012 foi nomeado para a presidência da Fundação Centro Cultural de Belém pela Secretaria de Estado da Cultura, substituindo António Mega Ferreira. Este foi o seu último cargo, que desempenhou até ao fim da batalha contra o cancro, que terminou ontem, aos 72 anos. Um apaixonado da obra de Camões, que as actuais gerações estudam no ensino secundário, e quem sabe um dia algumas das suas mais de 30 obras de poesia e prosa literária sejam também eles contidos nos livros escolares.
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